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Publicado em 03 de Outubro às 17:35:11

Expresso Bolsa Semanal: Pressão fiscal, Shutdown nos EUA, Queda expressiva do petróleo

Mercados domésticos operaram sob pressão fiscal crescente, mesmo diante de dados econômicos mistos e de um ambiente internacional ainda favorável ao risco. A aprovação, pela Câmara, da isenção de IR para salários de até R$ 5 mil, aliada ao fortalecimento político do governo, aumentou a preocupação dos investidores com o rumo das contas públicas e com possíveis medidas de viés populista, como a proposta de tarifa zero no transporte urbano.

Esse contexto gerou um descolamento entre os ativos brasileiros e o exterior. Enquanto o Ibovespa teve desempenho ficou próximo da estabilidade, bolsas internacionais avançaram, sustentadas por fatores externos. A queda expressiva do petróleo, diante da expectativa de aumento de oferta pela OPEP+, impactou ações do setor de óleo e gás. Já o shutdown nos EUA trouxe ruídos pontuais, mas não afetou a direção dos mercados globais. O real oscilou frente a outras moedas emergentes, alternando entre valorização no início da semana e perda de força nos últimos pregões.

Maiores Altas e Baixas (Ibovespa)

Entre as maiores altas da semana, Gerdau e Gerdau Metalúrgica se destacaram com a valorização das commodities metálicas, impulsionadas pela alta do cobre, em um movimento global de busca por ativos reais diante das preocupações com o endividamento das principais economias. CSN Mineração também subiu forte, favorecida pelo mesmo contexto. RaiaDrogasil avançou de forma relevante, e Minerva teve alta após anunciar planos de desinvestimento imobiliário.

Na outra ponta, Magazine Luiza liderou as quedas, pressionada por um cenário setorial adverso e pela competição com a renda fixa em um ambiente de juros elevados. Vamos, Azzas e CVC também recuaram de forma significativa. As ações da Petrobras caíram ao longo de toda a semana, acompanhando o recuo do petróleo, que atingiu o menor nível em quase cinco meses; Prio seguiu o mesmo movimento, enquanto avaliava um pedido de compensação à Equinor por questões no campo de Peregrino. Braskem manteve alta volatilidade após rebaixamento pela Moody’s e aumento das tensões com a Petrobras, que levou o caso ao conselho. Embraer também caiu, apesar do aumento na entrega de jatos no terceiro trimestre.

Macro & Política

No cenário internacional, a paralisação do governo dos EUA suspendeu a divulgação de dados importantes, como o payroll de setembro, mas indicadores já disponíveis apontaram para um enfraquecimento do mercado de trabalho.

O índice ADP de empregos privados veio abaixo do esperado, e o ISM de manufatura indicou contração. Apesar disso, dados revisados do segundo trimestre mostraram crescimento robusto do PIB, reforçando a tese de pouso suave. O Federal Reserve mantém o plano de cortes graduais de juros, embora haja divergências internas sobre o ritmo desse ajuste.

Na Europa, a inflação na zona do euro seguiu controlada, com indicadores estáveis na Alemanha, Itália e França, mas o BCE ainda adota tom cauteloso quanto a novos cortes.

Globalmente, houve forte demanda por ativos reais: o ouro renovou máximas históricas, mesmo com o dólar firme, refletindo preocupações com o endividamento das economias centrais. Commodities como cobre, prata e platina também apresentaram altas expressivas.

No Brasil, a aprovação da isenção de IR para salários até R$ 5 mil dominou a pauta e gerou pressão sobre os ativos locais. A medida, estimada em R$ 26 bilhões anuais, será compensada por tributação sobre rendas mais altas e foi interpretada como sinal de força política e antecipação do cenário eleitoral.

Os dados internos vieram mistos: a produção industrial subiu em agosto, mas o PMI de serviços apontou contração. O diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou o tom conservador da autoridade monetária, citando a inflação de serviços acima da meta e um mercado de trabalho ainda aquecido.

Desempenho do Real (BRL)

O real teve desempenho volátil ao longo da semana. No início, a moeda brasileira se valorizou, com o dólar chegando à mínima de R$ 5,30 na segunda-feira, em um movimento sustentado pelo diferencial de juros elevado e pela desvalorização global da divisa americana. O posicionamento do Bank of America, que recomendou compra do real frente a outras moedas emergentes como o peso mexicano, também reforçou a demanda.

A partir de quarta-feira, no entanto, o cenário se inverteu. A aprovação da isenção do IR e o aumento das preocupações fiscais levaram o real ao pior desempenho entre emergentes. A percepção de risco fiscal se intensificou com dúvidas sobre as compensações da medida e receios de novas iniciativas populistas ligadas ao ciclo eleitoral de 2026. A combinação entre a força política do governo e pesquisas eleitorais favoráveis ao presidente Lula elevou a cautela, e o dólar se firmou próximo a R$ 5,35 no encerramento da semana.

Curva de Juros

Os juros futuros no Brasil subiram ao longo da semana, contrariando o recuo dos yields americanos, em resposta às crescentes preocupações fiscais. A aprovação da isenção do Imposto de Renda foi interpretada como possível prenúncio de medidas expansionistas em um contexto eleitoral, pressionando especialmente os vértices longos da curva, mais sensíveis ao risco de deterioração das contas públicas.

Apesar de dados que, em outro cenário, poderiam conter o avanço das taxas, como sinais de acomodação no mercado de trabalho e leve melhora nas expectativas do IPCA de 2025 no Focus, o movimento de alta prevaleceu. Economistas apontaram que a inflação de serviços ainda pressionada e a percepção de injeção fiscal líquida reforçam a cautela. A fala do diretor Galípolo, com tom hawkish, ajudou a consolidar a visão de que o ciclo de afrouxamento monetário será postergado, com o mercado precificando cortes apenas a partir de meados de 2026.

Fluxo Investidor Estrangeiro

Narrativas & Cenários

Na próxima semana, os mercados estarão atentos à reunião da OPEP+, que definirá o ritmo de produção de petróleo e pode gerar volatilidade nos ativos de energia. A expectativa de aumento entre 130 mil e 500 mil barris por dia pressiona os preços da commodity, com analistas projetando superávit para 2026 caso a Arábia Saudita opte por defender participação de mercado. Nos EUA, o eventual fim do shutdown permitirá a divulgação dos dados de emprego, fundamentais para calibrar as apostas sobre o ritmo de cortes de juros pelo Federal Reserve.

No Brasil, o foco seguirá na frente fiscal. A aprovação da isenção do IR consolidou a força política do governo e acendeu o alerta para possíveis medidas com viés eleitoral, como a tarifa zero no transporte urbano, que podem pressionar o quadro fiscal. A caducidade da MP do IOF também representa risco de volatilidade, dependendo da articulação da oposição. No mercado acionário, o comportamento dos fluxos estrangeiros será decisivo para o Ibovespa, em meio à concorrência com a renda fixa, juros reais elevados e incertezas políticas. O apetite global por ativos reais como ouro e metais segue refletindo o receio com o alto endividamento das economias centrais e a dificuldade em controlar a inflação.

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