Cenário Doméstico
Covid-19: casos e óbitos continuam em trajetória de queda, mas variante “Ômicron” impõe cautela
Em novembro, os indicadores sanitários foram os mais positivos desde o inicio da pandemia no Brasil. O país registra o menor número de óbitos e casos desde abril de 2020, diante do avanço da campanha de imunização. O número de novos casos caiu 23% (de 11,5 mil para 8,8 mil) e os novos óbitos recuaram 26% (de 310 para 229). O número de óbitos por Covid vem apresentando trajetória de arrefecimento similar ao observado no período entre agosto e novembro de 2020 (fim da primeira onda). Caso a trajetória atual se mantenha, chegaremos ao final de 2021 com 180 óbitos por dia (65 mil/ano).
Esse cenário só está sendo possível diante do avanço da campanha de vacinação. O país já alcançou patamares elevados de cobertura vacinal. Até o momento 75,1% da população já recebeu a 1ª dose e 63,2% já estão com o esquema vacinal completo. Além disso, o Brasil saiu na frente dos demais países no que se refere as doses de reforço. Uma grande parcela da população idosa já recebeu a 3ª dose. O Brasil é um país jovem e uma parcela significativa da população não é elegível para se vacinar (menores de 12 anos). Ao calcularmos o percentual de indivíduos que não se vacinaram, mas são elegíveis encontramos 11,3%. Entretanto, há desigualdades regionais: as regiões do Sudeste e do Sul possuem a maior cobertura vacinal, enquanto, o Norte e o Nordeste apresentam taxas elevadas de não vacinados. A taxa de não vacinados no Norte se assemelha com as taxas dos países de língua alemã (Alemanha, Áustria e Suíça) que passam por uma nova onda de covid, diante da elevada resistência das suas populações às vacinas.
Apesar do otimismo em relação à pandemia no país, diante da queda do número de casos/óbitos e uma cobertura vacinal elevada, o surgimento de uma nova variante (que já chegou ao Brasil) é motivo de cautela. Na semana passada, foi identificada na África do Sul uma nova variante denominada “Ômicron”. Segundo a OMS, ainda não é possível afirmar se a nova variante é mais transmissível, se causa sintomas graves/óbitos e se é resistente as vacinas já desenvolvidas. Entretanto, dados preliminares indicam que sua capacidade de transmissão pode ser muito elevada, sendo muito mais transmissível, por exemplo, que a variante Delta (que causou um forte recrudescimento da pandemia em quase todo o planeta).
A grande preocupação atual é se a nova mutação consegue escapar da proteção imunológica conferida pelas vacinas, o que levaria os países a voltarem com políticas de distanciamento social. As informações ainda são escassas e preliminares, porém algumas autoridades/cientistas alertaram que essa nova variante pode ser muito mais transmissível, porém menos letal. Cientistas e médicos na África do Sul têm relatado que a grande parcela dos casos positivos da nova variante ocorre em indivíduos não vacinados. Isso pode ser um bom indicativo para a eficácia das vacinas. Porém, o cenário impõe cautela e só saberemos de fato se as vacinas funcionam ou não em algumas semanas. Além disso, será importante avaliar não só a capacidade de proteção das vacinas, como também a eficácia dos remédios contra o coronavírus desenvolvidos pela Pfizer e pela Merck. Diante destes fatos, nossa avaliação é que o cenário atual é de cautela, visto que há poucas informações conclusivas em relação à nova variante Ômicron e resultados mais precisos devem ser divulgados nas próximas semanas.
Atividade Econômica: indicadores setoriais fracos, porém mercado de trabalho em trajetória positiva
Os indicadores setoriais de frequência mensal vieram fracos no mês de setembro. Houve recuo em todos os setores na série com ajuste sazonal. A indústria, que enfrenta um cenário de escassez de matéria-prima, baixos estoques e custos elevados, recuou 0,4% no mês. O setor já está 3,2% abaixo do período pré pandemia. Já o setor de serviços, que vem sendo impulsionado pelo arrefecimento da pandemia, interrompeu a sequência de cinco taxas positivas, recuando 0,6% em setembro. O setor foi impactado pela contração no setor de transportes, que passa por um aumento significativo no preço dos combustíveis. Além disso, o setor varejista registrou a maior queda entre os indicadores no mês de setembro (-1,3%). Assim como no setor de serviços, o setor varejista vem sendo prejudicado pela aceleração inflacionária recente. Um indicativo desse cenário é que a receita nominal do setor se manteve praticamente estável, porém os volumes apresentaram grandes recuos. O comércio varejista foi impactado pelo recuo dos supermercados e hipermercados (possuem maior peso no índice) que recuaram 1,5% no volume de vendas (e aumentaram em 0,1% a receita nominal).
