A semana foi marcada por forte volatilidade e aumento no risco percebido pelo mercado doméstico, com investidores reagindo a fatores políticos e externos. A tensão cresceu após o Supremo Tribunal Federal impor medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, ampliando o clima de incerteza. Ao mesmo tempo, as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos pioraram, com discursos mais duros sobre tarifas e uma investigação americana sob a Seção 301, que analisa práticas comerciais desleais.
Com isso, o Ibovespa caiu e se descolou dos ganhos vistos em Nova York, refletindo um humor negativo específico do mercado local. O dólar teve comportamento instável e os juros futuros subiram, pressionados por receios fiscais e instabilidade política. Os investidores já começam a precificar as incertezas ligadas à eleição presidencial de 2026, o que reforça a sensibilidade atual dos ativos brasileiros.
Maiores Altas e Baixas (Ibovespa)
Petrobras e Vibra Energia figuraram entre os destaques negativos da semana, após a notícia de que a estatal estuda retornar ao setor de distribuição de combustíveis. A possível mudança na estratégia para 2026–2030 levantou dúvidas sobre uma eventual retomada do controle estatal ou aquisição de participação na Vibra, aumentando a pressão sobre os papéis. A Embraer também registrou forte queda, após seu CEO comparar o impacto das novas tarifas dos EUA ao causado pela pandemia, considerando a empresa uma das mais atingidas pela medida.
No varejo, ações como Assaí, C&A e Renner recuaram, influenciadas por um resultado do IBC-Br — indicador mensal da atividade econômica — abaixo das expectativas. Em contraste, a Weg se recuperou após uma sequência de perdas, impulsionada por bons resultados de uma concorrente e pela dinâmica das tarifas de energia. As ações do GPA dispararam, motivadas pelo aumento da fatia da família Diniz na companhia.
Macro & Política
No exterior, a curva de juros americana oscilou com dados que mostraram uma economia resiliente e declarações do Federal Reserve sugerindo a possibilidade de corte nos juros ainda neste mês. Esse cenário aliviou os yields (rendimentos) dos títulos do Tesouro dos EUA, reforçado por expectativas de inflação mais contidas, como as medidas apuradas pela Universidade de Michigan.
A retórica protecionista de Donald Trump ganhou força, com anúncios de novas tarifas contra União Europeia e México e ameaças de sanções à Rússia, aumentando a tensão no comércio global. No petróleo, a semana começou com queda devido ao fortalecimento do dólar e à tensão entre EUA e Rússia, mas melhores sinais de oferta e demanda nos EUA ajudaram a impulsionar os preços, antes de uma leve estabilização.
O mercado de minério de ferro teve desempenho misto: os preços recuaram com a queda na produção de aço na China, em meio à crise no setor imobiliário, mas também reagiram positivamente a sinais de que as economias americana e chinesa seguem resilientes.
Desempenho do Real (BRL)
O dólar encerrou a semana em alta frente ao real, após dias de forte volatilidade, refletindo uma combinação de fatores internos e externos. No início da semana, o real se destacou como uma das moedas emergentes mais fortes, sustentado pelo carry trade atrativo — estratégia em que investidores buscam rendimentos maiores, aproveitando os juros elevados no Brasil.
No entanto, esse desempenho se deteriorou com o avanço das tensões políticas locais, especialmente após a operação da Polícia Federal que resultou em medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, a escalada na retórica tarifária do ex-presidente americano Donald Trump pressionou as moedas emergentes em geral. A incerteza fiscal e o cenário eleitoral para 2026 também pesaram no câmbio, contribuindo para a valorização do dólar em diversos momentos ao longo da semana.

Curva de Juros
A curva de juros futuros no Brasil registrou oscilações expressivas ao longo da semana, muitas vezes se desvinculando do comportamento dos mercados globais. No início do período, as taxas longas recuaram, refletindo a decisão do Supremo Tribunal Federal de restabelecer parte do decreto do IOF — medida vista como positiva para as contas públicas — acompanhada de um leilão de títulos prefixados considerado mais contido em relação às semanas anteriores. Apesar do alívio inicial, cresceram os temores de choques institucionais e de aumento nas disputas políticas.
Nos dias seguintes, os juros passaram a subir fortemente, impulsionados pelo aumento da percepção de risco fiscal e político. O avanço da Proposta de Emenda Constitucional 66, que permite que gastos com precatórios corrigidos monetariamente fiquem fora da meta fiscal, agravou o ambiente, ao mesmo tempo em que o resultado do leilão do Tesouro reafirmou as preocupações com o quadro fiscal. A operação da Polícia Federal envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, culminando na ordem do uso de tornozeleira eletrônica, elevou ainda mais a tensão política, levando a uma subida generalizada das taxas em toda a curva de juros.
Mesmo com a divulgação de um IBC-Br mais fraco do que o esperado, indicando possível desaceleração na atividade econômica, os impactos no mercado de juros foram limitados. O dado pode sugerir espaço para cortes na taxa Selic no futuro, mas, no curto prazo, a aversão ao risco dominou o comportamento dos investidores.
Fluxo Investidor Estrangeiro
Narrativas & Cenários
A semana foi dominada por riscos políticos internos e tensões comerciais com os Estados Unidos, o que pressionou amplamente os ativos brasileiros. A operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro ganhou repercussão adicional após uma carta pública de Donald Trump, na qual criticou restrições à liberdade de expressão no Brasil, o que foi interpretado como sinal de apoio a Bolsonaro e indício de escalada na retórica tarifária americana.
A guerra comercial entre os dois países permanece no radar com a investigação americana sob a Seção 301, que pode resultar em tarifas mais altas e afetar setores específicos da economia brasileira. Ao mesmo tempo, o mercado começou a precificar o cenário eleitoral de 2026, com Tarcísio de Freitas apontado como principal adversário de Lula até o momento, embora nomes como Romeu Zema também tenham sido mencionados. A melhora nas pesquisas de popularidade de Lula adicionou nova camada de especulação política.
Lá fora, a narrativa de rotação de capital dos EUA para mercados emergentes perdeu força, à medida que investidores reavaliaram a força da economia americana e a temporada de balanços corporativos. Para a próxima semana, o foco estará nas tratativas sobre tarifas entre o governo brasileiro e setores da indústria e agronegócio, além de novos dados econômicos que devem continuar influenciando o mercado.