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Publicado em 25 de Agosto às 15:41:40

Expresso Bolsa Semanal: PMI em queda; Jackson Hole; Arcabouço Fiscal

O Ibovespa (IBOV) encerrou a semana com resultados positivos, apesar da perspectiva mais cautelosa para os próximos dias. Esta visão mais reticente surge em meio a um cenário internacional conturbado e a uma surpresa negativa no front da inflação, fatores que impactaram diretamente a curva de juros brasileira.

No cenário externo, chamam a atenção os PMIs (Índices de Gerentes de Compras) em declínio globalmente, especialmente na Europa. Paralelamente, mantemos nosso olhar atento às discussões nos Estados Unidos sobre a taxa de juros neutra, uma métrica crucial para o equilíbrio da economia norte-americana.

No front doméstico, a aprovação do arcabouço fiscal foi um marco relevante. Além disso, o avanço nos preços das commodities desempenhou um papel crucial, dando suporte a um fechamento semanal otimista para o Ibovespa.

Maiores Altas e Baixas (Ibovespa)

Índice de Gerentes de Compras (PMI) voltam a indicar desaceleração da economia global

A divulgação dos Índices de Gerentes de Compras (PMI) para agosto apontou uma desaceleração da economia global mais profunda do que o esperado. Esse indicador é crucial para a avaliação da atividade econômica, pois antecipa tendências futuras e fornece insights sobre vários setores.

Na Zona do Euro:

  • O PMI composto alcançou a mínima em 33 meses, recuando de 48,6 para 47,0, ficando abaixo da previsão de 48,5.
  • O PMI industrial foi contra a tendência e subiu para 43,7, superando a previsão de 42,7.
  • O PMI de serviços recuou significativamente, indo de 50,9 (julho) para 48,3 em agosto, bem abaixo da projeção de 50,5.

Na Alemanha:

  • O PMI composto caiu para 44,7, seu menor nível em 39 meses.
  • O PMI de serviços retrocedeu drasticamente, indo para 47,3 em agosto contra uma previsão de 51,5.
  • O PMI industrial se manteve bem abaixo do patamar de 50, mesmo com uma ligeira elevação em relação a julho.

No Reino Unido:

  • Tanto o PMI composto quanto os PMIs industrial e de serviços frustraram as expectativas, apontando para uma desaceleração em todos os setores.

Nos Estados Unidos:

  • O PMI composto recuou de 52,0 para 50,4, abaixo da previsão.
  • O PMI industrial caiu mais acentuadamente do que o esperado, enquanto o PMI de serviços também apresentou declínio.

Esta tendência de queda generalizada nos PMIs por dois meses seguidos eleva o risco de contração econômica no 3º trimestre na Zona do Euro. Enquanto isso, no contexto americano, a deterioração pode alterar as expectativas em relação à política monetária do Federal Reserve, especialmente se outros indicadores continuarem sugerindo um “pouso suave” para a economia dos EUA.

Agenda macro para a próxima semana

A saga das Treasuries americanas

O rendimento das “Treasuries”, títulos de 10 anos do Tesouro norte-americano, saltou cerca de 1,0 p.p. desde meados de maio (de 3,3% para 4,3%), retornando ao mesmo patamar da Crise de 2008 pela primeira vez nesse intermédio de tempo. Durante boa parte do primeiro semestre, o Tesouro dos EUA ficou impossibilitado de emitir títulos devido ao limite de endividamento de US$ 31,4 trilhões. Em junho, após um acordo sobre a suspensão do teto da dívida, a instituição expressou o desejo de recompor seu caixa.

Adicionalmente, déficits correntes elevados forçam o Tesouro a emitir mais dívida, paralelamente à política de “quantitative tightening” (QT) do banco central (Fed). Esse cenário cria pressão sobre o rendimento das Treasuries. Mais recentemente, apostas quanto a uma alta adicional de juros também influenciaram essa pressão.

No início de agosto, a Fitch rebaixou o “rating” soberano dos EUA de AAA para AA+ devido à forte polarização política, e não por capacidade de pagamento. Outro fator impactante foi a decisão do Japão de flexibilizar sua política de controle da curva de juros, tornando o rendimento dos títulos japoneses mais atrativos e levando a uma repatriação de recursos em Treasuries.

Por fim, a Ata da reunião do Fed de julho sugere que a política de “quantitative tightening” (QT) pode não ser interrompida mesmo com a queda de juros futura, o que pressionaria ainda mais o rendimento das Treasuries.

