Publicado em 24 de Abril às 18:31:34
A carteira recomendada de investimento em renda fixa de Abril de 2023 da Genial foi feita para facilitar o processo de escolha dessa classe de ativos, através de uma análise de cenário macroeconômico e prêmios de risco, tanto para títulos públicos, emissão bancária, crédito privado e ETFs.
O fim do mês de março foi marcado por uma valorização expressiva nas NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional indexadas ao IPCA) com vencimento maior do que 5 anos, representadas pelo IMA-B 5+, que teve um retorno de 4,62% no mês e 4,98% no trimestre.
Em relação aos títulos de crédito privado, o IDA-DI (Índice com as Debêntures indexadas ao CDI) terminou o último mês e trimestre com retornos positivos, em 0,79% e 0,24%, respectivamente. Já o IDA-IPCA (Índice com as Debêntures indexadas ao IPCA) fechou o mês com uma rentabilidade de 2,85% e o trimestre com uma de -1,93%.
No Brasil, o grande evento do mês foi a divulgação do novo arcabouço fiscal anunciado pelo Ministério da Fazenda prevê um limite para a expansão dos gastos públicos com base na receita do governo.
Ele é composto por duas condições: uma regra de aumento de gastos e uma meta de superávit primário. A banda de reajuste real dos gastos foi estabelecida entre 0,6% e 2,5% em relação ao exercício do ano anterior, independentemente do que acontecer com as receitas.
Há, com isso, um problema: uma pressão para ampliação da carga tributária. É uma regra pró-cíclica, ou seja, se a economia crescer ou não haverá expansão de gastos.
A avaliação da equipe de macroeconomia da Genial, para que o cenário de estabilização da dívida pública apresentado se concretize com esses parâmetros, é necessário desempenhar um superávit primário de cerca de 2,0% do PIB daqui em diante para estabilizar a relação dívida/PIB, muito acima das projeções mais otimistas do mercado e do próprio governo.
Além disso, a relação Dívida/PIB só se estabilizaria com diminuição da taxa de juros. Ou seja, até o momento, há uma falta de detalhamento que gera certas inconsistências na nova regra fiscal.
Porém, parte do mercado viu com bons olhos o governo minimamente se comprometer com algum projeto de controle fiscal, mesmo que alguns itens sejam de difícil conclusão.
Por fim, os dados de atividade e inflação voltaram a desacelerar na transição do primeiro para o segundo trimestre. Esperamos crescimento de 0,7% para 2023, decorrente de uma safra agrícola muito forte, que deve afetar o primeiro trimestre, mas trabalhamos com crescimento próximo de zero nos trimestres subsequentes, com assimetria baixista.
As últimas semanas foram marcadas pelo aumento da volatilidade por conta da maior aversão ao risco nas economias desenvolvidas.
Nos EUA, o Presidente do Fed, Jerome Powell, havia sinalizado aos mercados a possibilidade de que os juros poderiam subir mais e permanecer em patamar elevado por mais tempo por conta da resiliência da atividade econômica e da persistência da inflação, mas o quadro ganhou contornos um pouco distintos após os eventos financeiros das últimas semanas.
Para lidar com os temas de liquidez, as autoridades se moveram rapidamente. O FDIC (fundo garantidor de depósitos bancários nos EUA) anunciou que garantiria todos depósitos dos bancos regionais em foco, não apenas até o limite legal de US$ 250 mil.
Adicionalmente, o Federal Reserve criou uma linha de liquidez especial, contando com recursos do Tesouro, permitindo que instituições enfrentando problemas de descasamento de prazo entre sua carteira de ativos e passivos possam oferecer ativos de boa qualidade como garantia pelo valor de face (Bank Term Funding Program – BTFP).
Apesar de ter elevado o juro em 0,25 p.p na última reunião do FOMC, como havia sinalizado na reunião anterior, o guidance do Fed se alterou.
Para a próxima reunião, a porta ficou bastante aberta para várias possibilidades, dada as incertezas: nova alta de juro (se necessária); manutenção do juro no patamar atual ou até mesmo uma pausa, seguida de novas altas de juros nas reuniões subsequentes.
Caso o aperto das condições financeiras seja persistente, aumentam os riscos de desaceleração mais intensa da atividade econômica em 2023.
Já na China, sinais de retomada econômica estão aparecendo, principalmente no mercado imobiliário, após a reabertura devido aos casos de covid. Isso fez com que os preços de algumas commodities voltassem a se elevar no mercado internacional.
O movimento nos juros locais teve como principal característica neste ultimo mês uma abertura/estabilidade das taxas de juros de curto prazo, e fechamento das taxas intermediarias e longas, reduzindo bastante a inclinação da curva, que vinha em patamares muito acima das médias históricas.
A inclinação das curvas de juros é um importante parâmetro para se medir se uma recessão está prestes a ocorrer. Historicamente, períodos com curvas muito inclinadas se sucedem por recessões na atividade econômica.
Os juros curtos se mantiveram estáveis ou abriram (subiram taxas) devido ao discurso mais duro do Banco Central no comunicado de manutenção da Selic, onde ainda observam a inflação fora do patamar que almejam, e questões tributárias, como o ICMS sobre os combustíveis, que tem um impacto direto no IPCA.
