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Publicado em 05 de Janeiro às 11:21:12

Melhores e piores investimentos de 2021 em renda variável

Bitcoin (+70,9%)

O bitcoin abriu o ano a US$ 28,9k. A criptomoeda valorizou 59,4%, fechando a US$ 46,2k. A alta de 59,4% em dólar (70,9% em real) foi impulsionada principalmente pela entrada de investidores institucionais no mercado. O movimento institucional se tornou visível com recorrentes compras de bitcoins pela MicroStrategy, que acumulou 121k unidades da moeda. Em fevereiro, a Tesla aderiu à tendência anunciando a compra de US$ 1,5b em bitcoins e que passaria a aceitar a criptomoeda como meio de pagamento. A adesão de grandes investidores levou a uma explosão do preço, fazendo o bitcoin atingir US$ 60k em março.

Em maio, o Elon Musk fez um tweet dizendo que a Tesla deixaria de aceitar bitcoin como meio de pagamento. Uma semana depois, a China proibiu que instituições financeiras oferecessem bitcoin. As principais razões para a rejeição de ambos eram fatores ambientais. Eles argumentaram que a mineração do bitcoin gastava muita energia. A combinação da represália a moeda e alta alavancagem do mercado fez com que o preço caísse para US$ 35k em junho.

A China já havia implementado inúmeras medidas restritivas contra o bitcoin. No entanto, em 2021 o país tomou medidas mais drásticas banindo a mineração. Como grande parte da mineração de bitcoin era feita na China, a hashrate (poder computacional da rede) sofreu uma forte baixa de 50%.

Em tese, a redução do poder computacional reduz a segurança da rede. Com o receio de um novo país se posicionar contrário ao bitcoin, a cotação se manteve pressionada até set/21. Apesar de todas as preocupações, a atividade se reorganizou em outros países e a hashrate já está nos mesmos patamares de abril (máximas históricas).

Em meio a rejeição da China e Elon Musk, El Salvador surgiu para ajudar o bitcoin. O país anunciou que tornaria a criptomoeda uma “legal tender” (moeda de curso legal), se igualando ao dólar como meio de pagamento no país. A medida foi de fato implementada em 7/set. Segundo o governo, o app que contém a carteira oficial do país já possui 2,25m de usuários (35% da população).

O Brasil se destacou no mercado de criptoativos em 2021. Em abril, a Hashdex lançou o primeiro ETF de cripto do país (HASH11) e um dos primeiros do mundo. O ETF segue o índice NCI, oferecendo exposição a 8 diferentes criptomoedas. Em agosto também foram lançados o BITH11 (ETF de bitcoin) e ETHE11 (ETF de ethereum). As ofertas dos ETF’s da Hashdex foram coordenadas pela Genial. Somente em outubro foi a vez dos EUA, quando a SEC aprovou o primeiro ETF de cripto do país.

Mesmo tendo valorizado quase 60% em 2021, o preço do bitcoin não andou muito desde abril, quando atingiu US$ 64,9. A máxima anual de US$ 69k atingida em novembro não foi muito distante da anterior (6,3% superior). Em dezembro, a cotação recuou 19%, fechando em US$ 46,2k.

Podemos dizer que em 2021 o bitcoin perdeu espaço para outras criptomoedas. A dominância (participação em valor de mercado) do bitcoin recuou de 70% no início do ano para 40% no final. A perda de dominância tem relação principalmente ao surgimento e crescimento de novos projetos, como NFT’s e Defi’s. A participação de mercado das criptomoedas menores, classificadas como “outras” pelo tradingview passou de 6,15% no início de 2021 para de 18% no fim do ano.

A alocação em criptomoedas menores vem se tornando mandatária para investidores de cripto. A tendência de crescimento de participação de mercado de De-Fi’s e NFT’s vem indicando retornos mais atrativos nesses projetos do que no bitcoin. Em 2021, a Uniswap (UNIUSDT) valorizou 230% e o Descentraland (MANAUSD) valorizou 4107% (vs. 60% do BTCUSD). A Uniswap é a principal exchange descentralizada (Dex) e o Descentraland é um dos principais jogos em blockchain.

Vale ressaltar também que a baixa correlação entre as De-Fi’s e NFT’s com o bitcoin geram uma oportunidade de diversificação na carteira de cripto. Ao longo do último ano, o bitcoin manteve uma correlação com a Etherem acima de 0,7 na maior parte do tempo. Em ativos mais novos e diferenciados, como a Uniswap (UNIUSDT), a correlação chegou a ser de 0,1. No caso de Descentraland (MANAUSD) esse valor chegou a quase 0.

