O FED vai estragar o rally de final de ano das bolsas? Entre a inflação que ainda incomoda o FOMC e a força estrutural das teses de IA.
Powell e o recado do Fed
No último FOMC, Jerome Powell esfriou o otimismo do mercado. O recado foi direto: parte do comitê ainda vê a inflação como ameaça e defende uma postura mais conservadora, reforçando que o trabalho do Fed ainda não acabou. Para os investidores que esperavam corte de juros em dezembro, a mensagem foi clara: o Fed quer evitar uma euforia prematura.
Mas a grande questão é: o rali das bolsas americanas depende mesmo de cortes agora? Na nossa visão, não. O pano de fundo global continua positivo, independentemente dos juros americanos. Indicadores como PMIs e ISMs apontam para uma reaceleração sincronizada das economias, um movimento raro, marcado por um dos maiores ciclos coordenados de cortes de juros da história, sem recessão nas principais potências.
O que está impulsionando o mercado não são só os juros, é a IA, o ganho de produtividade e a concentração em megacaps. O rali atual é mais “made in Silicon Valley” do que “made by Powell”. A liderança de empresas como Apple, Nvidia e o próprio Dow Jones, com seu foco em indústria doméstica, reforça essa leitura.
DXY continua sendo o termômetro do apetite ao risco
Para ganhar mais confiança na continuidade do rali global, é essencial ver o DXY voltando à trajetória de queda. Hoje, o dólar global é o melhor termômetro do apetite por risco. Quando o DXY cai, o mercado tende a buscar ações, commodities e emergentes. Quando sobe, há uma migração para ativos defensivos. Simples assim.
A direção do DXY funciona como uma leitura do humor global. Nos últimos dias, o índice tem mostrado estabilização, enquanto o real se mantém próximo de R$ 5,38, sustentado por um carry trade atrativo, fruto da taxa de juros elevada no Brasil.
Brasil: máximas atrás de máximas, e ainda com espaço para mais
Apesar da sequência de recordes no Ibovespa, o cenário segue positivo para os ativos brasileiros. No dia 16 de outubro, o investimento estrangeiro teve saldo positivo de R$ 1,35 bilhão, indicando retomada do interesse por ativos locais. O ambiente internacional também favorece os mercados emergentes, incluindo o Brasil. Internamente, cresce a expectativa de que o ciclo de cortes de juros continue ao longo de 2026. A discussão não gira mais em torno de quando começa, mas sim de quanto a taxa básica pode cair até o fim do ciclo. Hoje, a aposta mais forte é de que a Selic termine 2026 abaixo de 12%.
Há uma semana, o mercado estimava o CDI de 2026 em cerca de 13,5%, mas essa projeção caiu para 12,5%, movimento que reforça o potencial de valorização dos ativos locais. O consenso atual aponta para o início dos cortes em janeiro de 2026, com redução total de 250 pontos-base. Alguns analistas ainda consideram março como alternativa, mas a maioria vê janeiro como o ponto de partida. O presidente Lula também sinalizou apoio a uma política monetária mais séria, reforçando essa leitura.
No campo doméstico, os dados econômicos têm vindo mistos. As vendas no varejo subiram 0,9% em agosto, mas o núcleo do setor cresceu apenas 0,2%, abaixo das projeções. Já o setor de serviços avançou 0,1%, alinhado às expectativas, sugerindo um crescimento moderado, sem sinais claros de desaceleração forte.
Diante desse cenário, mantemos posição comprada tanto em bolsa americana quanto brasileira, e enxergamos grande oportunidade nos títulos de inflação de longo prazo (IPCA+). Esses papéis, com juros reais acima de 7% ao ano, ainda refletem um cenário pessimista de “Brasil quebrado”, o que não condiz com a realidade. Para ilustrar: uma NTN-B 2065 comprada a 7,20% em emissão extraordinária do Tesouro hoje está a 7,29%, com retorno de 16,5% no período. Já a NTN-B 2060, leiloada a 6,35% no início do governo Lula, teria rendimento de 28% ao ano por três anos. E, se considerarmos a taxa de 4,50% praticada anteriormente, o retorno anual seria de 66% por três anos, uma assimetria extremamente atrativa.
