Publicado em 10 de Março às 02:24:43
A carteira recomendada de investimento em renda fixa de Março de 2023 da Genial foi feita para facilitar o processo de escolha dessa classe de ativos, através de uma análise de cenário macroeconômico e prêmios de risco, tanto para títulos públicos, emissão bancária, crédito privado e ETFs.
O IMA-B 5 (índice com títulos indexados ao IPCA com vencimento de até 5 anos) teve um retorno de 1,66% no período, devido a contribuição positiva da parcela de inflação, e do fechamento das NTN-Bs de vencimento curto. Atualmente, ele equivale a um titulo com taxa IPCA + 5,9%, o que é bastante atrativo.
Já o retorno dos títulos de crédito privado seguem negativos, com o IDA-DI (índice com as debentures indexadas ao CDI) e o IDA-IPCA (índice com as debentures indexadas ao IPCA) caindo -0,24% e -1,18% no período, devido a elevação nos spreads de crédito.
O PIB registrou -0,2% t/t, no quarto trimestre de 2022 comparado ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal, resultado um pouco pior que a estimativa mediana do mercado (-0,1% t/t, Broadcast).
Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, houve avanço de 1,9% a/a, resultando em um resultado anual de 2,9% frente a 2021, ambos também abaixo das estimativas do mercado (2,1% a/a e 3,0% frente a 2021, Broadcast).
A avaliação da equipe de macroeconomia da Genial é que a leitura do PIB do 4º trimestre foi negativa, apesar de esperada. O resultado aponta para uma desaceleração mais avançada e generalizada, inclusive com um crescimento bem mais modesto do setor de serviços no último trimestre, setor que foi o principal motor da recuperação.
Algumas medidas de projeção de inflação, como a feita pelo banco central, o boletim Focus, se comparado há um mês atrás, o IPCA de 2024 já subiu quase 35 bps, saindo de 3,70% para 4,02%, mostrando uma aceleração na elevação do nível de preços para os próximos anos.
Entretanto, ao olhar a inflação implícita mensurada através dos DIs e títulos indexados a inflação, esse numero está por volta dos 7%, e fica a questão se isso é apenas preço, ou é excesso de prêmio de risco. O fato é que os leilões do tesouro das NTN-Bs estão saindo bastante pressionados.
Diante do forte ciclo de aperto monetário desempenhado ao longo dos últimos meses, os dados do mercado de crédito apresentam sinais de desaceleração na margem, tanto para empresas quanto para as famílias.
O crédito aumentou bastante no Brasil nos últimos anos, particularmente a partir do final de 2020. Boa parte deste aumento veio do mercado de capitais (debentures, CRI, CRA, etc). O mercado crédito já vinha crescendo mais devagar desde meados de 2022 e o evento “Americanas” parece que gerou uma queda brusca nas concessões, o credit crunch.
Os fundos de renda fixa estão tendo resgates, os bancos estão menos capitalizados após as perdas com Americanas e os spreads estão altos. Em resumo, é uma situação muito arriscada para a economia, com muitas empresas endividadas e dependendo de crédito. E, de repente, o crédito fica ou muito caro ou inexistente.
Nos EUA, diversos dados econômicos saíram e acabaram pressionando ainda mais o FOMC para as próximas decisões sobre o Fed Fund Rate, que pode chegar aos 6% no final do ciclo de altas.
Uma sequência de revisões altistas no core PCE, dado de inflação mais observado pelo FED, foi seguida de nova divulgação, relativa a janeiro, mostrando, também, inflação pressionada.
Além disso, o mercado de trabalho mostrou uma aceleração importante, com a criação de mais de 500 mil empregos em janeiro, e a queda da taxa de desemprego para 3,4%, o menor valor em décadas.
Já a inflação, desde fins de 2021, tem se mostrado relativamente estável, em torno de 5%, sem dar mostras de ter sofrido qualquer descompressão relevante, desde que o ciclo de aperto monetário foi iniciado.
Independentemente da reaceleração ou não do ritmo de aperto monetário nos EUA, o ciclo tende a se prolongar por mais tempo, resultando numa taxa terminal mais elevada.
Esta perspectiva terá implicações para todos os mercados. Bancos Centrais da Europa e do Reino Unido, onde a inflação se encontra também muito elevada, precisarão se ajustar e prolongar seus ciclos de aperto.
Os sinais de arrefecimento da atividade, somado a elevação no risco de crédito impulsionou a queda das taxas dos vértices curtos, tanto da curva de juro nominal, quanto da curva de juros reais. Porém, a parte longa de ambas segue em patamares ainda muito elevados, muito acima do nível de antes dos ataques feitos ao Banco Central.
A inflação implícita, que é a diferença entre a taxa dos títulos pré fixados e dos títulos indexados a inflação fechou em forte alta, mostrando uma grande piora na perspectiva inflacionária para os próximos anos.
