André Fialho

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Publicado em 10 de Julho às 03:05:56

Carteira Recomendada Renda Fixa Julho 2023

A carteira recomendada de investimento em renda fixa de Julho de 2023 da Genial foi feita para facilitar o processo de escolha dessa classe de ativos, através de uma análise de cenário macroeconômico e prêmios de risco, tanto para títulos públicos, emissão bancária, crédito privado e ETFs.

Renda fixa: Semestre de retornos muito positivos para a Renda Fixa

Os investimentos em Renda Fixa tiveram um ótimo desempenho nas últimas semanas. O IMA-B 5+ (ativos indexados ao IPCA com vencimento acima de 5 anos) registrou uma valorização de 3,26% no mês e 16,28% no primeiro semestre. Da mesma forma, o IRF-M 1+ (títulos pré-fixados com vencimento acima de 1 ano) teve uma valorização de 2,53% no mês e 12,28% no primeiro semestre. Além disso, houve a divulgação de dados que demonstram resiliência no mercado de trabalho e arrefecimento dos núcleos de inflação. Como resultado, o miolo da curva local fechou 90 bps.

No Brasil, alguns dos principais acontecimentos macroeconômicos foram a aprovação na Câmara do Deputados a Reforma Tributária, a manutenção da taxa Selic em 13,75% pelo Copom, aprovação do Arcabouço Fiscal pelo Senado e a manutenção da meta de inflação em 3% pelo CMN. Ademais, devido a melhoria no ambiente fiscal, a S&P Global melhorou a nota soberana do Brasil de BB- estável para BB- positiva. Nos EUA, o FOMC optou por manter as taxas básicas no patamar de 5,00% -5,25% e adotou uma postura hawkish ao enfatizar a possível retomada do ciclo de aperto monetário.

Cenário local: Manutenção da meta de inflação abre caminho para corte de juros

A decisão de manutenção da Selic em 13,75% foi acompanhado de um comunicado mais duro do que o esperado pelo mercado por parte do Banco Central, e em um primeiro momento, os cortes projetados para agosto pareciam descartados.

Porém, na ata da reunião, que foi divulgada na semana seguinte a decisão, a visão de alguns membros já demonstra a possibilidade do inicio do ciclo de afrouxamento monetário começando na reunião que ocorrerá em Agosto.

A inflação corrente, que observamos através tanto do IPCA, IGPMs e IPAs, quanto as inflações futuras, observadas através da inflação implícita e dos números do boletim Focus deram segurança aos membros do Copom de que a politica monetária mais restritiva está conseguindo fazer com que a inflação convirja para a meta, apesar de alguns componentes de inflação estarem ainda bastante distante do aceitável.

Outro fato relevante para esse cenário de Selic mais baixo a frente foi o CMN decidindo manter a meta para a inflação em 3,0% ao ano até 2026 e, ao mesmo tempo, alterou o regime de metas para a inflação no país a partir de 2025, abandonando a meta no ano-calendário e passando a adotar uma meta contínua.

Essas decisões tomadas pelo CMN reforçam as expectativas de que o ciclo de cortes da Selic se inicie na reunião de agosto, com a maior probabilidade sendo de um corte de 0,25 p.p..

Por fim, o arcabouço fiscal acabou sendo aprovado no senado e deverá voltar para aprovação na câmara, devido a mudanças que foram feitas. Entre elas, foi a retirada do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) e das despesas com ciência, tecnologia e inovação do teto de gastos, que apesar de não ser a melhor politica de gastos possivel, traz alguma previsibilidade com relação ao endividamento do país.

Cenário Externo: O ciclo de altas de juro do FED e ECB não acabaram

Nos EUA, a incerteza sobre a defasagem dos juros aliada à persistência do crescimento e da inflação induziram o Federal Reserve (Fed) a pausar o ciclo de alta, mas isso ainda não parece significar o fim do ciclo de juros.

