À medida que avançamos em 2024, com as expectativas de mudanças no cenário macroeconômico, vimos a necessidade de atualizar nossas perspectivas e recomendações para as empresas do setor de locação. Durante este relatório discutiremos nossas expectativas em relação aos resultados do 4T23 das principais empresas do setor, como Localiza, Vamos e Movida, que divulgarão seus resultados nos dias 11, 25 e 27 de março, respectivamente.
De acordo com os dados prévios fornecidos pela Fenabrave, antecipamos mais um trimestre de volumes elevados de compra de veículos leves por parte das locadoras. Em contrapartida, esperamos que o segmento de aluguel apresente desempenho robusto, impulsionado pela sazonalidade do período e pela entrada em operação dos veículos adquiridos no segundo semestre, assegurando bons níveis de volume na alta temporada. A persistência de uma taxa de juro elevada, associada a um novo patamar de preços dos ativos, segue incentivando a adição de novos contratos de locação de longo prazo. Do lado negativo, os últimos 3 meses do ano foram caracterizados por quedas mais acentuadas na Fipe. Dentro desse contexto, o cenário para o segmento de seminovos permanece desafiador.
Em concessionárias, a dinâmica segue prejudicada pelos baixos volumes de vendas de caminhões e perspectiva de desaceleração do agro em 2024. Embora locação ajude a contrabalancear os resultados da Vamos, nossas expectativas apontam para um resultado negativo no 4T23. Movida, apesar da dinâmica positiva em locação, deve apresentar uma leve compressão na margem EBITDA, dado o alto volume de carros em preparação e um resultado na última linha pressionado por nova alta na depreciação. Comparativamente, Localiza, parece estar em uma posição mais confortável, líder do setor, deve extrair mais valor da alta temporada, com volumes fortes de diárias e novos repasses de preço no RAC.
Reduzimos nosso preço alvo de Movida e Vamos. Seguimos com nossas recomendações de COMPRA para Movida com preço alvo de R$ 17,00 e R$ 13,60 para Vamos. Para Localiza, reiteramos nossa recomendação de para MANTER com preço alvo de R$ 60,00.
Mercado de veículos: o que os dados nos dizem sobre o 4T23 e 2024?
Apesar dos cortes na taxa Selic, iniciados em meados de outubro de 2023, o juro permanece em um patamar consideravelmente elevado, finalizando dezembro acima de 26%. Esta realidade, aliada a uma reconfiguração nos preços dos ativos e a perda de poder de compra da população, tem colocado em xeque a capacidade de recuperação do mercado de veículos no curto prazo.
Este panorama tem um impacto direto na representatividade das vendas de carros no varejo que, desde o ano de 2015, vêm apresentando uma tendência de queda. Mesmo diante de uma frota envelhecida, a proporção de vendas no varejo se aproximou dos níveis mais baixos registrados em 2022, quando apenas 53% de todos os carros zero km vendidos no Brasil foram adquiridos por consumidores finais.
O ano de 2023 apresentou uma leve melhora, porém artificialmente impulsionado pelos programas de incentivo e descontos promovidos pelo governo no início do segundo semestre. Embora os dados de 2023 mostrem um cenário ainda desafiador, nos primeiros dois meses de 2024, percebemos uma melhora nas vendas de automóveis no varejo, com registros de 65% em janeiro e 59% em fevereiro, bem acima da média de 2023.
Ainda é cedo para declarar uma recuperação completa, mas esses sinais positivos dão um tom mais otimista à dinâmica de mercado para o restante do ano. Essa retomada será importante para potencialmente observarmos melhores condições de venda em seminovos.
Se o varejo sofre, as locadoras tomam frente. Com o término do programa de descontos governamentais instituído pela MP 1.175, a participação de vendas diretas só aumentou. O 4T23 foi o trimestre com maior valor percentual de vendas no canal do atacado. Especificamente em dezembro, a média diária de unidades vendidas atingiu 12,4 mil, o melhor resultado mensal dos últimos 4 anos, mais uma vez impulsionado pelas vendas diretas. Elas foram responsáveis pelo emplacamento de 75 mil veículos no mês, 30 mil a mais que a média do ano.
