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Publicado em 04 de Janeiro às 20:06:18

Carta Macro – Dezembro 2021

Cenário Doméstico

Covid-19: variante Ômicron gera incertezas e atrapalha recuperação esperada no fim do ano.

No fim de novembro de 2021, o mundo voltou a ficar apreensivo com a descoberta de uma nova variante do Sars-CoV-2 no sul do continente africano. Rapidamente, a Ômicron fez com que os casos disparassem e países ao redor do mundo começassem a proibir voos vindos da região, na tentativa de barrar o contágio. Mas não foi o suficiente. Até o dia 6 de dezembro, a variante já havia atingido pelo menos 50 países, e o número diário de novos casos quebrava recordes na África do Sul, chegando a uma média de mais de 23 mil casos por dia no meio do mês. Além disso, logo depois, o Reino Unido registraria a primeira morte no mundo, inaugurando um cenário de incerteza e uma corrida por pesquisas sobre a imunidade das vacinas.

Com o passar dos dias, as infecções se alastravam e novas restrições foram impostas no tráfego internacional e nacional em todo o mundo. Especialmente na Europa, a crescente contaminação com a Ômicron fez com que países como França e o Reino Unido superassem marcas de 100 mil novos casos diários, apesar de pequenos aumentos nas taxas de mortalidade. Essa peculiaridade se deve à vacinação da população, que segue avançando, e a uma menor capacidade do novo vírus de se multiplicar em tecidos pulmonares, como foi descoberto posteriormente. Nesse sentido, pesquisas apontaram que as vacinas já distribuídas em dezenas de países apresentavam uma menor efetividade contra a Ômicron, sendo que as melhores estimativas sugeriram que são cerca de 30%-40% efetivas na prevenção de infecções, e 70% efetivas na prevenção de doenças graves. Assim, os laboratórios da Pfizer, Moderna, Janssen, CoronaVac e AstraZeneca já se pronunciaram pela necessidade da aplicação de doses de reforço para tentar barrar o contágio.

Nos EUA, a situação começou a piorar consideravelmente nos últimos dias do ano. Com a disparada dos casos, atrações natalinas, voos e cruzeiros foram cancelados, além do que algumas cidades começaram a adotar restrições à circulação e funcionamento de estabelecimentos. Nos últimos dias do ano, o país registrou uma média de 355.990 infecções diárias com tendência de alta, ou seja, a crise já é uma ameaça potente ao sistema de saúde. Além dos danos individuais, a alta de casos amplifica a falta de trabalhadores, um antigo problema da economia americana que pode paralisar amplos setores da economia. Ou seja, em um momento aquecido pelo fim de ano, o grande número de doentes paralisou a recuperação esperada para frear a inflação que preocupa o mercado americano, após registrar em novembro seu maior aumento anual em 40 anos, com acumulado de 5,7%.

Já no Brasil, o cenário ainda não atingiu os patamares internacionais, mas o avanço da Ômicron precisa de atenção. O mês foi marcado por uma série de ataques hackers aos bancos de dados do Ministério da Saúde, os quais, além de gerar insegurança quanto à proteção oferecida pelo governo, ainda instauraram um “apagão” de atualizações sobre o real cenário no país. No balanço divulgado no dia 30/12, foram registrados 128 casos da nova variante no país, no entanto, um levantamento pelo Instituto Todos pela Saúde verificou que, de 640 amostras positivas para a Covid-19 em 16 estados no mês, 31,7% foram causadas pela Ômicron, mais uma evidência da defasagem dos dados oficiais. Além disso, uma epidemia de Influenza levou milhares de brasileiros a procurar atendimento médico, o que dificultou ainda mais o diagnóstico e controle do contágio da Ômicron. Na semana anterior a do Natal, entre 12 e 18 de dezembro, os casos de internação por gripe em São Paulo chegaram a ser cinco vezes os de Covid. No mesmo período, o número de registros de mortes provocadas pela gripe quase dobrou, saindo de 5 para 11, em Pernambuco, e o estado do Rio de Janeiro teve um aumento de 25% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, podendo ser causada pela gripe ou pelo Covid.