Tanto Jerome Powell, presidente do Fed, quanto a ata do FOMC, deixaram claro que pesou em favor da decisão a necessidade de mais tempo para avaliar a evolução da conjuntura antes de decisões adicionais a respeito da política monetária.

Porém, o mercado vê como mais provável uma elevação de juros em julho, com nova pausa. Em novembro, o Fed pode voltar a avaliar uma nova alta. Neste contexto, aumentaram os riscos de um ponto mais terminal mais elevado, assim como a chance de postergação de cortes, hoje precificados a partir de maio de 2024.

Na Europa, o BCE elevou a taxa de juros em 0,25%, para 4%, e foi enfático sobre a próxima decisão de continuar com o ciclo de aperto monetário para conter a inflação, que vem desacelerando abaixo do esperado.

Já na China, observamos uma recuperação mais lenta da economia e abaixo do esperado pelo mercado, segundo dados divulgados em junho. O CPI (Inflação ao Consumidor) surpreendeu positivamente, recuando 0,2% a/a e atingindo o menor nível em dois anos. Ademais, existe uma preocupação com o cenário adverso global, que podem impactar negativamente as exportações do país.

Análise das curvas de juros: Juros futuros mostram Selic em 9% no final de 2024

As taxas de juros em toda a extensão da curva futura fecharam em queda com relação ao mês anterior, com destaque para os DIs e Bs longos, que caíram mais de 100 e 30bps respectivamente. Se comparado ao ponto máximo do ano, no momento pré arcabouço fiscal, já são mais de 300 bps de queda na taxa pré de 10 anos, saindo de 13,5% a.a. para 10,5% a.a.

A inflação implícita, que foi a grande responsável por esse fechamento de curva, continua na sua toada de queda, com a implícita para 1 ano abaixo dos 4%, e as longas mais próximas dos 5%, representando mais de 100bps de queda com relação a 3 meses atrás.

Dada essa queda nos juros nominais e reais, os retornos dos ativos de renda fixa no ano estão bastante positivos, com destaque do semestre indo para os ativos de vencimento mais longo (IMAB5+, de indexados ao IPCA com vencimento acima de 5 anos e IRFM1+, de títulos pré fixados com vencimento acima de 5 anos).

Já com relação aos movimentos na curva futura, é possível observar que o mercado já espera quase 400bps de corte na taxa Selic até o fim de 2024, o que levaria a taxa básica de juros a 9%, cenário na nossa visão com uma tendência mais otimista.

Investimento em renda fixa: Aumentamos a exposição à títulos indexados a inflação de vencimento intermediário, com redução do CDI curto

Entrando agora no processo de alocação, destacamos a importância da manutenção de uma carteira diversificada entre setores e perfil de risco.

A alocação em ativos indexados ao CDI segue tendo relevância para um portfolio equilibrado. Além disso, a liquidez da classe facilita rotação para a bolsa por exemplo, movimento visto fortemente nestes últimos meses.

Porém, com a projeção de cortes na Selic se fortalecendo ainda esse ano, e talvez no inicio do segundo semestre, a atratividade se reduziu marginalmente, abrindo espaço para maior alocação nos títulos indexados a inflação.

Aumentamos a exposição aos indexados ao IPCA de vencimento intermediário, pois o movimento de fechamento dos prefixados intermediários/longos foi muito maior do que do juro real, e a forte queda da inflação implícita reduz a atratividade da alocação nos prefixados, reduzindo sua expectativa de retorno.

Nossa visão é de que o juro real das NTN-Bs deve se reduzir gerando ganho na marcação a mercado, apesar dos ganhos do carrego de IPCA serem menores nos próximos meses.

Recomendações renda fixa julho 2023: títulos pós-fixados, prefixados e indexados à inflação

Indexados ao CDI

Os títulos de taxa pós-fixados ainda são atraentes, pois o carrego está bem acima da inflação, mesmo com o Banco Central podendo levar a Selic abaixo de 10% até o final de 2024. Porém, reduzimos a exposição acima da estrutural para os ativos de vencimento mais curto desta classe da renda fixa.

