Resumo
A variante Ômicron parece ter ultrapassado o pico de contaminações. Nas últimas duas semanas, temos visto um arrefecimento da pandemia, com redução do número de novos casos, óbitos e internações. Diante do cenário atual e com a experiência observada nos demais países, projetamos que a nova onda deve retornar ao nível pré Ômicron na primeira metade de março.
Atividade econômica surpreende positivamente no final de 2021, mas política monetária contracionista provocará desaceleração da economia em 2022. Mantivemos nossa projeção de crescimento em 0,6% para esse ano, sendo beneficiado pela produção agropecuária, normalização de atividades no setor de serviços ao nível pré pandemia e pelos investimentos públicos e privados.
Projetamos a taxa de inflação em 5,5% ao final de 2022. Processo de desinflação será puxado pelos preços administrados (combustíveis e energia elétrica). Apesar disso, riscos altistas ao cenário base de inflação seguem no radar.
Resultado fiscal em 2021 foi muito positivo, porém propostas para desoneração dos combustíveis elevam riscos fiscais. Resultados em 2021 foram bons e acima das expectativas, porém desafios fiscais permanecem. A alteração no teto dos gastos e a pressão por aumento de gastos e/ou desoneração de tributos em ano eleitoral mantém elevado ambiente de incerteza sobre o rumo fiscal do país.
Com mercado de trabalho apertado e inflação em patamar recorde, sinais de superaquecimento da economia americana aumentam a probabilidade de ajuste de política monetária maior que o antecipado. Indicadores de atividade seguem surpreendendo positivamente o mercado mesmo diante do recrudescimento da pandemia. A combinação da resiliência da economia americana e o desequilíbrio no mercado de trabalho aumenta o risco da concretização de uma espiral de preços e salários.
Brasil – Pandemia
Em janeiro, com a disseminação da variante Ômicron, o número de novos casos reverteu a tendência de queda, aumentando significativamente, chegando a ultrapassar os 180 mil novos casos por dia. Entretanto, essa trajetória de crescimento explosivo parece ter ficado para trás: o número de novos casos vem caindo de forma acelerada nas últimas semanas.
Em média, os países demoraram 30 dias para atingir o pico do número de novos casos por Covid-19, e o Brasil ficou dentro dessa estimativa, apresentando uma tendência similar às economias avançadas. Analisando a trajetória dos demais países, projetamos que o número de novos casos retorne ao patamar pré Ômicron nas primeiras semanas de março.
Em relação ao número de óbitos, em um primeiro momento, não houve um aumento na mesma magnitude vista no número de novos casos. Porém, ao longo do mês de janeiro, vimos uma expressiva elevação do número de óbitos, chegando a atingir 900 mortes por dia. Vale ressaltar que a maioria dos óbitos registrados são de indivíduos sem esquema vacinal completo.
Assim como no número de casos, nos últimos dias vemos uma desaceleração do número de mortes, internações em UTI’s e leitos clínicos. Ou seja, diante dos atuais indicadores sanitários, e com a experiência observada nos demais países, o pior momento da variante Ômicron parece já ter sido superado.
Brasil – Atividade Econômica
Os dados de atividade econômica no último bimestre de 2021 surpreenderam positivamente o mercado, com destaque para o desempenho do setor de serviços, que foi beneficiado pela trajetória de arrefecimento da pandemia ao longo do segundo semestre de 2021. Além disso, o setor industrial também apresentou um desempenho superior ao projetado pelo consenso de mercado, devido à recuperação da produção de veículos em um contexto de gradual melhora nos problemas presentes nas cadeias globais de produção.
Avaliamos que a Ômicron deve ter impacto transitório na atividade econômica e concentrado no primeiro bimestre de 2022. Os principais setores que deverão ser afetados serão o setor de serviços, afetado pela redução da mobilidade, e a indústria, com intensificação dos desarranjos nas cadeias de produção. Entretanto, acreditamos que o impacto será menor que o observado nas ondas anteriores devido à proteção oferecida pela ampla vacinação.
