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Publicado em 01 de Fevereiro às 17:34:31

Carta Macro – Janeiro 2022

Cenário Doméstico

Covid-19:  Variante Ômicron se espalha rapidamente e gera recordes de infecção, mas ainda se mostra menos letal.

Diante do cenário de rápida contaminação da variante Ômicron, 2022 começou apreensivo com as possíveis consequências que as aglomerações de final de ano poderiam causar. Logo na primeira semana, o mundo registrou mais de 2,5 milhões de casos diários por quatro dias seguidos, e logo os sistemas de saúde sentiram o impacto da avalanche de doentes. Seguindo essa tendência, o número de casos globais da covid-19 registrados em janeiro de 2022 já supera o montante acumulado em todo o ano de 2020 e, ainda que o número de mortes não esteja crescendo na mesma proporção, a média móvel de 7 dias de mortes globais passou de 6 mil para 9 mil óbitos diários ao longo de janeiro.

Os EUA quebraram quase que diariamente o recorde no número de novos casos diários. No dia 30/01, o país registrou uma média menor que 500 mil novos infectados por dia em sete dias, uma queda expressiva em relação ao recorde de 1,37 milhão registrado no dia 10/01. Por outro lado, ao contrário do esperado, a variante acelerou a média móvel de mortes no país, que já estava em trajetória de alta desde o fim de novembro e superou os 2,3 mil óbitos em 26/01. Este número supera inclusive o pico causado pela variante delta, de 2,1 mil no fim de setembro. Ainda assim, o número de casos de covid-19 e as hospitalizações continuam a cair nos Estados Unidos, reforçando a tese de que a onda da variante ômicron tenha atingido o pico.  Já o Reino Unido tem dado esperança ao resto do mundo, já que, assim como a África do Sul, está apresentando melhora no quadro pandêmico após uma propagação violenta da variante Ômicron. No dia 30/01, foram registrados 62.399 novos casos, o menor patamar desde 14/12/2021, e 85 mortes. Cenário bem diferente do visto no começo do ano, quando o Reino Unido chegou a marcar 221 mil casos em único dia em 04/01. O recorde no número de mortes foi atingido mais tardiamente, tendo 438 óbitos em 18/01. Com essa evolução positiva, o mundo passa a ver um arrefecimento nas curvas de contágio e muitos estudiosos afirmam que, em cenários de vacinação semelhantes ao do Reino Unido, os casos começam a diminuir depois de um mês da chegada da variante. E ainda, na corrida por uma forma de imunização mais eficiente, o ministério britânico disse que o tratamento antiviral da Pfizer, o Paxlovid, uma combinação da pílula da Pfizer com um antiviral mais velho chamado ritonavir, será disponibilizado para milhares de pessoas a partir do dia 10 de fevereiro. Os estudos mostraram que ele pode reduzir a hospitalização e o risco de morte em 88%.

O cenário no Brasil também gera preocupação. No último dia 28, o país registrou 269.968 novos casos, o terceiro recorde consecutivo, além de 799 mortes. Além disso, a média móvel de mortes nos últimos sete dias atingiu, em 30/01, o maior patamar desde setembro do ano passado com 540 mortes. Dessa forma, assim como no resto do mundo, o sistema de saúde brasileiro tem sentido a pressão dessa onda, e seis estados já apresentam taxa de ocupação nas UTIs superior a 80%, mesmo com cerca de 70% da população total tendo recebido as duas doses da vacina. Como forma de ampliar o combate à contaminação, no dia 14/01, foi iniciada a vacinação infantil contra a covid-19 em São Paulo e, até o dia 30/01, 1,3 milhão de doses foram aplicadas em todo o país, o que representa 6,68% das crianças nessa faixa etária. Uma novidade que merece atenção é o surgimento de uma mutação da variante Ômicron: a BA.2. Segundo o Fred Hutchinson Cancer Center, dos Estados Unidos, a BA.2 já representa aproximadamente 82% dos casos na Dinamarca, 9% no Reino Unido e 8% nos EUA. Autoridades de saúde dinamarquesas estimam que essa subvariante pode ser 1,5 vezes mais transmissível do que a BA.1, com base em dados preliminares. A avaliação, até aqui, é de que a nova linhagem não escapa da proteção vacinal e não causa doenças mais graves. Vale destacar que os dados até agora disponíveis indicam que a variante Ômicron é mais transmissível, aumentando rapidamente o número de casos, porém com gravidade mais baixa, com menos mortes e internações.   Dados para a região da capital sul-africana, que possui baixa cobertura vacinal, corroboram essa análise.