Este impulso também é reflexo de uma tendência sazonal de enfraquecimento nas vendas de veículos no final do ano, período em que as montadoras estão mais abertas a oferecer descontos para limpar estoques. Essa dinâmica de venda de veículos beneficia diretamente as locadoras que , consequentemente, ampliam seu poder de barganha junto às montadoras. Portanto, tudo indica que o 4T23 foi mais um trimestre de boas condições de compras para as empresas sob nossa cobertura.
Venda dos seminovos: Uma complicação e tanto
Ao longo do ano passado, observamos uma aceleração na depreciação dos usados, evidenciada pelo descolamento do IPCA de veículos novos e seminovos. Ao final de 2023, a deflação acumulada atingiu 5,2% nos automóveis usados, enquanto os novos apresentaram valorização de 2,6%. Embora, por mais um ano, os veículos tenham ficado mais caros, observamos uma clara desaceleração nos aumentos de preço pelas montadoras.
Em nossa visão, o principal fator que justifica essa desvalorização sequencial dos carros usados é a perspectiva de que o carro zero km começará a cair de preço. Portanto, uma questão fundamental paira sobre o mercado em 2024: os preços dos carros novos começarão a cair? Alguns sinais, nos dão a percepção de que isso pode ocorrer no primeiro semestre de 2024 e por isso o mercado de seminovos vem sentindo tanto.
Um dos elementos centrais dessa discussão é o aumento da competição no mercado local. Nos últimos 2 anos, os fabricantes chineses saltaram de um market-share de 0,2% em janeiro de 2020 para 4,9% em janeiro de 2024, trazendo consigo preços mais competitivos e veículos com mais tecnologia embarcada. Esse movimento, cria uma expectativa quanto a reavaliação geral dos preços de veículos, tanto novos quanto seminovos. Outro fator crítico é a queda nos preços dos insumos, especialmente o aço, que abre margem para uma especulação quanto a possibilidade de redução de preços para o consumidor final.
Vale lembrar que a Medida Provisória 1.175, que ofereceu descontos em compras de veículos novos, mostrou para as montadoras que os volumes baixos são principalmente uma derivada dos preços elevados. Com aumento da concorrência, insumos em queda e aumento das vendas no varejo reportadas em janeiro e fevereiro, temos a combinação perfeita para queda dos preços.
RAC: tempo de celebrar – aproveitando o final de ano
Influenciado pela alta temporada no turismo, os dados do setor aéreo antecipam um trimestre com bons níveis de atividade para as empresas de locação. Azul, Gol e Latam, apresentam números fortes de volumes mesmo em um ambiente de aumento de tarifas, indicando que o consumidor está suscetível ao repasse de preços.
Esse efeito de repasse de preços tem se espalhado por todo o setor de transportes de passageiros, portanto esperamos que as locadoras seguindo o mesmo caminho. Lembramos que no trimestre passado, as locadoras foram as grandes compradoras de veículos ao longo do período. Portanto, a integração e operacionalização dos automóveis comprados, ajudam a impulsionar os volumes de diárias no 4T23.
Por fim, os dados divulgados pelo IBGE apontam para um IPCA de locação em patamar elevado e crescendo na comparação t/t. Sendo assim, esperamos um crescimento de volume com repasse de tarifa no 4T23 no RAC.
GTF: nada de novo sob o Sol
Na divisão de gestão de terceirização de frotas, o panorama atual sugere um trimestres sem surpresas. Em um contexto de taxas de juros altas, optar pela locação segue sendo mais vantajoso do ponto de vista financeiro. Este cenário é particularmente relevante quando consideramos a tendência histórica das empresas brasileiras em direção à alta alavancagem.
Apesar de uma tendência de queda nos juros, o patamar segue elevado, acima dos 17%, nível mais alto desde 2018. Esse ambiente de juros altos contribuiu para um aumento na taxa de inadimplência, moldando um cenário que indiretamente impulsionou a demanda por contratos de locação de longo prazo.
