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Publicado em 29 de Novembro às 16:14:54

Como a Ômicron pode impactar a economia e os investimentos?

O noticiário de uma nova variante denominada “Ômicron” inicialmente identificada no sul do continente africano fez com que os mercados no mundo inteiro fossem “derrubados” (Dow Jones -2,53%, S&P -2,27%, Nasdaq -2,23%) na última sexta-feira (26/11). A Bovespa não escapou dessa, após três sessões consecutivas de alta, registrou uma queda de 3,39% no último pregão, de modo que, encerrou a semana com um recuo acumulado de 0,79%. Além disso, observou-se uma forte queda no preço das commodities e depreciação das moedas de países emergentes em um movimento de busca por ativos mais seguros. O contratos futuros de petróleo despencaram -13% na última sexta-feira. Tanto em Nova York, quanto em Londres, com os ativos tendo o pior desempenho desde o início de setembro, com o WTI tendo perdido a marca dos US$ 70.

O principal fator de alarde é o fato de que 50 mutações estão presentes nesta nova variante, incluindo os mais de 30 presentes na proteína Spike, associada a capacidade de entrada do patógeno nas células humanas e um dos principais alvos dos anticorpos neutralizantes para bloquear o vírus. O medo é que essas mudanças possam torná-lo mais transmissível do que a variante dominante (Delta) e mais propenso a escapar da proteção imunológica conferida pelas vacinas ou infecção anterior.

Nesse sentido, ficam os seguintes questionamentos no ar: o que sabemos sobre esta nova variante? Qual seu potencial impacto para as economias?

O que sabemos?

A OMS ressalta que ainda não está claro o grau de transmissibilidade da nova variante tampouco que esta seja mais transmissível que a variante Delta e que estudos em andamento devem chegar a uma conclusão nos próximos dias. Além disso, no que diz respeito à gravidade da doença, também não se têm evidências de que a infecção com Ômicron cause uma infecção mais grave em comparação as demais variantes, os dados preliminares sugerem que o aumento das taxas de hospitalizações na África do Sul pode decorrer do aumento do número geral de pessoas se infectando com Covid (quanto maior a base de infecção maior a sua propagação) e não especificamente por causa da Ômicron.

Por enquanto, a OMS reitera que não há informações que sugiram que os sintomas associados à Ômicron sejam diferentes das apresentadas pelas demais variantes e para se ter uma melhor avaliação do grau de severidade são necessários estudos mais longos.

Entretanto, no que diz respeito à eficácia das vacinas e à reinfecção, os estudos preliminares sugerem que pode haver um risco aumentado de reinfecção por meio desta nova variante em comparação com as demais variantes. No que diz respeito as vacinas, a OMS reitera a importância destas para mitigar a evolução da doença para casos graves ou até a morte, entretanto, o impacto potencial desta variante contra as atuais contramedidas existentes ainda está sob análise

Quais Impactos para as economias?

Os cientistas seguem preocupados com a velocidade com que a variante está se espalhando na África do Sul, principalmente, nas cidades de Joanesburgo e Pretória. Os casos diários mais do que triplicaram no país desde terça-feira (23/11) e os primeiros resultados dos testes indicaram que 90% dos novos casos em Gauteng foram causados pela Ômicron.

Diante disso, cientistas apoiam a imediata proibição de viagens de países onde a Ômicron está se espalhando rapidamente com o objetivo de limitar a propagação global desta variante. Esta estratégia permitiria os governos a ganhar tempo para aumentar as taxas de vacinação e de se preparar para um potencial aumento no número de internações. Até o momento, pelo menos 12 países já detectaram a nova variante e diversas nações, inclusive o Brasil, já anunciaram restrições a voos vindos do continente africano.

Diante disso, os riscos de um maior fechamento de fronteiras e “lockdowns” voltam a ficar acentuados, principalmente, diante da elevação do número de casos de Covid no hemisfério norte. Caso haja uma forte disseminação da Ômicron e esta gere um aumento significativo no número de hospitalizações e mortes, os governos devem ter que impor novamente medidas de distanciamento social que poderiam culminar novamente nos lockdowns.

Dessa forma, aumenta-se o risco para um cenário de menor atividade global, menor apetite por risco, manutenção de políticas fiscais acomodatícias e deterioração das cadeias globais de produção. Por outro lado, há um viés para baixo na inflação global diante deste cenário pandêmico, visto que o excesso de demanda, sobretudo, observado nos EUA tende a arrefecer na margem.

Entretanto, nossa avaliação é que diante do surgimento da nova variante em um contexto de forte discrepância do processo vacinal entre os países ricos e pobres, exacerba a necessidade de maiores discussões no que diz respeito à uma melhor distribuição de doses de maneira global. Isso se decorre do fato de que enquanto houver surtos em grandes escalas, sobretudo, em regiões bastante populosas, o risco de novas mutações seguirá elevado e com isto o potencial surgimento de novas ondas globais de contaminação. Vale lembrar, que o mercado poderá constantemente entrar em pânico toda vez que novas variantes forem descobertas por conta da falta de vacinação, o que por si só já causa estresse ao investidor no curto médio prazo e pode continuar a derreter bolsas por algum tempo.

Conclusão

Diante destes fatos, nossa avaliação é que o cenário atual é de cautela, visto que há poucas informações conclusivas em relação à nova variante Ômicron e resultados mais precisos devem ser divulgados nas próximas semanas. Embora haja um maior número de mutações acreditamos que, devido ao atual cenário de disponibilidade de vacinas em países desenvolvidos e um melhor entendimento da pandemia por parte dos médicos e cientistas, o impacto de novas variantes do vírus não sejam da mesma magnitude das observadas durante o primeiro surto em 2020. O atual processo vacinal, mesmo enfraquecido, deve ajudar a combater o desenvolvimento de quadros mais graves de Covid, entretanto, resultados definitivos serão apenas divulgados nas próximas semanas.

Em um cenário negativo, a pandemia que já estava no radar do mercado com as recentes novas ondas na Europa traria novos impactos negativos principalmente para os setores de turismo, varejo e tech, como já aconteceu em passado recente. Não atoa, as maiores baixas do Ibov na última sexta-feira foram de Gol, Azul e CVC, enquanto o varejo já apanha há algum tempo, com empresas como Magalu e Via caindo mais de 40% nos últimos meses, com cenários ainda mais negativos no caso de um novo surto.

O surgimento desta nova cepa reforça a necessidade de maiores debates em torno da distribuição de vacinas. Na nossa visão, a pandemia só deixará de ser um risco a partir do momento em que observarmos um número significativo de pessoas com completa vacinação de maneira homogênea no mundo todo. Até lá, mantemos nossa visão de que o risco de aumento de casos por Covid ainda não pode ser descartado.

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