Atividade Econômica: indicadores setoriais melhores que o esperado, com destaque para o setor de serviços

Os indicadores setoriais de frequência mensal vieram positivos no mês de novembro. Tivemos avanço no setor varejista, no de serviços e no IBC-Br.  A indústria, que enfrenta um cenário de escassez de matéria-prima, baixos estoques e custos elevados, foi o único setor que apresentou recuo no mês (-0,2%), sendo o sexto recuo consecutivo e o nono no ano. Por outro lado, o setor de serviços, que vem sendo impulsionado pelo arrefecimento da pandemia, apresentou crescimento de 2,4% m/m, muito acima da expectativa do mercado (0,1%). Houve avanços em quatro das cinco atividades, com destaque para a expansão dos serviços de informação e comunicação (+5,4% m/m); transportes (+1,8% m/m); e serviços prestados às famílias (2,8% m/m). Este resultado contrasta com os números observados para o mês anterior em que tivemos contração bastante disseminada entre os grupos, com destaque positivo apenas para os serviços prestados às famílias. O resultado de novembro rompe com a tendência de queda observada nos dois meses anteriores, revertendo a perda acumulada de 2,2% no bimestre anterior. Com isso, o setor encontra-se 4,5% acima do período pré pandemia e está 7,3% abaixo do recorde histórico da série (novembro de 2014). Apesar de o setor de serviços já ter retornado ao patamar pré surto, algumas atividades ainda não conseguiram se recuperar como os serviços prestados às famílias (11,8% abaixo), serviços profissionais e administrativos (4,2% abaixo) e outros serviços (2,5% abaixo). Já o setor varejista avançou 0,6%, acima da expectativa do mercado (0,0%). Embora o varejo tenha avançado no mês, cinco das oito atividades pesquisadas apresentaram taxas negativas. Este resultado decorreu, principalmente, pelo crescimento do segmento de hipermercados e supermercados (0,9% m/m), o grupo com maior peso no índice. Além disso, contribuições positivas também foram observadas nos grupos de artigos farmacêuticos (1,2% m/m) e outros artigos de uso pessoal (2,2% m/m). Em contrapartida, houve recuo em: móveis e eletrodomésticos (-2,3% m/m), tecidos e vestuário (-1,9% m/m), combustíveis e lubrificantes (-1,4% m/m), livros e papelaria (-1,4% m/m), e material de escritório (-0,1% m/m). A inflação vem sendo uma vilã para o setor varejista nos últimos meses. A aceleração dos preços corrói a renda real das famílias e reduz seu poder de compra. Com a provável desaceleração da inflação em 2022, principalmente, ao longo do 2º semestre, num contexto de política monetária contracionista, podemos ver uma recuperação mais robusta do setor. Já o IBC-Br veio em linha com a expectativa do mercado (0,7% m/m). Diante dos dados de novembro e com a projeções positivas para o mês de dezembro, aumentamos a projeção do PIB para o 4º trimestre de 0,0% para 0,2% t/t.

Em relação ao mercado de trabalho, tivemos mais um mês de redução na taxa de desemprego, chegando a 11,6% em novembro, abaixo do observado no mesmo mês de 2018.  Estamos vendo avanço da população ocupada (3,2 milhões no último tri) e redução da população desocupada (1,5 milhão no último tri). Vale destacar a dinâmica recente do rendimento médio e da massa salarial. No início da pandemia, a massa de rendimentos despencou, chegando a cair 7% no interanual. Por outro lado, o rendimento médio aumentou muito, uma vez que o desemprego foi concentrado em trabalhadores menos qualificados com salários, em média, mais baixos. Com a retomada da população ocupada, vemos o aumento da massa de rendimentos e o retorno da população com salário mais baixo ao mercado, reduzindo o salário médio. A massa de rendimentos está caindo 2,6% a/a, enquanto o salário médio, 11,4%. A população ocupada está aumentando e a massa salarial está caindo porque o salário está caindo de forma mais intensa que a recuperação do emprego.  