Diante desse cenário, o fim de ano no Brasil foi um pouco diferente dos anos pré pandemia. Pelo menos 20 capitais cancelaram a realização de shows e eventos artísticos para evitar a aglomeração de pessoas, além de restrições à circulação e limite de convidados para festas privadas. Além disso, como se viu em outras partes do mundo, aumentos repentinos de casos em embarcações levaram a Anvisa a recomendar ao Ministério da Saúde, no último dia do ano, a suspensão provisória da temporada de cruzeiros, em caráter preventivo, até que haja mais dados disponíveis para avaliação do cenário. Na contramão dessas recomendações, o mês também foi marcado por dificuldades na implementação de medidas básicas para controle da pandemia, como a exigência de esquema vacinal completo para turistas visitarem o Brasil, o chamado passaporte vacinal, além das tentativas de proibir a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos, apesar de pareceres científicos favoráveis e dados como a média de hospitalizações diárias de crianças subindo mais de 58% nos EUA.

Mais contagiosa e menos letal. Esse é o lema que tem levado alguma estabilidade para os mercados de todo o mundo que estavam animados com a possibilidade de uma retomada mais forte em 2022. Com as atualizações de notícias e pesquisas, investidores temem pela paralisação do crescimento econômico, o que aumentaria a pressão sobre inflação global. Por outro lado, no último dia do ano, autoridades da África do Sul afirmaram terem vencido a quarta onda de Covid-19 no país, após semanas em que os casos dobravam quase que diariamente. Essa queda considerável dos casos dá esperanças para a tese de que essa nova variante causa menos mortes, apesar da maior velocidade de transmissão. É, portanto, indiscutível a necessidade de se alcançar um percentual ainda distante da população global vacinada para que a pandemia seja, de fato, controlada. Enquanto os estoques de vacinas em países ricos estiverem cheios e países pobres estiverem com menos de 30% da população vacinada, novas variantes continuarão se desenvolvendo e espalharão medo para todo o mundo.

Atividade Econômica: indicadores setoriais abaixo das expectativas, porém mercado de trabalho surpreende positivamente.

Os indicadores setoriais de frequência mensal vieram fracos no mês de outubro. Houve recuo em todos os setores na série com ajuste sazonal. A indústria, que enfrenta um cenário de escassez de matéria-prima, baixos estoques e custos elevados, recuou 0,6% no mês (expectativa era de avanço de 0,7% m/m), sendo o quinto recuo consecutivo (perda acumulada de 3,7% no período) e o oitavo recuo no ano. Já o setor de setor de serviços, que vem sendo impulsionado pelo arrefecimento da pandemia, apresentou novo recuo, dessa vez de 1,2%, ficando muito abaixo do consenso de mercado (-0,1% m/m). Houve recuo em quatro das cinco atividades, com destaque para contração dos serviços de informação e comunicação (-1,6¨m/m) e outros serviços (-6,7% m/m). O resultado não só veio negativo como também apresentou a menor taxa de difusão (% de atividades que apresentam crescimento) desde abril de 2020. Ou seja, as atividades de outros serviços, e serviços de comunicação puxaram o índice, porém as taxas negativas foram generalizadas entre as atividades em outubro. Por outro lado, o destaque positivo continua sendo as atividades de caráter presencial com os serviços prestados às famílias. Além disso, o setor varejista também registrou queda no mês (-0,1% m/m) e, assim como no setor de serviços, vem sendo prejudicado pela aceleração inflacionária recente. Diferentemente dos meses anteriores em que algum grupo puxava o indicador, no mês de outubro não houve um destaque claro que influenciou o resultado. Houve equilíbrio (de impacto) nos setores, sem grande protagonismo de alguma categoria em especial.  Houve recuo em cinco dos oito grupo (na ótica restrita): livros e papelaria (-1,1%), móveis e eletrodomésticos (-0,5%), Hipermercados e supermercados (-0,3%), combustíveis (-0,3%), artigos farmacêuticos (-0,1%). Entre os itens que avançaram no mês tivemos: material de escritório (5,6%), outros artigos de uso pessoal (1,4%) e tecidos e vestuário (0,6%).    

Com isso, temos carrego negativo para todos os setores econômicos e para o IBC-Br (-0,86%). Ou seja, teríamos que ter um crescimento médio de aproximadamente 0,9% em novembro e dezembro para que o PIB seja nulo no 4º trimestre, o que é improvável. Dessa forma, a economia brasileira deve apresentar mais um trimestre de PIB negativo no último trimestre de 2021. O IBC-Br de outubro apresentou revisões significativas na série, indicando um cenário para atividade econômica pior que inicialmente calculado. O Brasil já se encontra abaixo do período pré pandemia. A indústria é o setor com o pior desempenho nos últimos meses, porém também vemos desaceleração tanto nos serviços quanto no varejo.

