Chegamos ao final de mais uma temporada de balanços, em que as empresas pertencentes a carteira teórica do Ibovespa e de nossa cobertura apresentaram resultados em linha ou acima do esperado, porém houve com aumento significativo nos resultados abaixo do esperado. Apesar da manutenção do nível de receitas, a queda dos preços das commodities e o impacto dos juros (SELIC) reduziu a capacidade de geração de caixa das cias. Nossa avaliação é de que a temporada de balanços trouxe uma visão neutra com viés negativo.
Realizado vs Consenso
Em sua maioria, as empresas de nossa cobertura e pertencentes a carteira teórica do Ibovespa, apresentaram resultados (Receita, Ebitda) em linha ou acima do esperado. Mais detalhes são apresentados no infográfico abaixo.
Nos chamou atenção para o número de empresas que apresentaram EBITDA em linha ou abaixo do esperado (75%). Tal resultado é efeito do atual cenário macroeconômico com taxas de juros mais altas e aperto nas condições financeiras, além da redução do nível de atividade global.
LPA, EBTIDA, Receitas e Alavancagem das empresas do Ibovespa
No 3T22, as receitas permaneceram estáveis com queda de -0,58% na comparação com 2T22, porém com a alta de +8,95% na comparação com o 3T21, por conta da queda dos preços das commodities no mercado globais. Quando compilamos os números excluindo Petrobras e Vale, o crescimento é mais significativo +7,10% (QoQ) e 13,75% (YoY) onde parte desse crescimento pode ser justificado pela inflação do período aqui no Brasil.
Número que mais nos preocupou foi o de crescimento da alavancagem das empresas (Relação Dívida Líquida/Ebitda) que apresentou crescimento de dois dígitos tanto na comparação trimestral (+21,91% / 16,34%) e principalmente anual (70,33% / 73,46%). (Ibovespa / Ibovespa ex-Petro, Vale)
Por conta da maior alavancagem, tanto o EBITIDA quanto o Lucro por ação apresentaram variações negativas. Ao longo dos últimos meses, o aumento das taxas de juros levou ao aumento das despesas e custos financeiros, impactando a rentabilidade e as margens das empresas.
Destaques Setoriais
Na parte de transporte, JSL apresentou resultados muito fortes no 3T22. Os números vieram em linha com as nossas expectativas otimistas. Os grandes destaques do trimestres foram: i) a manutenção dos bons volumes que haviam sido reportados no 2T22 no segmento asset heavy e ii) a forte recuperação do segmento automotivo no asset light. A JSL segue entregando um ótimo mix entre crescimento orgânico e inorgânico.
No setor de Saneamento, a grade surpresa foi a Sanepar que teve resultado operacional acima das nossas estimativas e do consenso do mercado. Essencialmente, apesar das linhas de custos seguirem evoluindo de maneira expressiva, vimos o EBITDA da empresa sendo beneficiado pela queda do ICMS nos custos com energia elétrica e a linha do resultado financeiro vindo melhor do que o esperado, que resultou em um lucro praticamente estável a/a.
Sobre o setor elétrico, AES Brasil finalmente parece estar colhendo os frutos do cenário hidrológico mais favorável, apresentando uma margem operacional líquida (Receita operacional líquida – Custo com compra de energia para revenda) de R$427 milhões, contra R$210 milhões no 3T21, aumento de 102%.
Saúde, com Fleury continua a demonstrar sua capacidade de crescimento e rentabilidade, mesmo em um momento difícil para o setor de saúde.
Na parte de shoppings, a Multiplan mostrou resultados excelentes, demonstrando a capacidade de administração da companhia e a força do seu portfólio. Multiplan teve um aumento de 26,1% nas vendas quando comparado ao 3T19, ou seja, um aumento real de 3,5% no período, apesar da pandemia no meio do caminho.
Dentre as seguradoras, Porto mostrou sinais de inflexão após vários trimestres pressionadas por despesas de sinistralidade, com o crescimento de prêmios emitidos finalmente ajudando as receitas (prêmios ganhos) fazer frente ao avanço dos sinistros. Acreditamos que iremos ver uma melhora gradual dos números da Porto nos próximos trimestres impulsionadas principalmente pelo seguro auto.
Banco do Brasil segue surpreendendo, entregando um lucro recorrente de R$ 8,36b no 3T22, 8,9% acima de nossas expectativas e 16,5% acima do mercado. O ROE do 3T22 saltou para 20,6%, um aumento de 0,9 pp t/t e 8,0 pp a/a, bem acima de Santander e Bradesco nesse trimestre.
Gerdau trouxe números que vieram, em linhas gerais, dentro das nossas expectativas, em um trimestre impactado pelo ambiente macroeconômico global refletido na variação do preço do aço. Apesar de ainda ter sofrido no 3T22 efeitos do macro, os resultados da Gerdau foram menos impactados no preço realizado que os demais pares.
Magalu reportou um resultado bem alinhado às nossas expectativas para o trimestre. Em nossa visão, considerando os números reportados pela Americanas e pela Via, o Magazine Luiza teve o resultado mais consistente do período, apresentando uma importante recomposição de margens devido ao ganho de escala do digital e melhor performance de lojas físicas.
E por fim, dentro do setor educacional, a Ânima reportou o maior crescimento de receita dentre as empresas sob nossa cobertura.