Para o mês de dezembro, tivemos os dados para o mercado formal de trabalho (Caged), no qual houve destruição líquida de 265,8 mil postos de trabalho formal, resultado pior que o esperado pelo mercado, que projetava saldo líquido negativo de -171 mil. No mesmo mês do ano passado houve saldo negativo de 82,1 mil vagas. O mês de dezembro, por sazonalidade do mercado de trabalho, costuma apresentar saldo líquido negativo. Em 2021, foram criadas 2,730 milhões de postos de trabalho formal, ante destruição de 191,4 mil vagas no mesmo período do ano passado. No ano, os destaques foram para o setor de serviços (1,2 milhão), comércio (643,7 mil), indústria de transformação (439 mil) e construção civil (244,7 mil).  

Inflação: IPCA desacelera para 0,73% com aumento mais diluído entre setores, fechando o ano em 10,06%.

A variação do IPCA em dezembro foi de 0,73% m/m, resultado pior que o projetado pelo mercado (0,65%, Broadcast). Todas as categorias analisadas pelo índice subiram no mês. Em relação ao núcleo do IPCA houve desaceleração na margem de 0,95% para 0,61%, com o acumulado em 12 meses chegando a 7,16%. Embora o resultado tenha apontado para uma desaceleração de 0,22 p.p. em relação ao mês de novembro, houve elevação no índice de difusão (% de itens que apresentam elevação no mês) que passou de 63,13% para 74,80%. Este indicador aponta para uma maior disseminação da inflação entre os segmentos analisados. Nos últimos meses, a aceleração inflacionária ficou concentrada no grupo Transportes (combustíveis) e Habitação (energia elétrica), entretanto, no mês de dezembro, identificamos um resultado mais equilibrado entre os grupos do IPCA.  A inflação de 2021 encerrou o ano em 10,06%, muito acima da meta de inflação (3,75%).   Já o IPCA 15 de janeiro de 2022 (prévia da inflação) desacelerou em relação ao mês anterior de 0,78% para 0,58%. Apesar da desaceleração, a leitura da prévia da inflação no mês não foi tão positiva, uma vez que veio acima da expectativa do mercado, com os núcleos de inflação muito altos (0,95% m/m, a maior variação para núcleo desde fev/2016), o índice de difusão (% de itens que apresentaram aumento) muito alto em 74,4%, e a inflação de bens avançando 1,46% m/m, mostrando persistência da inflação de bens.

Diante desse contexto, aumentamos nossa expectativa de inflação para 2022 de 5,3% para 5,8%. A economia brasileira é muito indexada e no cenário de inflação encerrando 2021 acima de dois dígitos, o componente de inflação inercial deve dificultar a convergência dos preços. Diversos preços na economia são corrigidos com uma certa defasagem (aluguéis, salários, mensalidades escolares, etc.). Nesse cenário, o mercado, após um breve período de estabilidade, voltou a aumentar sua projeção de inflação para o ano de 2022. O relatório Focus do Banco Central indicou por algumas semanas uma inflação próxima a 5%, porém já indica elevação para 5,4%. Não só a expectativa de inflação de 2022 está fora da meta (3,5%), como também a de 2023 já começa a se descolar, estando em 3,5% (meta de 3,25%). Ou seja, importante monitorar como o BCB irá conduzir a política monetária afim de não perder as expectativas de inflação no horizonte relevante, sendo a nossa avaliação de que o BCB levará a Selic até 12,5%. Uma variável-chave no ano de 2022 será a taxa de câmbio, que valorizou 4,8% em janeiro, porém deve apresentar uma grande volatilidade no ano num contexto de cenário econômico mundial mais desafiador para os emergentes e eleições ao final do ano. Outro ponto importante será a provável redução da bandeira energética de crise hídrica em abril, diante de um cenário mais positivo para as chuvas nos últimos meses.

