Publicado em 05 de Julho às 07:00:00
As ações brasileiras tiveram mais um mês positivo. O movimento de alta do IBOV foi impulsionado principalmente por Petrobras, com a expectativa de manutenção da política de dividendos. Apesar dos múltiplos já estarem mais próximos das médias históricas, os ventos ainda parecem soprar na direção favorável. O mercado já precifica 75% de chance de um corte 50 p.p na taxa Selic em agosto. Mesmo com sinais positivos no Brasil, é preciso considerar os possíveis ventos contrário nos mercados globais. Reiteramos o perfil conservador da estratégia, priorizando ativos locais com bom histórico de geração de caixa e baixa alavancagem. Estamos adicionando Auren (AURE3), com a nova possibilidade de dividendos extraordinários, remanejando os pesos dos ativos e removendo Direcional (DIRR3).
Para o alívio dos investidores, o Conselho Monetário Nacional decidiu manter a meta de inflação em 3,0% ao ano até 2026, contrariando as críticas do Presidente Lula, decisão essa que fortalece a autonomia do Banco Central. Adicionalmente, a Inflação acumulada dos últimos 12 meses surpreendeu positivamente. Como resultado, as expectativas de inflação para os próximos anos também foram impactadas, com uma tendência mais consistente em direção à meta. Isso resultou em novas quedas nas taxas de juros longas. No próximo mês, o evento-chave a ser observado será a Reforma Tributária e a votação do arcabouço na câmara.
A Carteira Top Dividendos tem como objetivo superar o desempenho do IDIV no longo prazo por meio de empresas que apresentarão retornos totais acima da média do mercado. Elaboramos esta carteira para potencializar os retornos dos investidores via recebimento de proventos.
A seleção dos ativos se baseia em critérios fundamentalistas, alinhados com as opiniões do time do Genial Analisa. Analisamos as dinâmicas dos setores, a qualidade das empresas, a geração de caixa e a necessidade de investimento projetada das empresas no médio/longo prazo.
No Brasil, as condições para o início do processo de queda da taxa SELIC pelo Banco Central do Brasil começaram a se materializar. Adicionalmente, a autonomia do Banco Central foi fortalecida, com o Conselho Monetário Nacional mantendo a meta de inflação em 3,0% ao ano até 2026, contrariando as críticas do Presidente Lula e afastando o ruído do mercado local.
Após a desaceleração dos núcleos da inflação no IPCA-15 e no IPCA de maio, começamos a observar queda nas expectativas de inflação também nos horizontes mais longos. As surpresas baixistas apresentadas aumentaram a possibilidade de que a inflação encerre o ano abaixo dos níveis registrados em 2022. Em relação à política monetária, a Ata da reunião do Copom indicou uma postura mais cautelosa, apontando para uma redução gradual das taxas de juros.
Nossa expectativa é que o Banco Central dê início ao ciclo de redução da taxa Selic na próxima reunião de agosto, com um corte de 0,25 ponto percentual. Em seguida, esperamos mais um corte de 0,25 ponto percentual em setembro, seguido por dois cortes de 0,50 ponto percentual, um em novembro e outro em dezembro. Essas ações resultariam, segundo nossa expectativa, em uma taxa de juros de 12,25% ao final do ano.
Olhando para o segundo semestre o Projeto de Lei do Novo Arcabouço Fiscal segue para a Câmara antes de ser sancionado e o evento Reforma Tributária pode renovar o otimismo, sobretudo por gerar potenciais ganhos de médio/longo prazo para a economia brasileira decorrentes da simplificação do sistema tributário.
Transição de condições financeiras nos EUA: Nos Estados Unidos, há incerteza em relação à transição de um ambiente de excesso de liquidez para uma situação de arrocho das condições financeiras. Embora até aqui tenhamos observado um crescimento do PIB acima das expectativas, há previsões de desaceleração nos próximos trimestres, com a economia norte-americana crescendo abaixo do seu potencial. A criação de postos de trabalho continua forte, mas os sinais mistos nas vendas no varejo e na produção industrial podem indicar incertezas sobre a trajetória futura da economia.
Recessão técnica na Zona do Euro: Quando olhamos para Europa, o cenário também é desafiador. A revisão do PIB da Zona do Euro aponta para uma recessão técnica, com contração da atividade econômica por dois trimestres consecutivos. A economia da região apresenta sinais mistos, com a indústria ainda fraca e o setor de serviços contribuindo para retardar a desaceleração do mercado de trabalho e da inflação. O ritmo de diminuição da inflação está mais lento do que o esperado e o Banco Central Europeu planeja duas altas adicionais na taxa de juros.