Por outro lado, o mercado de trabalho vem dando sinais positivos. A taxa de desemprego em outubro veio melhor que o esperado pelo mercado, ficando em 12,1% (mediana da projeção era 12,3%).  Estamos vendo avanço da população ocupada (3,3 milhões no último tri) e redução da população desocupada (1,5 milhão no último tri). O crescimento da população ocupada continua sendo concentrado nos trabalhadores do setor privado e por conta própria, ainda que a geração de empregos no setor privado venha ganhando relevância nos últimos meses com a desaceleração dos empregos por conta própria. Nos últimos trimestres, os empregos por conta própria representavam cerca de 35% do total de empregos criados, mas, agora, esse número está em 19,4%. Por outro lado, o emprego no setor privado que gerava cerca de 55% dos empregos, agora está acima de 70% do total.  Das 3,3 milhões de pessoas a mais ocupadas em relação ao trimestre encerrado em julho, 638 mil são trabalhadores por conta própria (sendo 382 mil de informais e 256 mil formais) e 2,4 milhões são trabalhadores no setor privado (sendo 1,3 milhão de formais e 1,03 milhão de informais). Em relação ao mercado formal de trabalho (Caged), foram criados 324,1 mil vagas em novembro, resultado melhor que o esperado pelo mercado, que projetava criação de 216 mil. Houve criação líquida em seis dos nove setores analisados, porém o resultado de novembro ficou muito concentrado nos setores de serviços e comércio. Nos últimos meses, esses dois setores já eram os protagonistas da geração de empregos, contribuindo com cerca de 60% a 70% dos postos de trabalho criados. Dessa vez, a relevância desses setores foi mais forte, chegando a 98,8% do total.

 Inflação: IPCA se aproxima de 11% a/a. IGP-M avança, porém, inflação ao consumidor apresenta tendência de desaceleração

A variação do IPCA em novembro foi de 0,95% m/m, resultado melhor que o projetado pelo mercado (1,10%), ficando próximo ao piso das expectativas (0,94%). Essa foi a maior variação para o mês de novembro desde 2015 (1,01%), e sete das nove categorias analisadas pelo índice subiram no mês. Em relação ao núcleo do IPCA houve desaceleração na margem de 0,95% para 0,61%, com o acumulado em 12 meses chegando a 7,16%. Assim, o resultado não só veio melhor que o esperado, com desaceleração na margem, como também houve queda no índice de difusão (% de itens que apresentam elevação no mês) de 66,84% para 63,13%. Duas categorias puxaram o índice no mês, com cerca de 93% do impacto total, e a maior contribuição ocorreu no grupo Transportes (+72 b.p.). Em seguida, tivemos o impacto com o grupo de Habitação (+17 b.p.).  Por sua vez, alimentação e bebidas contribuiu para a surpresa baixista do IPCA de novembro, saindo de uma contribuição de +24 b.p. no mês anterior para -1 b.p. em novembro. Ainda houve a contribuição negativa no grupo saúde e cuidados pessoais (-0,57% e -7 b.p.). A taxa de inflação dos últimos doze meses ficou em 10,74%. No ano, o IPCA acumula alta de 9,26%, o maior desde novembro de 2003 (11,02%).

Em dezembro, o IGP-M avançou 0,87% m/m, acelerando em relação ao mês anterior (0,02%), um resultado pior que o esperado, mas ficando acima da mediana das expectativas do mercado (0,74%). O índice geral de preços encerrou 2021 com elevação de 17,78%. O resultado do IGP-M foi puxado pelo aumento do índice ao produtor (IPA), diante da aceleração do preço dos bovinos, café e cana de açúcar. Por outro lado, tivemos mais um mês de desaceleração na inflação ao consumidor, com o IPC apresentando novo recuo, agora de 0,93% para 0,84%.  Esse foi o terceiro decréscimo consecutivo do índice de preço ao consumidor. Em relação ao mês anterior, seis das oito categorias apresentaram decréscimo em suas taxas, sendo a principal contribuição no grupo Transportes (de 2,93% para 1,26%), com destaque para desaceleração do item gasolina (de 7,14% para 2,24%). Além disso, tivemos desaceleração no grupo Alimentação (de 0,74% para 0,54%), Saúde (0,21% para 0,17%), Despesas diversas (0,22% para 0,13%) e Vestuário (0,62% para 0,61%). Por outro lado, tivemos aumento no grupo Habitação (0,37% para 1,09%), com destaque para energia elétrica (0,12% para 3,11%), e no grupo Educação e recreação (0,34% para 1,80%), com aumento do item passagem aérea (1,62% para 11,52%). O índice de preços ao consumidor encerrou 2021 com alta acumulada de 9,32%