Os volumes de compras consideráveis no 3T23, também foram destinados ao GTF e por isso, esperamos que aconteça uma adição significativa de volume durante o 4T23. A forte demanda por contratos de locação de longo prazo, neste cenário de juros elevados, cria um ambiente propício para que as locadoras repassem os preços. Esperamos que essa tendência se mantenha no 4T23 e ao longo 2024.
Pesados: produtor apertado, menos vendas…
Esperamos fortes resultados no segmento de locação de pesados, que deve seguir uma dinâmica similar ao GTF. A escolha entre imobilizar capital ou terceirizar a frota também tem impulsionado o segmento. Além disso a mudança brusca no patamar de preço dos ativos, com a chegada do Euro 6, têm contribuído para a adição de novos contratos. Seguimos confiantes com a tendência secular de aumento da penetração da frota locada em comparação à frota total, ainda pouco representativo no Brasil. Apesar do aumento em volume, a estabilidade dos juros reais de 5 anos no Brasil aponta para um Yield dos novos contratos similar ao observado no 3T23. Historicamente os índices apresentam boa correlação e esperamos que isso se mantenha. Embora o cenário de locação ainda seja estruturalmente favorável, a conjuntura de desaceleração econômica e um agro mais fraco podem gerar um aumento na inadimplência.
No lado das vendas de caminhões e máquinas agrícolas, a situação continua desafiadora. No segmento de caminhões, ainda sentimos os efeitos da alteração de preços dos ativos após a implementação do Proconve P8. O novo padrão de controle de poluentes elevou o preço dos ativos, impactando diretamente a decisão de compra dos consumidores.
No que se refere às máquinas agrícolas, percebemos uma deterioração adicional no 4T23. Essa realidade está intrinsecamente ligada à redução da margem dos produtores rurais e à expectativa de uma safra comprometida, elementos que enfraquecem substancialmente o apetite por investimentos desse segmento.
Esse cenário, combinado ao ambiente macroeconômico restritivo, tem limitado os investimentos, afetando diretamente as concessionárias tanto no segmento de caminhões, quanto de máquinas agrícolas em 2023. Apesar de uma melhoria nos volumes de venda de caminhões no 4T23 em comparação ao trimestre anterior, os números permanecem significativamente inferiores aos registrados em anos anteriores.
Durante o 4T23, o emplacamento de caminhões superou as 28 mil unidades, representando uma queda de 13% a/a, porém com um aumento de 11% t/t. Por outro lado, o setor de máquinas agrícolas registrou 12,9 mil unidades emplacadas, marcando uma queda de 29% a/a e uma redução de 15% t/t.
Localiza (RENT3): Poder de escala e boas compras minimizam os danos
Esperamos um trimestre misto para Localiza, com bons resultados tanto em RAC quanto em GTF, enquanto a divisão de seminovos deve puxar o consolidado para baixo. Estimamos uma receita líquida de R$ 7,95 bilhões (+35,2% a/a e +8,6% t/t), com um EBITDA de R$ 2,92 bilhões (+42,2% a/a e +9,2% t/t) e um lucro líquido de R$ 711 milhões.
RAC: impulso de final de ano e novos carros
Para o 4T23, esperamos que a Localiza apresente resultados positivos no segmento de RAC, impulsionados por um aumento tanto nas tarifas, quanto no volume de locações. A significativa aquisição de veículos realizada no 3T23, que foram integrados à frota no 4T23, somada à sazonalidade do período e ao eficiente repasse de preços, são fatores que contribuem para essa expectativa otimista.
Esperamos que Localiza reporte um trimestre positivo para o RAC com aumento de tarifas e de volume. O grande número de carros comprados no 3T23 e integrados no 4T23 aliados ao efeito da sazonalidade e ao repasse de preços proporcionam esse resultado. Projetamos para a divisão uma tarifa média de R$ 123,70 (+6,9% a/a e +3,6% t/t) e volume de 20,1 mil diárias (+12,7% a/a e +6,4% t/t).
Quanto à compra de veículos, a expectativa é de 69,7 mil unidades, um crescimento de 3,3% a/a e uma expressiva elevação de 116,3% t/t, refletindo as oportunidades vantajosas na compra. Resultando em uma frota no final do período de 344 mil veículos para o 4T23, o que representa um aumento de 3,7% a/a e de 9,0% t/t.