Para 2022, mantivemos nossa projeção de crescimento do PIB em 0,6%, sendo beneficiado pela produção agropecuária voltada para exportação, normalização de segmentos no setor de serviços e pelos investimentos, principalmente públicos. Com a elevação na arrecadação, entes subnacionais estão com elevado saldo em caixa que deve ser direcionado, em parte, para investimentos em um cenário de ano eleitoral. Além disso, apesar da política monetária avançar em território contracionista, vemos apetite por investimentos em alguns setores como: Energia, Saneamento, Logística e Óleo e Gás. Por fim, em um cenário de recuperação global pós-covid, a manutenção dos preços das commodities impõe perspectiva positiva para as exportações brasileiras, as quais tendem a beneficiar o setor de agropecuária, tornando-se um importante driver de crescimento no ano.
Com relação ao setor de serviços, vemos ainda espaço para normalização de determinadas atividades. Transportes, serviços públicos e outros serviços correspondem por aproximadamente 30% do PIB. Outros serviços está 3,8% abaixo do nível pré pandemia, serviços públicos está 3,1% e os transportes, apesar de estarem acima (1,8%), devem ser beneficiados pela normalização do setor aéreo.
Com a continuidade do processo de recuperação do setor de serviços, o mercado de trabalho deve continuar na trajetória de recuperação, visto que este setor é intensivo em mão de obra. Os indicadores de emprego vêm surpreendendo positivamente nos últimos meses, com queda expressiva da taxa de desemprego e substancial geração de postos de trabalho formais em 2021. Para 2022, a recuperação do segmento de serviços que ainda se encontram abaixo do nível pré-pandemia têm impacto de 0,5 p.p. no crescimento do PIB, devido ao emprego intensivo de mão de obra, acreditamos que este será um fator fundamental para a manutenção da trajetória de queda na taxa de desemprego. Entretanto, a perspectiva de menor crescimento dos demais setores e a recomposição da força de trabalho deverão atuar no sentido oposto, limitando a trajetória de queda na taxa de desocupação.
Por outro lado, teremos um cenário de política monetária em patamar extremamente contracionista, com taxas de juros reais muito altas próximas de 7% a/a, impactando diretamente o consumo, via redução do crédito e maior endividamento das famílias, e pela piora da perspectiva de atividade econômica em um cenário de elevado desemprego.
Brasil – Inflação
O cenário para inflação brasileira permanece desafiador: o IPCA está em 10,38%, em doze meses, com o núcleo rodando em 7,9%. Além disso, as expectativas para 2022, após um breve período de estabilidade, continuam acelerando. Já as de 2023 estão levemente acima da meta.
No ano de 2021, grande parte da aceleração inflacionária decorreu do aumento dos preços administrados, em especial energia elétrica, diante do cenário hidrológico negativo, e dos preços dos combustíveis. Esse fator foi resultado do aumento de 50% do preço do barril de petróleo, potencializado por uma desvalorização cambial de 7% que fez com que a commodity atingisse o preço recorde em reais. Além disso, ainda houve forte pressão inflacionária vinda dos bens industrias, resultado da aceleração do preço das commodities em contexto de recuperação global e dos gargalos nas cadeias de produção que geraram escassez de insumos básicos de produção.
Soma-se a isso as incertezas em torno do arcabouço fiscal brasileiro diante das pressões por maiores gastos em ano eleitoral. A perda de credibilidade da principal âncora fiscal (Teto de Gastos) e dúvidas sobre a trajetória da dívida, exacerbaram os movimentos altistas nas expectativas de inflação do mercado.
Para 2022, projetamos que o IPCA encerrará o ano em 5,5%, diante da desaceleração que deverá ser observada ao longo do segundo semestre.
