Uma gota de esperança. Após um ano marcado pelo pior regime de chuvas nos últimos 91 anos e estando as vésperas do tão esperado período úmido das chuvas brasileira (dezembro-março), a última semana nos ofereceu uma gota de esperança: de acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), as afluências (ou “chuvas” em bom português) para região sul e sudeste devem vir muito melhores ao que era esperado anteriormente. Achamos esse cenário como um catalisador muito interessante para as empresas expostas ao segmento de geração de energia elétrica e saneamento básico.
Em nossa leitura, o principal nome exposto à questão hídrica em nossa cobertura é a CESP. A empresa é 100% hidroelétrica e tem uma contratação do seu portfólio de 120%/100% para os anos de 2021/22 – tal condição levou a empresa a negociar aos mesmos níveis do coronacrash. Em nossa leitura, um arrefecimento da crise hídrica teria o poder de reduzir os efeitos financeiros da crise hídrica (GSF) na empresa e incertezas quanto ao seu fluxo de caixa.
Também vemos as empresas de saneamento sendo positivamente afetadas pelo evento das chuvas a medida que o uso e tratamento das águas é a matéria-prima do seu serviço. Além disso, vale mencionar que empresas com represas secas tendem a utilizar a prática do racionamento em sua região de atendimento, ocasionando impactos nos volumes distribuídos, perdas, aumento do risco político, etc. É importante mencionar que essa expectativa positiva para o mês de outubro ainda precisa se materializar em maiores vazões para os próximos meses onde saberemos se o cenário positivo ainda vai se consolidar ou não. Seguimos com recomendação de COMPRAR para CESP (CESP6) e SABESP (SBSP3).
Chove chuva… chove sem parar!
Quebrando as expectativas do cenário de seca que se desenhava anteriormente, o mês de outubro inicia com chuvas muito acima do que era esperado anteriormente. Observando a tabela abaixo, vemos que a expectativa para essa semana para o setor centro-oeste (responsável por 70% da capacidade instalada do Brasil) é de 112% em termos de MLT (MLT = Média de Longo Termo, ou seja, a média em termos de volume de chuvas considerando as últimas décadas).
Direto do boletim da ONS:
“Na semana de 02/10 a 08/10/2021 a passagem de uma frente fria pelos estados da região Sul e pelo litoral da região Sudeste e a atuação de áreas de instabilidade ocasionaram precipitação nas bacias dos rios Jacuí, Uruguai, Iguaçu Paranapanema, Tietê e Grande e na incremental a UHE Itaipu. As bacias localizadas na região Norte apresentaram pancadas de chuva, típicas desta época do ano. No início da semana de 09/10 a 15/10/2021 deve ocorrer precipitação nas regiões Sul e Sudeste, sendo que nas bacias dos rios Iguaçu, Paranapanema, Tietê, Grande e Doce, na incremental a UHE Itaipu e no alto São Francisco os totais previstos são superiores à média semanal”
Fonte: Sumário do Programa Mensal da Operação – PMO Outubro 2021 (semana operativa 09/10 até 15/10)
Por enquanto, o que estamos observando?
Em resumo: I) afluências maiores do que era previamente esperado, ocasionando II) queda nos preços de energia à vista (spot), III) aumento do GSF esperado (o que é positivo) – o que resultaria em um menor custo financeiro para empresas que estejam muito contratadas. Vale lembrar que, a fórmula para estimar a exposição financeira é feita da seguinte forma:
Qual importância das chuvas para as hidroelétricas?
A importância para além do óbvio é o impacto das baixas afluências nas bacias hidrográficas, que está relacionada ao que chamamos de GSF (generating scaling factor) que é quando o somatório da produção de todas as usinas do Brasil fica abaixo da capacidade assegurada de todas as usinas do país (conforme fórmula abaixo). Apesar de explicarmos com maiores detalhes sobre como se dispõe o setor de geração no Brasil em nosso início de cobertura, podemos resumir da seguinte maneira: GSF é um mecanismo de defesa do segmento de geração por tentar preservar os níveis de reservatórios. A consequência é a obrigação das hidroelétricas em rebaixar o seu despacho e precisar comprar energia elétrica no mercado à vista para honrar seus contratos. Ou seja, empresas que possuem alto nível de contratação dos seus portfólios seriam obrigados a comprar energia a preços mais altos (>R$500 MWh nos piores momentos) do que aqueles contratados (hoje, entre R$160/180 MWh), uma quantidade de energia relativa ao percentual do seu portfólio exposto ao GSF. Exemplo: uma contratação de 100% e um GSF de 80%, obrigaria a empresa ter que comprar no mercado à vista o equivalente a 20% de sua capacidade instalada.
CESP é a geradora mais beneficiada. Conforme consta no gráfico abaixo, CESP só começa a ter seu portfólio descontratado a partir de 2023. Por ser uma empresa com um único ativo relevante (Usina de Porto Primavera), a exposição a hidrologia ruim e impactos financeiros do GSF é total. A medida que o cenário de chuvas se normalizar (leia-se, um GSF na casa dos ~80% vs 55% nos últimos meses), achamos que a empresa tende a se beneficiar.
Sem racionamento. De acordo com a prestigiosa consultoria PSR, com o atual cenário de chuvas, o risco de racionamento cai para apenas 3% – uma significativa melhora onde antes a empresa estimava até 20% de risco de racionamento, nos dando uma gota de esperança em relação ao cenário quase que apocalíptico pintado pelo momento que estávamos atravessando no tocante a fluxo de chuvas. Resta aguardar.