Estimamos que a receita líquida da divisão alcance R$ 2.253 milhões no 4T23, um avanço de 21,0% a/a e de 9,4% t/t. O EBITDA projetado de R$ 1.504 milhões, representa um aumento de 36,6% a/a e de 13,0% t/t, com a margem EBITDA atingindo 66,8% ( +7,6pp a/a e de +2,1pp t/t) puxado pelos maiores volumes que ajudam a diluir os custos fixos. Além disso, vale lembrar que na comparação trimestral, o 3T23 foi marcado pelo início da operação da companhia no México. Fator esse que influenciou negativamente as margens do RAC, devido aos custos iniciais da operação.
GTF: Se beneficiando da alta de juros
Outro destaque positivo deve ser o GTF. A expansão da frota e o repasse de preços são elementos de devem assegurar o bom desempenho do segmento. Projetamos uma receita líquida de R$ 1.816 milhões (+22,8% a/a e +4,9% t/t) e uma margem EBITDA de 73,4% (+9,6pp a/a e -0,3pp t/t).
Nossas estimativas apontam para uma frota no final do período de 308 mil veículos, (+18,7% a/a e de 6,0% t/t). Equivalente a compra de 38,9 mil automóveis (+30,4% a/a e +23,8% t/t), também reflexo das boas condições oferecidas pelas montadoras.
Com uma expectativa de compra robusta de veículos no 4T23, que ainda não contribuem para a receita, a preparação desses automóveis para a integração na frota operacional implica em custos adicionais. Esta dinâmica nos faz crer que uma ligeira redução na margem EBITDA do segmento.
Seminovos: margens devem cair por mais um trimestre seguido
Como antecipamos, mais uma vez o ponto negativo deve ser a divisão de seminovos. Seguimos observando um movimento de depreciação intenso dos usados no 4T23, algo que promete comprimir as margens da divisão. Nossas expectativas são de uma margem bruta de 6,8%, (-5,2pp a/a e -0,6pp t/t).
Apesar disso, esperamos um crescimento considerável do volume de vendas no 4T23, algo próximo a 63 mil carros (+51,4% a/a e +10,3% t/t). Os bons volumes são impulsionados pelas boas condições de renovação da frota. O preço dos carros vendidos também deve ser maior devido ao mix, alcançando R$ 61,9 mil (+6,8% a/a e +5,2% t/t).
Apesar do aumento na receita líquida para R$ 3.886 milhões (+44,8% a/a e +10,1% t/t), o EBITDA da divisão deve sofrer uma queda de 13,7% a/a, totalizando R$ 85 milhões, o que resulta numa margem EBITDA de 2,2%, (-1,5pp a/a e -0,2pp t/t).
Expectativas para 2024
Para o ano de 2024, projetamos uma evolução positiva nos resultados da Localiza, refletindo uma conjuntura otimista tanto no RAC, quanto no GTF. Esperamos que a margem EBITDA no segmento RAC suba entre 1 e 2pp, impulsionada pela renovação da frota e ajustes no preço. No que diz respeito ao GTF, esperamos um aumento de 2pp na margem EBITDA, atribuído primordialmente ao ajuste de preços.
No segmento de seminovos, a abertura de novas lojas e a melhora do cenário macroeconômico são fatores que podem contribuir para melhora das vendas, mas estamos atentos à depreciação, especialmente no RAC, onde esperamos atingir o pico entre o 4T23 e o 1T24, com expectativas de normalização até 4T24. Para o GTF, a depreciação deve seguir uma trajetória mais prolongada, com a expectativa de redução apenas no 1T25.
Com base nessas projeções, esperamos um crescimento forte de receita em 2024, potencializado pelo maior volume de vendas de usados, totalizando R$ 38,5 bilhões. Com o resultado de seminovos ganhando maior participação nos resultados esperamos uma compressão nas margem EBITDA consolidada, com o EBITDA de R$ 13 bilhões em 2024. No que tange ao lucro, nossas projeções apontam para um valor próximo a R$ 3.400 milhões, ainda colhendo frutos da consolidação da fusão.