Fiscal: bons resultados fiscais com destaque para os estados e municípios; PEC dos precatórios e orçamento para 2022 aprovados.

O setor público consolidado apresentou superávit de R$15 bilhões em novembro, ante déficit de R$20,1 bilhões (corrigidos pelo IPCA) no mesmo mês do ano anterior. Esse foi o quarto superávit primário consecutivo, sendo o melhor para um mês de novembro desde 2013. Vale destacar nesse mês o bom desempenho das finanças subnacionais e a antecipação do abono salarial que costuma ser paga nos dois últimos meses, porém esse ano ocorreu entre maio e julho.  Houve superávits no governo central (R$3,5 bilhões) e nos governos regionais (R$11,7 bilhões), entretanto, as estatais apresentaram déficit de R$238 milhões. No acumulado no ano, o setor público consolidado apresenta superávit de primário de R$64,6 bilhões, com destaque para o desempenho das contas públicas dos estados e municípios. O Governo Central, em 2021, apresentou déficit de 49,8 bilhões, porém os governos subnacionais apresentaram superávit em todos os meses de 2021, acumulando um saldo positivo de 110 bilhões. Já as estatais apresentaram um saldo positivo no ano de 3,9 bilhões e, além disso, a conta com juros vem avançando significativamente nos últimos meses. Em junho, essa despesa estava em 3% do PIB, porém já chegou a 4,38% do PIB no acumulado em 12 meses. Esse aumento do custo médio da dívida decorre do aumento das taxas de juros, tanto da taxa curta (Selic), quanto das taxas longas que encarecem as emissões de títulos pré e indexados à inflação (LTN/NTNB). Essa elevação dos juros vem sendo compensada pelo bom desempenho fiscal. O governo (na ótica consolidada) pela primeira vez desde outubro de 2014 apresentou superávit primário no saldo acumulado em 12 meses. Com isso, apesar do aumento das despesas com juros, o resultado nominal do governo está baixo, num patamar próximo a 2014.

Outros dois pontos de destaque ao longo do mês de dezembro foram: a aprovação da PEC dos precatórios e do orçamento de 2022. A PEC foi a solução encontrada para o longo impasse fiscal decorrente da combinação do aparecimento de um elevado passivo judicial para ser quitado no curto prazo, em conjunto com a redução do espaço fiscal no teto provocado pela aceleração inflacionária que iriam inviabilizar a criação do Auxílio Brasil. A PEC cria um limite para o pagamento dos precatórios (até 2026), permitindo negociação dos passivos não pagos que serão quitados fora do teto, e modifica a regra de reajuste da âncora fiscal para o IPCA de janeiro a dezembro e não mais o acumulado em 12 meses até junho.  Além disso, tivemos a aprovação do orçamento para esse ano, tendo como maiores destaques: aumento do fundo eleitoral de US$2,1 bi para US$4,9 bi; reserva de R$1,7 bi para reajuste do salário dos policiais federais (que vem provocando indignação das demais carreiras do setor público federal com muitos servidores abandonando cargos de chefia); as emendas de relator ficaram em R$16,5 bi; os investimentos públicos serão os mais baixos da série histórica (R$44 bi), porém caixa robusto dos estados pode ajudar a equilibrar esse nível; e por fim o aumento da expectativa de déficit público em 2022 de R$49,6 bi para R$79,3 bi (salientando que as projeções macroeconômicas no orçamento estão otimistas, relativamente distantes do consenso do mercado).

Copom: Banco Central aumenta Selic em 1,5 p.p, chegando a 9,25% a.a.

