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Publicado em 18 de Agosto às 16:02:56

Expresso Bolsa Semanal: Novo recorde para o Ibovespa; Alta dos Juros nos EUA; Situação na China

Apesar de uma leve recuperação nesta sexta-feira (18/8), o Ibovespa (IBOV) enfrentou sua quarta semana de baixas consecutivas. Destacando-se no cenário, o índice registrou um período histórico de 13 pregões consecutivos em queda, algo que não era observado desde junho de 1970, quando o índice teve 12 dias seguidos de baixa. Para colocar em perspectiva, naquela ocasião, o índice amargou uma desvalorização de quase 9%, enquanto o recuo recente foi de 5,68%. Diversos fatores influenciaram esse cenário desfavorável: o principal deles é o aumento dos juros em países desenvolvidos, especialmente nos EUA. Somam-se a isso preocupações com a economia chinesa, a consequente saída de investidores estrangeiros da bolsa brasileira e as incertezas no cenário político local, sobretudo no que se refere às questões fiscais.

Acabou a “lua de mel”?

Após uma fase inicial otimista, marcada por uma relação harmoniosa entre o mercado financeiro e o governo, o cenário para os ativos financeiros brasileiros começou a se tornar menos favorável ao final de julho. Neste ínterim, o real depreciou cerca de 5% em relação ao dólar, O Ibovespa enfrentou uma sequência de treze pregões de queda e os juros, especialmente os de longo prazo, mostraram uma tendência de alta. Esta mudança no cenário ocorreu mesmo após a decisão do Copom de cortar a taxa SELIC em 0,5 p.p. na reunião de agosto.

Três principais razões parecem estar influenciando essa nova postura dos mercados. Em primeiro lugar, cresce a percepção de que as metas estabelecidas para o superávit primário estão se tornando inalcançáveis dentro do atual arcabouço fiscal. A dificuldade do governo em aprovar aumentos tributários necessários para alcançar essas metas, somada a sinais de que a arrecadação tributária está abaixo do esperado, indica que esses objetivos fiscais podem não ser atingidos. Esta situação potencialmente afeta a relação dívida/PIB do país, tornando sua trajetória mais preocupante.

Maiores Altas e Baixas (Ibovespa)

Câmbio e Curva de Juros

Mapa de calor moedas globais

Fluxo Investidor Estrangeiro

Ao longo desta semana, a Bolsa de Valores brasileira experimentou uma dinâmica de saída de fluxo de capital estrangeiro com resultando de uma saída líquida de cerca de R$ 1 bilhão, no acumulado do mês, fluxo na B3 está negativo em R$ 8,6 bilhões até o dia 16.

Contudo, em contraponto a esse movimento, o mercado doméstico aproveitou dessas quedas recentes para ir às compras. Com investidores institucionais e os investidores Pessoa Física, registrando, conjuntamente, um saldo positivo de fluxos de aproximadamente R$ 300 milhões.

Alta dos juros no EUA drena liquidez global

Um segundo aspecto crucial tem sido a solidez da economia dos Estados Unidos. Esta robustez vem desafiando a expectativa de um rápido arrefecimento inflacionário no país. Em consequência, crescem as chances de o Federal Reserve, banco central americano, elevar sua taxa básica de juros nas reuniões previstas para este ano. Esta perspectiva, aliada ao incremento de juros no Japão e à diminuição de liquidez por conta da venda de títulos pelo Tesouro americano, resultou no aumento das taxas de juro dos títulos de longo prazo nos EUA e também exerceu pressão sobre a taxa de câmbio no Brasil.

A recente alta nas taxas de juros não pode ser atribuída a uma única causa, mas sim a uma combinação de fatores que, simultaneamente, impulsionam essa tendência:

Primeiro, houve uma alteração na política monetária no Japão. Segundo, observa-se uma deterioração na situação fiscal dos EUA, culminando em um rebaixamento de seu rating. Terceiro, mudanças regulatórias nos Estados Unidos estão induzindo os bancos a liquidar seus bonds. Quarto, os dados de atividade econômica nos EUA continuam fortes e resilientes. Quinto, a China está diminuindo significativamente sua posição em títulos do Tesouro americano, atingindo os níveis mais baixos em anos, o que significa uma menor demanda e venda marginal desses ativos. Por último, o processo de Redução Quantitativa de Liquidez (QT) pelo Federal Reserve (Fed) está em plena execução.