Ao falar da perspectiva para as criptomoedas para 2022 temos que ter em mente que o bitcoin valorizou 545% nos últimos 2 anos. O cenário de juros baixos e elevada liquidez favoreceu a alta. Para 2022, as expectativas de retiradas de estímulos e elevação das taxas de juros, podem prejudicar o mercado de criptomoedas.

Apesar de não termos certeza do impacto das alterações macroeconômicas nos criptoativos, a menor volatilidade do bitcoin pode proteger o investidor caso haja uma correção. O desvio padrão diário do bitcoin em 2021 foi de 4,2%, o da ethereum 5,8% e da uniswap 7,8%. Por outro lado, o potencial de crescimento de projetos menores torna atrativo manter alguma exposição. Neste cenário de incerteza, o que parece plausível é manter a carteira de cripto mais concentrada em bitcoin, mas com uma parte pequena da carteira exposta projetos mais disruptivos.

S&P 500 (+28,7%)

O S&P 500 apresentou retorno de 28,7% em 2021, recuando de sua máxima (32%) no dia 9 de novembro. Segundo a Bloomberg, este foi o primeiro ano desde 2001 em que todos os 11 setores do índice terminaram o ano com ganhos de dois dígitos, com nove destes reportando ganhos de 20% ou mais. O setor de energia foi o maior vencedor do ano, avançando mais de 47% depois de apresentar o pior desempenho em 2020 (-37%), devido à performance do preço do petróleo bruto West Texas Intermidiate (+55% no ano). Em contrapartida, o setor de utilities foi o que performou pior no ano, com alta de 13,8%.

Mais especificamente, 88% das empresas que compõe o índice apresentaram retorno positivo no ano. Dentre as 20 ações com melhor performance, seis são produtoras de petróleo. As ações que apresentaram maior alta no ano foram as produtoras de óleo e gás Devon Energy e Marathon Oil, com ganhos de 196,1% e 149,7%, respectivamente. Dentre outras ações ganhadoras, destacamos a Moderna (+143,1%), Fortinet (+142%), Ford Motor (+137,5%) e Nvidia (125,5%):

  • Moderna: apesar da alta performance, a ação sofreu a sua maior queda mensal (-28%) durante o mês de dezembro, após as pílulas antivirais da Pfizer e da Merck receberem aprovação de uso pelo FDA.
  • Fortinet: a líder em segurança cibernética apresentou a melhor performance do setor de tecnologia, devido ao crescimento da receita ao longo do ano (apenas no terceiro trimestre, a receita aumentou 33%).
  • Ford Motor: a montadora apresentou a melhor performance do setor de consumo discricionário, devido ao otimismo dos investidores acerca da produção de veículos elétricos.
  • Nvidia: a companhia atingiu valuation de US$ 750 bilhões, tornando-se a empresa de semicondutores mais valiosa do mundo. A receita no último trimestre aumentou 50%.

Dentre as ações que relataram as maiores perdas, destacamos:  

  • Activision Blizzard (-28%): a produtora e distribuidora de jogos eletrônicos apresentou uma das piores performances, após virar alvo de denúncias sobre o ambiente de trabalho tóxico e processos judiciais por assédios morais e sexuais.
  • Twitter (-20,2%): no mês de novembro, o CEO Jack Dorsey renunciou ao cargo, fazendo com que a ação caísse 18% em novembro.

Dólar (+7,32%)

No ano, tivemos uma forte desvalorização do real frente ao dólar (-7,32%) que saiu de R$ 5,19/ US$ 1,00 em janeiro para R$ 5,57/ US$ 1,00 em dezembro. Inicialmente, com o recrudescimento da pandemia no primeiro trimestre do ano e o impasse sobre a aprovação do orçamento de 2021, que ocorreu somente em abr/21, tivemos uma forte desvalorização cambial que fez com que o real alcançasse o patamar de R$ 5,88/ US$ 1,00.

Já ao longo do ano, houve um arrefecimento da pandemia, a aprovação do orçamento e melhores perspectivas de crescimento econômico, devido ao resultado do primeiro semestre de 2021, e, assim, observamos um forte processo de valorização cambial que alcançou R$ 4,91/US$ 1,00 no mês de junho (valorização de 16,5% em relação ao pico até então). Soma-se a isso, as sucessivas surpresas positivas na receita, que fizeram as projeções de déficit e dívida/PIB recuarem em relação ao valor projetado no início do ano.