Títulos pré-fixados

Com as taxas pré caindo consistentemente nos últimos meses, a atratividade dessa classe se reduziu se comparado as NTN-Bs. Nas ultimas alocações, adicionamos os prefixados na carteira com vencimento intermediário e longo, com taxas acima de 13%, o que já gerou um ganho relevante na marcação a mercado.

Dado nosso cenário da equipe de macroeconomia para inflação é um pouco mais pessimista que a média de mercado, os títulos pré fixados de vencimento mais curto estão menos atrativos que há meses atrás e não recomendamos a entrada nesse tipo de ativo no momento.

Indexados a inflação

Aumentamos nossa exposição em indexados a inflação de vencimento intermediário, pois ainda consideramos o juro real que obtemos nas NTN-Bs ainda atrativo, mesmo com a queda de mais de 100bps em relação ao período mais critico que passamos este ano. Observando o movimento dos leilões efetuados pelo Tesouro Nacional, a demanda pelas Bs segue elevada, com o ultimo leilão saindo com quase toda a oferta capturada, com taxas em média de IPCA + 5,5%.

Investimento em renda fixa para julho 2023

Efetuamos três alterações nas carteiras. Retiramos o CDB Pré Fixado do NBC Bank, a LCA do Banco ABC e trocamos a debenture de Copel pela debenture de Eneva. Ambas as mudanças foram táticas, e as trocas não representam uma necessidade de venda dos ativos anteriores da carteira.

*taxas indicativas referentes ao dia 07 de julho, podendo sofrer variações.

Melhores investimentos em renda fixa: análise de ativos

Veja abaixo a análise dos ativos para investimento em renda fixa:

B5P211

O B5P211 é um ETF criado pelo Itaú, que replica o índice IMA-B5 índice calculado pela Anbima, formado por uma carteira teórica composta por títulos públicos indexados à inflação, as NTN-Bs, com prazos inferiores a cinco anos de vencimento e controle de prazo médio de repactuação da carteira de, no mínimo, dois anos.

O IMA-B 5 tem uma metodologia de rebalanceamento dos títulos que torna esse índice um investimento muito atrativo. Em seu funcionamento, é como se os recursos vindos de vencimentos ou pagamentos de juros fossem automaticamente reinvestidos numa taxa mais elevada, em um título público indexado ao IPCA com prazo de até 5 anos.

Consequentemente, o comportamento do prazo médio (duration) do IMA-B 5 é muito mais previsível. Já no caso do IMA-B, o comportamento é mais difícil de se prever e tem correlação muito alta com os movimentos nas curvas de juros, tanto de DI futuro, quanto dos preços das NTN-Bs.

Saiba mais sobre esse índice aqui.

LFTS11

O ETF LFTS11 (índice Teva Tesouro Selic) é um fundo de índice listado na B3 que acompanha a performance de títulos públicos pós fixados ligados a Selic, o tesouro Selic, da plataforma do tesouro direto.

O índice é composto por títulos Tesouro Selic com prazo acima de 2 anos, que possuem performance aderente ao CDI. 

grande vantagem deste ETF é o imposto de renda de no máximo 15%, independente do prazo que o titulo for mantido em carteira, o que o torna um excelente ativo para deixar o “caixa” rentabilizando.

Os custos também são bastante vantajosos, 0,19% a.a., mais baixo que o custo da custódia do Tesouro Direto, que é de 0,20% a.a. para investimentos acima de 10 mil reais.

Eneva (ENEV3)

A Eneva atua nos setores de exploração e produção de gás natural, geração de energia e soluções em energia no mercado de gás natural e no mercado livre de energia. Seu modelo de negócios integra os processos de exploração do gás natural até a geração de energia termoelétrica, bem como a comercialização de gás e energia.