Desafios na economia chinesa: A economia chinesa enfrenta desafios, incluindo baixa confiança das empresas e dos consumidores, além de uma crise no mercado imobiliário. O crescimento econômico tem sido mais lento do que o esperado, e a desaceleração global prejudica as exportações chinesas. Os indicadores recentes mostram um desempenho abaixo das expectativas, com vendas no varejo e produção industrial crescendo menos do que o previsto. O desemprego entre os jovens atingiu níveis elevados, afetando a confiança do consumidor. A inflação está baixa, indicando uma demanda doméstica deprimida. Nossa expectativa é de que o governo anuncie mais estímulos fiscais para impulsionar a confiança e alcançar a meta de crescimento de 5,0% para a economia em 2023.
As ações brasileiras tiveram mais um mês positivo e boa parte do desempenho do Ibovespa acima da nossa carteira no período é explicado pela alta de mais de 20% de Petrobras. O fluxo positivo está relacionado à possibilidade da manutenção da política de dividendos da empresa. Estamos confortáveis em não ter o ativo em carteira. Recentemente, a Companhia reduziu o preço da gasolina em -5,3% para as distribuidoras, após a retomada dos impostos federais sobre o combustível.
Nossa análise indica que os preços já estavam 9% abaixo da paridade internacional, sugerindo que a empresa pode estar subsidiando o preço. Isso levanta preocupações sobre riscos políticos e resultou em uma queda nas ações da Petrobras. Vale ressaltar que nosso acompanhamento da paridade de preços não é uma ciência exata, mas uma indicação do ambiente de risco político para a empresa.
Após o terceiro mês de alta consecutiva, conseguimos observar uma bolsa muita mais bem precificada do que no começo do ano. Importante destacar que os múltiplos atuais, excluindo Vale e Petrobras, estão em torno de 10x Preço/Lucro para os próximos 12 meses. Quando adicionamos as duas empresas na conta, é possível notar que houve uma “correção” nos múltiplos desde nossa última atualização, passando de 7,4x para 8,10x. (+12,5%).
Outro fator que colaborou com boa parte da alta do Ibovespa foi a entrada massiva de fluxo estrangeiro. A manutenção da meta de inflação em 3,0% somada a queda da inflação, sinalizam que o mercado começou a precificar a possibilidade de um corte de juros já em agosto. Em busca de valuations baratos, o bom desempenho do mês de junho reforça a redução da percepção de risco político que estávamos alertando a um mês atrás.
A trajetória do prêmio de risco entre os títulos de renda fixa de longo prazo e as ações (IBOV e IDIV) seguem em reversão. O que pode sinalizar que os prêmios começam a caminhar para suas médias históricas, isto é, parte da melhora no cenário já está precificada pelo mercado. Nesse ponto, qualquer quebra de expectativa ruim pode gerar um movimento de realização.
Desde o lançamento da carteira em 30/03/2023, aproximadamente 3 meses atrás, a carteira recomendada Top Dividendos se valorizou 12,4%, levemente abaixo dos principais índices de referência. A carteira segue com um perfil defensivo, com objetivo de reduzir a volatilidade da carteira e focando nos ativos que possuem maior margem de segurança, com múltiplos distantes dos que julgamos justos.
Entra Auren (AURE3): Estamos aumentando nossa concentração no setor de geração de energia por um bom motivo: Perspectiva de melhora no fluxo de pagamento de proventos. Na última atualização, a empresa foi removida devido à expectativa do fim dos pagamentos de proventos extraordinários, porém acreditamos que eles podem voltar.
Sai Direcional (DIRR3): Estamos removendo Direcional da carteira por uma questão estratégica, devido ao seu desempenho bem superior ao índice. Ainda gostamos da companhia, mas olhando o nosso cenário, preferimos outras oportunidades.
A carteira, agora ficar com a seguinte concentração:
Na nossa visão o ruído sobre a reversão da privatização diminui e existe a possibilidade de antecipação dos fluxos da CDE a serem pagos pela Eletrobras até 2047 em troca da suspensão dos pedidos de “reestatização” da empresa. A possibilidade de negociação com a união pode ser uma sinalização positiva, que reduziria o risco político e reforçaria nossa tese de que não faz sentido Eletrobras continuar negociando a múltiplos de empresa estatal.
