O ano de 2022 começa com o desafio por parte das empresas em conseguir lidar com o cenário de inflação alta, juros altos e baixa perspectiva de crescimento econômico. Portanto, será de suma importância estarmos atentos aos guidances (metas/expectativas) que serão divulgados pelas companhias para os próximos trimestres. Para empresas ligadas à economia doméstica, esperamos um aumento das despesas, margens de lucro menores e maiores custos com dívidas. Assim, empresas que conseguirem se destacar nesses quesitos, por mais que divulguem números mais fracos nas comparações anuais e trimestrais, chamarão a atenção do mercado. Do lado positivo, esperamos forte geração de caixa e possíveis anúncios de pagamentos de dividendos por empresas exportadoras, já que as mesmas foram beneficiadas nos últimos meses pelo boom das commodities.
A seguir temos nossas expectativas para cada setor:
Elétrico: Em nossa leitura, o setor que deve apresentar melhor performance relativa no trimestre deve ser o de geração de energia elétrica – à medida que o trimestre passado foi marcado pelos impactos da crise hídrica em todas as empresas marcadas expostas ao segmento de geração. Com o recente dilúvio nos reservatórios brasileiros, observamos um trimestre interessante a ser acompanhado à medida que as empresas já devem começar a apresentar resultados positivos com a melhora dos reservatórios. Temos visão neutra do segmento de transmissão e negativa das distribuidoras, tendo em vista o cenário macroeconômico ainda desafiador.
Saneamento: Temos leitura neutra das empresas de saneamento. Os últimos trimestres foram marcados pela evolução expressiva das linhas de custos gerenciáveis e não-gerenciáveis em praticamente todas as empresas em nossas coberturas. Tendo em vista os recentes acontecimentos, não temos grandes expectativas em relação a esse trimestre para nenhuma das empresas sob nossa cobertura.
Industrial: Esperamos que os resultados das empresas do setor industrial sejam mais modestos na comparação trimestral. Os indicadores setoriais mostram que a indústria brasileira iniciou o ano de 2022 com desempenho pior na comparação com o mesmo período de 2021 e abaixo das nossas expectativas. As exportações apontam para a continuidade da desaceleração da atividade industrial iniciada no 4T21. Os maiores impactos, em termos de redução de pedidos estão em segmentos ligados ao consumo das famílias, como motores comerciais. Enxergamos um ambiente muito mais hostil ao repasse de preços nesse 1T22, o que deve prejudicar as margens das empresas. A componente cambial, devido à valorização do real frente ao dólar ao longo do trimestre, deve se refletir em quedas nas receitas no mercado externo. Além disso. Os investimentos ligados aos setores agrícolas de construção civil continuam em crescimento. A área plantada de grãos segue aumentando, mantendo a demanda aquecida.
Transportes: Do lado das companhias aéreas o principal destaque é a volta da demanda do corporativa. Do lado negativo tivemos a alta do petróleo, que para nossa surpresa, não interferiu tanto nos dados operacionais do trimestre. Nesse cenário, entendemos que parte dos custos estão sendo repassados para os consumidores, refletindo em aumentos nas tarifas. Outro ponto importante a ser ressaltado é a queda do dólar médio no trimestre, que acabou aliviando os custos das companhias com leasing de aeronaves. No segmento de locação, esperamos bons resultados operacionais, com a manutenção das taxas de ocupação da frota em patamares elevados assim como no trimestre passado, melhora na entrega de veículos com manutenção das margens em seminovos. Além disso, devemos observar tarifas médias crescendo.
Mineração e Siderurgia: Um dos pontos positivos para o lado da mineração neste 1T22 foi a recuperação do preço do minério de ferro, cuja média via índice Platts foi de cerca de US$ 140/t (vs US$ 109/t no 4T21), fazendo com que os preços realizados das companhias estejam mais elevados na comparação trimestral. Do ponto negativo, temos os custos mais altos com combustíveis impactando a rota logística, além do fator sazonal, que contribuiu com um volume maior de chuvas e a paralisação das minas e vias ferroviárias de modo geral, culminando com um nível de produção menor, que foi sentido também nos números menos de embarques. Do lado siderúrgico, a questão automotiva continua sem grandes perspectivas de recuperação, ainda com a escassez dos semicondutores tendo papel significativo no ritmo baixo de produção de veículos. Por outro lado, o setor de construção civil deve continuar aquecido com as obras (tendo em vista o alto número de lançamentos de 2021), juntamente com o setor de linha amarela impulsionada pelo agronegócio. As vendas de modo geral não devem sofrer fortes variações, porém os custos vão impactar de forma mais significativa devido aos preços das matérias-primas, tanto de minério de ferro e carvão.