O mercado de crédito vem sendo penalizado após o evento de americanas, os spreads (diferença entre a taxa do titulo contra o titulo publico de mesma duration) subiram fortemente para todos os tipos de ratings, sinalizando uma aversão a risco e uma piora no nivel de endividamento de algumas empresas, o que afeta o mercado como um todo.
Porém, com a elevação dos spreads, alguns setores mais resilientes, como o de Utilities, tendem a se beneficiar, pois muitas tem baixo nível de alavancagem, bons índices de liquidez e previsibilidade de geração de caixa. Um cenário parecido com esse aconteceu em 2016, e quem entrou nos ativos pagando IPCA + 7,5% em média, tiveram ganhos muito relevantes nos anos seguintes.
Entrando agora no processo de alocação, destacamos a importância da manutenção de uma carteira diversificada entre setores e perfil de risco.
A alocação em ativos indexados ao CDI segue como primordial para um ambiente de maior volatilidade. O juro real ex-ante* (8% aproximadamente) continua um como um grande atrativo. Além disso, liquidez da classe facilita rotação caso o mercado abra espaço para maior apetite ao risco.
Porém, com a projeção de cortes na Selic se fortalecendo ainda esse ano, e talvez no inicio do segundo semestre, a atratividade se reduziu marginalmente, abrindo espaço para maior alocação nos títulos indexados a inflação e nos pré-fixados de vencimento intermediário, até 5 anos.
Aumentamos a exposição aos indexados ao IPCA intermediário, dado o carrego maior de IPCA que teremos nos próximos meses, e do fator de proteção em um cenário desafiador da parte fiscal, que pode gerar instabilidade no nível de preços.
Por mais que os ganhos com marcação a mercado possam vir a acontecer, historicamente, investir em cenário com títulos pagando acima de IPCA +6,5% geram retornos positivos.
Juro real ex-ante*: Selic esperada para os próximos 12 meses – Inflação implícita para os próximos 12 meses.
Os títulos indexados ao CDI continuam garantindo tranquilidade para absorver os choques no curto prazo, com possibilidade de aproveitar taxas ainda mais atrativas caso a percepção se deteriore.
Por ora, as projeções apresentadas indicam que essa classe se manterá atrativa também no ano de 2023, com uma inflação projetada pelo mercado na casa dos 5,8%, isso gera um ganho real de quase 8%, o que é extremamente relevante.
Conforme demonstramos aqui, o que permeia uma decisão de alocação nos títulos pré-fixados, é avaliar se a inflação que o mercado está projetando nos títulos públicos para os próximos anos, será mais baixa do que está precificado atualmente.
Além disso, é necessária alguma previsibilidade com relação a dinâmica de atividade e inflação. Com a inflação implícita projetando inflação nos próximos anos na casa dos 7%, enquanto o boletim focus do Banco Central mostra a inflação mais próximo de 4% para 2024, que é o horizonte relevante para o BC, parece ter um bom prêmio de inflação para ser capturado.
Com isso, mantivemos um exposição pequena no trecho intermediário da curva nominal.
Aumentamos nossa exposição em indexados a inflação, reflexo da melhora do cenário de carrego de IPCA e das taxas ainda elevadas como ponto de entrada. Como consequência da instabilidade com relação a politica econômica, mantivemos as durations até no máximo a NTN-B com vencimento em 2045.
Retiramos a alocação em títulos %CDI com vencimento acima 1 ano da carteira, e adicionamos dois ETFs, um visando replicar uma carteira de títulos do tesouro Selic, que tem grande vantagem no processo de rebalanceamento, e tem IR de 15% sobre os ganhos, independente do período de uma possível venda.
O outro ETF visa uma proteção contra uma possível instabilidade inflacionária, e também conta com um rebalanceamento automatizado. Ele replica o IMA-B5, que é um dos ativos com melhor relação risco x retorno dentro da renda fixa.
*taxas indicativas referentes ao dia 09 de março, podendo sofrer variações.
Veja abaixo a análise dos ativos para investimento em renda fixa:
A Equatorial Energia atua no setor elétrico brasileiro e se consolidou através da aquisição e recuperação de concessões adquiridas de outros grupos. O segmento de distribuição de energia elétrica representa cerca de 98% do EBITDA ajustado do grupo.
A companhia também investiu no segmento de transmissão, tendo concluído no 2T21 todos os 8 lotes (conquistados no leilão de 2017) com RAP consolidada de R$1.220,2 milhões. A exposição ao segmento de transmissão é positiva, pois tratam-se de receitas por disponibilidade – reduzindo o risco de demanda por energia que é inerente ao segmento de distribuição.
O BTG Pactual é um banco de investimento e gestor de ativos e fortunas, com posição dominante no Brasil, tendo estabelecido uma bem-sucedida plataforma internacional de investimentos e distribuição.
O banco atua nas seguintes áreas: banco de investimento, crédito corporativo, corretora, gestão de ativos, wealth management e participações societárias em empresas. Além de sua posição consolidada no mercado brasileiro, a BTG possui operações no Chile, Peru, Colômbia, Argentina, EUA e Europa.