Sabemos que os preços futuros de energia em queda preocuparam boa parte dos investidores de Eletrobrás, já que empresa precisava se recontratar e o nível de preço não ajudava. Por outro lado, chamamos atenção para a maior probabilidade de ocorrência do El Niño. Esse fenômeno pode gerar uma diminuição nos volumes de chuva, ou seja, impactar negativamente a capacidade de geração do sistema.
Caso isso ocorra, poderemos observar uma reversão nas tendências de queda dos preços futuros de energia elétrica. Consequentemente Eletrobrás que está pouco contratada, não sofreria o tanto quanto o mercado espera. Aos atuais níveis de preço, a empresa negocia a 0,8x P/VPA. Lembramos que existem diversas alavancas de valor a serem exploradas no longo prazo.
Mesmo com a ótima performance, seguimos otimistas com Banco do Brasil. Munidos de valuation ainda descontado, ótimo desempenho e diminuição do risco de ingerência política, o banco está entregando um lucro superior aos pares privados e com uma rentabilidade (ROE) atrativa próxima de 20%.
Hoje, o banco é o mais protegido contra a queda da taxa Selic. A carteira de crédito do BB apresenta mix de produtos conservador e de baixo risco, sendo que 1/3 está alocado no agronegócio e grande parte do crédito para pessoa física está em consignado, o que reflete na boa inadimplência do banco, bem melhores que dos outros incumbentes. Ademais, a margem financeira deve continuar em forte crescimento devido aos spreads atrativos com melhora se a Selic começar a cair.
Nos preços atuais, projetamos um Dividend Yield de 10,1% para 2023 partindo de um payout de 40%. Hoje o BB negocia a 4,0x P/L e 0,8x P/VP projetados para 2023.
A companhia divulgou que aprovou o pagamento de R$ 3,21 bilhões de dividendos a serem distribuídos referente ao 1º semestre de 2023. Os valores pagos por ação e a data de distribuição serão divulgados após os resultados do 2T23. O dividend yield estimado é de 5%, praticamente a metade das nossas estimativas para 2023. As expectativas do mercado sofrem com possibilidade do início do movimento de corte de juros, porém acreditamos que os bons números devem perdurar, pelo menos até o final do ano. Continuamos com uma visão otimista para a companhia, que deve se beneficiar do bom crescimento de prêmios na unidade de seguros e juros ainda altos em 2023.
Esperamos que a companhia continue com a forte política de distribuição de proventos do ano passado, com um payout próximo de 90%, o que representa um Dividend Yield de 10,7% com base em nossas projeções de lucro para 2023. Acreditamos que o valuation agora está mais atrativo, negociando apenas 8,1x P/L 23E vs uma média histórica de 11,8x.
Nossas estimativas apontavam para um fluxo positivo de dividendos mesmo com possíveis novos lotes nos leilões. Apesar de mais um leilão competitivo, os projetos leiloados podem gerar retornos interessantes para os acionistas.
Utilizando parte das premissas divulgadas pela ISA CTEEP em relação aos lotes adquiridos, os retornos dos projetos parecem razoáveis e não devem destruir valor aos acionistas. Estimamos uma taxa interna de retorno reais entre 6,5%-7,5% para os lotes 07 e 09 (vs NTN-Bs 2045 oferecendo 5,5% em termos reais) sem considerar benefícios fiscais ou a realavancagem do projeto, que poderiam levar os retornos para 9-10% em termos reais caso aplicadas.
Nas nossas contas, Transmissão Paulista está muito próxima do seu preço justo, porém o ativo ainda negocia a um TIR Real ainda superior a 10% e um Dividend Yield de 5,9% projetado para 2023 e 7,5% para 2024.
Mais uma vez, reforçamos que a Engie está com um ótimo grau de contratação do seu portfólio de geração para os anos de 2023 e 2024. Mesmo em um momento de queda do preço futuro da energia, a empresa tem seus contratos firmados a preços ainda elevados. No longo prazo, a empresa pode ser uma boa aposta dada a sua qualidade, com uma geração de caixa saudável e um considerável pipeline de investimentos entrando em operação nos próximos anos. Mantendo o nível de endividamento sobre controle, a empresa pode ter outro ano com grande generosidade no que diz respeito a dividendos.
Projetamos a distribuição de dividendos de 100% lucro da empresa para os próximos anos e aos atuais níveis de preço, encontramos um Dividend Yield de 8,1% projetado para 2023.