Com os resultados de setembro, o 3° trimestre apresentou aceleração de 3,0% no setor de serviços, porém queda na indústria (-1,7%), no varejo (-0,4%) e no IBC-Br (-0,1%). Em nossa última atualização de cenário, projetamos crescimento de 0,1% no 3º trimestre e de 0,4% no 4º trimestre, encerrando o ano com crescimento de 5%. Para o ano de 2022, projetamos crescimento de 0,6%.
Por outro lado, o mercado de trabalho vem dando sinais positivos. A taxa de desemprego em setembro veio melhor que o esperado pelo mercado, ficando em 12,6% (mediana da projeção era 12,9%). Estamos vendo avanço da população ocupada (3,5 milhões no último tri) e redução da população desocupada (1,4 milhão no último tri). A ocupação está se concentrando em trabalhadores do setor privado e por conta própria, principalmente nos setores de serviços/comércio. Vale destacar que houve reponderação da Pnad, que estava sendo influenciada pela mudança de perfil ocorrida no período da pandemia. Com a mudança, a Pnad e o Caged voltam a apresentar tendências mais próximas para o mercado de trabalho. Em relação ao mercado formal de trabalho (Caged), foram geradas 253 mil vagas em outubro. Os destaques ficaram com o setor de serviços (143 mil), comércio (70 mil) e indústria (23 mil). Importante salientar a revisão ocorrida na série do Caged, que mostrou uma destruição de 190 mil vagas em 2020, ao invés da criação de 76 mil reportadas anteriormente.
Inflação: desaceleração do IPA ainda não chega ao consumidor. IPCA se aproxima de 11%
A variação do IPCA em outubro foi de 1,25% m/m, resultado acima do teto das expectativas do mercado (1,19%, Broadcast). Essa foi a maior variação para o mês de outubro desde 2002 (1,31%). Todas as nove categorias analisadas pelo índice subiram no mês. A taxa de inflação dos últimos doze meses ficou em 10,67%, permanecendo acima do teto para meta de inflação de 2021 (5,25%). No ano, o IPCA acumula alta de 8,24%. Já o INPC, que é o indexador da maior parte das despesas públicas, acumula alta de 11,08% em 12 meses. Três categorias puxaram o índice no mês, com cerca de 77% do impacto total. A maior contribuição ocorreu no grupo Transportes. Em seguida, tivemos os impactos com o grupo de Alimentação e Bebidas e Habitação.
O IPCA-15 avançou 1,17% em novembro, chegando a 10,73% nos últimos doze meses. O núcleo do índice se encontra em 7,13% a/a. A inflação no mês foi impactada, principalmente, por três grupos: Transportes, Habitação e Saúde. Os Transportes representaram mais da metade do impacto no índice cheio, com destaque para elevação no preço dos combustíveis (impacto de 0,49 p.p.), transportes por aplicativo e preço dos veículos novos e usados. Já o grupo Habitação foi influenciado pelo gás de botijão e pela energia elétrica (que desacelerou em relação ao mês passado). Por fim, o grupo Saúde e cuidados pessoais avançou 0,8% com o avanço dos itens de higiene pessoal e produtos farmacêuticos. Em suma, a desaceleração na margem do IPCA -15 (de 1,20% para 1,17%) decorre dos grupos alimentação, energia elétrica e passagens aéreas, que conseguiram compensar o aumento no preço dos combustíveis, gastos com saúde e artigos de residência. Ou seja, o aumento nos preços administrados foi compensado pela redução dos preços livres, em particular no setor de serviços (passagens aéreas e alimentação fora do domicílio). Em relação aos núcleos, tivemos aceleração da inflação de bens industriais (de 0,98% para 1,76%) e desaceleração dos serviços (de 1,03% para 0,33%). Os produtos industriais seguem pressionados pela elevação dos automóveis novos e usados, artigos de residência e cuidados pessoais. O cenário para inflação ainda não mostra arrefecimento e continua desafiador com o índice se aproximando de 11% a/a, apresentando uma taxa de difusão elevada (65%).