Por um lado, com a melhora no cenário hídrico que permitirá a redução da bandeira tarifária de crise hídrica para verde em maio, o arrefecimento do preço da eletricidade gerará impacto direto de -0,8 p.p. no IPCA. Além disso, a Selic em território extremamente contracionista limitará o consumo, trazendo alívio sobre os componentes menos voláteis do IPCA, e também atuará como importante âncora para o câmbio em um ano eleitoral marcado pela forte polarização.
Destacamos que a revisão da nossa projeção de IPCA para 2022 leva em consideração a mudança de bandeira tarifária de energia (bandeira verde) devido à melhora do cenário hídrico com impacto substancial na inflação ainda no primeiro semestre.
Entretanto, a desaceleração se mostra bastante desafiadora, com riscos consideráveis no radar. Em primeiro lugar, a inflação de alimentos deve se manter pressionada diante das recentes quebras de safra de milho e de soja em um cenário de forte demanda global pós-covid. Já os transportes devem ser impactados pelos aumentos nos preços de commodities energéticas para o maior nível desde 2014 e pelos reajustes tarifários de transporte público. Ademais, a variante Ômicron impõe risco à desaceleração da inflação dos bens industriais, através da intensificação dos gargalos nas cadeias produtivas, sobretudo na Ásia. Além disso, as expectativas de inflação seguem pressionadas por constantes ameaças ao arcabouço fiscal (PEC dos Combustíveis) que adicionam risco à trajetória da dívida brasileira. Por fim, a inflação inercial derivada do elevado grau de indexação da economia adiciona mais um fator de risco à trajetória de queda de preços.
Brasil – Política Monetária
A politica monetária já está em território contracionista e avançará ainda mais: nossa projeção é que a Selic alcance 12,5% em 2022. A taxa de juros real está acima de 6%, em patamar similar ao observado nos anos de 2015-16.
Com uma defasagem de 2 a 3 trimestres, a política monetária terá impactos significativos sobre a atividade econômica. Um primeiro sinal que já vem sendo observado é a redução nas concessões de crédito, com o encarecimento das linhas de financiamento, que perderão ainda mais potência ao longo do ano. Além disso, dívidas/passivos de famílias e empresas devem ser afetados. Será importante monitorar a taxa de inadimplência ao longo do ano, que permanece em patamares historicamente baixos.
Diante das reformas econômicas ocorridas nos últimos anos no mercado de crédito, que reduziram as taxas de juros subsidiadas com a diminuição do BNDES na economia, a política monetária ganhou potência. Ou seja, uma mesma taxa de juros, hoje, teria um impacto maior na atividade que em anos anteriores. Isto é, a elasticidade entre juros e atividade aumentou.
Nesse sentido, apesar de vermos alguns drivers para o crescimento no ano de 2022, a política monetária em território contracionista limitará muito o avanço da atividade econômica. Índices de condições financeiras já estão em patamares historicamente muito contracionistas.
Selic
Revisamos nossa projeção para Selic terminal em 12,5%, com fim de ciclo em junho. Ou seja, projetamos mais três aumentos consecutivos com magnitudes decrescentes (1,0 p.p., 0,5 p.p. e 0,25 p.p.). Avaliamos que a taxa Selic pode ser reduzida conforme a taxa de inflação for desacelerando (2º semestre de 2022), caso contrário poderemos ter um juro real extremamente elevado.
Riscos ao cenário base:
1)Elevação do risco fiscal com ampliação de despesas e/ou desoneração de tributos em ano eleitoral.
2)Desancoragem das expectativas de inflação, dificultando a condução da política monetária.
3)Aumento da taxa de juros básica americana em ritmo acima do esperado.
4)Riscos associados ao cenário base de inflação como: a não reversão no preço das commodities em um cenário de recuperação global que comprometa a trajetória de arrefecimento dos preços.
5)Desvalorização cambial excessiva em ano eleitoral com aumento das incertezas políticas em um ambiente de polarização.