O Banco Central (BCB) elevou, de forma unânime, a Selic em 1,5 p.p. Com isto, a Selic atingiu 9,25% a.a. O Copom indicou que deverá aumentar a taxa básica novamente em 1,5 p.p. na próxima reunião, nos dias 1º e 02 de fevereiro de 2022. Diante de uma elevação das projeções de inflação e do risco de perda das expectativas de inflação para os prazos mais longos, o comunicado enfatizou que acha apropriado a política monetária caminhar para um terreno significativamente contracionista e que continuará até que o processo de desinflação ocorra em conjunto com a ancoragem das expectativas. No cenário doméstico, o comunicado destacou que a atividade econômica vem apresentando desempenho abaixo do esperado. Além disso, a inflação ao consumidor segue elevada, com uma alta nos preços acima do previsto tanto em itens mais voláteis quanto na inflação subjacente. O Copom destacou que a situação fiscal brasileira vem apresentando desempenho positivo nas últimas leituras, porém, com a deterioração do arcabouço fiscal (teto de gastos), as expectativas dos agentes foram afetadas negativamente, aumentando a probabilidade de maiores taxas de inflação no cenário base. 

Em relação ao cenário externo, o comitê destacou que o ambiente tem se tornado menos favorável, com alguns bancos centrais expressando necessidade de cautela com a persistência da inflação nas economias, criando um cenário mais desafiador para os países emergentes. Além disso, o comunicado destacou o aumento de incerteza global com a chegada do inverno em algumas economias, podendo provocar uma nova onda de covid, além do aparecimento da variante Ômicron que exige um nível de cautela adicional. A projeção do BCB para a inflação subiu de 9,5% para 10,2% em 2021. Para 2022 a projeção passou de 4,1% para 4,7% e para 2023 de 3,1% para 3,2% (sob juros extraídos do Focus e câmbio partindo de R$ 5,65/US$ e evoluindo seguindo a paridade do poder de compra). Nossa expectativa é que a Selic chegue a 11,75% em 2022, se mantendo nesse patamar até o final do ano. Para 2023, projetamos Selic em 7,75%.

Cenário Externo

EUA

Atividade: indicadores setoriais desapontam em novembro, entretanto, as construções residenciais e o mercado de trabalho seguem aquecidos.

No último mês, foram divulgados os dados de atividade referentes ao mês de novembro. Nesse sentido, os dados apontaram para avanços tanto na produção industrial quanto para as vendas do varejo. Para o primeiro, observamos uma significativa desaceleração que passou de +1,7% m/m em outubro para +0,5% m/m em novembro. Este resultado surpreendeu negativamente o mercado (expec. +0,6% m/m) que já antecipava um arrefecimento da atividade decorrente do avanço da variante Ômicron pelo país. Entretanto, o resultado no mês foi marcado por avanços bastante disseminados entre os segmentos, com destaque para os produtos automotivos que avançou +2,2% m/m por conta das melhoras nos gargalos nas cadeias globais de produção. Para dezembro, o índice PMI da indústria recuou 0,6 pontos alcançando o nível de 57,7. Este resultado aponta para expansão do setor no mês, visto que o indicador ficou bem acima do nível neutro (50).

As vendas no varejo também decepcionaram o mercado, que aguardava um forte desempenho de +0,8% m/m, ao registrar avanço de +0,3% m/m, uma significativa desaceleração em relação ao resultado do mês anterior +1,7% m/m. O consumo desacelera diante do elevado processo inflacionário, o maior em 39 anos, todavia o sinal positivo no mês aponta para a resiliência dos gastos mesmo na presença da forte alta de preços nos últimos meses. Já para o mês de dezembro, o indicador de confiança do consumidor da universidade de Michigan subiu a 70,6 pontos, ante 67,4 no mês anterior. Este resultado rompeu com a sequência negativa de dois meses consecutivos de queda no indicador. O avanço no mês se deu pela melhora das expectativas de renda de trabalhadores menos qualificados, decorrentes dos aumentos das compensações que vêm ocorrendo no ritmo mais rápido desde 1999.