Em novembro, o IGP-M avançou 0,02%, desacelerando em relação ao mês anterior (0,64%). O resultado veio melhor que o esperado, ficando abaixo do piso das expetativas do mercado (expectativa mediana era 0,64%, com piso em 0,15%). No acumulado em 12 meses, o índice geral de preços apresenta elevação de 17,89%. No ano, a alta acumulada é de 16,77%. O resultado do IGP-M foi influenciado pela queda no preço das commodities. Apesar da elevação no preço do Diesel (6,61% para 9,96%) e da gasolina (2,79% para 10,17%), a queda nos preços das commodities (minério de ferro, soja e milho) compensou o aumento nos combustíveis, levando a inflação ao produtor (IPA) para terreno negativo. As commodities tem apresentado desaceleração nas últimas leituras e tem contribuído para colocar o IPA em território negativo. Entretanto, essa desaceleração ainda não chegou nos preços aos consumidores.
Fiscal: bons resultados fiscais, porém incertezas elevadas com a PEC dos Precatórios e teto dos gastos
O setor público consolidado apresentou superávit de R$35,4 bilhões em outubro, ante superávit de R$3,3 bilhões (corrigidos pelo IPCA) no mesmo mês do ano anterior. O resultado foi o melhor registrado para o mês desde 2016. Houve superávits no governo central (R$ 29 bilhões) e nos governos regionais (R$ 6,6 bilhões), entretanto, as estatais apresentaram déficit de R$ 264 milhões. No acumulado no ano, o setor público consolidado apresenta superávit de primário de R$ 49,6 bilhões, ante déficit de R$ 633 bilhões no mesmo período do ano passado.
O momento atual parece ser paradoxal, porém é compreensível. Os resultados fiscais estão surpreendendo positivamente o mercado há meses, porém o risco fiscal nunca foi tão elevado desde a criação do teto dos gastos. A PEC dos precatórios, que busca postergar o pagamento dos precatórios e alterar o teto de gastos vem gerando grandes ruídos no mercado, afinal o governo possui dificuldades no senado e sua aprovação possui muita resistência. Porém, a PEC já foi aprovada na CCJ e está para ser votada no plenário. Nossa avaliação é que a aprovação será muito positiva para os ativos locais, uma vez que reduz incertezas. Na avaliação do mercado, o risco maior é o pagamento do Auxílio Brasil via créditos extraordinários. Com a PEC, por outro lado, há a imposição de um limite (na conta do governo há espaço de 106 bilhões no teto, a projeção da Genial investimentos é de 115 bi) para se gastar, cabe ao executivo decidir como será definido.
Cenário Externo (EUA)
Atividade: Indicadores setoriais avançam em outubro, entretanto, o mercado-de-trabalho segue pressionado.
No último mês, foram divulgados os dados de atividade referentes ao mês de outubro. Nesse sentido, observamos fortes avanços tanto na produção industrial quanto para as vendas do varejo. Para o primeiro, o forte avanço de 1,7% na margem surpreendeu positivamente o mercado que aguardava um avanço mais modesto do setor (consenso de 0,7%). O resultado positivo no mês decorreu dos ganhos provenientes da reversão das dificuldades causadas pelo furacão Ida. Os principais destaques foram a indústria automobilística que avançou 11% m/m; e a indústria de petróleo e carvão que subiu 5% na margem. Para novembro, o índice PMI da indústria avançou 0,7 pontos alcançando o nível de 59,1 ficando levemente acima da expectativa de mercado (59 pontos). Este resultado aponta para uma significativa expansão do setor no mês, visto que o indicador ficou bem acima do nível neutro (50), e para uma aceleração em relação ao mês de outubro (58,4).
As vendas no varejo também surpreenderam positivamente o mercado ao avançar 1,7% m/m no mesmo período, ante o consenso de alta de 1,2% m/m. Os destaques positivos no mês foram as fortes variações dos segmentos de comércio eletrônico (4,0%), produtos eletrônicos (3,8%) e as lojas de departamento (2,2%). Vale ressaltar que as vendas de veículos acumularam a segunda alta seguida ao avançar 1,8% em outubro, ante 1,2% no mês anterior. Em contrapartida, para o mês de novembro, embora o indicador de confiança do consumidor da universidade de Michigan tenha registrado queda pelo segundo mês consecutivo ao recuar 4 pontos em relação ao mês anterior e, dessa forma, alcançando o nível de 67,4 pontos. A queda da confiança reflete a piora das expectativas de inflação, a persistências dos gargalos na cadeia de produção global e o recrudescimento da pandemia que afetam negativamente a confiança do consumidor.