Fiscal:  Setor público consolidado apresenta primeiro superávit primário desde 2013

O setor público consolidado apresentou superávit de R$123 milhões em dezembro, ante déficit de R$51,8 bilhões (corrigidos pelo IPCA) no mesmo mês do ano anterior. Esse foi o quinto superávit primário consecutivo. Com este resultado, o setor público consolidado obteve superávit primário de R$ 64,7 bilhões (0,75% do PIB), ante déficit de R$ 703 bilhões (9,41% do PIB) em 2020, o primeiro superávit primário da esfera consolidada desde 2013 (1,71% do PIB). Apesar da melhora significativa no primário, a conta com juros vem avançando significativamente nos últimos meses. Em junho, essa despesa estava em 3,5% do PIB, porém já chegou a 5,2% do PIB no acumulado em 12 meses. Esse aumento do custo médio da dívida decorre do aumento das taxas de juros, tanto da taxa curta (Selic), quanto das taxas longas que encarecem as emissões de títulos pré e indexados à inflação (LTN/NTNB). Essa elevação dos juros vem sendo compensada, em parte, pelo bom desempenho fiscal. Entretanto, o patamar de juros nominais pagos já retornou para níveis observados no período pré pandemia, porém com um forte viés de alta, uma vez que a Selic deve se estabilizar em um patamar que é praticamente o dobro do período pré (12,5% ante 6,5%). A relação dívida/PIB, que é um importante termômetro para o risco fiscal, recuou em novembro para 80,3% do PIB, ante 81,1% no mês anterior. No ano, a DBGG/PIB reduziu 8,3 p.p. decorrente do crescimento do PIB nominal (redução de 12,3 p.p.), dos resgates líquidos da dívida (redução de 2,1 p.p.), incorporação de juros nominais (aumento de 5,8 p.p.) e da desvalorização cambial (aumento de 0,4 p.p.).

O mês de janeiro foi marcado pelo recesso parlamentar sem atividades no Congresso Nacional. Entretanto, vimos a discussão de duas propostas que podem elevar o risco fiscal: a PEC dos combustíveis e o reajuste dos servidores federais. As propostas ainda não estão formalizadas e as informações advém de declarações públicas de figuras importantes do governo. A primeira visa reduzir o preço dos combustíveis que aumentaram muito nos últimos meses, reduzindo os impostos federais (PIS/COFINS e CIDE) e permitindo governadores a fazerem o mesmo com o ICMS, sem haver compensação financeira para isso (aumento de outros tributos ou redução de gastos como a LRF determina). O custo fiscal pode ser elevado, na ordem de 50 a 100 bilhões de reais, sendo um valor considerável, além do que a sinalização para o mercado financeiro não seria positiva, aumentando prêmios de risco e desvalorização cambial. A magnitude da desvalorização cambial pode ser elevada a ponto de compensar a queda nos preços dos combustíveis pela redução de tributos. A segunda proposta deve ser decidida no mês de março. O governo inicialmente separou no orçamento 1,7 bilhão para dar reajuste para os policiais federais. Ao selecionar um grupo do funcionalismo público, as demais classes também demandaram reajuste, com servidores de alto escalão entregando cargos. Ainda não sabemos como esse impasse será solucionado, porém, o espaço fiscal para reajuste linear no serviço público é praticamente nulo. 

Cenário Externo

EUA

Atividade: crescimento do PIB surpreende no 4º trimestre, entretanto, indicadores setoriais recuam em dezembro.

No último mês, foram divulgados os dados de atividade referentes ao mês de dezembro, e tanto a indústria quanto as vendas no varejo desapontaram o consenso de mercado com recuos na margem. A indústria recuou 0,1% m/m em relação ao mês de novembro, rompendo com a sequência de duas altas consecutivas observadas nos meses anteriores. Este resultado veio pior que a mediana das projeções, que era de expansão de 0,3% m/m. O destaque vai para o setor automotivo que recuou 1,3% no mês. Além disso, houve recuo também na taxa de utilização da capacidade instalada que passou de 76,8% para 76,5%, também abaixo da expectativa de mercado. Com isso, a indústria avançou 4% no último trimestre e 3,7% no ano de 2021 a uma taxa anualizada. Para janeiro, o índice PMI da indústria recuou 1,7 pontos alcançando o nível de 55, resultado apontando para expansão no mês, visto que o indicador se encontra acima do nível neutro (50).