Além disso, tivemos a divulgação dos dados referentes a criação líquida de empregos nos EUA (Payroll) referentes ao mês de outubro. Nesse sentido, foi reportada a criação líquida de 210 mil novas vagas, ante um resultado revisado de 546 mil em setembro. O resultado veio abaixo do consenso de mercado que aguardava a criação de 573 mil postos de trabalho. Vale ressaltar que no mês de novembro houve a continuidade da disseminação da Covid em território norte-americano em que foi registrado uma forte elevação no número de casos e a manutenção dos óbitos em patamar bastante elevado ao longo de todo o mês. As principais contribuições positivas foram nos segmentos de serviços profissionais e administrativos (+90 mil) e de transporte e armazenagem (+50 mil). Por sua vez, a taxa de desemprego recuou 0,4 p.p. atingindo o patamar de 4,2% surpreendendo positivamente o mercado que tinha como consenso 4,5% para o mês. Ademais, os dados de criação de vagas de empregos medidos pelo JOLTS também apontaram para melhorias no mercado de trabalho, visto que o número de vagas abertas em outubro permaneceu estável em um patamar bastante elevado (11 milhões de vagas). Com isso, a razão entre desempregados/vagas abertas atingiu uma nova mínima pelo segundo mês consecutivo, evidenciando o descasamento no mercado de trabalho que tem pressionado os salários nos últimos meses.

Por outro lado, os gastos com consumo pessoal se mostram bastante resilientes ao aumentar em US$104,7 bilhões no mês de novembro mesmo diante da piora do quadro pandêmico e elevada inflação. Isso refletiu o aumento dos gastos com consumo em bens em US$ 7,4 bilhões e de serviços em US$ 97,4 bilhões. Os destaques vão para o aumento dos gastos com habitação e utilities. A variação dos gastos no mês apresenta um avanço de 0,6% m/m em relação a outubro e ficou em linha com as expectativas de mercado. Avaliamos que o aumento da renda pessoal, principalmente, decorrente dos aumentos dos salários no setor privado tem contribuído para a manutenção do elevado nível de consumo, mesmo diante de um elevado nível inflacionário. Vale destacar que a desaceleração nos gastos com consumo de bens ocorre em meio a um significativo recrudescimento da pandemia nos EUA. Além disso, a antecipação das compras de fim de ano para meses anteriores, que contribuiu para a forte aceleração dos gastos em outubro, também colaborou para este resultado mais fraco em novembro.

Inflação: maior variação em 12 meses desde 1982 e a aceleração do tapering.

No que diz respeito à inflação, os dados de novembro referentes à inflação, medida pelo índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE price index), apontaram para uma leve desaceleração (-0,1 p.p.) do índice headline no mês, entretanto, houve aceleração na mesma magnitude (+0,1 p.p.) do núcleo (que excluí alimentos e energia) no período. Por um lado, com o avanço de +0,6% m/m o índice cheio ficou um pouco melhor do que o consenso do mercado que aguardava alta de +0,7% m/m. Em contrapartida, o núcleo (+0,5% m/m) ficou ligeiramente acima da mediana das projeções (+0,4% m/m). Com estes resultados, em 12 meses, o índice headline acumulou alta de +5,7%, enquanto o núcleo avançou +4,7% no mesmo período. Na comparação interanual, os destaques vão para os preços da energia e de alimentos que aumentaram +34,0% e +5,6%, respectivamente. Ambas as medidas se encontram significativamente acima da meta de longo prazo de estabilidade de preços de 2% do Fed.

Na mesma direção, a inflação medida pelo índice de preços do consumidor (CPI) também teve uma leve desaceleração de -0,1 p.p. ao avançar +0,8% m/m em novembro. Este resultado ficou um pouco acima do consenso de mercado que aguardava alta de +0,7% m/m. A taxa de inflação em 12 meses acumulou alta de 6,8%, a maior variação anual desde 1982, também ficando 0,1 p.p. acima da mediana de mercado. O avanço no mês foi bastante disseminado, de maneira similar ao observado nos dois últimos meses, e as principais contribuições foram observadas nos índices de transporte e habitação que juntos contribuíram por cerca de 80% da variação do índice headline (+64,8 b.p.).