Brasil – Fiscal
Os resultados fiscais de 2021 foram positivos e acima das expectativas. Encerramos o ano passado com o primeiro superávit primário desde 2013 e com uma forte redução da relação dívida/PIB de 88,6% para 80,3%. Além disso, as expectativas para o resultado primário de 2022 e 2023 melhoraram significativamente em comparação as projeções no início de 2021.
Entretanto, é importante entender os determinantes desse resultado. O superávit de 2021 foi uma combinação de arrecadação elevada com controle das despesas primárias. O significativo aumento de arrecadação decorreu do forte crescimento econômico, mas principalmente pelo aumento dos preços na economia. Além disso, tivemos participação determinante dos estados e municípios para o resultado, em especial a significativa arrecadação de ICMS proveniente dos combustíveis. Combinado a isso, os entes subnacionais conseguiram manter o congelamento de salário dos servidores públicos e tiveram beneficio de receitas extraordinárias, como a concessão da CEDAE no Rio de Janeiro.
Vale destacar também que apesar da melhora no resultado primário, a conta com juros vem piorando de forma considerável. Com o aumento da taxa básica de juros (Selic) e das taxas longas, o custo médio para captação da dívida já está em trajetória de crescimento. Com a provável reversão do primário para território negativo, a conta com juros pressionará o resultado nominal dos próximos anos. Com isso, a relação dívida/PIB apresentará reversão e aumentará nos próximos anos, em uma combinação de baixo crescimento, permanência de déficits primários e elevado juro real.
Além disso, temos propostas para desonerar combustíveis e um impasse sobre reajuste de servidores públicos que adicionaram risco ao quadro fiscal. O resultado final dessas propostas será um importante sinalizador para o arcabouço fiscal a ser adotado.
Brasil – Dívida Pública
Projetamos dívida bruta de 85,5% do PIB em 2022, o que representa aumento de 5,2 p.p. em relação ao ano de 2021.
O superávit ocorrido em 2021 não se repetirá esse ano. Projetamos déficit de 1% do PIB em 2022. O aumento significativo da dívida será impulsionado pela relevante diferença entre a taxa de juros real e o crescimento da economia.
Nosso cenário base prevê início dos superávits primários em 2025.
A partir de 2022, a dívida pública crescerá continuamente até convergir para o patamar de 92,4% em 2030.
Um ponto positivo para o cenário da dívida pública é o elevado colchão de liquidez em posse do Tesouro Nacional, que lhe permite maior flexibilidade na gestão da dívida e não o obriga a captar recursos com taxas de mercado extremamente elevadas.
Nosso cenário base para dívida pública considera a manutenção do atual regime fiscal. Caso haja aprovação de medidas no congresso que visem fragilizar o regime fiscal, a trajetória piorará significativamente.
EUA – Atividade Econômica
Os indicadores de atividade econômica americanos seguem surpreendendo positivamente o mercado, mesmo diante do recrudescimento da pandemia que teve seu início no último bimestre de 2021.
O PIB americano avançou, a uma taxa anualizada, 6,9% t/t, surpreendendo o mercado que tinha como expectativa expansão de 5,5% t/t. Este resultado representa uma significativa aceleração em relação ao número do terceiro trimestre (2,3% t/t), de modo que o PIB americano avançou 5,7% em 2021, a maior leitura desde 1984. O forte resultado contrastou com as leituras negativas dos indicadores pandêmicos, visto que observamos nos últimos dois meses do ano sucessivos recordes de casos, sinalizando a resiliência da economia americana diante dos fortes estímulos fiscais adotados no início da pandemia.
Na mesma direção, indicadores setoriais do varejo e da indústria iniciam o ano com resultados significativamente melhores que os projetados pelo consenso de mercado. O primeiro teve avanço de 3,8% m/m, ante expectativa de 2% m/m. Já o segundo, avançou 1,4% m/m (expec. 0,4% m/m). Ambos apontam para impactos limitados da pandemia no ritmo de expansão dos setores.