Shoppings: os shoppings continuam a apresentar resultados melhores, diminuindo cada vez mais os efeitos da pandemia nas suas operações. Apesar de um começo de ano turbulento, com aumento de casos de Covid, o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras acelerou as vendas nos shoppings, levando a um trimestre com vendas superiores aos níveis pré-pandemia. Com a recuperação de vendas, devemos ver aumento dos aluguéis e diminuição da inadimplência e descontos concedidos aos lojistas, impactando positivamente a receita das companhias. Enquanto esperamos margem EBITDA relativamente estáveis para as empresas do setor, a margem líquida deve ser impactada pela alta da Selic, com maior peso das despesas financeiras nos resultados.
Bancos: A nossa expectativa para bancos é mista. Esperamos um crescimento de lucro a/a para todos os grandes bancos, exceto Santander. O crescimento das receitas deve mitigar os impactos da elevação das provisões, decorrentes da elevação da inadimplência. A inadimplência deve subir ao longo de 2022, retomando os patamares do pré-pandemia.
Para o ano, estamos mais otimistas com Itaú e Banco do Brasil, que sinalizam crescimento de lucro de 14,7% e 16,7% no meio da faixa indicativa do guidance. O Itaú deve se beneficiar do bom crescimento da margem com clientes (NII clientes). O Banco do Brasil deve se beneficiar com o elevado índice de cobertura e carteira de crédito conservadora. No ínicio do ano os resultados do BB ainda devem ser beneficiados com receitas da PREVI.
No 1T estamos menos otimistas com Bradesco e Santander. Esperamos um resultado da seguradora do Bradesco ainda pressionado e crescimento das provisões. O Santander deve ter um lucro estável a/a, também pressionado por maiores provisões e margens com mercado (NII mercado) fracas. Mantivemos a recomendação de COMPRAR para o Itaú, Banco do Brasil e Bradesco. Revisamos a recomendação de Santander de COMPRAR para MANTER.
Seguradoras: Os resultados das seguradoras devem divergir. A BB Seguridade deverá ter o melhor resultado dentre as nossas coberturas, puxada pelo melhor resultado financeiro de suas coligadas. Entretanto, esperamos que a Brasil Seg ainda tenha uma sinistralidade mais pressionada, principalmente no seguro rural e um baixo crescimento de prêmios do prestramista. No ano, estamos otimistas com a BB Seg, em função da: (i) melhora do resultado financeiro com a alta da Selic e perspectiva de fechamento do descasamento entre IPCA e IGP-M, e; (ii) normalização da sinistralidade da Brasil Seg, que tinha sido impactada pela COVID.
A Porto Seguro deve ter um resultado fraco no 1T. Os dados da SUSEP indicam um resultado financeiro ainda fraco e um pico da sinistralidade nesse trimestre. A alta inflação da tabela FIP eleva os custos dos sinistros da Porto Seguro. O preço das peças subiu 20% no último ano e dos carros 15%. Apesar de esperarmos resultados fracos no trimestre continuamos otimistas para o ano em função da: (i) perspectiva de melhores receitas financeiras com elevação da Selic média; (ii) reprecificação da carteira, que deverá reduzir a sinistralidade ao longo de 2022, e; (iii) crescimento de receitas, tanto no seguro auto e em outras linhas de negócio.
Por fim, o IRB deverá ter resultados fracos no 1T. Segundo dados da SUSEP, o IRB apresentou um prejuízo de R$ 47m em janeiro e fevereiro. Os resultados foram impactados pela ainda elevada sinistralidade. Ainda estamos pouco otimistas com o IRB para 2022. Dentre as razões estão: (i) constante consumo de capital e necessidade de novos aportes; (ii) continuidade dos impactos de contratos descontinuados (efeito cauda); (iii) incerteza em relação ao ROE (retorno sobre patrimônio) de longo prazo; e, (iv) pressão na sinistralidade do seguro rural.
Serviços financeiros: Os resultados de serviços financeiros também variam. A Valid deverá ser o destaque positivo com uma continuidade do bom crescimento de receitas e margens saudáveis. Estamos positivos com relação a Valid, em função: (i) da normalização da emissão de documentos, que deve impulsionar receitas; (ii) continuidade da demanda por cartões bancários, dada competição no segmento; (iii) melhora na estrutura de capital.