Para a Localiza (RENT3), mantemos nossa recomendação de MANTER com base no P/E projetado de 16,4x para 2024. A liderança da Localiza no mercado de locação de veículos e sua robustez operacional justificam sua avaliação atual. Embora a empresa esteja bem posicionada para capturar o crescimento do mercado, acreditamos que o valuation atual reflete adequadamente suas perspectivas de crescimento e eficiência operacional, oferecendo uma margem de valorização limitada no curto a médio prazo.
Movida (MOVI3): alta depreciação persiste!
Para a Movida, nossas expectativas para os resultados do 4T23 apontam para um trimestre negativo, marcado por bons volumes de compra, mas negativamente impactado pela alta alavancagem e alta depreciação.
Diferente da Localiza, a Movida optou por não realizar nenhum impairment de frota após a MP dos descontos do governo. Esta decisão, na época, foi baseada em uma postura conservadora da empresa que rodava com uma taxa de depreciação conservadora. No entanto acreditamos que isso possa não ter sido suficiente. O comportamento normal da FIPE é cair 0,4% ao mês, porém observamos níveis acima de 1% ao mês no fim do ano.
Do ponto de vista operacional, também projetamos uma grande quantidade de carros comprados no 4T23 favorecendo o segmento de locação. Embora as expectativas para os resultados da divisão sejam positivas, o movimento acentuado de desvalorização dos veículos seminovos observado no último trimestre pode fazer com que a companhia volte a subir a depreciação no 4T23, prejudicando ainda mais a última linha dos resultados.
Estimamos uma receita líquida de R$ 2,62 bilhões (-0,2% a/a e -1,7% t/t), com um EBITDA de R$ 873 milhões (+1,8% a/a e +0,8% t/t), resultando em uma margem EBITDA de 33,3% no 4T23 (+0,7pp a/a e +0,8pp t/t) e um prejuízo líquido de R$ 130 milhões.
RAC: evolução em volume
Para a divisão do RAC, esperamos uma evolução positiva em volumes e tarifas para o 4T23, comparativamente ao trimestre anterior. Assim como observado em outras empresas do setor, a Movida também comprou um volume significativo de carros no 3T23. A integração desses veículos na frota, aliada à forte demanda característica da alta temporada, sugere um cenário promissor para o segmento.
Apesar de nossas expectativas indicarem uma leve redução na tarifa média, para R$ 126,00 (-1,0% a/a e +1,2% t/t), essa variação nas tarifas reflete a transformação no mix da frota, que voltou a ser dominada por carros de entrada. Esta mudança de mix, portanto, não é necessariamente negativa. O número de diária estável reflete um frota menor no começo de período quando comparado ao ano anterior, mas que cresce na comparação trimestral atingindo um volume de 6 mil diárias (-0,4% a/a e +4,6% t/t).
A frota da Movida ao final do período deve atingir 113 mil veículos, (+1,3% a/a e +20,0% t/t), comprando um total de 29,6 mil automóveis. Como parte desses veículos ainda não entram na frota disponível para locação, esperamos uma redução de margem EBITDA no RAC com custos de preparação dos veículos subindo.
Projetamos uma receita líquida de R$ 696 milhões para o 4T23 (-4,2% a/a e -2,8% t/t), com EBITDA de R$ 379 milhões (-8,9% a/a e -4,1% t/t), resultando em uma margem EBITDA de 54,5%, (-2,8pp a/a e -0,7pp t/t).
GTF: Também surfando bem com os juros
No GTF, nossas projeções estão em linha com os resultados dos trimestres anteriores, porém com aumento relevante da frota operacional. Esperamos que a frota no final do período alcance 131,5 mil veículos (+17,1% a/a e +10% t/t. Além disso, projetamos um aumento sequencial na mensalidade média para R$ 2.283 (+18,7% a/a e +4,2% t/t), alinhado às condições de mercado.
Estimamos uma receita líquida de R$ 632 milhões (+27,6% a/a e +8,7% t/t), um EBITDA esperado de R$ 454 milhões (+35,5% a/a e +5,7% t/t), resultando em uma margem EBITDA de 71,9% (+4,2pp a/a e -2,1pp t/t).