Além disso, tivemos a divulgação dos dados referentes a criação líquida de empregos nos EUA (Payroll) referentes ao mês de outubro. Nesse sentido, foi reportada a criação líquida de 531 mil novas vagas, ante um resultado revisado de 312 mil em setembro. O resultado veio acima do consenso de mercado que aguardava a criação de 400 mil postos de trabalho. Vale ressaltar que no mês de outubro houve a continuidade da disseminação da Covid em território norte-americano em que foi registrado um elevado número tanto para os novos casos quanto para os óbitos. Entretanto, foi observado uma melhora em relação aos números observados no mês anterior, com destaque para o setor de serviços que foi responsável pela criação da maior parte das vagas. Já os dados de criação de vagas de emprego medidos pelo JOLTS também apontam para esta direção, visto que o número de vagas abertas em setembro permaneceu estável em u patamar bastante elevado (10,4 milhões). Em particular, a taxa de pedidos de demissão atingiu o patamar recorde 3% enquanto a taxa de demissão ficou estável em 0,9%. Por um lado, os trabalhadores argumentam que uma das principais causas dos pedidos de demissão é por conta do recrudescimento da pandemia. Em contrapartida, os empregadores apontam para um esforço de manter os atuais trabalhadores empregados por meio de aumentos salarias e tentam atrair novos trabalhadores por meio de maiores salários iniciais. O descasamento entre oferta e mão-de-obra pode ser observado nos dados de salário médio por hora trabalhada que acumulou a 7ª alta seguida ao avançar 0,4% m/m em outubro e na relação entre o total de desempregados e o número de vagas abertas que se encontra no menor nível histórico.
Por outro lado, os gastos com consumo pessoal se mostram bastante resilientes ao aumentar em US$214,3 bilhões no mês de outubro mesmo diante da piora do quadro pandêmico e elevada inflação. Isso refletiu o aumento dos gastos com consumo em bens em US$ 123,8 bilhões e de serviços em US$ 90,5 bilhões. Os destaques vão para o aumento dos gastos em viagens internacionais (serviços) e dos gastos automotivos e peças (bens). A variação dos gastos no mês apresenta uma aceleração de 1,3% em relação ao mês anterior, resultado acima da expectativa de mercado que era de avanço de 1%. Avaliamos que, mesmo diante de um cenário mais adverso, a população americana consegue manter o elevado nível de consumo, principalmente por conta de dois motivos. Em primeiro lugar, os trabalhadores têm se beneficiado com os aumentos salariais decorrentes do descasamento entre oferta e demanda por mão-de-obra que têm feito a renda pessoal disponível se manter em ascensão mesmo com o fim dos programas de auxílio governamental. Além disso, a melhora da saúde financeira das famílias decorrentes das sucessivas rodadas de estímulos governamentais contribuiu para a formação de uma poupança robusta que vem impulsionando o apetite por bens e serviços.
Inflação: uma alta de preços não tão transitória e a necessidade de acelerar o tapering
No que diz respeito à inflação, os dados de outubro referentes à inflação, medida pelo índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE price index), apontaram para uma aceleração do processo inflacionário no mês. Isso decorre do fato de que tanto o índice headline quanto o núcleo (que excluí alimentos e energia) apresentaram uma aceleração de 0,2 p.p. em relação ao mês anterior com altas de 0,6% e 0,4%, respectivamente. Por um lado, a alta do índice cheio ficou um pouco abaixo do esperado pelo mercado (0,7%), entretanto, o avanço do núcleo ficou em linha com a mediana das projeções. Ao analisar os grandes grupos de maneira desagregada, observamos uma significativa aceleração da inflação de bens e de energia (saiu de 1,29% para 4,91%). Em contrapartida, apenas o índice de preços de alimentação apresentou uma desaceleração em relação ao mês de setembro ao passar de 1,05% para 0,79%. Com este resultado, em 12 meses, tanto o índice cheio quanto o núcleo acumularam alta de 5% e 4,1%, respectivamente, de modo que, se encontram bem acima da meta de longo prazo de estabilidade de preços de 2% do Fed.
