Chegamos a mais uma temporada de balanços, em que as empresas irão apresentar os resultados do terceiro trimestre de 2021. Com o aumento da percepção de risco Brasil, por conta da situação fiscal fragilizada, será de suma importância a temporada de resultados para que o mercado consiga ter maior racionalidade e entendimento sobre os reais impactos econômicos, globais e locais, sobre as empresas.
Nos últimos meses, se tornou mais evidente o problema inflacionário que está presente não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Logística cara, preços de energia mais altos com juros subindo tornam o consumidor mais seletivo nas suas escolhas e diminui o poder de preços das empresas. Assim, acreditamos que a capacidade na geração de lucro por parte das empresas vista sob a ótica das margens (receitas — custos) será primordial para identificarmos quem está fazendo a diferença.
Mineração, siderurgia, papel e celulose
No cenário global, os impactos nos mercados chineses, principalmente o imobiliário, já traz consequências, como a pressão sobre commodities metálicas e que por consequência tornam mais desafiador o cenário para mineradoras. O mercado chinês é muito importante para a economia global e já ficam evidentes os impactos que temos em commodities metálicas, papel/celulose e preços de carnes. Com a queda no preços do minério ao longo do trimestre devido à redução da demanda chinesa, nossas expectativas não são animadoras, a tendência é que as mineradoras menores sofram mais com essa queda devido a maior sensibilidade aos custos de frete. As siderúrgicas podem apresentar volume mais resilientes e podem se beneficiar desse aumento dos spreads entre metal e minério.
Petróleo e Alimentos
Os custos de energia seguem pressionados pela alta nos preços do gás natural, carvão e de petróleo. Obviamente, essa alta dos preços de energia é positiva para exploração de petróleo, que deve beneficiar as empresas do setor com o mercado já estimando que o barril de petróleo poderia chegar em US$ 100 em 2022.
É importante observamos as consequências e reflexos em toda cadeia produtiva. O mercado de fertilizantes, por exemplo, tem como principal insumo o gás natural, esse aumento de preços prejudica não só os custos de produção, como também diminui as margens das empresas produtoras de alimentos e commodities agrícolas. Temos um cenário mais desafiador à frente para produtores de alimentos e para os frigoríficos mais expostos a suínos, aves e gado de confinamento.
Energia elétrica
O segmento de transmissão de energia, o mais resiliente do setor, deve seguir o mesmo ritmo dos trimestres anteriores, tranquilo e calmo. As distribuidoras de energia devem se beneficiar da intensificação das campanhas de vacinação, que permitiram redução das medidas de restrição e o retorno das atividades presenciais. O setor de geração deve sofrer de maneira mais severa, especialmente as empresas mais expostas à energia hidrelétrica, que certamente tiveram de recorrer à compra de energia para cumprirem seus contratos.
Indústria
As empresas de nossa cobertura deverão apresentar bons resultados, apesar do cenário adverso, por estarem mais direcionadas para a parte de equipamentos e veículos pesados, segmento mais resiliente. O segmento de pesados é menos afetado pela falta de semicondutores que o segmento de veículos leves, o motivo é simples: além de não competirem pelos mesmos tipos de semicondutores, as montadoras conseguem ter margens maiores nos veículos pesados. Contudo, devemos monitorar os impactos inflacionários que podem pressionar ainda mais as margens de lucro dessas companhias nos próximos trimestres.
Além disso, as prévias do setor indicam o aumento das vendas de máquinas e equipamentos no país. Com o temor no setor industrial devido ao risco de racionamento e falta de energia elétrica, estamos observamos um crescimento rápido dos investimentos em fontes alternativas de energia no país.
Varejo, shoppings, locadoras e supermercados
Falando ainda sobre o cenário doméstico, especificamente para quem dependem da mobilidade urbana, acreditamos que as empresas de varejo, shoppings e locadoras devem apresentar bons resultados. Por outro lado, o mercado seguirá ainda desconfiado frente ao cenário macroeconômico atual, com inflação alta, Selic subindo e problemas nas cadeias produtivas.
Diante deste cenário, empresas ligadas ao consumo básico (supermercados) devem atrair mais os investidores bem como empresas que atendem o público A e B, mais resilientes em épocas de cenário econômico mais negativo. Com o aumento da mobilidade, apesar de maiores receitas destinadas ao turismo. Passagens aéreas e locação de veículos, a alta do dólar e dos preços dos combustíveis ainda deve pressionar o setor aéreo.
Financeiro e Construção Civil
Estamos otimistas com os resultados do setor financeiro, principalmente os grandes bancos com melhora das receitas provenientes do mix de produtos por conta da Selic mais alta. Dentro desse cenário de maior incerteza, acreditamos que o mercado buscará alocação em ações de grandes empresas e alta liquidez. Seguradoras, apesar da alta da Selic, ainda podem sofrer com o aumento do número de sinistros no processo de normalização de casos pós covid-19, a exceção fica para o segmento de saúde verticalizado que por conta do modelo de negócios pode apresentar maior resiliência.
Existia uma expectativa de que o aumento dos custos por conta de inflação e a Selic mais alta, se refletiram em número piores para o setor de construção civil. Nas prévias operacionais divulgadas, o cenário mais negativo foi confirmado, sinalizando um enfraquecimento da demanda.
Telecom e Tech
O setor de telecomunicações deve apresentar bons resultados pela sua resiliência e timing de expansão, mas ainda pressionado, sobretudo na questão inflacionária que tende a desempenhar um papel importante na redução do crescimento dos pós-pagos e uma escolha maior pelos pré que agregam menos valor às empresas de telecom. O setor de tecnologia, assim como o varejo deve apresentar pode sofrer com mais com o cenário macro desfavorável.