Atualmente a companhia possui parque operacional com 10 usinas termelétricas (8 a gás e 2 a carvão) e o complexo Solar Futura I, que iniciou sua operação comercial em maio/2023, totalizando uma capacidade de geração de 5,9 GW. Até 2026, deve atingir capacidade de 6,3 GW com a entrada em operação de 3 novas usinas termelétricas, além da possibilidade de expandir com as produções dos parques solares Futura II e Futura III (podem somar 2,3 GW de capacidade instalada ao projeto).

A Eneva reportou EBITDA de R$ 1,2 bilhão no 1T23, contra R$ 474 milhões no 1T23. Já a dívida líquida foi de R$ 17,1 bilhões no 1T23, o que representou um aumento de 3% vs. 4T22, impulsionado principalmente pelos efeitos não caixa de juros acumulados e atualização monetária sobre a dívida bruta, o que mais do que compensou a geração de caixa (após investimentos) de R$ 186 milhões.

Essa debênture tem rating AAA pela Fitch.

Glossário

Índice de Basiléia: O Índice de Basileia determina a relação entre o capital próprio da instituição e o capital de terceiros (captações) que será exposto a risco por meio da carteira de crédito. Por exemplo, se um banco possui Índice de Basiléia de 20%, significa que, para cada R$ 100,00 emprestados, o banco possui patrimônio de R$ 20. O índice mínimo exigido pelo Banco Central do Brasil é 11%.

Rating: É a nota que emissores recebem das agências de rating pela probabilidade de pagarem seus títulos nas datas pactuadas. Cada agência de risco tem sua classificação, mas a mais alta seria AAA, ou equivalente, e a mais baixa seria D, na qual o emissor não possui condições de honrar seu título no montante e nas condições originais.

Risco de crédito: É quando o mercado cobra pelo risco hipotético de um emissor conseguir “repagar” o que você emprestou na data do vencimento. Por exemplo: o governo brasileiro é considerado o melhor risco de crédito do mercado, e seus títulos negociam a taxa livre de risco (a mais baixa). Porém, existem outros emissores que possuem ótimas classificações de risco de crédito, inclusive apontadas por agências independentes de rating, que emitem seus títulos com um spread sobre os títulos do governo. Na Renda Fixa, quanto melhor for o risco de crédito do emissor, menos ele rende, e vice-versa.

Risco de Mercado: Quando um título é emitido, ele conta com condições adequadas para aquele momento. Se as condições de mercado (economia, juros ou inflação) se alterarem durante a vigência do seu investimento, o valor do seu título poderá ser alterado, e você poderá ter ganhos ou perdas caso venda seu título antes do vencimento.

Duration: Prazo médio ponderado de recebimento dos fluxos de caixa dos papéis. É uma medida de sensibilidade com relação a variação das taxas de juros e preço dos títulos. Quanto maior, mais volatilidade tem o titulo.

Ebitda: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

Spread: Diferença entre a taxa cobrada de uma operação e a taxa de referência (Ex.: NTN-B), com mesma duration.

High Grade: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com bom risco de crédito, ou seja, de baixo risco.

High Yield: Ativos de renda fixa atrelados a devedores com risco elevado, consequentemente com maior remuneração.

Carry ou Carrego: Ganhos de capital ao carregar o ativo em carteira até a data de vencimento.

ROE (Return on Equity):  Retorno sobre o capital é um indicador financeiro percentual que se refere à capacidade de uma empresa em agregar valor à ela mesma utilizando os seus próprios recursos.

Estrutura a termo (ETTJ): É a relação, em dado momento, entre taxas de juros de títulos de renda fixa de mesma qualidade de crédito, mas com diferentes prazos de vencimento.

CRA: Os Certificados de Recebíveis Agrícolas ou Imobiliários (CRA) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor agrícola.

CRI: Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) são ativos de renda fixa emitidos por empresas securitizadoras com o objetivo de financiar atividades ligadas ao setor imobiliário

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