Estratégia para Novembro
Ouro: tese intacta
Sim, mantemos posição comprada em ouro e não temos intenção de alterar essa estratégia. O metal continua sendo uma proteção estrutural contra o risco das moedas fiduciárias, que seguem sendo emitidas em larga escala. Enquanto governos gastarem mais do que arrecadam e bancos centrais recorrerem à impressão de dinheiro para resolver crises, o ouro seguirá como uma âncora de credibilidade no sistema financeiro.
Além disso, os próprios bancos centrais estão comprando ouro em ritmo recorde, o que, historicamente, não acontece por acaso. Esse movimento reflete uma perda estrutural de confiança nos governos, causada pelo descontrole fiscal em diversos países. Grandes investidores estão deixando de financiar países com rombos fiscais crônicos, e realocando cerca de 2% de seus investimentos em renda fixa para ouro. Considerando que o mercado de dívida pública dos Estados Unidos movimenta cerca de US$ 1 trilhão por dia, essa migração representa um volume expressivo de capital.
A tese permanece firme, sólida, e, neste caso, literalmente brilhante.
Caixa e juros altos: o luxo de esperar sendo bem pago:
Mesmo com uma visão positiva para ativos de risco, é prudente manter cerca de 30% da carteira em caixa. Em muitos países, ficar líquido significa perder poder de compra. No Brasil, é o oposto: o investidor é bem remunerado para esperar, com juros de 15% ao ano. Esse é o chamado “carry trade doméstico”, onde é possível manter liquidez, aproveitar os juros e ainda colher ganhos reais.
O carry atrativo do real ajuda a manter o dólar estável, mesmo com a valorização global da moeda americana. Dados recentes mostram que os investidores vêm comprando esse diferencial de juros em mercados emergentes, mas o posicionamento ainda está abaixo do nível neutro, o que beneficia moedas como o real, que oferece juros altos tanto nominais quanto reais.
Para novos aportes, a sugestão é alocar 70% em renda fixa e 30% em renda variável para diversificação. Com o CDI a 14,90% ao ano, é possível aumentar o patrimônio de forma consistente e com baixo risco.
Criptoativos: o início de um novo ciclo:
Os criptoativos seguem trajetória própria, diferente de ativos tradicionais. Eles não têm se comportado como o “porto seguro” do ouro, nem como uma versão alavancada da Nasdaq. Ainda estão em busca de uma identidade, o que é natural em um mercado em amadurecimento. Após um período prolongado de correção e consolidação, o setor começa a mostrar sinais de retomada do interesse institucional.
Para quem ainda tem pouca ou nenhuma exposição ao segmento, este pode ser um bom momento para iniciar uma posição, com uma abordagem gradual e disciplinada. Uma estratégia interessante envolve investir em Bitcoin via ETF, combinando com a venda mensal de opções cobertas, aproveitando a alta volatilidade, que chega a 80% ao ano, bem acima do Ibovespa (14%) e do dólar (12 a 13%).
Palavras Finais
Seguimos otimistas, mas atentos, mantendo posição comprada tanto na bolsa americana quanto na brasileira. Acreditamos que o cenário atual ainda oferece boas oportunidades em ativos de risco, especialmente quando combinadas com proteção e disciplina tática.
No mercado de juros, continuamos alocados em papéis atrelados ao IPCA de longuíssimo prazo, que seguem oferecendo assimetria interessante, com juros reais elevados e prêmios de risco acima do necessário.
Também mantemos posição em ouro, que continua sendo uma reserva estrutural de credibilidade diante da expansão descontrolada das moedas fiduciárias.
Ao mesmo tempo, preservamos cerca de 30% da carteira em caixa, o que, no Brasil, não representa perda, mas ganho. Com CDI próximo de 15% ao ano, a liquidez bem remunerada se torna uma estratégia eficiente para proteger capital e manter flexibilidade.
Por fim, começamos a construir posição em criptoativos, de forma gradual e disciplinada, reconhecendo que o setor vive um momento de transição, com sinais crescentes de entrada institucional e potencial relevante de valorização no médio e longo prazo.

