Disclaimer: este é um relatório temático. Apesar de discorrermos sobre um assunto que pode impactar as empresas sob nossa cobertura em termos fundamentais, o cenário aqui discutido se trata de apenas uma possibilidade e com impacto apenas no médio e longo prazo – ainda que ancorada sobre premissas razoáveis. Sendo assim, não recomendamos tomar nenhuma decisão de comprar e venda baseada no fluxo de notícias imediato. É sempre importante ter em mente que uma carteira diversificada e com ativos qualidade é, e sempre vai ser, a grande solução para maioria das situações e cenários de investimentos.
Conclusão
Em nossa leitura, o resultado das eleições da Venezuela deve ser acompanhada de perto pela indústria do Petróleo. Caso o Chavismo venha a sair do poder, entendemos que a recuperação econômica do país deverá ser necessariamente suportada pela indústria do petróleo, tendo em vista as suas vastas reservas e a possível recuperação da produção perdida na última década. Com a maior reserva de petróleo de todo o planeta, a Venezuela teria o poder de resolver – ou ao menos, amenizar – o problema de oferta enfrentado pelo planeta tendo em vista o sub-investimento realizado pela indústria de exploração e produção nos últimos anos e retomar seu posicionamento como centro produtivo de petróleo. É importante mencionar que a evolução dessa produção não é apenas “virar a chavinha” e deve acontecer apenas ao longo dos anos. Mas duvidamos que os níveis de preço explícitos nas curvas futuras dos preços do petróleo vá ficar indiferente a esse evento – a depender dos planos do novo governo que vai assumir, é claro. Além disso, imaginamos que as oportunidades de aquisições ou novos investimentos possam ser muito interessantes se considerarmos que a “Nova Venezuela” deva se tornar mais aberta ao investimento estrangeiro para retomar a produção de outrora.
Não faltam indícios da ausência de lisura no processo eleitoral da Venezuela. Acreditar em uma virada democrática é algo difícil de se apostar para qualquer sul-americano razoavelmente bem informado. Mas acreditamos que alguns pontos devem ser levados em consideração e que o cenário do giro democrático não pode ser desprezado. Não é o cenário-base… mas o objetivo desse documento é trazer exatamente o que não é óbvio e os eventuais impactos nesse cenário para o cenário do Petróleo.
Vale lembrar que parte da nossa tese das empresas de petróleo (para maiores informações, clique aqui) diz respeito a manutenção dos preços do brent em patamares elevados devido ao sub-investimento do segmento de Exploração & Produção nos últimos anos (atual curva do brent coloca os níveis de preço na casa dos US$68 vs preço atual c. US$85/barril). Sendo assim, imaginamos que o valuation de empresas petroleiras pode ser impactada tendo em vista uma normalização na oferta x demanda no mercado de petróleo daqui por diante. Nesse caso, empresas com baixos custos de produção, baixo endividamento e planos de investimento modestos tenderiam a surfar melhor um cenário de preços mais baixos vs os atuais e, quem sabe, aproveitar as oportunidades que devem surgir adiante, principalmente no segmento de redesenvolvimento tendo em vista todo o subinvestimento que o país deva ter passado nos últimos anos. Dito isso, acreditamos que os melhores nomes para surfarem esse cenário seria I) Prio, II) Petrobras e III) Petrorecôncavo e IV) 3R Petroleum (com os dados que temos hoje, claro). Maiores informações ao longo do documento.
Os fatos | Eleições na Venezuela
As eleições presidenciais devem acontecer na Venezuela no próximo dia 28/07/2024 (neste domingo). Atualmente, dois principais candidatos lideram a corrida eleitoral: Nicolás Maduro e Edmundo González. A candidata Maria Corina Machado foi desqualificada do pleito depois de alegados crimes eleitorais. Tal desqualificação foi duramente criticada pela oposição venezuelana, diversos orgãos internacionais (União Européia, Human Rights Watch, Organização dos Estados Americanos, etc) e países (Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha e outros). Sendo assim, a candidata desqualificada do pleito passou a apoiar a candidatura do Edmundo González.
