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Publicado em 12 de Setembro às 17:20:48

Expresso Bolsa Semanal: Decisão do FED; “Pouso Suave”; Fraqueza do Dólar

Na semana de 8 a 12 de setembro de 2025, os mercados reagiram a uma combinação de fatores globais e regionais. O colapso dos ativos argentinos, após a derrota eleitoral de Javier Milei, afetou temporariamente o humor dos investidores no Brasil. Ao mesmo tempo, a inflação americana (PPI) abaixo do esperado consolidou as apostas em corte de juros pelo Federal Reserve, reforçando o otimismo em torno de uma política monetária mais flexível nos EUA. Já no campo doméstico, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF trouxe incerteza política, ampliada pelo risco de retaliações americanas, e pressionou os ativos locais.

Apesar das tensões, o cenário global manteve viés positivo, com a perspectiva de um “pouso suave” da economia americana. Esse quadro de crescimento moderado e inflação em queda gradual tem dado suporte a ativos de risco em todo o mundo. Os mercados emergentes ganharam destaque, favorecidos pela fraqueza do dólar e pela busca de investidores por oportunidades de valor, em contraste com as avaliações historicamente altas dos mercados desenvolvidos.

Maiores Altas e Baixas (Ibovespa)

setor de proteínas foi o grande destaque da semana, com Marfrig e Minerva em forte alta, impulsionadas pela aprovação da combinação de negócios entre BRF e Marfrig e pela habilitação de frigoríficos brasileiros para exportação ao Vietnã, respectivamente. Entre os papéis de maior desempenho também esteve o Banco do Brasil, que se valorizou de forma robusta e se descolou da fraqueza do setor bancário. As ações da Magazine Luiza e Cyrela completaram o grupo das principais altas, sustentadas pela expectativa de cortes de juros e por um ambiente mais favorável ao consumo.

Na ponta negativa, a CVC liderou as quedas, seguida por empresas como MRV e Vamos. A Yduqs recuou, refletindo rebaixamentos de recomendação no setor de educação, enquanto a Gerdau foi pressionada pela incerteza em relação à demanda global por aço. A Embraer também caiu, influenciada por preocupações com o cenário externo e seus possíveis reflexos nas exportações.

Macro & Política

cenário internacional da semana foi marcado pela confirmação de que o Federal Reserve tem espaço para iniciar cortes de juros, após os dados de inflação ao produtor apontarem deflação inesperada e o índice de preços ao consumidor vir dentro do esperado. A revisão dos números de emprego, que eliminou quase 1 milhão de vagas entre abril de 2024 e março de 2025, reforçou a visão de enfraquecimento do mercado de trabalho e consolidou apostas em uma flexibilização monetária gradual. Além disso, os pedidos de seguro-desemprego atingiram o maior nível em quase quatro anos, embora parte do salto tenha sido atribuída a distorções localizadas no Texas.

Na América Latina, o destaque foi o colapso político de Javier Milei na Argentina, após derrota significativa nas eleições em Buenos Aires. O episódio desencadeou uma forte queda da bolsa argentina e a desvalorização abrupta do peso, levantando dúvidas sobre a viabilidade de agendas liberais na região e afetando, ainda que temporariamente, o humor em relação aos ativos brasileiros. No Brasil, a condenação de Jair Bolsonaro pelo STF, já esperada pelo mercado, manteve os investidores atentos diante das declarações do governo Trump sobre possíveis retaliações econômicas contra o país.

Já a China seguiu adotando estímulos para conter a fraqueza de sua economia. Apesar da deflação persistente no consumo interno, o país sustentou um superávit comercial robusto, mesmo com exportações desacelerando para os EUA. O esforço coordenado de Pequim busca dar fôlego ao crescimento diante da fragilidade do setor imobiliário e da instabilidade de sua recuperação.

Desempenho do Real (BRL)

real brasileiro mostrou forte valorização ao longo da semana, alcançando o nível de R$ 5,35 por dólar, o mais baixo em mais de um ano. O movimento foi sustentado pelo elevado diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, que torna a moeda local especialmente atrativa para operações de carry trade, em um ambiente de baixa volatilidade global. Com os juros reais entre os maiores do mundo, o real se consolidou como destaque frente a outras moedas emergentes, mesmo diante do ruído político interno e do contágio inicial vindo da crise argentina.

Banco Central manteve postura passiva frente à apreciação do câmbio, pontuando que a valorização da moeda ajuda no controle da inflação, especialmente nos preços de alimentos. O fluxo cambial registrado na primeira semana de setembro foi positivo, reforçando a tendência de fortalecimento, embora a entrada de capital estrangeiro na bolsa tenha se mantido limitada durante boa parte do período.

Curva de Juros

curva de juros futuros brasileira teve movimento misto na semana. Os vencimentos longos recuaram, acompanhando o alívio internacional, enquanto as taxas curtas e médias subiram, pressionadas por um IPCA de agosto que, apesar da deflação pontual, revelou aceleração preocupante nos núcleos de inflação, em especial nos serviços acima de 6% ao ano. Esse quadro, reforçado por um mercado de trabalho aquecido e pela manutenção de estímulos fiscais, reduziu as apostas em cortes imediatos da Selic.

O mercado agora vê probabilidade muito baixa de redução dos juros em dezembro, avaliando que a manutenção da Selic em patamar restritivo é necessária para conter a inflação de serviços. As vendas no varejo em queda pelo quarto mês seguido mostram que a política monetária já pesa sobre a atividade, mas o Banco Central adota cautela extrema diante dos riscos inflacionários. O diferencial elevado entre juros brasileiros e americanos tende a continuar, sustentando a atratividade do real, mas com potencial custo para o crescimento econômico doméstico.

Fluxo Investidor Estrangeiro

Narrativas & Cenários

A próxima semana começa com foco total na reunião do Federal Reserve, que deve marcar o início do ciclo de cortes de juros nos EUA. O consenso aponta para uma redução inicial de 0,25 ponto percentual, mas a mensagem do Fed sobre o ritmo e a duração do afrouxamento será determinante para definir o apetite ao risco global nos próximos meses. Nesse cenário, mercados emergentes como o Brasil devem se beneficiar do dólar estruturalmente mais fraco e de valorações atrativas, em contraste com os recordes nos mercados desenvolvidos.

No Brasil, os investidores seguem divididos entre o impacto da condenação de Jair Bolsonaro e o risco de medidas retaliatórias dos EUA, e a atenção à inflação de serviços persistente. A próxima reunião do Copom ganha peso, trazendo o dilema entre manter credibilidade anti-inflacionária e não aprofundar a desaceleração da economia. Na região, os ativos argentinos seguem como termômetro do apetite de risco.

O pano de fundo global segue favorável, com uma economia morna, crescimento moderado e inflação em estável, sustentando o rally de ativos de risco. Porém, a continuidade desse movimento dependerá da capacidade do Fed em conduzir um pouso suave sem recessão. As commodities podem se manter firmes, apoiadas por estímulos chineses e dólar mais fraco.

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