A narrativa de recessão global ganhou corpo e assim, o desempenho das commodities já não foi o mesmo. China foi bastante impactada pela política de casos zero de Covid-19, o mundo desenvolvido (EUA e Zona do Euro) passaram por uma normalização monetária (subida de juros e retirada de estímulos) com quedas nos indicadores de atividade e de confiança. Uma busca por proteção e ativos conservadores fez com que a nossa bolsa apresentasse um desempenho negativo e devolvemos todo o ganho acumulado no ano. Em conjunto com esse estresse provocado pela conjuntura global, passamos por um período em que o aumento nos gastos públicos fez com que o risco fiscal pressionasse nossa moeda e também as expectativas da trajetória da Selic no médio prazo. Essa combinação trouxe retornos negativos tanto para as exportadoras quanto para as empresas ligadas à economia doméstica.
Para esta temporada de balanços o mercado irá acompanhar de perto a eficiência operacional das empresas, ou seja, o quanto que o quadro inflacionário está impactando os resultados corporativos. Além de, é claro, sobre o que as empresas irão sinalizar de expectativas e dificuldades para os próximos trimestres. Acreditamos que empresas ligadas à commodities continuarão como destaques de resultado ainda refletindo preços altos nos últimos meses. Por outro lado, diante dos dados mais desafiadores sobre nossa economia local, consumo discricionário deverá passar por um trimestre ainda difícil.
A seguir você encontra nossas expectativas para cada setor:
Alimentos
Analisando o cenário atual, enxergamos uma demanda por proteínas brasileiras, principalmente a carne bovina, muito positiva. Além disso, o ciclo do gado no Brasil já mostra bons sinais de recuperação, com uma maior disponibilidade do animal e consequentemente um preço mais atrativo para os frigoríficos locais comprarem. Isso deve afetar positivamente a Minerva (BEEF3), maior exportadora de carne bovina da América do Sul, assim como a BRF (BRFS), que, apesar de ainda viver um momento difícil financeiramente, pode surpreender nesses próximos resultados. Nos EUA, enxergamos o cenário oposto – os fortes fundamentos no mercado americano perduraram por quase 2 anos, e agora acreditamos que o cenário no país deve normalizar, o que afetará negativamente as margens da Marfrig (MRFG3). Apesar de isso também afetar a JBS (JBSS3), acreditamos que o impacto será de menor força, dada a boa diversificação da JBS, tanto geograficamente quanto em produtos.
Bancos
Esperamos um resultado de bancos em linha com o que observamos no 1T22. As receitas de fee’s devem crescer t/t, dada a base comparativa sazonal mais fraca do 1T22. A margem com clientes deve continuar avançando no trimestre, com a maioria dos bancos tendo continuado a melhorar do mix da carteira. Do lado negativo, a elevação da inadimplência e do custo de crédito (provisões) devem continuar pressionando os resultados. Para o ano seguimos preferindo os bancos com uma dinâmica melhor de receitas para compensar a elevação do custo de crédito, com destaque para o Itaú.
Educação
O setor de educação, para nós, terá um segundo trimestre morno por conta da dinâmica inerente do setor. Acreditamos que o terceiro trimestre deva apresentar novas entradas em linha com o histórico e o foco nesse tri passa a ser em qualquer update das campanhas de captação que já estão acontecendo. O PDD ainda é um fator a ser monitorado mais de perto por conta do atual cenário inflacionário, mais precisamente, naquelas cias que focam nas classes C e D.
Imobiliário
Neste trimestre esperamos que as construtoras de baixa renda tenham um desempenho superior do que as construtoras de alta renda. As novas mudanças no financiamento imobiliário via FGTS em junho permitiram representam um alívio para as companhias que atuam no segmento, mas terão maiores efeitos nos próximos trimestres, permitindo aumento dos preços dos imóveis. Continuamos a preferir nomes como Cury, Direcional e RNI neste segmento. Já para as construtoras de alta renda, devemos continuar a ver um momento desfavorável, com taxa de juros crescentes e menor capacidade de compra jogando contra a capacidade das companhias em vender estoques e lançar novos empreendimentos. Desta forma, preferimos companhias com posição de caixa mais forte e que já demonstraram boa capacidade de atravessar momentos macroeconômicos conturbados.