Na mesma direção, as vendas no varejo apresentaram forte recuo de 1,9% m/m, o pior desempenho desde fev/21, também decepcionando o mercado que aguardava estabilidade no mês (0% m/m). Este resultado rompe com a sequência de 4 altas consecutivas e decorre do recrudescimento da pandemia, elevado nível inflacionário e da antecipação das compras de fim de ano, devido ao contexto de desarranjo nas cadeias globais de produção e consequente expectativa de atrasos nos envios. As quedas foram bastante disseminadas entre os grupos, com destaque para o recuo no grupo de vendas fora das lojas de 8,7% m/m, as vendas de mobília que tiveram queda de 5,5% m/m e o grupo vestuários que contraiu 3,1% m/m.  Já para o mês de janeiro, o indicador de confiança do consumidor da universidade de Michigan recuou 1,8 pontos para 68,8. Este resultado se deu pelo recrudescimento da pandemia no país e pelo avanço da inflação que se encontra no maior nível em 12 meses desde 1982.

Por sua vez, o PIB americano avançou 6,9% em relação ao trimestre anterior, a uma taxa anualizada, surpreendendo o consenso de mercado que era de expansão de 5,5%. O número representa uma significativa aceleração em relação à variação observada no terceiro trimestre, período em que houve um crescimento revisado de 2,3%. Com este resultado, o PIB americano cresceu 5,7% em 2021, contrastando com a queda de 3,4% em 2020.  O avanço foi puxado pelas altas em todos os principais grupos que compõem o PIB, em especial, pelo investimento privado (+5,2 p.p.) e pelo consumo pessoal (+2,2 p.p.), o qual se manteve resiliente mesmo diante do recrudescimento da pandemia no período. O produto interno americano se encontra 3,1 p.p. acima do nível pré-pandemia.

Além disso, tivemos a divulgação dos dados referentes à criação líquida de empregos nos EUA (Payroll) referentes ao mês de dezembro. Nesse sentido, foi reportada a criação líquida de 199 mil novas vagas, ante um resultado revisado de 249 mil em novembro, resultado abaixo do consenso de mercado que aguardava a criação de 450 mil postos de trabalho. Vale ressaltar que no mês de dezembro houve a continuidade da disseminação da Covid em território norte-americano, em que foi registrado uma forte elevação no número de casos e a manutenção dos óbitos em patamar bastante elevado ao longo de todo o mês. As principais contribuições positivas foram nos segmentos de lazer e hospitalidade (+53 mil); serviços profissionais e administrativos (+43 mil); manufatura (+26 mil); transporte e armazenagem (+19 mil); e construção (+22 mil). A taxa de desemprego recuou 0,3 p.p. atingindo o patamar de 3,9%, surpreendendo positivamente o mercado que tinha como consenso 4,1% para o mês. Com este resultado, a taxa de desemprego se aproxima do número observado antes do período pré-pandemia de 3,5%. Em 2021, em média, houve criação líquida de 537 mil postos de trabalho por mês e ao todo houve criação de 6,4 milhões de empregos. Embora observemos a criação de 18,8 milhões de vagas desde abril de 2020, o nível de emprego ainda se encontra 3,6 milhões abaixo do nível pré-covid.

Por outro lado, os gastos com consumo pessoal recuaram -0,6% m/m em dezembro (-US$ 95,2 bilhões), resultado um pouco melhor que o consenso de mercado de -0,7% m/m. Isso aconteceu devido ao aumento de US$ 52 bilhões no gasto com serviços (0,1% m/m) ter sido compensado pelo recuo de -US$ 147,2 bilhões no gasto com o consumo de bens (-3,1% m/m), bastante disseminados. Os destaques vão para o gasto com consumo de veículos, outros bens não duráveis e bens recreativos. Vale destacar que o recuo nos gastos com consumo, sobretudo de bens, ocorre em meio a um significativo recrudescimento da pandemia nos EUA, além do elevado nível inflacionário que também impacta negativamente a decisão de consumo dos agentes. Em contrapartida, a renda pessoal avançou 0,3% (US$ 70,7 bilhões) em dezembro, um pouco pior que as expectativas de mercado (0,4%). Justifica-se o aumento da renda no mês, principalmente, por conta do aumento dos salários tanto no setor privado quanto governamental. Este aumento, foi parcialmente compensado pela redução dos pagamentos de benefícios sociais que refletiram o encerramento dos programas de assistência relacionados à pandemia.

