O upgrade do The Merge será implementado na rede de testes da Ethereum, conhecida como Goerli, entre quarta e quinta-feira dessa semana. A Goerli será a última rede de testes a passar pelo processo de Merge antes de ser realizado na rede oficial da Ethereum. O The Merge é a atualização responsável pela alteração do mecanismo de consenso da rede, que passará de Prova de Trabalho (PoW) para prova de participação (PoS). Outras etapas do roadmap da Ethereum estão sendo realizadas em paralelo, as quais, em conjunto com rollups, serão resposáveis pela redução de taxas e aumento da velocidade e escalabilidade da rede.
O sentimento de mercado foi afetado positivamente após os dados de inflação dos EUA que vieram abaixo do esperado. A redução da inflação indica que as medidas tomadas pelo banco central americano (FED) de aumento de juros têm surtido efeito e, portanto, entende-se que novos aumentos podem não ser tão intensos. Os ativos de risco, que incluem os criptoativos, tendem a se beneficiar com a futura queda da taxa de juros, pois investidores passarão a buscar por oportunidades de investimento com maiores possibilidades de retorno.
O índice de medo e ganância permanece indicando “medo”, mas aparenta ter se estabilizado acima de 30, em ascensão desde o final de Jun/2022. É esperado que com o novo cenário macroeconômico desenhado, o índice permaneça aumentando.
O aumento de apetite ao risco desenhado pelo cenário macro também se reflete na composição do mercado cripto. O desempenho do Bitcoin em relação às altcoins tem sido inferior, e com isso, o domínio do bitcoin caiu de um pico de 47% em junho para 40,5% agora. O destaque fica para o ETH aumentando sua participação de mercado em 0,89% nos últimos sete dias, enquanto a participação de mercado do BTC caiu 0,96%.
Além do cenário macro mais propenso à risco, temos a narrativa da antecipação ao Merge, razão que também tem colaborado para que o Ether (ETH) esteja desempenhando melhor que o BTC nos últimos dias. A relação ETH/BTC atingiu 0,074, maior nível desde Mai/2022, indicando maior apetite ao risco por parte dos investidores.
O Merge será responsável pela mudança do mecanismo de consenso da rede Ethereum. Com a mudança, os mineradores perderão sua função, uma vez que, com um protocolo PoS, a validação da rede não dependerá mais de poder computacional (i.e., placas de vídeo), mas passaria a depender de ETHs apostados (em stake) na rede para a criação de novos blocos. Atualmente já são mais de 13,2 milhões de ETH em stake.
Alguns mineradores lançaram uma campanha para realizar um hard fork na Ethereum, ou seja, replicar a rede inteira para uma nova blockchain, na qual o mecanismo de PoW permanecerá ativo. No início, ambas as redes seriam idênticas, duplicando todos os ativos. No entanto, embora a rede possa ser tecnicamente duplicada, o valor dos ativos não pode.
As stablecoins, por exemplo, passariam a ter o dobro de oferta circulante, uma vez que seus tokens da rede ETH (PoS) seriam duplicados para a nova ETH (PoW). Os emissores de stablecoin terão que escolher qual cadeia armazena o valor real, então, em teoria, eles podem decidir qual cadeia se tornará o novo Ethereum.
Chainlink, um protocolo de oráculos responsável por enviar informações do mundo real para a blockchain, foi outra uma instituição que reportou que não fornecerá suporte a ETH (PoW). Sem a possibilidade de utilizar stablecoins e a maior rede de oráculos da blockchain, qualquer fork da Ethereum já nasce morto. Entretanto, algumas exchanges devem listar os tokens ETH (PoW), criando estretégias de especulação sobre o ativo.
Os únicos apoiadores de uma ETH que se mantenha PoW são mineradores, pools de mineração ou exchanges, devido aos incentivos financeiros que ambas as classes possuem.
A exchange Poloniex lançou uma funcionalidade para a negociação de Ethereum PoS (ETHS) e Ethereum PoW (ETHW). O ETHW da Poloniex atualmente é negociado a 0,04 ETH, enquanto o ETHS é negociado a 0,95 ETH, em volumes baixos. No entanto, muitas oportunidades de arbitragem parecem estar surgindo.
Os futuros de ETH começaram a ser negociados com desconto histórico em relação ao mercado spot (à vista). O desconto recorde pode ser devido à estratégia de trade do possível evento de fork da rede. A estratégia foi anunciada pela Galois Capital e consiste em shortear ETH no mercado futuro (apostar na queda do ETH) ao mesmo tempo em que cria uma posição long no mercado spot (apostar na alta do ETH). Essa estratégia gera uma posição neutra em Ethereum, que visa capturar o valor do novo token ETH que surgirá na rede PoW, caso o fork seja bem-sucedido (possuir o ETH à vista fará com que esses tokens sejam replicados na nova rede).
Em contrapartida ao desconto de ETH no mercado futuro, o interesse de ETH em aberto superou 4,2 milhões ETH, segundo maior pico da história do criptoativo. Esse diferencial pode ser explicado pela popularização da estratégia da Galois.
As baixas atividades de ETH nas exchanges, contrapostas ao alto volume de negociação de ETH futuro também indicam que o mercado de derivativos tem sido o meio preferido entre os traders para operar o evento do Merge, quando comparado ao mercado à vista.
Vale ressaltar que o Merge também traz consigo uma narrativa de potencial deflacionário para o ETH. O potencial deflacionário está ligado à utilização da rede e ao EIP-1559 que, após implementado, passo a queimar parte das taxas de transação existentes em um bloco.
Mas com a atividade da rede caindo em meio à tendência de baixa, a narrativa deflacionária do Ethereum parece incerta. As taxas de transação, assim como as taxas de gás, da Ethereum estão em seu nível mais baixo desde o início do boom DeFi em 2020.
Essa queda na utilização da rede reduziu a taxa de queima de ETH. Portanto, apesar de muitos ainda baterem na tecla de que a rede se tornará deflacionária após o Merge, devemos lembrar que as atividades de rede, por enquanto, contam outra história.
