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Publicado em 30 de Abril às 14:12:57

Crédito (Mar/25): Indicadores apontam para efeitos da política monetária sobre o crédito

Em março, o saldo de crédito avançou 9,9% a/a em relação ao mesmo período do ano anterior, de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) totalizou R$ 6,5 tri. Esse resultado é derivado das expansões de 11,5% a/a no saldo da carteira de pessoas físicas e de 7,4% a/a no saldo das pessoas jurídicas. Em relação às modalidades de crédito, houve alta de 8,6% a/a na carteira de crédito livre e de 11,7% a/a na de crédito direcionado. Em termos reais, a expansão da carteira total foi de 4,19% a/a, desacelerando em relação ao mês imediatamente anterior (5,70% a/a), e ligeiramente abaixo do ritmo de expansão observado em mar/24 (4,79% a/a). Esse desempenho foi derivado da expansão de 5,67% a/a da carteira de crédito para pessoas físicas, desacelerando em relação aos 6,35% a/a registrado em fev/25 e de 1,85% a/a das pessoas jurídicas (ante 4,65% a/a).

Em relação às concessões, na série com ajuste sazonal, houve recuo de 0,8% m/m no mês de março, revertendo parcialmente a alta de 2,2% m/m observada em fevereiro, de modo que, a média móvel de três meses saiu de um ritmo de expansão de 1,2% para 0,8%. O resultado no mês foi derivado da combinação entre a alta de 0,2% m/m nas concessões de crédito livre e no recuo de 12,2% m/m no crédito direcionado, mais do que compensando a alta de 10,7% m/m registrados no mês imediatamente anterior. Ao analisarmos a média móvel de 3 meses da variação interanual da série sem ajuste em valores reais, as concessões livres registraram expansão de 5,05%, retornando para a trajetória de desaceleração que vinha sendo observada desde out/24, sendo este movimento capturado tanto nas linhas para pessoas físicas quanto jurídicas, corroborando a avaliação de que a política monetária contracionista está impactando o mercado de crédito e deve promover um arrefecimento da economia ao longo dos próximos trimestres.

Para as pessoas físicas, as concessões livres, em termos reais, registraram expansão de 3,7% a/a, desacelerando em relação aos 7,7% a/a registrados no mês imediatamente anterior. Os principais destaques ficaram por conta das modalidades de crédito consignado do setor privado (38,3% a/a), em linha com a entrada em vigor da MP 1292/25 do consignado privado ao longo do mês de março; crédito pessoal não consignado (13,9% a/a); cheque especial (10,2% a/a); e cartão de crédito total (4,2% a/a). Na ponta oposta, destacam-se os recuos registrados no crédito consignado para servidores públicos (-15,3% a/a); consignado para beneficiários do INSS (-8,3% a/a); crédito renegociado (-15,6% a/a); e outros (12,5% a/a).

Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, as concessões, em termos reais, registraram recuo de 0,6% a/a, desacelerando significativamente em relação aos 11,2% a/a registrados no mês imediatamente anterior. Os principais destaques positivos ficaram por conta das altas observadas nos descontos de duplicatas (13,6% a/a); conta garantida (18,0% a/a); e cartão de crédito à vista (11,8% a/a). Na ponta oposta, os destaques ficaram por conta dos recuos observados nas concessões de crédito compror (-40,8% a/a); rotativo e parcelado (-40,8% a/a); financiamento de exportações (-35,1% a/a); e adiantamento de contrato de câmbio ACC (-24,0% a/a).

A taxa média de juros das operações de crédito avançou 0,9 p.p. na passagem de fevereiro para março, atingindo nível de 31,3% a.a., o maior patamar registrado desde mai/23. Esse movimento foi determinado pelo aumento de 1,93 p.p. na taxa média de juros para operações contratadas com pessoas jurídicas (22,8% a.a.) e a alta de 0,52 p.p. na taxa de juro cobrada sobre a carteira das famílias (35,4% a.a.).

No contexto de taxa de juros e inflação ambas em elevação, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, houve estabilidade tanto na inadimplência das pessoas jurídicas em 2,8%, quanto das pessoas físicas em 5,6%. No que diz respeito ao endividamento das famílias, este registrou queda de 0,3 p.p. na passagem de janeiro para fevereiro para 48,2%. Por sua vez, o comprometimento da renda aumentou 0,1 p.p. alcançando 27,2% da renda, o maior nível desde jul/23, elevando-se 1,3 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado.

De maneira geral, os números de março seguem corroborando a expectativa de que o mercado de crédito arrefeça ao longo do ano, refletindo os efeitos da política monetária contracionista sobre as concessões. Entretanto, cabe destacar os efeitos já observáveis de uma possível obstrução da política monetária sobre o mercado de crédito através da MP que implementou a modalidade de crédito consignado para trabalhadores do setor privado que tendo a mitigar os efeitos da alta da Selic sobre os indicadores de crédito, contribuindo para um processo de ajuste ainda mais gradual. Para o curto prazo, avaliamos que a resiliência do mercado de trabalho e as medidas de impulso à demanda anunciadas pelo governo devem seguir beneficiando as concessões de crédito livre para as pessoas físicas, dando um suporte adicional para que o consumo siga exercendo um papel de destaque no crescimento de 2025.

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