Inflação: maior variação em 12 meses desde 1982 e aumento da taxa de juros em março.

No que diz respeito à inflação, os dados de dezembro medidos pelo índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE price index), apontaram para uma desaceleração de 0,2 p.p. em relação ao número de novembro ao avançar 0,4% m/m. Por sua vez, o núcleo (exclui alimentos e energia) avançou 0,5% no mesmo período, ficando em linha com o consenso de mercado. Em 12 meses, o aumento foi de 5,8% para o índice headline e 4,9% para o núcleo. As principais contribuições para a alta de preços vão para os preços da energia e de alimentos que aumentaram 29,9% e 5,7%, respectivamente.

Na mesma direção, o índice de preços do consumidor medido pelo CPI avançou 0,5% m/m em dezembro, desacelerando 0,3 p.p. em relação ao número do mês anterior. Este resultado ficou em linha com as expectativas de mercado. Em 12 meses, a taxa de inflação acumulou alta de 7%, a maior variação anual desde 1982. Diferentemente dos meses anteriores, o avanço em dezembro foi concentrado nos grupos de habitação e veículos usados, com destaque para a desaceleração no grupo de alimentação e no recuo no preço da energia, que, com este resultado, encerrou uma longa sequência de altas consecutivas, refletindo o arrefecimento dos preços da gasolina e gás natural. Os índices de transporte e habitação apresentaram as maiores altas no mês de dezembro e juntos contribuíram com cerca de 67% da variação do índice headline (+33,5 b.p.). Já o núcleo avançou 0,6% m/m, ficando um pouco acima da mediana das projeções de mercado de 0,5% m/m. No interanual, registrou alta de 5,5%, a maior variação em 12 meses desde fevereiro de 1991. Nesse sentido, ambas as medidas de inflação se encontram substancialmente acima da meta de longo prazo do Fed de 2%.

Ademais, tivemos em janeiro a reunião do comitê do Banco Central americano (Fed) que decidiu manter a taxa básica de juros americana (Fed Funds rate) entre 0 e 0,25%. Além disso, o comitê manteve o ritmo de redução de compra de títulos do tesouro em US$ 20 bilhões e dos títulos lastreados em hipoteca em US$ 10 bilhões, encerrando-as em março. Diante da evolução do processo inflacionário, com a inflação correndo substancialmente acima da meta de 2%, e das melhorias no mercado de trabalho, o comitê avalia ser apropriado aumentar a meta para a taxa de juros assim que o processo de compras de ativos pela entidade fosse finalizado em março. Ademais, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou que o ritmo de ajuste monetário será guiado pelos dados da economia americana e que o trabalho do Fed é levar a inflação para a meta de longo prazo. No que diz respeito à redução no balanço de ativos do Fed, o comitê avalia ser apropria que pelo menos mais duas reuniões serão utilizadas para discutir o assunto, entretanto, este deverá seguir uma série de princípios.

Em particular, o comitê destacou que a taxa básica de juros são seu principal instrumento de política monetária e a redução do balanço de ativos deverá ser feita de maneira previsível e gradual, de modo a garantir a implementação da política monetária de maneira eficiente e eficaz. No longo prazo, a intenção é manter títulos do tesouro de modo a minimizar o efeito das participações do Fed na alocação de crédito entre os setores da economia.

Nesse contexto, nossa avaliação é que diante da persistência do processo inflacionário nos EUA e das expectativas de inflação de 12 meses que se encontram significativamente acima da meta de longo prazo; dos desarranjos no mercado de trabalho, que têm promovido sucessivas altas nos salários; e da manutenção dos gargalos nas cadeias globais de produção em 2022, o Fed promoverá pelo menos 5 altas de juros em 2022.