Curva de Juros

Após uma semana marcada por um fechamento da curva de juros, a sexta-feira trouxe uma desaceleração dessa tendência. O principal gatilho foi o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, em Jackson Hole, além da divulgação do IPCA-15.

Powell sinalizou que o Fed está pronto para adotar uma postura cautelosa quanto ao aumento da taxa de juros nos EUA. Ele destacou que o órgão está preparado para novos ajustes se considerar apropriado. Em resposta, os yields dos treasuries norte-americanos subiram, indicando uma precificação de prêmio para uma possível alta adicional de juros em novembro.

No Brasil, o IPCA-15 de agosto também chamou atenção. O índice avançou 0,28%, superando a mediana das estimativas, que era de +0,16%. Esta alta contrastou com a queda de 0,07% registrada no período anterior. Segundo o IBGE, a principal influência veio do grupo Habitação, com destaque para o aumento da energia elétrica residencial. Esse avanço foi impactado pelo fim da incorporação do bônus de Itaipu, que havia sido creditado nas faturas do mês anterior.

Diante desse cenário, o IPCA-15 reforça a perspectiva de manutenção de um ritmo de alta de 0,50 pontos percentuais na taxa Selic e afasta a possibilidade de um corte superior a esse valor no próximo encontro do Copom.

Fluxo Investidor Estrangeiro

Os estrangeiros retiraram um montante considerável da B3 (Bolsa de Valores brasileira). Uma saída líquida de R$ 1,2 bilhão em uma semana, acumulando R$ 11,8 bilhões no mês até o dia 23, é um sinal de aversão ao risco ou desconfiança em relação às perspectivas econômicas ou políticas do Brasil. Por outro lado, o fluxo positivo de R$ 1,3 bilhão por parte dos investidores domésticos (institucionais e pessoas físicas) sugere que esses grupos têm uma percepção diferente ou estão aproveitando oportunidades de compra geradas pela saída dos estrangeiros.

Inflação implícita volta a subir

No início do ano, após o anúncio do Novo Arcabouço Fiscal, a inflação implícita (que leva em conta tanto o risco quanto a inflação esperada) começou a diminuir significativamente, devido à redução de seu componente de risco associado ao cenário fiscal.

Mais tarde, com a inflação atual surpreendendo negativamente e a confirmação de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) manteria a meta de inflação em 3,0%, o componente relativo às expectativas dessa inflação também contribuiu para essa queda.

No entanto, essa tendência de queda nas expectativas de inflação está sendo interrompida pela percepção de que o Banco Central pode ser mais tolerante com a inflação futura. As próximas indicações para a diretoria e presidência da instituição reforçam essa percepção. As expectativas de inflação para 2025 e 2026 agora se estabilizaram acima da meta, em 3,50%. Juntamente a isso, o componente de risco da inflação implícita aumentou novamente devido às preocupações sobre a eficácia das medidas de aumento de arrecadação para atingir as metas fiscais do Novo Arcabouço Fiscal.

Arcabouço Fiscal é finalmente aprovado

Depois de um período de espera devido às discussões sobre a reforma ministerial, o Novo Arcabouço Fiscal foi finalmente aprovado, culminando na sua tramitação na Câmara dos Deputados.

Como esperado, foram incorporadas as emendas do Senado que excluíam o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) da regra fiscal. No entanto, os gastos com ciência e tecnologia foram mantidos dentro dos limites de gastos.

A maior questão envolvia as despesas condicionadas no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024. A Câmara decidiu derrubar a emenda que permitia gastos extras de cerca de R$ 30 bilhões para 2024. Para contornar a forte pressão do governo, optou-se por incluir essas despesas no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). Esse movimento significa que o espaço fiscal adicional seria garantido apenas para 2024, e não para os anos subsequentes.

Por último, é crucial mencionar que o Arcabouço Fiscal, da maneira como foi aprovado, não assegura uma melhora estrutural na capacidade do país de gerar superávits primários. Com a dependência de um aumento de arrecadação, que é uma variável fora do controle direto do governo, há um risco significativo de frustrações de receitas. A longo prazo, isso pode implicar a necessidade de revisar as regras do novo mecanismo ou fazer ajustes fiscais. Mesmo com as medidas de contenção, o texto ainda não garante a estabilização da relação dívida/PIB.

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