Os indicadores de mercado de trabalho também dão indícios de superaquecimento da economia. Por um lado, vemos o descasamento entre demanda e oferta no mercado de trabalho. A razão entre número de desempregados e vagas de emprego privadas abertas se encontra no menor nível da série histórica, com aproximadamente 0,58 desempregados por vagas abertas. Esse fato aumenta substancialmente o risco da economia entrar em uma espiral entre salários e preços.
Diante da resiliência da economia americana, acreditamos que avançará 4% em 2022, acima do produto potencial de, aproximadamente, 2%.
EUA – Inflação
Leituras de inflação se encontram nos maiores patamares das últimas décadas. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) acumulou, em doze meses, alta de 7,5%, o maior nível desde 1982. Na mesma direção, o Índice de Preços de Gastos com Consumo (PCE) avançou 5,8%, diante das altas de 29,9% da energia e 5,7% de alimentos, em 12 meses.
Embora boa parte da inflação seja explicada por componentes mais voláteis, os núcleos (que excluem alimentos e energia), também se encontram substancialmente acima da média histórica. O núcleo do CPI acumulou, em 12 meses, alta de 6,0%, a maior variação em quase quatro décadas. Já o núcleo do PCE ficou em 4,9%. Ambas medidas se encontram significativamente acima da meta de estabilidade de preços de longo prazo do Fed de 2%.
Nesse contexto, a política monetária norte-americana segue bastante acomodatícia com a taxa básica de juros (Fed Funds) em patamar próximo a zero, de modo que, a taxa de juros real ex-post está no patamar mais negativo (-4,5%) de toda a série histórica. Nossa avaliação é que a postura passiva do Fed, no que diz respeito à persistência inflacionária, eleva o risco de uma eventual necessidade de ajuste monetário mais rápido que o antecipado pelo mercado, com substanciais efeitos na atividade econômica global.
Como forma de conter o persistente processo inflacionário, acreditamos que o Banco Central americano anunciará ao longo de 2022 sete aumentos de 0,25 p.p. na taxa básica de juros, de modo que a taxa deve encerrar o ano em 2%. Além disso, há a necessidade de reduzir o balanço de ativos em uma velocidade superior à observada entre 2017-2019. Neste contexto, acreditamos que a redução do balanço de ativos do Fed deve ser iniciado no segundo semestre de 2022, em um ritmo superior a US$ 50 bilhões mensais, composto majoritariamente de títulos lastreados à hipoteca.
Cenário Econômico – Projeções
Diante dos dados melhores que o esperado para atividade no último bimestre de 2021, projetamos crescimento de 4,7% em 2021.
Para 2022, apesar dos vetores positivos no âmbito dos serviços, agropecuária e investimentos, projetamos crescimento de 0,6%, diante de uma política monetária muito contracionista.
Diante das surpresas positivas no mercado de trabalho, reduzimos a projeção da taxa de desemprego em 2022 de 11% para 10,6%.
Revisamos o IPCA de 2022 de 5,8% para 5,5%. Além disso, elevamos a taxa Selic (fim de período) para 12,5% em 2022, reduzindo para 8,0% em 2023.
Diante da apreciação cambial recente, revisamos nossa projeção de câmbio em 2022 de R$5,70 para R$5,50. Apesar da significativa valorização do real, vemos uma taxa de câmbio mais volátil durante o ano eleitoral associado a elevação das incertezas, em especial a partir do meio do ano.
Brasil – Potenciais Riscos
Risco Fiscal (risco alto)
O cenário fiscal brasileiro apresentou significativa melhora em 2021, diante do superávit primário de 0,75% do PIB, ante déficit de 9,41% do PIB em 2020. Este foi o primeiro superávit desde 2013 e decorreu da melhora dos resultados, principalmente, dos governos regionais que tiveram superávit de R$ 97,7 bilhões. Com isso, a dívida pública recuou para 80,3% do PIB, acumulando queda de 8,3 p.p. no ano.
