O lucro recorrente da Cielo (CIEL3) continua numa trajetória de recuperação, alcançando R$ 422m no 3T22, em linha com nossas projeções, mas 16,5% acima das expectativas do mercado. Em geral, o resultado foi bom com as receitas impulsionadas por uma expansão do volume financeiro e aumento do take rate (taxa total cobrada). Já na parte de despesas, temos gastos mais controlados. A boa dinâmica resultou em um crescimento da última linha (lucro) em 10% t/t e 99% a/a.
Acompanhando o bom resultado, a Cielo (CIEL3) aproveitou para divulgar o pagamento de R$ 148m em JCP referente ao 3T22 (dividend yield de 0,92%), com um payout de 35% em relação ao lucro do trimestre, que ajudou também a baixar a alíquota efetiva da empresa.
O ambiente competitivo continua a proporcionar uma melhora na precificação, com o take rate melhorando para 0,98%, um aumento de 0,06 pp t/t e 0,15 pp a/a.
Entretanto, ainda vemos um cenário de longo prazo com bastantes incertezas em relação ao ambiente competitivo, produtos (ex. PIX), regulação e novas tecnologias que podem impactar o resultado da empresa. Por ora, acreditamos que a Cielo (CIEL3) continue uma trajetória de recuperação dada a situação das concorrentes, mas parcialmente já precificado na bela performance das ações esse ano. As ações da Cielo negociam a 10,95x P/L 22E e 9,35 P/L 23E.
Receita Cielo (CIEL3): conseguindo repassar preço
Com um crescimento de 5,9% t/t e queda de 1,7% a/a, a receita líquida total não reflete a mesma boa evolução do lucro. Isso porque a queda anual na receita é explicada pelo desinvestimento na Merchant-e Solutions (M-eS) nos EUA ao final do 1T22 que operava em prejuízo. Nas operações do Brasil, o desempenho foi bom. Considerando o resultado das unidades Cielo Brasil e Cateno, vimos um crescimento de 3,8%t/t e 23,9% a/a.
O avanço positivo nas receitas se dá por um crescimento de volume financeiro, com avanço marginal t/t e 23,1% a/a, adicionado a uma reprecificação de take rate em 0,06 pp t/t e 0,15 pp a/a, chegando em 0,98%, mostrando o repasse de preços realizado pelo mercado no 3T22. Além disso, as operações de crédito de ARV (Aquisição de Recebíveis de Venda) e RR (Receba Rápido) tiveram um bom desempenho, com crescimento de 35,3% a/a.
Custos Despesas Cielo (CIEL3): seguem sob controle
Os custos de serviços prestados avançaram apenas 0,2% t/t (evolução anual não é comparável pelo desinvestimento da M-eS), bem menor que o crescimento da receita. Os custos vinculados aos terminais de captura tiveram um crescimento de 4,2% t/t e 6,4% a/a, consequência de uma maior evolução no número de maquininhas ativas e inflação mais alta no período, compensado na outra mão por redução de subsídios na venda de terminais.
As despesas operacionais aumentaram 7,8% t/t, mas com queda de 1,7% a/a. O avanço no trimestre é consequência principalmente de maiores despesas de pessoal, puxada pelas novas contratações do time comercial, além do dissídio com impacto à partir de agosto.
Resultado financeiro: custo de funding segue pressionando
O resultado financeiro segue com a sua fraca dinâmica, com as despesas financeiras líquidas de R$ 653m no 3T22, piorando 14,9% t/t e 147,9% a/a. Esperávamos um aumento dessa linha por conta da elevação do custo de funding de produtos de prazo com a alta da Selic.
No 3T22 também tivemos anúncio da 6ª emissão de debêntures, no valor de R$ 3b, com uma taxa de CDI + 1,2% e vencimento em 2025. A dívida entrará em circulação no balanço do 4T22, onde já veremos impactos também no resultado financeiro. A emissão tem a finalidade de gestão de liquidez para os produtos de prazo.
Produtos de prazo: volume e penetração crescentes
Os volumes antecipados de ARV e RR alcançou R$ 29,6b (+1,0% t/t e 35,3% a/a), crescendo mais que volume financeiro transacionado na base anual. A penetração de produtos de prazo alcançou 22,6%, com expansão de 0,2 pp t/t e 1,3 pp a/a, melhorando o take rate e a rentabilidade da companhia.
Volumes flat e clientes de varejo crescendo
O volume financeiro de R$ 221b cresceu 23% a/a, mas ficou de lado t/t, provavelmente impactada pela deflação no período. No segmento foco da Cielo de varejo, a base ativa de clientes cresceu 1,4% t/t. Já o número total de clientes ativos caiu 1,4% t/t devido a suspensão de subsídios para o segmento empreendedores (long tail).