China

Atividade Econômica: PIB Chinês desacelera para 4% a/a no 4T21 diante das incertezas sobre o mercado imobiliário e a ômicron

O PIB chinês avançou 4% a/a no quarto trimestre de 2021, este resultado veio melhor que as expectativas de mercado de 3,6% a/a. Este foi o menor ritmo de crescimento desde o segundo trimestre de 2020 e decorre dos efeitos de diversos fatores como o desaquecimento do mercado imobiliário, problemas nas cadeias globais de produção e dos surtos localizados de Covid-19 que afetaram sistematicamente a economia chinesa ao longo do segundo semestre de 2021. Com este resultado, a economia chinesa cresceu 8,1% em 2021, bem acima da meta de 6% sustentado pelo forte crescimento do primeiro trimestre (18,3%). O principal destaque foram os gastos com consumo que contribuíram com 65,4% do avanço do PIB no ano, superando a média de 60% entre os anos de 2013 e 2019.

Ademais, em dezembro, a produção industrial avançou 4,3% a/a, acelerando em relação ao número do mês anterior (3,8%) e surpreendendo positivamente o mercado que tinha como consenso um avanço de 3,6% a/a. Este foi o melhor resultado para o setor desde agosto de 2021, beneficiado pela recuperação da produção energética. O destaque no mês vai para o desempenho da indústria de alta tecnologia que avançou 12,1% a/a. Com isso, o setor industrial fecha o ano de 2021 com um crescimento de 9,6% puxado, principalmente, pelo forte crescimento observado no primeiro semestre do ano.

Por outro lado, as vendas do varejo apresentaram uma significativa desaceleração em relação ao mês de novembro ao avançar 1,7% a/a (ante 3,9% a/a), ficando significativamente abaixo do consenso de mercado que era de expansão de 3,7% a/a. Este foi o menor crescimento desde agosto de 2020. O resultado no mês foi influenciado pelo enfraquecimento do consumo devido aos surtos localizados de Covid-19 que se intensificaram no segundo semestre do ano, as vendas no setor automobilístico seguem como destaque negativo ao recuar -7,4% a/a, ante recuo de -9% a/a no mês anterior. Além disso, as vendas de eletrodomésticos também apresentaram forte queda de -6,0% a/a em dezembro. Com este resultado, as vendas no varejo cresceram 12,5% em 2021 beneficiado pela expansão dos gastos do consumidor, principalmente, ao longo do primeiro semestre. Com o desempenho do ano, o setor se recuperou do recuo de 3,9% observado em 2020 devido ao surto de Covid-19 que foi responsável pela adoção de amplas medidas restritivas no país.

Por sua vez, os investimentos em ativos fixos cresceram 4,9%, ficando levemente acima da expectativa mediana de mercado de 4,8%, entretanto, o número de dezembro mantém a trajetória de desaceleração observada pelo 8º mês consecutivo. O resultado decorreu da desaceleração dos investimentos públicos e privados, refletindo o recrudescimento da pandemia e o aumento da incerteza econômica decorrente deste cenário. Além disso, os preços de novas residências desaceleraram pelo 7º mês consecutivo ao avançar 2,6% a/a em dezembro, o menor ritmo de crescimento desde jan/16. Este resultado foi fruto das incertezas em torno da saúde financeira das incorporadoras e das políticas mais rígidas do governo chinês destinados a reduzir o grau de especulação no mercado imobiliário chinês. Na margem, o preço dos imóveis recuou 0,2% m/m em dezembro, ante recuo de 0,3% m/m no mês anterior.

O último trimestre de 2021 confirma as projeções de um menor crescimento econômico da economia chinesa nos próximos anos. Como forma de evitar uma excessiva desaceleração da atividade econômica que ponha em risco a política de common prosperity, o governo chinês vem alterando o rumo da política monetária rumo a um território acomodatício (redução de taxa de juros e aumento de liquidez). Nossa avaliação é que o governo manterá como prioridade a estabilidade do crescimento ao longo de 2022, entretanto, este deverá ser menos dependente do setor imobiliário. Devido a elevada participação deste setor no PIB chinês e dos surtos localizados de covid que vêm comprometendo o desempenho da atividade econômica, acreditamos que nos próximos meses o governo seguirá adotando cortes mais agressivos nas taxas de juros e medidas de apoio ao longo do ano. 

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