Entretanto, a aprovação da PEC dos Precatórios, que foi responsável por aumentar os gastos do governo em ano eleitoral por meio da alteração da regra que corrigia o Teto de Gastos e do parcelamento de despesas obrigatórias (precatórios) ao longo de anos, fez com que o risco fiscal aumentasse consideravelmente. A consequência disso foi um forte aumento das expectativas de inflação e o avanço da política monetária em território significativamente contracionista.
Nesse cenário de elevada incerteza, devido à perda de credibilidade do principal instrumento de disciplina fiscal (Teto de Gastos), as discussões de novas medidas que visam aumentar gastos sociais em ano eleitoral (PEC dos Combustíveis, reajuste salarial de servidores públicos, subsídios ao transporte público e desoneração de tributos) pioram substancialmente a percepção dos agentes em torno do arcabouço fiscal que já se encontra bastante debilitado.
A dificuldade da classe política de compreender a importância da manutenção da disciplina fiscal e de preservar o arcabouço fiscal brasileiro impõe um viés negativo para o cenário base. Os ganhos de curto prazo com redução inflacionária imediata devido à redução de preços, em nossa avaliação, tendem a se deteriorar com o aumento das incertezas em torno da credibilidade da dívida pública brasileira, de modo que, no médio/longo prazo o efeito líquido na inflação é negativo por conta da desvalorização cambial associada ao aumento dos prêmios de risco e da desancoragem das expectativas de inflação.
Recrudescimento da pandemia de Covid-19 (risco baixo)
No mês de janeiro, vimos uma forte aceleração no número de novos casos, diante do surgimento da variante Ômicron. Entretanto, o número de óbitos e de hospitalizações, apesar de apresentarem crescimento considerável, não aumentaram na mesma magnitude do esperado diante da relação entre casos/óbitos das ondas anteriores. Seja pelo fato de a população brasileira apresentar elevada cobertura vacinal e/ou pela variante propriamente dita ser mais branda, o contexto visto com a Ômicron foi de aumento exponencial de casos, em sua grande maioria com sintomas leves, e com os óbitos/ internações se concentrando em indivíduos sem o regime vacinal completo.
Vemos uma tendência clara de desaceleração da pandemia no país, com o número de casos caindo rapidamente (cerca de 3% ao dia), assim como redução contínua no número de óbitos e internações. Diante desse contexto, em que a grande parcela da população já foi vacinada com duas doses e os principais grupos de risco já se imunizaram com as três doses, além do fato de uma parcela significativa da população já ter sido contaminada pelo vírus, é provável que estejamos nos encaminhando para o final da pandemia. Não é possível afirmar que não teremos novas variantes, porém, de acordo com diversos cientistas e pesquisadores da área, a tendência natural do vírus parece ser de se tornar mais transmissível e menos letal. Nossa avaliação é que o Corona vírus continuará na sociedade como uma doença endêmica pelos próximos anos. Diante disso, não colocamos no cenário base uma piora no quadro sanitário brasileiro.
Desancoragem das expectativas de inflação (risco moderado)
As expectativas para inflação de 2022, após um breve período de estabilidade, voltam a apresentar elevação, já tendo ultrapassado o teto da meta para o ano. Além disso, as expectativas de inflação para 2023 já estão sendo impactadas, encontrando-se levemente acima da meta (3,25%).
Nossa avaliação é que há um grau elevado de risco sobre a perda das expectativas de inflação por parte do Banco Central, afetando negativamente a condução da política monetária.
A possível reversão do cenário hídrico impõe risco de que a redução da bandeira tarifária seja menor que o contemplado pelo cenário. Avaliamos que em caso de adoção da bandeira vermelha 1, o impacto seria de 0,5 p.p. de queda da inflação (+0,3 p.p. no nosso cenário), já a adoção da bandeira amarela teria impacto de 0,7 p.p. (+0,1 p.p. no nosso cenário).