Já o trecho intermediário e longo dos juros tiveram queda em suas taxas basicamente pelo arcabouço fiscal, que traz alguma ideia para a trajetória do endividamento do governo, mesmo que ainda tenham questões a ser discutidas.
Entrando agora no processo de alocação, destacamos a importância da manutenção de uma carteira diversificada entre setores e perfil de risco.
A alocação em ativos indexados ao CDI segue como primordial para um ambiente de maior volatilidade. O juro real ex-ante* (7,5% aproximadamente) continua um como um grande atrativo. Além disso, liquidez da classe facilita rotação caso o mercado abra espaço para maior apetite ao risco.
Porém, com a projeção de cortes na Selic se fortalecendo ainda esse ano, e talvez no inicio do segundo semestre, a atratividade se reduziu marginalmente, abrindo espaço para maior alocação nos títulos indexados a inflação e nos pré-fixados de vencimento intermediário e longo.
Aumentamos a exposição aos indexados ao IPCA intermediário, dado o carrego maior de IPCA que teremos nos próximos meses, e do fator de proteção em um cenário desafiador da parte fiscal, que pode gerar instabilidade no nível de preços.
Elevamos também a exposição aos ativos pré fixados (para perfis mais agressivos) com vencimento próximo de 5 anos, por enxergar um premio exagerado na inflação implicita, o que fará com que o juros se manterá em patamares menores que os projetados nas curvas futuras de juros.
Juro real ex-ante*: Selic esperada para os próximos 12 meses – Inflação implícita para os próximos 12 meses.
Os títulos indexados ao CDI continuam garantindo tranquilidade para absorver os choques no curto prazo, com possibilidade de aproveitar taxas ainda mais atrativas caso a percepção se deteriore.
Por ora, as projeções apresentadas indicam que essa classe perdeu um pouco da atratividade para os vencimentos até um ano. Isso ocorreu com a projeção das quedas na taxa Selic ainda no inicio do segundo semestre de 2023, com isso, reduzimos nossa exposição ao CDI de vencimento curto (até 3 anos);
Conforme demonstramos aqui, o que permeia uma decisão de alocação nos títulos pré-fixados, é avaliar se a inflação que o mercado está projetando nos títulos públicos para os próximos anos, será mais baixa do que está precificado atualmente.
Além disso, é necessária alguma previsibilidade com relação a dinâmica de atividade e inflação. Com o arcabouço fiscal sendo divulgado, os ganhos dos titulos pré fixados de vencimento intermediário (até 5 anos), foi bem expressivo.
Com o cenário com um pouco mais de visibilidade, e com o patamar da inflação implicita ainda muito elevado, mesmo se a meta de inflação for alterada para 4%, elevamos a exposição ao pré fixado no trecho intermediário da curva nominal.
Aumentamos nossa exposição em indexados a inflação, reflexo da melhora do cenário de carrego de IPCA e das taxas ainda elevadas como ponto de entrada. Como consequência da instabilidade com relação a politica econômica, mantivemos as durations até no máximo a NTN-B com vencimento em 2045.
Adicionamos dois ativos de crédito privado para os perfil moderado e arrojado, ambas indexadas ao IPCA, isentas de imposto de renda e com rating AAA, com vencimentos entre 2030 e 2032, que são os pontos da curva de juros reais que vemos com a melhor assimetria de risco x retorno.
*taxas indicativas referentes ao dia 06 de abril, podendo sofrer variações.
Veja abaixo a análise dos ativos para investimento em renda fixa:
O BTG Pactual é um banco de investimento e gestor de ativos e fortunas, com posição dominante no Brasil, tendo estabelecido uma bem-sucedida plataforma internacional de investimentos e distribuição.
O banco atua nas seguintes áreas: banco de investimento, crédito corporativo, corretora, gestão de ativos, wealth management e participações societárias em empresas. Além de sua posição consolidada no mercado brasileiro, a BTG possui operações no Chile, Peru, Colômbia, Argentina, EUA e Europa.
Tem um sólido histórico de entrega de boa rentabilidade com solidez de capital. No 3T22, o BTG Pactual rodou com um ROE ajustado de 20,2% e índice de Basiléia de 15,2%.
O Banco ABC Brasil é um banco múltiplo que opera nas carteiras comercial, financeira, de investimento, de câmbio e de crédito imobiliário.
O foco são as empresas de médio e grande portes, sendo que sua principal linha de negócios é a intermediação financeira de operações com análise e aceitação de riscos de crédito. No entanto, também há atendimento a pessoas físicas.
O banco é controlado pelo Arab Banking Corporation. Com quase 1000 colaboradores, o banco terminou o 3T22 com um ROE de 14,8% e um índice de Basiléia de 15,4%.
O B5P211 é um ETF criado pelo Itaú, que replica o índice IMA-B5 índice calculado pela Anbima, formado por uma carteira teórica composta por títulos públicos indexados à inflação, as NTN-Bs, com prazos inferiores a cinco anos de vencimento e controle de prazo médio de repactuação da carteira de, no mínimo, dois anos.
