A semana trouxe uma guinada brusca para os ativos brasileiros. Depois de meses em que a expectativa de queda nos juros dominou o mercado, o cenário político voltou a ser o principal fator a mexer com os preços. O Ibovespa começou a semana batendo recordes atrás de recordes, passando dos 164 mil pontos, impulsionado por sinais claros de que a economia está desacelerando e fortalecendo a aposta de que o Banco Central começaria a cortar juros já em janeiro. Essa trajetória positiva foi brutalmente interrompida na sexta-feira, quando a confirmação de Flávio Bolsonaro como candidato da família para 2026 provocou a maior queda do índice desde 2021. O mercado entendeu o movimento como um sinal de que as chances de reeleição de Lula aumentaram significativamente, já que a alta rejeição dos Bolsonaro entre eleitores moderados enfraquece a oposição.
A reação foi imediata e generalizada. O dólar disparou mais de dois por cento em poucas horas, os juros futuros explodiram cinquenta pontos e apenas quatro ações conseguiram fechar no positivo. Enquanto isso, o cenário internacional seguia favorável, com as bolsas americanas renovando máximas históricas depois que dados fracos de emprego elevaram a probabilidade de corte de juros pelo Federal Reserve para acima de noventa por cento. A combinação de crescimento global resiliente com bancos centrais dispostos a afrouxar a política monetária continuou dando suporte aos ativos de risco mundo afora, com dólar enfraquecido e commodities em recuperação beneficiando especialmente emergentes.
Maiores Altas e Baixas (Ibovespa)
As ações de maior destaque no Ibovespa durante a semana refletiram tanto o momento de euforia quanto a virada brusca de humor do mercado. Suzano, Klabin e WEG lideraram os ganhos semanais, beneficiadas pela alta do dólar e pela recuperação dos preços de cobre e celulose. Do outro lado, papéis sensíveis aos juros domésticos sofreram perdas pesadas. Azzas 2154 recuou mais de onze por cento, Renner caiu perto de doze por cento e MRV acumulou perda de quase nove por cento na semana.
O setor financeiro, que havia sido favorecido pela expectativa de cortes de juros nos primeiros dias, também apresentou desempenho negativo consistente. Bradesco e Banco do Brasil figuraram entre as maiores baixas do período. A Vale conseguiu desempenho positivo sustentado pela valorização do minério de ferro acima de cem dólares, enquanto Petrobras oscilou sem direção definida entre o comportamento errático do petróleo e as incertezas sobre a gestão da companhia.
Macro & Política
O cenário macroeconômico internacional manteve as características que vêm marcando os últimos meses, com as economias desenvolvidas desacelerando de forma gradual enquanto a inflação recua em ritmo desigual. Os dados de emprego nos Estados Unidos trouxeram sinais contraditórios. O relatório ADP registrou destruição inesperada de vagas, enquanto os pedidos de auxílio desemprego caíram para o nível mais baixo desde 2022, criando dúvidas sobre a real trajetória do mercado de trabalho americano. Os índices de gerentes de compras mostraram que a força dos serviços compensa a fraqueza persistente da indústria, configuração que sustenta a narrativa de pouso suave da economia e reforça a estratégia de cortes graduais de juros pelo Federal Reserve.
A China seguiu apresentando dados de atividade compatíveis com estabilização em patamar fraco. Os PMIs oficiais permaneceram em território contracionista, mas sem deterioração adicional, reforçando a percepção de que Pequim manterá estímulos moderados até que a meta de crescimento esteja definitivamente assegurada. O Japão emergiu como foco de volatilidade depois que a disparada dos juros dos títulos públicos amplificou temores sobre a sustentabilidade fiscal do país mais endividado do mundo desenvolvido. Esse movimento gerou contágio em operações de carry trade globalmente e pressionou ativos de risco logo na primeira sessão da semana.