Indústria
Nossa expectativa é boa para a temporada de resultados no segmento industrial. As empresas em cobertura, em sua maioria, devem apresentar crescimento de Receita e EBITDA na comparação com o primeiro trimestre. Os novos casos de covid na China geraram novas medidas de contenção e consequentemente atrapalharam o fluxo de mercadorias no principal porto do mundo, o porto de Xangai. O preços de materiais ainda não incorporam as recentes quedas dos preços das commodities, portanto a expectativa é de redução de margens. Nos segmentos ligados à indústria automobilística, embora as vendas de pesados nos EUA e de implementos rodoviários no Brasil tenham enfraquecido, ainda permanecem em patamares elevados. Se beneficiando do movimento de recomposição de estoques as empresas ainda conseguem repassar boa parte do aumento de preço e devem apresentar bons resultados.
Do lado de máquinas e equipamentos, esperamos resultados estáveis, em linhas com os reportados no 1T22. Os produtos de ciclo longo seguem seu cronograma de entrega garantindo bons volumes de vendas, puxados pelo mercado de global de commodities, o que deve garantir bom desempenho nos mercados local e externo. Não fosse o câmbio médio mais baixo no 2T22, deveríamos ver crescimentos mais fortes de receita. Já o segmento ligado a renováveis deve apresentar piora no segmento solar, impactado pelo lado da oferta de componente oriundos da China e melhora no eólico com a volta de novas entregas.
Metais
O setor de mineração teve um trimestre com níveis elevados de minério de ferro, incentivados pela continuidade do conflito na Ucrânia, o que afetou o lado da oferta de minério mundial, ao mesmo tempo em que a China manteve estímulos à economia, especificamente à construção civil. Apesar da queda do minério observada mais ao final de junho, como resultado dos lockdowns na China, a expectativa é de um bom resultado para as empresas mineradoras, aproveitando a sazonalidade com um menor período de chuvas.
Para a siderurgia, o que fica em mente são os repasses de preços que ocorreram ao longo do trimestre, sobretudo nos aços planos, com movimentos sobretudo de CSN, Usiminas e Gerdau. Apesar disso, com a queda do preço do minério, abaixou-se também a referência para os preços praticados no Brasil, que é o aço chinês. Dessa forma, juntamente com os lockdowns, a expectativa ficou mais pessimista com um arrefecimento do setor imobiliário chinês, também corroborando para a queda do aço. Apesar de tudo isso e do aumento do custo de alguns insumos, como o carvão, acreditamos que os repasses e o volume de vendas sejam suficientes para propiciar um bom trimestre para as siderúrgicas.
Saúde
Os resultados das empresas de saúde devem continuar a vir pressionados no 2T22, mas com uma luz no fim do túnel. Existem diferentes dinâmicas para os segmentos do setor, começando pelas operadoras de saúde esperamos um princípio de recuperação, uma vez que os bons números de novos beneficiários podem pautar uma diminuição da sinistralidade, aliado ao aumento dos preços de planos individuais de 15,5% aprovados neste trimestre. Para as prestadoras de serviços hospitalares esperamos normalização da taxa de ocupação, após o fim da onda de eletivas, mas melhores dinâmicas de precificação que possibilitam melhores resultados no trimestre. Por fim, esperamos que o efeito das eletivas também traga normalização para o volume de exames, mas com repasse da inflação para o consumidor impulsionando os resultados.
Seguradoras
Esperamos um resultado misto para seguradoras. A Porto deve continuar em ritmo de recuperação, melhorando t/t com o gradativo impacto da reprecificação das apólices de seguro para fazer frente a inflação de veículos. O resultado de Porto deve seguir fraco e esperamos uma melhora mais relevante no 2S. A BB Seguridade deve ter um bom resultado, com a melhora da sinistralidade dos seguros rurais, apesar do resultado de Brasil Prev mais pressionado pelo descasamento de IGPM e IPCA. Por fim, o IRB deve ter um resultado fraco, prejudicado pelo seguro rural (mesmo que impactou a BB Seg no 1T). Em abril o IRB reportou um prejuízo de ~R$ 93m.
Tecnologia
Segundo dados da ABVCAP os investimentos em Venture Capital, um dos principais termômetros para o setor de tecnologia, caíram 42% no 1T22 em relação ao 4T21, totalizando USD 1,54 bilhão. Acreditamos que esse 2T22 deverá se manter estável no t/t e com uma leve redução no comparativo a/a. Observamos algumas Companhias do setor reduzindo quadro de funcionários, como a Vtex que em maio desligou 12% da sua força de trabalho e o Quinto Andar que demitiu 5% também no mesmo mês. Vimos outros Unicórnios como Loft, Facily e Ebanx também realizando demissões em massa no 2T22. O momento não é dos melhores para o setor de tech, com os juros em alta nos EUA, grandes investidores estrangeiros como a Softbank enxergam o custo do dinheiro subindo. Todavia, algumas companhias passam a ficar também com múltiplos mais atrativos.