O IMA-B 5 tem uma metodologia de rebalanceamento dos títulos que torna esse índice um investimento muito atrativo. Em seu funcionamento, é como se os recursos vindos de vencimentos ou pagamentos de juros fossem automaticamente reinvestidos numa taxa mais elevada, em um título público indexado ao IPCA com prazo de até 5 anos.
Consequentemente, o comportamento do prazo médio (duration) do IMA-B 5 é muito mais previsível. Já no caso do IMA-B, o comportamento é mais difícil de se prever e tem correlação muito alta com os movimentos nas curvas de juros, tanto de DI futuro, quanto dos preços das NTN-Bs.
Saiba mais sobre esse índice aqui.
O ETF LFTS11 (índice Teva Tesouro Selic) é um fundo de índice listado na B3 que acompanha a performance de títulos públicos pós fixados ligados a Selic, o tesouro Selic, da plataforma do tesouro direto.
O índice é composto por títulos Tesouro Selic com prazo acima de 2 anos, que possuem performance aderente ao índice DI.
JBS é a maior empresa de proteína animal e segunda maior de alimentos do mundo, tem presença nos seis continentes e dezenas de marcas renomadas ao redor do mundo. O foco do seu negócio é o processamento e distribuição de carne de frango, boi e porco, além de produtos plant-based.
No 4T22, a JBS teve uma redução a/a no EBITDA. A disponibilidade de caixa fechou o mesmo período a 1,6x dívida de curto prazo. A relação Dívida Líquida/EBITDA encerrou o último trimestre do ano passado acima do trimestre anterior, em 2,3x. Devido às dificuldades enfrentadas pela JBS durante o ano passado, a companhia teve uma redução na sua liquidez, embora continue apresentando resiliência nos resultados.
A Copel distribui, transmite e comercializa energia elétrica para diversos estados e conta com 53 usinas próprias (incluindo eólicas, térmicas e hidrelétricas), além de participação em empreendimentos de geração de energia.
Com bons resultados no último trimestre de 2022, impulsionados por G&T (Geração e Transmissão) a companhia apresentou um EBITDA de R$ 754m e uma relação Dívida Líquida/EBITDA de 2,5x, representando um aumento tanto t/t quanto a/a. Devido ao crescimento de geração distribuída, a divisão de geração de energia da Copel não acompanhou o crescimento das outras áreas, mas não colocou em risco o desempenho da empresa.
Índice de Basiléia: O Índice de Basileia determina a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros (captações) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito. Por exemplo, se um banco possui Índice de Basiléia de 20%, significa que, para cada R$ 100,00 emprestados, o banco possui patrimônio de R$ 20. O índice mínimo exigido pelo Banco Central do Brasil é 11%.
Rating: É a nota que emissores recebem das agências de rating pela probabilidade de pagarem seus títulos nas datas pactuadas. Cada agência de risco tem sua classificação, mas a mais alta seria AAA, ou equivalente, e a mais baixa seria D, na qual o emissor não possui condições de honrar seu título no montante e nas condições originais.
Risco de crédito: É quando o mercado cobra pelo risco hipotético de um emissor conseguir “repagar” o que você emprestou na data do vencimento. Por exemplo: o governo brasileiro é considerado o melhor risco de crédito do mercado, e seus títulos negociam a taxa livre de risco (a mais baixa). Porém, existem outros emissores que possuem ótimas classificações de risco de crédito, inclusive apontadas por agências independentes de rating, que emitem seus títulos com um spread sobre os títulos do governo. Na Renda Fixa, quanto melhor for o risco de crédito do emissor, menos ele rende, e vice-versa.
Risco de Mercado: Quando um título é emitido, ele conta com condições adequadas para aquele momento. Se as condições de mercado (economia, juros ou inflação) se alterarem durante a vigência do seu investimento, o valor do seu título poderá ser alterado, e você poderá ter ganhos ou perdas caso venda seu título antes do vencimento.
Duration: Prazo médio ponderado de recebimento dos fluxos de caixa dos papéis. É uma medida de sensibilidade com relação a variação das taxas de juros e preço dos títulos. Quanto maior, mais volatilidade tem o titulo.
Ebitda: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
Spread: Diferença entre a taxa cobrada de uma operação e a taxa de referência (Ex.: NTN-B), com mesma duration.
High Grade: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com bom risco de crédito, ou seja, de baixo risco.
High Yield: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com risco elevado, consequentemente com maior remuneração.
Carry ou Carrego: Ganhos de capital ao carregar o ativo em carteira até a data de vencimento.
ROE (Return on Equity): Retorno sobre o capital é um indicador financeiro percentual que se refere à capacidade de uma empresa em agregar valor à ela mesma utilizando os seus próprios recursos.
Estrutura a termo (ETTJ): É a relação, em dado momento, entre taxas de juros de títulos de renda fixa de mesma qualidade de crédito, mas com diferentes prazos de vencimento.
CRA: Os Certificados de Recebíveis Agrícolas ou Imobiliários (CRA) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor agrícola.
CRI: Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor imobiliário