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Publicado em 29 de Setembro às 14:31:18

Crédito (Ago/25): Indicadores apontam para o efeito da política monetária contracionista

Em agosto, o saldo das operações de crédito registrou alta de 10,1% a/a, desacelerando em relação à leitura do mês imediatamente anterior (10,8% a/a), de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) avançou para R$ 6,76 trilhões. Esse resultado é derivado da expansão de 11,0% a/a da carteira de pessoas físicas e de 8,7% a/a no saldo das pessoas jurídicas. Em relação às modalidades de crédito, houve alta de 8,8% a/a na carteira de crédito livre e de 12,1% a/a na carteira de crédito direcionado.

As concessões, na série com ajuste sazonal, apresentaram contração pelo quarto mês consecutivo, ao apresentar uma taxa de variação de -0,2% m/m em agosto, ante recuo de -0,6% m/m em julho. Com isso, a média móvel trimestral saiu de -1,9% para -1,2%, reforçando a tendência de arrefecimento das concessões em um ambiente macroeconômico mais adverso, marcado por política monetária contracionista que deve persistir nos próximos meses. O resultado refletiu a forte queda do crédito direcionado, cuja contração se intensificou de -3,2% para -7,7% m/m, enquanto o crédito livre manteve a trajetória de crescimento, avançando 0,7% em agosto após alta de 0,6% no mês anterior.

Para as pessoas físicas, as concessões livres, registraram expansão de 8,0% a/a em agosto, acelerando em relação aos 4,9% a/a registrados no mês imediatamente anterior. Os principais destaques ficaram por conta dos desempenhos observados nas concessões de crédito consignado privado (+239,8% a/a), que vem se acelerando nos últimos meses, em linha com a entrada em vigor da MP 1292/25 do consignado privado para celetistas; cartão de crédito (10,7% a/a), refletindo as altas de 19,0% a/a na modalidade parcelada e de 11,5% a/a na modalidade à vista; cheque especial (7,8% a/a); e crédito pessoal não consignado (7,0% a/a). Na ponta negativa, as principais baixas foram observadas nas concessões de crédito consignado para beneficiários do INSS (-48,5% a/a); consignado para servidores públicos (-21,1% a/a); crédito renegociado (-13,8% a/a); e outros (-8,9% a/a).

Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, as concessões registraram recuo de 3,7% a/a em agosto, após expansão de 2,1% a/a em julho, desacelerando pelo terceiro mês consecutivo dando continuidade ao processo de arrefecimento das concessões de crédito livre para as empresas. Os principais destaques positivos ficaram por conta das altas observadas nas concessões para financiamento de exportações (71,5% a/a); cartão de crédito (12,9% a/a), com destaque para a alta de 33,3% a/a do cartão de crédito à vista; e outros (12,7% a/a). Na ponta negativa, os principais recuos ficaram por conta das modalidades de adiantamento sobre contrato de câmbio (-16,0% a/a); de desconto de duplicatas (-10,1% a/a); antecipação de faturas de cartão de crédito (-8,4% a/a); e capital de giro (-7,3% a/a).

A taxa média de juros das operações de crédito avançou 0,2 p.p. para 31,8% a.a., retornando para o nível observado em jun/25. Esse movimento foi derivado da combinação entre a alta de 0,1 p.p. na taxa média para pessoas jurídicas (21,7% a.a.), em função da alta de 0,2 p.p. na taxa de juro média cobrada sobre o crédito livre (25,2% a.a.) e o recuo de 0,1 p.p. na taxa cobrada no crédito direcionado (13,6% a.a.), e do avanço de 0,2 p.p. na taxa cobrada para pessoas físicas (36,4% a.a.), refletindo a combinação entre alta de 0,5 p.p. na taxa média de juros cobrada nas concessões de crédito livre (58,4% a.a.) e o recuo de -0,2 p.p. sobre a taxa média cobrada no crédito direcionado (11,1% a.a.).

Em um contexto marcado por uma taxa de juros significativamente contracionista, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, a elevação vista no segmento de 0,3 p.p. na inadimplência para pessoas físicas (6,8%) foi parcialmente compensada pela estabilidade observada na inadimplência para pessoas jurídicas (3,3%), de modo que, a inadimplência no crédito livre avançou 0,2 p.p. para 5,4%. Em relação ao endividamento das famílias, esta registrou queda de 0,2 p.p. na margem e alta de 0,7 p.p. em 12 meses, alcançando 48,7% no mês de julho. Em movimento semelhante, o comprometimento da renda recuou 0,1 p.p. em agosto e subiu 1,0 p.p. em 12 meses, alcançando o nível de 27,9%.

De modo geral, os dados de crédito divulgados hoje são compatíveis com o atual estágio de aperto monetário, refletindo o arrefecimento das concessões, sobretudo nas modalidades de crédito livre para pessoas jurídicas mais sensíveis ao ciclo econômico. No caso das famílias, destaca-se o forte avanço do consignado privado, que vem ganhando tração nos últimos meses e pode favorecer uma desaceleração mais gradual das concessões nas próximas leituras. Ainda assim, a deterioração das perspectivas para a economia, captada pelas sondagens setoriais, tende a seguir pressionando o ritmo de novas operações de crédito. Esse movimento deve ser parcialmente compensado pela resiliência do mercado de trabalho, que limita, ainda que de forma parcial, os efeitos da política monetária contracionista sobre os principais indicadores de crédito.

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