Seminovos: bons volumes de vendas, preços piores
O seguimento de seminovos deve apresentar mais um resultado sem brilho. Apesar da expectativa de manutenção dos bons volumes de vendas, cerca de 18,7 mil carros vendidos (-8,7% a/a e +0,1% t/t), o preço médio de venda deve cair no 4T23. Esperamos números próximos a R$ 70 mil (-7,2% a/a e +3,4% t/t).
Esta configuração nos leva a uma receita líquida de R$ 1.292 milhões com EBITDA de R$ 40 milhões, implicando em uma margem EBITDA de 3,1%, estável t/t, mas com uma queda significativa de -4,5pp a/a.
Expectativas para 2024
Depois de um segundo semestre de 2023 caracterizado por fortes volumes de compras, esperamos que a Movida foque na renovação de seus ativos em 2024. Toda e qualquer adição deve ser direcionada especificamente para fortalecer a presença no GTF.
Esperamos uma leve piora nas margens consolidadas, puxada por um maior volume de venda de carros com margem bruta pior. Lembramos que em 2023, a Movida passou por um processo de ajuste do mix. Dos cerca de 100 mil carros, comprados em condições ruins durante o pós pandemia, cerca de 30% ainda precisam ser vendidos no início de 2024. Devido ao volume grande de compra no segundo semestre de 2023, com prazos de pagamento às montadoras vencendo ao longo dos 6 primeiros meses de 2024, podemos ver pressões adicionais na depreciação. Com um grande desembolso de caixa previsto, a empresa pode sofrer maior pressão para rodar esses ativos e, portanto, ceder em preço.
Nossa revisão de preço alvo, reflete uma depreciação mais alta por mais tempo e uma Selic mais alta projetada após 2026. Antes tínhamos uma expectativa de que no final do 4T24, os níveis já estariam mais normalizados, algo entre 6 e 8%, agora estamos projetamos 9% na média de 2024. Além disso, esperamos um maior volume de vendas de seminovos, impactando positivamente a receita líquida, que deve superar os R$ 13,7 bilhões. Nominalmente também esperamos um aumento do EBITDA, atingindo R$ 4,3 bilhões e um lucro líquido de R$ R$ 327 milhões.
Para a Movida (MOVI3), nossa recomendação é de COMPRA, considerando um P/E de 9,4x para 2024, o mais baixo entre as empresas analisadas.
Vamos (VAMO3) – Concessionárias puxando para baixo
Acreditamos que Vamos apresentará um trimestre negativo, marcado por uma queda na receita consolidada tanto na comparação anual, quanto trimestral. Com o bom desempenho no segmento de locação e seminovos, sendo ofuscado pelos desafios persistentes nas concessionárias, ainda prejudicado pelos baixos volumes de vendas de ativos zero km.
A mudança de patamar de preços dos ativos tem sido favorável à adição de novos contratos de locação, reforçando a tendência secular de aumento da penetração da frota locada no Brasil. Os números da divisão de locação, ainda não sofrem impacto da adição dos contratos com o Grupo Petrópolis. Dado o cenário macro adverso, esperamos mais um trimestre forte de volume de venda de seminovos, impulsionado pela retomada de ativos em contratos inadimplentes, a um patamar de margem bruta, favorecido pela valorização dos ativos.
Estimamos uma receita líquida de R$ 1,35 bilhões (-3,1% a/a e -9,0% t/t), com um EBITDA de R$ 624 milhões (+10,2% a/a e -8,5% t/t) e um lucro líquido de R$ 86 milhões.
Expectativa por divisão de negócio
Concessionárias – melhora, mas não o suficiente: Esperamos que os resultados ruins em concessionárias sigam prejudicando os números consolidados, sendo o grande destaque negativo do 4T23 da companhia. O segmento de concessionárias enfrenta um ambiente desafiador impactado pela chegada do Proconve P8 e condições adversas no agro. Com expectativa de quebra de safra, volumes menores em 2024 e menor margem do produtor rural, temos observado um menor apetite a investimentos. Esse momento tem se traduzido em menos compras de caminhões e máquinas agrícolas e deve continuar prejudicando o segmento. Projetamos para a divisão uma receita de R$ 469 milhões (-30,6% a/a e -20,1% t/t) e EBITDA negativo em R$ 23 milhões.
