Julho começou com a promessa de ser um mês brilhante para os ativos brasileiros. O cenário parecia favorável: dólar fraco, valuations atrativos na bolsa e a expectativa de alternância de poder. Casas globais de peso, como JP Morgan e Morgan Stanley, chegaram a recomendar overweight para a bolsa brasileira. E, de fato, o início foi animador: no dia 4/07, o Ibovespa bateu sua máxima histórica, chegando perto dos 142 mil pontos, enquanto o dólar encostava em R$ 5,41. Naquele momento, o Brasil parecia surfar numa onda perfeita — os fluxos globais favoreciam países emergentes, as condições financeiras internacionais se afrouxavam e nossos ativos locais se beneficiavam de tudo isso com força total.
Mas como o mercado adora surpreender, a euforia durou pouco. Duas das três teses que sustentavam o otimismo foram colocadas à prova.
Ibovespa bate recorde histórico… e devolve tudo
Depois de testar os 142 mil pontos, o Ibovespa entrou em um movimento de realização, devolvendo ganhos e deixando investidores com aquela sensação amarga.
A verdade é que o mercado brasileiro ainda seguia majoritariamente a dinâmica internacional, sem muita diferenciação para nossas questões internas. Éramos apenas mais um emergente numa onda global positiva. Até que deixamos de ser.
Golpe de Misericórdia: Trump e suas Tarifas
Mas o verdadeiro nocaute veio no dia 10 de julho, quando Trump anunciou tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA. Foi como levar um soco no estômago quando você já estava cambaleando.
A reação foi imediata e intensa. Não porque o impacto econômico seria devastador — na verdade, os EUA representam apenas 1,7% do PIB brasileiro em exportações, então o efeito direto seria limitado (estimado entre 0,3% e 1,2% do PIB).
O problema foi o impacto psicológico e de mercado. Nas semanas anteriores, gestores locais e estrangeiros vinham aumentando exposições ao Brasil, especialmente em juros e câmbio. A notícia “inesperada” de Trump gerou uma corrida para a saída, com ajustes pontuais de posição que amplificaram o movimento negativo.
Alguns setores seriam desproporcionalmente afetados:
- Embraer (aeronaves)
- Suzano (papel e celulose)
- WEG (bens de capital)
- Produtos de madeira e construção
Mas o mais interessante é que, politicamente, a medida fortaleceu Lula ao projetá-lo como defensor da soberania nacional, e assim reduziu o entusiasmo dos investidores com a tese de alternância de poder.
A Economia Real Também Dava Sinais
Enquanto todas essas questões política aconteciam, os dados econômicos brasileiros começaram a mostrar sinais de arrefecimento:
- IBC-Br (dado mensal que é utilizado como proxy do PIB) recuou 0,74% em maio, bem abaixo do esperado
- Vendas no varejo desaceleraram, com o núcleo caindo 0,2%
- Déficit em transações correntes atingiu US$ 5,1 bilhões em junho
- No acumulado de 12 meses, nosso rombo externo já soma US$ 73,1 bilhões (3,4% do PIB)
A política monetária contracionista do Banco Central, que tem hoje a Selic em 15%, começa a mostrar seus efeitos. O crédito desacelera, a inadimplência das famílias sobe para 6,3%, e o comprometimento de renda voltava a crescer.
O resultado foi claro…
Com o dólar voltando a se fortalecer e o clima político mais tenso, os investidores estrangeiros retiraram mais de R$ 7 bilhões da bolsa brasileira em julho. E mais uma vez isso mostra como mercados emergentes são vulneráveis quando as condições globais se deterioram e os problemas domésticos se acumulam.
Enquanto isso, nos EUA…
Os ativos americanos brilharam. O dólar valorizado e a temporada de resultados das empresas, que começou forte em julho, ajudaram a empurrar o S&P 500 para novas máximas históricas.
Meta e Microsoft superaram expectativas em seus resultados, levando suas ações a altas substanciais. O mercado americano mostrava que, quando você tem economia resiliente e empresas entregando resultados, os investidores recompensam.
Agosto: o mês em que podemos voltar a ter esperanças
Agosto começou trazendo uma reviravolta que pegou todo mundo de surpresa. O relatório de emprego americano (payroll) veio muito mais fraco do que o esperado, com apenas 147 mil vagas criadas versus expectativa de mais de 160 mil. Pior ainda: revisões “apagaram” cerca de 258 mil vagas dos dois meses anteriores.
Por que isso importa? Porque finalmente começamos a ver sinais concretos de arrefecimento na economia americana. O mercado de trabalho, que vinha resistindo bravamente, mostrou suas primeiras rachaduras importantes.
Esse dado fez o mercado questionar a durabilidade da narrativa do “excepcionalismo americano”. Até o fim de julho, o mercado precificava menos de dois cortes de juros nos EUA este ano. Agora, em agosto, já se fala em até três cortes.
A mudança de humor foi instantânea: taxas de juros americanas despencaram, o dólar enfraqueceu, e os ativos de risco ao redor do mundo — incluindo o Brasil — ganharam um novo fôlego.
Essa mudança devolve força a um dos pilares que pode beneficiar os emergentes: a tese do dólar fraco.
Em resumo…
Julho foi um mês de lições duras para quem apostava no Brasil. Aprendemos que:
- Fluxos globais não são eternos — quando o foco se volta para questões domésticas, a diferenciação é implacável
- Mercados testam teses rapidamente — das três teses originais, duas foram questionadas em semanas
- Posição técnica amplifica movimentos — quando gestores estão posicionados, qualquer ruído gera ajustes desproporcionais
Mas agosto abre espaço para um novo alívio. Com dados americanos mais fracos, expectativas de cortes de juros e um dólar potencialmente mais fraco, as condições para emergentes podem melhorar.
O investidor brasileiro pode, sim, voltar a ter esperança — desde que mantenha os olhos atentos às curvas do caminho. Porque se julho nos ensinou alguma coisa, foi que no mercado financeiro, assim como na vida, quando tudo parece perfeito demais, é hora de redobrar a atenção.