Desempenho do Real (BRL)
O real brasileiro viveu uma montanha-russa ao longo do período, refletindo a crescente sensibilidade dos ativos domésticos ao noticiário político. A moeda começou a semana pressionada pela expectativa de remessas volumosas de dividendos em dezembro, operando perto de 5,36 reais por dólar enquanto o Banco Central sinalizava que atuaria apenas com linhas para fornecer liquidez cambial, sem intervenções mais agressivas. A aprovação pelo Senado do adiamento da tributação sobre dividendos para abril de 2026 aliviou parcialmente essa pressão, permitindo que o câmbio apreciasse até a região de 5,29 reais em meio ao enfraquecimento global do dólar e aos dados fracos de emprego americano.
Essa trajetória de fortalecimento foi violentamente revertida na sexta-feira, quando a definição do cenário eleitoral provocou uma fuga abrupta de posições. O dólar escalou mais de dez centavos no dia e encerrou a semana próximo a 5,41 reais, depois de testar brevemente a casa dos 5,29. Os fluxos cambiais mantiveram saídas consistentes ao longo de todo o período, com novembro registrando déficit acima de sete bilhões de dólares concentrado em remessas de lucros e dividendos. Esse movimento deve se intensificar em dezembro, seguindo o padrão sazonal, mesmo depois da postergação do prazo fiscal.
Curva de Juros
A curva de juros doméstica apresentou comportamento diretamente ligado à evolução das expectativas sobre a política monetária, com movimentos amplificados pela volatilidade do cenário político. Os vencimentos intermediários começaram a semana em leve movimento de fechamento depois que o discurso conservador de Galípolo reduziu as apostas em cortes agressivos. O DI janeiro 2027 saiu de doze por cento para operar próximo a 12,18 por cento em resposta à sinalização de que o Banco Central priorizaria a cautela diante da inflação ainda resistente. A divulgação de produção industrial fraca e do PIB abaixo das expectativas no terceiro trimestre fortaleceu temporariamente a narrativa de desaceleração econômica, permitindo que as taxas recuassem até seis pontos nos vencimentos longos quando o Tesouro Nacional surpreendeu com leilão menor de prefixados.
Essa dinâmica foi completamente revertida na quinta-feira com a deterioração das expectativas eleitorais. Os contratos futuros explodiram em movimento de aumento generalizado de prêmio de risco, com a curva precificando não apenas menor probabilidade de cortes, mas também elevação das incertezas sobre a trajetória fiscal de longo prazo. A NTN-B com vencimento em 2060 oscilou entre 6,92 por cento e acima de sete por cento ao longo da semana, refletindo a volatilidade das expectativas sobre ancoragem inflacionária e sustentabilidade das contas públicas.
Fluxo Investidor Estrangeiro
O fluxo de investidores estrangeiros manteve a tendência negativa que marca as últimas semanas, com saídas diárias consistentes reduzindo o estoque de posições em bolsa para perto de 27 bilhões de reais, nível bem inferior ao observado em outros momentos de otimismo com ativos brasileiros. Essa dinâmica contrasta fortemente com o comportamento do investidor local, que sustentou as compras mesmo durante a escalada para máximas históricas do Ibovespa. O movimento foi interpretado como reflexo tanto da baixa alocação estrutural em renda variável quanto da convicção na tese de assimetria eleitoral favorável.
Narrativas & Cenários
Os próximos dias serão determinantes para definir se o mercado brasileiro conseguirá estabilizar depois do choque político ou se entrará em uma fase de correção mais profunda. A super quarta-feira que se aproxima reunirá a decisão do Federal Reserve, a reunião do Copom e divulgações importantes de inflação tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, conjunto de eventos que poderia normalmente oferecer catalisadores para recuperação caso os dados confirmem a narrativa de cortes de juros sincronizados globalmente. Entretanto, a experiência desta semana demonstrou que o tema eleitoral ganhou poder de veto sobre qualquer narrativa puramente macroeconômica, transformando o noticiário político em variável determinante para a formação de preços no curto prazo.
A possibilidade de que a candidatura de Flávio Bolsonaro inviabilize a competitividade da centro-direita em 2026 passou a ser precificada como aumento estrutural de risco, reduzindo o apetite por posições direcionais até que haja maior clareza sobre a configuração do cenário eleitoral ou que eventos no campo fiscal e monetário sejam suficientemente fortes para ofuscar temporariamente as preocupações políticas.