A Cielo deve ter resultados sob efeito do forte crescimento das despesas financeiras com a alta da Selic. O volume deve continuar crescendo a/a, em função da recuperação da pandemia. Para suprir os impactos da elevação dos custos de capitação na despesa financeira, a Cielo já reprecificou parte do seu produto de antecipação. Os impactos da reprecificação devem ser sentidos principalmente no 2T. Apesar do trimestre menos brilhante, esperamos uma gradativa recuperação ao longo do ano, impulsionada pelo avanço dos volumes e reprecificação.
A B3 deve sentir os efeitos do cenário macroeconômico mais desafiador no 4T para seus produtos. A elevação da Selic e incertezas do ano eleitoral vem desacelerando crescimento dos volumes. O volume financeiro de ações em março estava recuando 12,6% a/a, tendência que observamos nos demais meses dos trimestres. Com a alta da Selic, a atratividade de ativos de renda fixa da B3 aumentou, mas não foi suficiente para contrapor a redução do fluxo de investidores e volumes em ações. Além disso, a B3 vem acelerando as contratações de pessoal para fazer frente ao grande número de projetos e tecnologia, podendo pressionar as despesas no trimestre e no ano.
Varejo: Olhando para o varejo farmacêutico, deveremos ver um crescimento no top line, no entanto, compressões de margens e desaceleração nos lucros. Maiores despesas operacionais e financeiras devem ditar a dinâmica do 1T22. Possivelmente, a partir do 2T22 deveremos ver um alívio nessas linhas, com o reajuste dos preços de medicamentos autorizados pela CMED. Já a dinâmica de supermercado, continua favorável ao modelo de atacarejo, que deve apresentar os maiores crescimentos no período. Unidades de proximidade e vendas pelo digital também devem continuar acelerando e favorecendo o crescimento do “top line” do setor.
Alimentos e Bebidas: Esperamos um início de ano positivo para as empresas de proteínas. A JBS e a Marfrig devem ter o maior destaque e crescimento de vendas e volumes, dado o cenário ainda bastante benéfico nos EUA para o setor, com boa disponibilidade de gado no país e uma demanda persistentemente forte por carne bovina. Ambas as empresas focam no segmento de carne bovina no mercado americano. Também acreditamos em um resultado bastante positivo para a Minerva — o Brasil voltou a poder exportar carne bovina para a China no final de 2021, portanto, o frigorífico teve todo o 1T22 para retomar as exportações para o país asiático. A maior exportadora da America do Sul também se aproveita do real desvalorizado e boa demanda internacional, principalmente vindo da Ásia. Já a BRF se encontra em situação mais complicada, com seus principais custos ainda muito altos (commodities agrícolas como milho e soja) e uma demanda sazonalmente estável. Esperamos o 1T22 fraco para a BRF. Quando olhamos para o setor de bebidas, a Ambev deve sofrer com a forte inflação de custos e também com o preço mais alto de commodities (principalmente alumínio, trigo e milho), ainda em um cenário de crescimento de vendas atolado. Enxergamos pouco espaço para avanços para a maior cervejaria do Brasil, contudo, um início de ano mais para o lado do pessimismo.
Saúde: A dinâmica de recuperação para as empresas do setor de saúde deve continuar no 1T22, com resultados relativamente fracos e impactados pela pandemia. A menor disseminação de Covid-19 após as primeiras semanas do ano deverá contribuir para uma menor sinistralidade, mas ainda acima dos patamares normalizados. Continuando a tendência de crescimento orgânico fraco, esperamos adições líquidas tímidas. As margens também devem se manter pressionadas, com repasse esperado ao longo de 2022, mas fraco no primeiro trimestre, e custos ainda elevados dada a alta da inflação.
Construtoras: as empresas do setor devem continuar a ser impactadas negativamente pelo aumento dos custos de materiais de construção, principalmente no segmento de mais baixa renda como Tenda e MRV. A taxa Selic em um patamar relativamente elevado diminui o poder de compra e de financiamento da população em geral, de forma que houve queda generalizada de velocidade de vendas (com poucas exceções). A demanda mais fraca por imóveis provocou um nível de lançamentos mais fraco e vendas menores. Em suma, esperamos receitas mais fracas e queda nas margens brutas e líquidas. O trimestre também irá evidenciar os nomes mais resilientes e bem-preparados do setor.
A seguir você encontra as datas de divulgação dos resultados das principais empresas listadas, bem como as ESTIMATIVAS DO CONSENSO DE MERCADO.
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