Tem um sólido histórico de entrega de boa rentabilidade com solidez de capital. No 3T22, o BTG Pactual rodou com um ROE ajustado de 20,2% e índice de Basiléia de 15,2%.
O Banco ABC Brasil é um banco múltiplo que opera nas carteiras comercial, financeira, de investimento, de câmbio e de crédito imobiliário.
O foco são as empresas de médio e grande portes, sendo que sua principal linha de negócios é a intermediação financeira de operações com análise e aceitação de riscos de crédito. No entanto, também há atendimento a pessoas físicas.
O banco é controlado pelo Arab Banking Corporation. Com quase 1000 colaboradores, o banco terminou o 3T22 com um ROE de 14,8% e um índice de Basiléia de 15,4%.
O B5P211 é um ETF criado pelo Itaú, que replica o índice IMA-B5 índice calculado pela Anbima, formado por uma carteira teórica composta por títulos públicos indexados à inflação, as NTN-Bs, com prazos inferiores a cinco anos de vencimento e controle de prazo médio de repactuação da carteira de, no mínimo, dois anos.
O IMA-B 5 tem uma metodologia de rebalanceamento dos títulos que torna esse índice um investimento muito atrativo. Em seu funcionamento, é como se os recursos vindos de vencimentos ou pagamentos de juros fossem automaticamente reinvestidos numa taxa mais elevada, em um título público indexado ao IPCA com prazo de até 5 anos.
Consequentemente, o comportamento do prazo médio (duration) do IMA-B 5 é muito mais previsível. Já no caso do IMA-B, o comportamento é mais difícil de se prever e tem correlação muito alta com os movimentos nas curvas de juros, tanto de DI futuro, quanto dos preços das NTN-Bs.
Saiba mais sobre esse índice aqui.
O ETF LFTS11 (índice Teva Tesouro Selic) é um fundo de índice listado na B3 que acompanha a performance de títulos públicos pós fixados ligados a Selic, o tesouro Selic, da plataforma do tesouro direto.
O índice é composto por títulos Tesouro Selic com prazo acima de 2 anos, que possuem performance aderente ao índice DI.
Índice de Basiléia: O Índice de Basileia determina a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros (captações) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito. Por exemplo, se um banco possui Índice de Basiléia de 20%, significa que, para cada R$ 100,00 emprestados, o banco possui patrimônio de R$ 20. O índice mínimo exigido pelo Banco Central do Brasil é 11%.
Rating: É a nota que emissores recebem das agências de rating pela probabilidade de pagarem seus títulos nas datas pactuadas. Cada agência de risco tem sua classificação, mas a mais alta seria AAA, ou equivalente, e a mais baixa seria D, na qual o emissor não possui condições de honrar seu título no montante e nas condições originais.
Risco de crédito: É quando o mercado cobra pelo risco hipotético de um emissor conseguir “repagar” o que você emprestou na data do vencimento. Por exemplo: o governo brasileiro é considerado o melhor risco de crédito do mercado, e seus títulos negociam a taxa livre de risco (a mais baixa). Porém, existem outros emissores que possuem ótimas classificações de risco de crédito, inclusive apontadas por agências independentes de rating, que emitem seus títulos com um spread sobre os títulos do governo. Na Renda Fixa, quanto melhor for o risco de crédito do emissor, menos ele rende, e vice-versa.
Risco de Mercado: Quando um título é emitido, ele conta com condições adequadas para aquele momento. Se as condições de mercado (economia, juros ou inflação) se alterarem durante a vigência do seu investimento, o valor do seu título poderá ser alterado, e você poderá ter ganhos ou perdas caso venda seu título antes do vencimento.
Duration: Prazo médio ponderado de recebimento dos fluxos de caixa dos papéis. É uma medida de sensibilidade com relação a variação das taxas de juros e preço dos títulos. Quanto maior, mais volatilidade tem o titulo.
Ebitda: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
Spread: Diferença entre a taxa cobrada de uma operação e a taxa de referência (Ex.: NTN-B), com mesma duration.
High Grade: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com bom risco de crédito, ou seja, de baixo risco.
High Yield: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com risco elevado, consequentemente com maior remuneração.
Carry ou Carrego: Ganhos de capital ao carregar o ativo em carteira até a data de vencimento.
ROE (Return on Equity): Retorno sobre o capital é um indicador financeiro percentual que se refere à capacidade de uma empresa em agregar valor à ela mesma utilizando os seus próprios recursos.
Estrutura a termo (ETTJ): É a relação, em dado momento, entre taxas de juros de títulos de renda fixa de mesma qualidade de crédito, mas com diferentes prazos de vencimento.
CRA: Os Certificados de Recebíveis Agrícolas ou Imobiliários (CRA) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor agrícola.
CRI: Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor imobiliário