Mar calmo não faz bons marinheiros!
Em um cenário macro adverso, com a deterioração da renda da população e aumento da pressão inflacionária, em cima ainda de uma base comparativa desafiadora, não foi nenhuma surpresa que os resultados do 3T21 do GPA deixaram a desejar. Do lado positivo, destacamos a performance da rede Êxito, representando 48% da receita líquida do grupo. Com a pandemia na Colômbia em patamares mais desejáveis, resultando em menores restrições nas lojas durante o tri, o Êxito registrou o forte desempenho de ‘vendas mesma loja’ (LfL) de +15,7% a/a, superando nossas estimativas, e ajudando a aliviar o impacto nas operações brasileiras. As vendas totais do GPA Brasil atingiram R$ 6,9b, implicando em uma queda a/a de 6,4% e redução de 5,6% de LfL. Demonstrando certa resiliência e apresentando um despenho estável na venda de alimentos, o destaque negativo certamente fica para o Extra Hiper por conta dos produtos não alimentares. A forte base comparativa no segmento, o fim do pagamento do auxílio emergencial, bem como alto índice de desemprego e inflação, resultou na queda de 29% das vendas de não-alimentares, contribuindo assim para o desempenho inferior de -12,8% de ‘vendas mesmas lojas’.
Ao somarmos todas essas variáveis, não é surpresa observamos a queda expressiva de margens. O maior impacto ficou para a margem bruta, se posicionando em 23,7%, queda de 2,5 p.p quando comparado ao 3T20. Essa queda foi acentuada pelo reflexo do reposicionamento de preço regular e da retomada das promoções, principalmente na bandeira Extra Hiper, com o intuito de mitigar os efeitos da forte inflação alimentar, o alto índice de desemprego e aumento da competição com o formato de atacarejo (Cash & Carry). Com isso, mesmo mantendo o SG&A (Despesas com Venda, Gerais e Administrativas) em níveis estáveis, o impacto na margem bruta desceu na cadeia, impactando também o EBITDA ajustado do grupo (-15,9% a/a) com redução de 0,6 p.p de margem.
Apesar do resultado negativo, há algumas variáveis com boas perspectivas que valem analisar. Primeiramente, destacamos a contínua evolução do processo de transformação digital da companhia. O lockdown obrigou o varejo alimentar a se reinventar, fazendo muitos consumidores perceberem os benefícios da multicanalidade. Traduzindo em números, o GPA Brasil registrou neste tri o recorde de vendas online alimentar de R$ 475m, com crescimento de +46% a/a e de +393% comparado ao 3T19. Com isso, ele segue aumentando cada vez mais a penetração do canal, que atingiu 9,3% da venda total do segmento de alimentos, contra os 6,3% no 3T20. Quando olhamos para a bandeira Pão de Açúcar, a de maior rentabilidade, atingiu uma penetração de 15%, com picos de 20% durante o trimestre.
Vale também destacar a contínua evolução do formato premium, através da bandeira Pão de Açúcar e Minuto. As lojas dentro do conceito G7 continuam registrando desempenho superior às demais. Voltadas à melhor experiência do consumidor, eles já contam com 47 lojas no formato, além de 31 lojas com a iniciação da transição já implementadas. Vale lembrar que essas lojas além de apresentarem um volume superior de vendas, também apresentam margens superiores. Por último, destacamos a performance do formato de proximidade, através da bandeira Minuto. Apresentando o melhor desempenho do grupo, eles mantiveram a forte tendência de alta observada nos últimos trimestres, com crescimento de ‘vendas mesmas lojas’ de 12,1% a/a e 59,2% vs. 3T19, atingindo assim, a marca de
13 trimestres consecutivos de evolução de duplo dígito.
Os resultados do 3T21 vieram de uma maneira geral fracos, mas sem nenhuma surpresa expressiva. Impactado ainda pelo cenário macro e uma base comparativa bem desafiadora do 4T20 (beneficiada por eventos não recorrentes da cisão do Assaí) devemos continuar observando resultados pressionados no curto prazo. Entretanto, após a notícia da descontinuidade da bandeira Extra Hiper, com a venda de 71 lojas ao Assaí (Para ler sobre a transação, clique aqui), utilizando os recursos captados pela venda para financiar a expansão do formato premium, expandir suas operações no e-commerce e contribuir para o seu processo de desalavancagem, enxergamos com bons olhos o GPA Brasil no longo prazo. Reiteramos ainda que, com todos os empecilhos enfrentados no curto prazo, bem como o risco de execução e o desconto de governança aplicado sobre o grupo, mantemos nossa recomendação neutra por ora, apesar do upside expressivo.
Pontos Positivos
- Digitalização. Transformação digital ocorrendo a todo vapor. O GPA apresentou neste tri, o recorde de vendas online alimentar.
- Marcas Exclusivas. Investindo cada vez mais em marcas exclusivas, o GPA atingiu no 3T21 uma penetração de 21,5%, resultando em um sortimento alimentar de 5800 SKUs. A oferta de produtos exclusivos se torna uma maneira eficaz de repasse de preços ao consumidor em cenário de inflação alta, evitando que parte deles troquem de canal.
- Proximidade. Registrando o melhor desempenho do grupo no Brasil, o formato atingiu a marca de 13 trimestres consecutivos de evolução duplo dígito de ‘vendas mesmas lojas’ (+12,1% no 3T21).
- Êxito. Representando 48% da receita líquida neste tri, o forte desempenho do grupo (+15,7% de LfL a/a) ajudou a mitigar os impactos na operação brasileira.
Pontos Negativos
- Cenário adverso. Inflação em patamares elevados, impactando no poder de compra dos consumidores. O destaque negativo ficou para o Extra Hiper, impactado pelo segmento não alimentar, registrando uma queda de -12,8% a/a de ‘vendas mesmas lojas’.
- Margens pressionadas. Queda de 2,5 p.p na margem bruta, reflexo do reposicionamento de preço regular e da retomada das promoções, com o intuito de mitigar os efeitos da forte inflação alimentar, alto índice de desemprego e aumento da competição com o formato de atacarejo (Cash & Carry).
- Competição acirrada. Competitividade acirrada no setor, já afetando a rentabilidade do grupo. Entretanto, com a descontinuidade do Extra Hiper, devemos ver uma expansão significativa de margem EBITDA no longo prazo.
- Exposição ao multivarejo: Após o spin-off do Assaí, o GPA passou a ficar 100% exposto à divisão de multivarejo. Mesmo com todas as reestruturações realizadas, ainda enxergamos o atacarejo como o formato vencedor no varejo alimentar.