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Publicado em 29 de Julho às 07:00:00

Expresso Bolsa Semanal: Acordos comerciais, Dólar perde força, Brasil na contramão

O apetite por risco dominou os mercados globais, impulsionado por sinais de novos acordos comerciais e por dados econômicos robustos nos Estados Unidos, elevando os principais índices de ações a novas máximas. O dólar perdeu força, cenário que costuma favorecer ativos de risco e moedas de países emergentes.

O Brasil, porém, se afastou desse movimento positivo: a polarização política e as tensões nas relações internacionais reduziram o fluxo de capital estrangeiro e reacenderam preocupações sobre o financiamento das contas externas.

Maiores Altas e Baixas (Ibovespa)

A bolsa brasileira apresentou desempenho misto durante a semana. No início, o Ibovespa avançou, impulsionado principalmente por empresas de commodities como Vale e Petrobras, que se beneficiaram da alta do minério de ferro.

No entanto, com o avanço da semana, o mercado local perdeu força e se descolou do movimento global de alta. O fluxo de capital estrangeiro, que havia reagido ao enfraquecimento do dólar, ficou abaixo do esperado, revelando que as tensões políticas e questões internas limitaram a atratividade do Brasil. Além disso, setores vulneráveis às tarifas enfrentam risco de desaceleração econômica, o que pressiona a manutenção de empregos em algumas regiões.

Macro & Política

Os mercados internacionais operaram em clima de otimismo, com bolsas dos EUA e da Ásia atingindo máximas históricas. Isso ocorreu após anúncios de acordos comerciais, como com o Japão, e rumores de avanços com a Europa, reduzindo o temor de guerras tarifárias. Essa melhora nas relações comerciais foi o principal motor da alta global, alimentando o apetite por risco e a busca por ativos com maior retorno.

No campo monetário, o Banco Central Europeu adotou uma postura cautelosa, sinalizando que os cortes de juros futuros não são garantidos, o que reforçou uma percepção de manutenção da política mais rigorosa. Nos Estados Unidos, o mercado de trabalho mostrou força, com pedidos de auxílio-desemprego em níveis baixos, indicando que não há necessidade imediata de estímulos via redução das taxas de juros. Por outro lado, as expectativas de inflação de longo prazo nos EUA se desancoraram, alimentando dúvidas sobre a credibilidade da política monetária e os desafios fiscais que o país enfrenta.

Desempenho do Real (BRL)

O dólar americano apresentou enfraquecimento frente a várias moedas, especialmente as dos mercados emergentes, fortalecendo o otimismo nos ativos de risco. Essa queda foi vista como resultado de investidores buscando diversificar fora dos EUA, considerados superalocados e com desafios fiscais. Apesar de oscilações temporárias, a tendência de queda do dólar seguiu firme.

No Brasil, o real mostrou resistência, permanecendo estável mesmo diante da alta incerteza política. No entanto, a expectativa de que a fraqueza do dólar traria um fluxo expressivo de capital estrangeiro para a bolsa brasileira perdeu força.

Curva de Juros

O mercado de juros futuros no Brasil manteve-se em níveis elevados, com desempenho negativo devido à desalavancagem e liquidação de posições, que reduziram o interesse por ativos de risco locais. Em resposta, o Tesouro Nacional adotou cautela, diminuindo a emissão de títulos diante dos juros altos e da aversão do mercado aos custos elevados de captação.

O cenário fiscal também exerceu impacto relevante. O relatório bimestral de receitas e despesas revelou a reversão do contingenciamento orçamentário, moderando a queda das taxas e provocando leve deterioração nos ativos locais. No final da semana, as taxas futuras subiram, especialmente no centro da curva, afetadas pela cautela dos investidores diante do vencimento das negociações sobre tarifas americanas e pelo aumento dos rendimentos dos títulos dos EUA. A inflação medida pelo IPCA-15 acelerou ligeiramente além do esperado, influenciando as taxas, mas sem alterar as expectativas de manutenção da Selic na próxima reunião do Banco Central.

Fluxo Investidor Estrangeiro

Narrativas & Cenários

A semana foi marcada por otimismo global diante da redução das tensões comerciais, com aumento expressivo do apetite por risco. Porém, para o Brasil, o foco permaneceu nas divisões políticas internas e nos conflitos institucionais, especialmente na relação com os Estados Unidos.

O principal risco para o mercado brasileiro está ligado à escalada das tensões comerciais com os EUA. Declarações do ex-presidente Trump sobre tarifas mais elevadas para países com “relações não muito boas” e a resposta firme do presidente Lula, que sugeriu disposição para negociar, mas também para retaliar, indicam que o conflito tarifário pode continuar e afetar negativamente o mercado local. Essa incerteza é um ponto central a ser acompanhado.

Em contraste, a expectativa de acordo comercial entre EUA e União Europeia trouxe alívio ao mercado global, impulsionando o apetite por ativos de risco. Para a próxima semana, a temporada de balanços nos Estados Unidos será determinante, enquanto a continuidade do ruído político no Brasil deve limitar a participação do país no movimento global de alta.

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