Como dissemos anteriormente, Auren havia sido removida da carteira por conta da expectativa do fim dos pagamentos de proventos extraordinários. Porém, a securitização dos direitos creditórios da indenização da Usina Três Irmãos é um evento positivo para investidores interessados em dividendos. Acreditamos que uma parte significativa ou até mesmo a totalidade desse valor de R$4,2 bilhões poderá ser distribuído na forma de dividendos, o que implicaria em um rendimento potencial de até 22-29%.
Essa afirmação é fundamentada em três pilares: o baixo nível de endividamento, a ausência de projetos relevantes em andamento e a forte geração de caixa da empresa, que possui um portfólio de geração contratado em cerca de 97% até 2026, com preços bastante atrativos.
Lembramos que o último leilão de transmissão não marcou a entrada da Auren no segmento de transmissão. O fato de a empresa não ter adquirido nenhum lote, fortalece a opcionalidade do pagamento de mais um dividendo extraordinário.
Apesar de todas as suas qualidades, enxergamos que a Gerdau deixou de possuir um prêmio significativo em seus múltiplos em relação aos seus pares. Olhando para o passado, a empresa costumava negociar acima de um EV/EBITDA de 5,0x, porém hoje negocia a 3,0x.
Atrelamos isso a toda a incerteza que o cenário econômico atual traz para o setor, mas que enxergamos que as suas vantagens competitivas garantirão uma geração de valor acima dos seus pares locais. Gerdau hoje é a nossa Top Pick do setor de Metais e Mineração.
Dessa forma, projetando um Dividend Yield de 8,7% projetado para 2023. A companhia nos parece bastante descontada em termos relativos, mesmo considerando o atual baixo ciclo do aço.
Estamos reduzindo o peso de Itaú na carteira por considerarmos um ativo menos descontado quando comparado aos outros bancos. Seguimos apostando no desconto entre das ações ON em relação às ações PN (~15%), como impulsionador dos retornos via proventos. O Dividend Yield de ITUB3 se torna bem mais atraente para estratégia da carteira de dividendos.
Do lado dos fundamentos da empresa, continuamos com uma perspectiva positiva. O banco é o mais bem posicionado em relação aos concorrentes e segue na sua jornada de transformação digital, com mudanças extensivas (cultura, digitalização, infraestrutura, etc.) e com investimentos fortes com foco no crescimento sustentável de longo prazo.
Optamos por aumentar a participação de Banco do Brasil e por isso resolvemos reduzir Itaú, mas gostaríamos de lembrar que dentre os players privados, o banco é o que possuí a carteira de crédito do mais equilibrada.
Continuarmos acreditando na tese de longo prazo do banco e entendermos que o preço atual está atrativo negociando apenas 7,4x P/L 23E e 6,4x P/L 24E e um Dividend Yield de 5,1% também em 2023.
A Vivo, nossa principal escolha do setor, possui vantagens competitivas interessantes. Na nossa estratégia defensiva, a empresa segue cumprindo muito bem o seu papel. Do ponto de vista operacional, seguimos acreditando que as estratégias para converter clientes pré-pagos em planos pós-pagos são as mais eficientes entre os pares.
Ainda negociando a múltiplos atrativos (EV/EBITDA 23E de 4,0x), e baixa alavancagem de 0,87x Dív. Líquida/EBITDA, a Vivo deve se manter uma boa pagadora de dividendos, com a expectativa de Dividend Yield em 6,0% projetado para 2023 e 7,9% para 2024, justificando a alocação da companhia em nossa carteira.
Os novos dados de China apontam para um crescimento econômico mais lento do que o esperado, incluindo baixa confiança das empresas e dos consumidores e uma crise no mercado imobiliário. Além disso, a inflação está baixa, indica uma demanda doméstica deprimida.
Enxergamos essa situação como uma oportunidade de comprar uma ótima empresa a um preço atrativo. Enquanto o preço do minério de ferro estiver próximo ao patamar de U$ 100/ton, preço muito acima do breakeven, a Vale gerará caixa operacional. O segundo semestre deve apresentar melhoras nos volumes de produção. Além disso, existe a expectativa de que o governo chinês anuncie mais estímulos fiscais para impulsionar a confiança e alcançar a meta de crescimento de 5,0% para a economia em 2023.
Enxergamos a empresa negociando a um EV/EBITDA próximo a 3,9x. Por se tratar de uma Companhia com uma grande geração de caixa, enxergamos agora uma margem de segurança mais confortável. Com um dividend yield de 8,2% para 2023.