Telecom
Para telecomunicações, os grandes destaque foi a concretização da venda da Oi Móvel. Com isso, a expectativa é que a base de clientes móveis tanto da TIM quanto da Vivo contemplem os novos números, ainda que eles não sejam contabilizados dentro da receita, mas que mostra o período de transição dos antigos clientes da Oi para suas novas operadoras. Ainda, os avanços 5G começam a engrenar, mas de fato só veremos resultados mais para frente. Tanto TIM e Vivo não devem ter tantas novidades. A grande surpresa deve ficar para a Oi, com o closing da venda da Oi Móvel, bem como a venda do controle da antiga InfraCo (atual V.tal) e a divulgação de seu resultado contemplando tais eventos.
Transporte
As empresas aéreas já divulgaram os dados de tráfego aéreo relativos ao 2T22. De maneira geral, os números reportados nos mostram uma desaceleração na recuperação do setor, refletida na queda da taxa de ocupação, embora exista um efeito sazonal. Um ponto a se destacar é a volta da demanda corporativa, em níveis próximos ao pré-pandemia. Vale lembrar que a desvalorização do real e o aumento das taxas de juros joga contra as empresas aéreas. O cenário de inflação alta abriu espaço para a tese de uma possível recessão global, o que afeta o consumo e reflete diretamente em uma diminuição na procura por viagens.
No segmento de locação, acreditamos que o destaque deve ser o segmento de pesados com volumes fortes de locação e vendas em concessionárias. Já para as locadoras de leves, mesmo sendo um trimestre sazonalmente mais fraco, onde predominam as vendas de carros, esperamos que a volta da demanda de aeroporto se reflita em aumento nos volumes de aluguéis de carros. refletiria em bons volumes no RAC e manutenção de tarifa em patamares elevados. No GTF, a entrada de contratos já com precificados ao novo patamar de preços de carros também deve ajudar a puxar as tarifas para cima. Com o segmento de locação mais forte é natural que a taxa de renovação de frota fique abaixo da taxa histórica no período.
Varejo
A dinâmica esperada para o varejo de bens de consumo duráveis continua sendo de margens pressionadas, com as empresas buscando monetizar suas estruturas de forma a aliviar os gastos com despesas e promoções no período. As vendas de produtos de linha branca continuarão a ser um detrator de margens nesse trimestre.
No que diz respeito ao varejo alimentício, frente a um mês de abril muito forte para o atacarejo, esperamos que este modelo continue a entregar maior crescimento do que os tradicionais (hipermercados e supermercados).
Olhando para farmácia, com o reajuste dos preços de medicamentos em até 10,8%, autorizado pelo Cmed, esperamos que as farmácias tenham um trimestre positivo, registrando um forte crescimento em suas receitas e uma diluição em suas despesas operacionais.
Petróleo & Gás
Acreditamos em um trimestre positivo para todas as empresas sob nossa cobertura – baseado simplesmente nos preços médios alcançados pelo barril do petróleo tipo brent ao longo do 2T22, que ficaram na acima dos US$100/barril ao longo desse período de tempo. Apesar da nossa leitura positiva do trimestre no que diz respeito aos números a serem apresentados, não achamos que os resultados venham necessariamente impactar as cotações dos papéis à medida que, em nossa leitura, o grande valor das empresas está relacionado a como o plano de negócios/produção de cada um dos nomes deve evoluir, para além dos resultados de um único trimestre.
Energia Elétrica
Achamos que os resultados a serem apresentados devem ser mistos, a depender do negócio que a empresa tem exposição. O segmento que deve se destacar é o de geração, por finalmente atravessar um trimestre inteiro sem o déficit hidrológico. Enquanto transmissão não deve apresentar nenhuma grande surpresa (como de costume), as empresas de distribuição devem apresentar resultados neutros, ainda reflexo do momento econômico e os respectivos impactos no consumo e perdas/provisões.
A seguir você encontra as datas de divulgação dos resultados das principais empresas listadas, bem como as ESTIMATIVAS DO CONSENSO DE MERCADO.
Para ter acesso às expectativas dos nossos Analistas, fique de olho no Genial Analisa.