O Banco Central (BCB) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% a.a. Vale destacar que diferentemente do usual, houve dois votos dissidentes, a favor de uma elevação de 0,25 p.p. Apesar da manutenção, o comunicado enfatiza que o Banco Central não hesitará em retornar o processo de elevação dos juros no futuro caso o processo de desinflação não ocorra como o esperado.
O Copom deixou a porta aberta para nova elevação no futuro, dependendo das incertezas tanto domésticas quanto internacionais. Nossa avaliação é que o comunicado veio mais hawkish que o esperado, não só por deixar explícito que a decisão não é o encerramento do processo de ajuste, mas sim uma pausa, como também pela presença dos votos dissidentes, que não ocorria desde março de 2016 e pode ser interpretado que o ciclo de alta ainda não está encerrado. Em nosso cenário base, o BCB deixará a taxa em 13,75% até o 2º trimestre de 2023, quando iniciará o processo de redução, encerrando o ano em 11%.
No cenário doméstico, o comunicado destacou que a atividade econômica vem apresentando um desempenho positivo, destacando o resultado do PIB do 2º trimestre, além dos demais indicadores de atividade que vem surpreendendo positivamente. Entretanto, no âmbito inflacionário, apesar da queda recente em itens mais voláteis e dos efeitos das medidas tributárias, a inflação ao consumidor permanece em patamar elevado. Além disso, as medidas subjacentes se mantêm em nível do compatível com a convergência da meta de inflação.
O comunicado destacou que existem riscos para o cenário inflacionário em ambas as direções. Os riscos altistas estão associados a maior persistência inflacionária global e as incertezas em relação ao arcabouço fiscal brasileiro e aos estímulos fiscais adicionais se mantiveram no radar, porém foi adicionado um terceiro risco referente ao hiato do produto mais estreito, em especial no mercado de trabalho. Por outro lado, os riscos de baixa estão ligados a um arrefecimento dos preços das commodities e a uma desaceleração da atividade econômica mais forte do que a esperada. Ademais, foi destacado como risco baixista a possível manutenção dos cortes de impostos a serem revertidos em 2023.
O Copom destacou que o ambiente externo é adverso e volátil, com revisões negativas para atividade econômica global, em especial a economia chinesa, além do cenário inflacionário pressionado. O comitê destacou que a normalização da política monetária nos países desenvolvidos segue acelerando, prosseguindo na direção de taxas restritivas.
No cenário base do Banco Central, a projeção para inflação passou de 6,8% para 6,0% em 2022, se manteve em 4,6% em 2023 e aumentou de 2,7% para 2,8% em 2024. O comitê reiterou o foco no horizonte de política monetária seis trimestres a frente (1º tri de 2024), em que sua projeção é de 3,5%.