China e Arábia Saudita reduzem exposição em títulos americanos

China, que foi uma das maiores detentoras desses títulos, reduziu sua exposição aos títulos do Tesouro dos EUA ao menor patamar em 14 anos, conforme indicado por um gráfico do SCMP.

Simultaneamente, a Arábia Saudita também mostrou um declínio no seu interesse: o estoque saudita de títulos do Tesouro dos EUA atingiu seu nível mais baixo em mais de seis anos, de acordo com dados da Bloomberg.

Situação se Agrava na China

Finalmente, a economia chinesa tem dado sinais de desaceleração da atividade mais intensa que o esperado. E se intensificaram. Tivemos deflação de – 0,3% do CPI e – 4,4% PPI entre junho de 2022 e junho de 2023, redução do crédito corporativo, diminuição das exportações e das importações, uma das maiores imobiliárias do país não conseguiu honrar seus compromissos financeiros, a taxa de desemprego dos jovens continua acima de 20% da força de trabalho, enfim, os dados começam a sugerir uma economia muito próxima de recessão, o que reduz os preços das commodities e gera pressão sobre a taxa de câmbio no Brasil. Sem dúvida, o cenário está mais desafiador.

Os números divulgados apontaram para uma desaceleração mais acentuada do que o esperado. Surpreendendo o mercado, evidenciaram uma realidade muito mais alarmante que as estatísticas oficiais. A diferença entre os dados governamentais e privados é notável, com o governo reportando uma queda de 2,4% no valor dos imóveis novos, enquanto fontes privadas apontam para uma drástica redução de até 15% nas regiões mais afluentes, como Xangai e Shenzhen. A crise não se limita apenas a estas áreas metropolitanas; ela se estende também a cidades menores, refletindo uma situação alarmante em todo o país.

As incorporadoras estatais lançaram alertas sobre perdas amplas, intensificando o medo de que a crise do setor privado esteja afetando agora as empresas respaldadas pelo governo. Esta situação é reforçada pelo fato de que quase metade das construtoras estatais listadas em bolsas asiáticas informaram perdas no primeiro semestre do ano.

Evergrande Group, uma gigante do setor imobiliário chinês, deu mais um passo no que parece ser uma eminente reestruturação ao solicitar proteção de seus ativos nos EUA, segundo informações da Bloomberg. Este movimento estratégico visa proteger seus ativos enquanto negocia suas dívidas fora dos EUA.

Em resposta à crescente crise, o Banco Popular da China, na tentativa de estabilizar a economia, realizou o corte mais significativo de sua taxa básica de juros desde 2020. Adicionalmente, reiterou seu compromisso de manter o yuan estável, em um momento em que a moeda se aproxima de seu valor mais baixo em quase duas décadas.

Maior queda para o mês de agosto desde 2015

Influenciados por China, os mercados emergentes estão enfrentando um agosto tumultuado, com indicadores apontando para o mês mais desafiador em anos.

O panorama não é nada animador para os investidores: as ações estão no caminho de registrar sua maior queda para o mês de agosto desde 2015. Além disso, as moedas destes mercados já estão sofrendo sua pior depreciação para um mês de agosto desde 2019.

Simpósio de Jackson Hole

Na próxima semana, o mundo financeiro estará com os olhos voltados para o Simpósio de Jackson Hole, um importante evento que reúne banqueiros centrais, economistas e formuladores de política globalmente. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, está programado para discursar no dia 25, às 11h05, conforme anúncio do BC americano. Este evento é organizado pela distrital de Kansas City do Fed e é uma plataforma significativa para discussões de alto nível sobre a economia global.

O simpósio se estenderá do dia 24, quinta-feira, até o dia 26, sábado. Para este ano, o foco da conferência será em “Mudanças Estruturais na Economia Global”, um tema extremamente relevante dada a atual dinâmica econômica pós-pandemia, as variações na oferta e demanda globais, bem como as inovações tecnológicas que estão redefinindo os mercados.

A fala de Powell é particularmente antecipada, dado o papel central do Fed na política monetária global e as decisões recentes relacionadas às taxas de juro nos EUA. Muitos esperam obter pistas sobre a direção futura da política monetária americana, bem como sua visão sobre as mudanças estruturais em andamento na economia mundial.

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