Ademais, tivemos em dezembro a última reunião do comitê do Banco Central americano (Fed) que decidiu manter a taxa básica de juros americana entre 0,00% e 0,25%. Contudo, diante da evolução do processo inflacionário e das melhorias no mercado de trabalho, a diretoria decidiu reduzir o ritmo de compra de ativos de maneira proporcional em US$ 30 bilhões. Dessa forma o comunicado ficou em linha com as nossas expectativas adotando um tom mais “hawkish” ao abordar o tema da inflação. Além disso, foi retirado o trecho que associava o elevado processo inflacionário a fatores transitórios e apontaram para uma forte recuperação do mercado de trabalho com substancial queda na taxa de desemprego nos últimos meses. Em relação às perspectivas de política monetária, houve substancial mudança no gráfico de pontos que sinalizou que todos os membros do FOMC esperam um aumento da taxa de juros até o final de 2022, ante 9 em setembro. A maioria dos dirigentes vê a taxa de juros entre 0,75 e 1,00% em 2022, ou seja, aguardam por 3 altas na taxa básica no ano, em linha com nossa avaliação de que a primeira elevação da taxa de juros deverá ocorrer no mês de maio.

Por fim, no que diz respeito às projeções, houve significativas revisões em relação aos números divulgados em setembro. Os destaques vão para as altas nas previsões de inflação para os anos de 2021, 2022 e 2023, assim como para a elevação da Fed Funds rate para os dois últimos anos. Além disso, houve fortes reduções nas projeções de desemprego para os anos de 2021 e 2022, refletindo a forte recuperação do mercado de trabalho observado nos últimos meses.

China

Atividade Econômica: surtos locais de Covid seguem abalando a confiança do consumidor.

Em dezembro, foram divulgados os dados de atividade da economia chinesa referentes ao mês de novembro onde foram observados uma ligeira recuperação do setor manufatureiro que avançou +3,8% a/a, ante expectativas de avanço de +3,7%. A melhora no mês se deu, principalmente, pela recuperação da produção energética e por conta dos preços de matérias-primas que se encontravam em patamares mais moderados. Isso foi possível por meio da intervenção governamental de estabilização de oferta que possibilitou uma redução da pressão de custos que vinha afetando o desempenho da indústria.

Por outro lado, as vendas do varejo avançaram +3,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, resultado que ficou bem abaixo do consenso de mercado que projetava avanço de +4,7% a/a. Este resultado foi reflexo do recrudescimento da pandemia com surtos localizados e a intensificação de lockdowns em diversas cidades chinesas. O destaque foi o recuo de -9% nas vendas de veículos. Na mesma direção, os investimentos em ativos fixos acumularam a 7ª desaceleração consecutiva ao avançar 5,2% a/a no mês, abaixo da expectativa mediana de 5,4%. Além disso, os preços de novas residências caíram -0,33% m/m, a maior queda na margem em 6 anos, refletindo as dificuldades enfrentadas pelas empresas do setor de real estate de se enquadrar nas políticas do common prosperity adotadas pelo governo chinês.

Com exceção da atividade industrial, os dados apontam para uma piora do desempenho da economia chinesa no mês de novembro, confirmando, assim, as projeções de um menor crescimento do país nos próximos anos. Dessa forma, o governo chinês vem adotando uma série de políticas para evitar uma desaceleração excessiva da economia que possa sair do controle do partido comunista. Devido aos sinais de desaquecimento da atividade, a China começou a mudar o rumo de sua política monetária ao reduzir sua taxa de juros (-0,5 p.p.) pela primeira vez em quase dois anos. Além disso, também houve redução nos requerimentos de depósitos compulsórios como forma de injetar liquidez na economia diante da crise no setor imobiliário após sucessivos defaults das dívidas de grandes incorporadoras do país.

A postura adotada no último mês pelo governo de priorização da estabilidade do crescimento está de acordo com a nossa avaliação de que a política de promover um crescimento sustentável menos dependente do setor imobiliário seria um grande desafio para o governo chinês. Soma-se a isso os constantes surtos localizados de Covid que minam a atividade econômica por conta da política de tolerância zero de Covid por meio de imposição de lockdowns localizados que tem afetado importantes regiões econômicas nos últimos meses. No mês de dezembro, a China registrou a maior média móvel de 7 dias de casos desde o primeiro surto de Covid no país há dois anos. Portanto, avaliamos que, por conta do risco de uma desaceleração excessiva da economia, que possa comprometer a política de common prosperity, em 2022 o governo chinês tenha que seguir adotando cortes mais agressivos nas taxas de juros e medidas de apoio ao longo do ano. Entretanto, é pouco provável que isso consiga reverter a atual trajetória de menor crescimento próximo ao patamar de 5% a/a nos próximos anos.

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