Na mesma direção, a inflação medida pelo índice de preços do consumidor (CPI) apontou para uma alta de preços mais aguda ao apresentar alta de 0,9% em outubro, uma aceleração de 0,5 p.p. em relação ao número registrado no mês anterior. Este resultado ficou bem acima do consenso de mercado que aguardava uma alta de 0,6%. Com este resultado, em 12 meses, o índice headline acumulou alta de 6,2% ficando 0,3 p.p. acima da projeção mediana. A alta no mês foi bastante disseminada com os principais destaques sendo os movimentos nos preços de energia, habitação, alimentação e veículos. Os índices de transporte e habitação foram responsáveis por mais de dois terços da inflação observada no mês (+66,6 b.p.). Justifica-se a forte alta do indicador de energia nos últimos 12 meses como fruto de um cenário de excesso de demanda agravada por uma crise energética global. Esta que, por sua vez, foi agravada pelo forte aumento de demanda por gás natural decorrente da busca por alternativas de geração energética menos poluentes no curto prazo. Isso atua como um fator adicional de pressão sobre os preços de commodities energéticas que já se encontravam em um patamar elevado por conta da retomada da atividade no pós-pandemia.
Portanto, diante da persistência do processo inflacionário a ata da reunião do FOMC de novembro mostrou que alguns membros já se mostravam favoráveis a uma redução no ritmo de compra de ativos mais rápida do que a anunciada na última reunião (US$ 15 bilhões). Dessa forma, o comitê teria uma maior liberdade para poder ajustar a condução de política monetária via taxa de juros ainda no primeiro semestre de 2022. Além disso, nos últimos dias os dirigentes do Fed têm adotado um discurso mais “hawkish” diante do processo inflacionário que tem se mostrado bastante disseminado. Mais recentemente, o presidente do Fed admitiu que o atual programa de compra de ativos poderá ser encerrado alguns meses antes do previsto, visto que a economia americana mostra uma robusta recuperação do mercado de trabalho e uma inflação elevada. Também se admitiu que a qualificação transitória para inflação deveria ser retirada, visto que tem feito com que a população entendesse que esta seria um fenômeno apenas de curto prazo. Nossa expectativa é que o Fed deverá mostrar uma postura mais forte no que diz respeito à retirada dos estímulos diante de uma inflação que têm se mostrado cada vez mais fruto de um excesso de demanda proveniente de uma economia superaquecida. Acreditamos que na próxima reunião o FOMC indique uma aceleração do tapering a partir de janeiro reduzindo as compras em US$ 30 bilhões, de modo que, abre espaço para uma primeira elevação da taxa de juros no mês de maio.
Cenário Externo (China)
Atividade Econômica: dados setoriais apontam para uma leve recuperação da economia
Em novembro, foram divulgados os dados de atividade da economia chinesa referentes ao mês de outubro que surpreenderam positivamente as expectativas. As vendas no varejo avançaram 4,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, ficando bem acima do consenso de mercado de +3,5% a/a. Este resultado foi reflexo de uma melhora do quadro pandêmico devido a uma maior contenção do espalhamento dos surtos de Covid pelo país. Isso permitiu que houvesse um aumento da confiança por parte dos consumidores que refletiu no impulsionamento da demanda por consumo no mês. Além disso, também observamos avanço no setor manufatureiro que teve alta de 3,5%, ante expectativa de crescimento de 3%. O bom desempenho da indústria foi fruto do bom desempenho do setor exportador no mês.
Em contrapartida, o setor imobiliário seguiu na tendência de desaceleração observada nos últimos meses decorrentes do aumento das exigências regulatórias por parte do governo como forma de reduzir o grau de especulação no setor. Foi observado uma queda no índice nacional de sentimento do mercado imobiliário (National Real Estate Climate Index) que reflete piores perspectivas para o setor diante das dificuldades enfrentadas pelas incorporadoras nos últimos meses. Por fim, os investimentos em ativos fixos seguem em trajetória de desaceleração ao apresentar avanço de 6,1% a/a, recuo de 1,2 p.p. em relação ao ano anterior e ficar levemente abaixo da expectativa de mercado (6,2%).
Os dados apontam para uma melhora do desempenho da economia chinesa no mês de outubro diante do arrefecimento da pandemia. Entretanto, acreditamos que a economia seguirá enfrentando grandes desafios nos próximos meses diante das restrições impostas pela política de tolerância zero de Covid-19 (potencial elevação do risco por conta da Ômicron), a crise no setor imobiliário e a mudança da matriz de crescimento. Portanto, nossa avaliação é que a China se encontra em uma posição menos favorável com menores perspectivas de crescimento para o próximo ano. Acreditamos que, diante de um risco de desaceleração mais forte do que o antecipado, o governo chinês tenha que adotar medidas de injeção de liquidez na economia como forma de minimizar os efeitos dos choques de curto prazo na economia.