De acordo com as últimas pesquisas eleitorais, González lidera o pleito com ampla folga. Essencialmente, para cada 1 eleitor do Nicolás Maduro, existem outros 6-7 eleitores do candidato de oposição. Isso em um pleito que quase 90% dos eleitores promete ir as urnas.
As Venezuela tem sofrido uma série de sanções ao longo dos últimos anos, como congelamento de ativos financeiros, restrições a transações financeiras e outros. Dentre os motivos alegados, estão a violação aos direitos humanos, repressão política a opositores, corrupção e irregularidades nas eleições e outros. Dentre os países sancionadores estão Estados Unidos, União Europeia, Canadá e outros.
Tal contexto é importante ser mencionado tendo em vista o fato de que o pleito eleitoral nem sempre acaba por resultar no óbvio. Afinal de contas, abundam acusações quanto a lisura das eleições da Venezuela. Como mencionamos no primeiro parágrafo do documento, o objetivo desse documento é
A Venezuela & Petróleo
Tendo em vista as informações contidas no gráfico abaixo, concluímos:
I) Maior reserva de Petróleo do Mundo: Venezuela tem a maior reserva petrolífera provada no mundo.
II) A produção dos países da OPEP ficou praticamente estável desde 2005: entre 34-35 milhões barris/dia.
III) Os países não-OPEP incrementaram sua produção em impressionantes 23 milhões barris equivalente/dia, mesmo com uma reserva 2,4x menor vs países da OPEP. Grandes destaques foram os EUA e Canadá (com o advento do shale gas) e do Brasil, com o pré-sal.
IV) A produção da Venezuela em 2005 era de 3,3 milhões de barris. Em 2020, o país produziu apenas 600k barris equivalente/dia mesmo permanecendo com as maiores reservas mundiais de petróleo. Tal declínio foi resultado da intensa convulsão social que o país atravessou ao longo dos últimos 20 anos.
V) Muy-Amigos! Enquanto a Venezuela convulsionava nas últimas décadas, os demais membros participantes da OPEP cobriram a queda de produção da Venezuela com razoável facilidade.
Geopolítica
Imaginamos que as eleições que devem acontecer nesse fim de semana precisa ser acompanhada de perto. Dentro dos aspectos interessante, diz respeito a postura das potência globais em relação ao impacto dessas eleições em seus respectivos interesses. Parte do suporte geopolítico obtido pela Venezuela veio da Rússia, que muito além da ideologia, se beneficiou da queda na produção que o país apresentou e, consequentemente, manteve os preços do petróleo em patamares estruturalmente mais elevados. Com a invasão da Ucrânia, achamos que o foco da Rússia deva estar em questões internas.
No outro ponto, temos os Estados Unidos: o país não é apenas o maior produtor do mundo, mas é também o maior consumidor de petróleo do mundo. Com problemas de inflação e juros alto, a queda no preço do petróleo viria muito a calhar. É difícil imaginar que tipo de negociações devam estar sendo tocadas, mas a queda no atual regime e a ascensão de outro viria muito a calhar tendo em vista as atuais condições da economia americana.
Quem ganha e quem perde dentre as Petroleiras?
Caso o cenário mais otimista para Venezuela venha a se consolidar, imaginamos que vá ser pouco provável que a curva dos preços do brent fique incólume. Ainda assim, imaginamos que as cotações das Petroleiras venham a agir de maneira diferente a depender de algumas características. Entendemos que características desejáveis para surfar um mercado de baixa nos preços de petróleo devem ser: I) custo de produção, II) endividamento e III) plano de investimento. Entendemos que o plano de investimento possa ser flexível em cenários de preços baixo do brent… mas redução do pipeline de investimento pode simplesmente não ser desejável, como no caso da Petrobras. Por último, é importante lembrar que esse “ranking” é baseada nas características que observamos hoje vs uma nova realidade que deve ser implementada ao longo dos anos. Por último, tendo em vista toda fraqueza institucional (com direito a expropriações, inclusive), imaginamos que as eventuais oportunidades de aquisições no país aconteçam em patamares bem atraentes.
Sendo assim, tendo em vista essas características, elencamos I) Prio, II) Petrobras, III) Petrorecôncavo e IV) 3R Petroleum.