Porém, diante do significativo aumento do risco fiscal decorrente do surgimento do impasse em torno do teto de gastos, e do substancial aumento dos precatórios a serem pagos em 2022, esse processo de valorização cambial foi interrompido. Em seu lugar, deu-se início a um processo de forte desvalorização cambial que teve seu ápice em R$ 5,75/ US$ 1,00, por conta das incertezas políticas e pelo surgimento de uma nova onda global de Covid causada pela variante Ômicron. Contudo, diante dos indícios de menor severidade desta nova Cepa, da aprovação da PEC dos precatórios e do orçamento de 2022, houve uma importante valorização (3,1%) do câmbio nos últimos dias do ano, fazendo com que este chegasse ao nível de R$ 5,57/US$ 1,00.

Ifix (-2,28%)

O ano de 2021 foi desafiador para os fundos imobiliários. Com a inflação persistente, o Banco Central iniciou o processo de elevação da taxa de juros pressionando bastante a cotação dos FIIs. O segmento de fundos de recebíveis foi o único que fechou o ano com performance positiva sendo beneficiado pela pressão inflacionaria e aumento dos juros, uma vez que suas carteiras são compostas por ativos indexados ao CDI e IPCA. Do outro lado, os fundos de fundos tiveram o pior desempenho do ano, grande parte desse desempenho negativo deve-se a sua carteira ser composta por fundos imobiliários, logo seu desempenho depende da performance do mercado como um todo.

Para o começo de 2022 não vemos gatilhos de valorização no mercado imobiliário, apesar da promulgação da PEC dos precatórios retirar parte da incerteza e ajudar a estabilizar a curva de juros futuros em patamares mais baixos, ainda temos a incerteza politica e o ciclo de aumento de juros pressionando a cotação dos fundos.

Ouro (- 4,46%)

Ao longo de 2021, com o arrefecimento da pandemia e recuperação das principais economias globais, o metal amargou a pior performance dos últimos 6 anos. Com o alívio das restrições de circulação devido a evolução do processo de vacinação da população e o aumento da liquidez nas principais economias do mundo, vimos boa parte dos investidores se sentindo mais confortáveis em alocar capital em ativos de risco, refletido nas performance, por exemplo, do mercado de ações nos EUA.

Olhando para 2022, esperamos mais um ano de muita volatilidade no ativo. Acreditamos que o discurso mais Hawkish do FED e a eminente subida de juros nos EUA implicarão em valorização do dólar e consequente desvalorização do ouro. Taxas de juros mais altas geram um movimento de migração dos investidores para ativos livres de risco o que fortalece a moeda americana, devido ao aumento da demanda por dólar.

Por outro lado, o avanço da variante Ômicron, mesmo que menos letal, faz com que as incertezas voltem a surgir em relação à novas restrições de mobilidade. Nossa percepção é de que uma 3ª ou 4ª onda ao redor do mundo geraria sim mais instabilidade, porém isso implicaria em mais problemas na cadeia de suprimentos global e atrapalharia ainda mais o setor produtivo gerando mais inflação. Essa inflação não passageira, implicaria em taxas de juros de longo prazo mais altas por mais tampo, o que colocariam em cheque a performance de ativos considerados reserva de valor.

Resumidamente, o que temos que ter em mente quando analisamos as tendências do ouro é o seguinte:

– Risco sistêmico global aumenta a busca por ativos considerados reserva de valor e favorece o ouro.

– Economia americana fortalecida, diminui o apetite dos investidores por proteção e prejudica o ouro.

Ibovespa (-11,92%)

Ibovespa encerrou 2021 com queda de quase 12%, em dólares esse retorno negativo se aproximou dos 20%. Esse movimento de baixa teve como principal justificativa a forte deterioração da situação fiscal após o descumprimento do teto dos gastos e a falta de sinalização sobre a trajetória dos gastos públicos em 2021 e no próximo ano.

Em 2022, por conta do ano eleitoral, essa pressão deve persistir. A queda também foi influenciada pela subida de juros (Selic) que precisou sair de 2% ao ano para 9,25% por conta das pressões inflacionarias. O cenário de expectativa de subida de juros no mundo desenvolvido, principalmente nos EUA influenciou nas decisões dos investidores que se posicionaram para evitar participações em mercados que sofrem com a retirada de estímulos em nível global. 

As maiores altas do IBOV no ano ficaram com a Embraer (EMBR3), com alta de 180%, Braskem (BRKM5), com alta de 176% e JBS (JBSS3) com alta de 75%. Na ponta oposta, o setor que mais apanhou foi o de varejo, com a Magazine Luiza (MGLU3) caindo -71%, Via (VIIA3) com -67% e Pão de Açúcar (PCAR3) com -63%.

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