O aumento da tensão geopolítica entre a Rússia e Ucrânia, e os potenciais impactos de sanções econômicas potencializam o risco de que os preços das commodities, sobretudo energéticas, mantenham a trajetória de aceleração, dificultando a reversão dos preços de bens administrados.
Crise Hídrica (risco baixo)
O Brasil, em 2021, passou pela maior crise hídrica dos últimos 91 anos. Entretanto, com a substancial melhora dos reservatórios no país a partir do mês de outubro, com recorde no volume de chuvas, contribuindo para a forte recuperação dos valores de armazenamento, hoje, eles se encontram no maior patamar para o mês de fevereiro dos últimos anos. Os reservatórios do sudeste, os principais do país, estão em 53,5% do total, o dobro do observado no mesmo período do ano passado.
Nesse contexto, nossa avaliação é que o risco de racionamento de energia ao longo de 2022 é nulo. O cenário hídrico melhorou rapidamente e vemos condições para reduções significativas nas bandeiras tarifarias nos próximos meses. Em maio, devemos observar a adoção da bandeira verde, com impacto de -0,8 p.p. na inflação do mês.
Risco político/eleitoral (risco moderado)
As pesquisas eleitorais seguem apontando para a dificuldade da consolidação de um candidato de terceira via que consiga competir com as campanhas dos dois principais candidatos. Nesse contexto, nossa avaliação é que o ano será marcado por um cenário eleitoral para presidente bastante polarizado, que tende a adicionar muita volatilidade ao mercado.
Acreditamos que nesse cenário o dólar deverá apresentar forte desvalorização ao nos aproximarmos do período eleitoral. Nossas projeções indicam que o câmbio deve fechar o ano em R$ 5,50/US$. Entretanto, a potencial radicalização dos discursos dos principais candidatos gera um viés altista para nossa projeção.
Normalização da política monetária global em ritmo maior que o esperado (risco alto)
A inflação segue avançando nas principais economias globais, alcançando os níveis mais elevados das últimas décadas. Em particular, os EUA se encontram em uma situação bastante desafiadora, diante do substancial aumento no balanço de ativos do Fed e de uma taxa de juros excessivamente baixa se comparada ao atual nível inflacionário.
Nesse contexto, acreditamos que a não concretização do arrefecimento dos preços de commodities energéticas e alimentícias devido à aplicação de sanções à Rússia por conta do conflito geopolítico no leste europeu, e a persistência do desequilíbrio no mercado de trabalho americano, que pressiona salários, sejam importantes pontos de preocupação. Além disso, a resiliência da economia americana, mesmo diante do recrudescimento da pandemia, é um fator de risco adicional ao cenário inflacionário do país.
Nossas projeções apontam para sete aumentos de 0,25 p.p. a partir de março, entretanto, diante dos fatores supracitados, acreditamos que há um elevado risco de que a condução de política monetária tenha que ser ajustada, de maneira a impor um ajuste em ritmo mais acelerado que o antecipado pelo mercado, tanto por maiores aumentos na taxa de juros quanto na velocidade da redução do balanço de ativos que tem efeitos sobre as taxas mais longas.
Risco Geopolítico Global (risco alto)
A invasão da Ucrânia por parte do exército russo elevou substancialmente as incertezas globais. Nesse contexto, a aplicação de sanções à economia russa por conta do conflito armado que se desenvolve no continente europeu pode gerar fortes impactos em termos de atividade econômica e inflação global.
Acreditamos que a relevância da Rússia e Ucrânia nos mercados de commodities energéticas e de grãos seguirão pressionando seus preços impondo viés pessimista para a trajetória de inflação. No caso do Brasil, que é um grande exportador de commodities, o efeito pode ser mitigado por uma possível apreciação cambial devido ao aumento desses preços impulsionando as exportações. Ademais, o conflito direto implica em um risco de agravamento dos problemas nas cadeias globais de produção, por conta de fechamento de fronteiras, zona de guerra e aplicação de sanções, impactando a atividade econômica.