Locação e Seminovos – o destaque positivo: O segmento de locação deve andar no caminho oposto, sendo o ponto positivo no resultado do 4T23. Esperamos resultados sequencialmente positivos, puxados por uma demanda forte de locação. Esperamos estabilidade no Yield reportado pela companhia, próximo aos 2,4%, seguindo tendência da NTN-B 5Y. Nos seminovos, esperamos resultados também positivos e em linha com o que observamos nos últimos trimestres, com volume similar de vendas. Apesar de uma conjuntura econômica desafiadora, que pode aumentar a inadimplência, a valorização dos ativos seminovos deve contribuir para um bom patamar de margem bruta, próximo ao apresentado no 3T23. Projetamos para a divisão de locação e seminovos uma receita líquida combinada de R$ 888 milhões (+39% a/a e +6% t/t), refletindo o cenário favorável para esses segmentos. Olhando apenas para seminovos, esperamos uma receita bruta de R$ 164 milhões (+21,5% a/a e +7,9% t/t), impulsionadas por um preço de venda de caminhões de R$ 189 mil (+4,2% a/a e + 4,0% t/t).
Customização – não acompanha o mercado: Para esse segmento esperamos um resultado em linha com o crescimento do mercado de implementos no 4T23, aumento 3,5% nas vendas em relação ao trimestre anterior. Projetamos uma receita de R$ 59 milhões (-22,5% a/a e + 3,5% t/t) e um EBITDA de R$ milhões (-51,1% a/a e +18,5% t/t), com margens melhorando, refletindo a queda do preço dos insumos.
Expectativas para 2024
Seguimos com visão positiva para 2024. Nossas expectativas apontam para uma continuação do crescimento no segmento de locação e um fortalecimento nas vendas das concessionárias, em uma retomada gradual após um ano desafiador em 2023. O segmento de caminhões, que passou por ajustes devido ao impacto do Proconve P8, deve favorecer a retomada das atividades e melhorar as perspectivas para as concessionárias. A decisão de descontinuar o guidance de atingir 100 mil ativos até 2025 reflete o ajuste às novas realidades de preço dos caminhões e não uma piora no segmento de locação.
Esperamos que as margens consolidadas da empresa melhorem, impulsionadas pelo aumento da representatividade do segmento de locação nos resultados consolidados. Esta melhoria será particularmente ligada com a integração de 3 mil ativos adquiridos com um desconto de 20% do Grupo Petrópolis. A adição desses caminhões ao portfólio ajuda a elevar o Yield médio dos contratos. Estimamos que a integração possa adicionar cerca de R$ 11 milhões ao EBITDA por mês, com base em um valor de R$ 211 mil por caminhão locado e um Yield médio de 2,7% (superior aos 2,5% do 4T23 estimado para a Vamos).
As projeções para 2024 da Anfavea indicam uma diminuição nas vendas de máquinas de 11% em comparação a 2023. Dentre os gatilhos no segmento de pesados para os próximos anos, além da queda da taxa de juros Selic, destacamos a chegada do novo PAC com investimentos de R$ 1,4 trilhão até 2026, iniciativas voltadas para a nova indústria brasileira e o Marco do Saneamento. Lembramos que em 2007, a chegada do PAC, impactou positivamente a produção de máquinas e equipamentos que cresceu 17,4% no período de janeiro e julho daquele ano.
Para 2024, esperamos que a receita líquida alcance R$ 8,1 bilhões, aumento de 34,2% em relação ao estimado para 2023. O EBITDA projetado é de R$ 3,8 bilhões (+42,4% a/a), com a margem EBITDA de 47,2% (+2,7 pp a/a), resultando em um lucro líquido de R$ 866 milhões.
Em relação à Vamos (VAMO3), recomendamos COMPRA, destacando seu P/E de 10,5x para 2024, atrativa em comparação com seus pares, com potencial de crescimento da empresa no segmento de veículos pesados e sua capacidade de expandir a margem EBITDA.