Em outubro, o saldo das operações de crédito registrou alta de 10,2% a/a, ficando estável em relação à leitura do mês imediatamente anterior, de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) avançou para R$ 6,91 tri (ante R$ 6,85 tri). Esse resultado é derivado da expansão de 11,3% a/a da carteira de pessoas físicas e de 8,4% a/a no saldo das pessoas jurídicas. Em relação às modalidades de crédito, houve alta de 8,8% a/a na carteira de crédito livre e de 12,2% a/a na carteira de crédito direcionado, com a primeira acelerando em relação à alta de 8,6% a/a, enquanto a segunda desacelerou dos 12,5% a/a registrados em setembro.
As concessões, na série com ajuste sazonal, apresentaram alta de 1,4% m/m em outubro, ante expansão de 1,6% m/m em setembro, refletindo a expansão de 1,5% m/m das concessões de crédito livre que mais do que compensaram o recuo de 4,2% m/m do crédito direcionado no mês. Com isso, a média móvel trimestral das concessões dessazonalizadas deu continuidade à alta observada no mês imediatamente anterior ao sair de 0,7% para 1,1%, após ter registrado uma sequência de 3 recuos consecutivos, apontando para uma recuperação das concessões mesmo diante de um cenário mais adverso. Apesar disso, entendemos que as leituras mistas não sinalizam necessariamente uma retomada do crédito, mas sim que o processo de arrefecimento da economia ocorrerá de maneira gradual, sem que haja uma desaceleração mais significativa do mercado de crédito.
Para as pessoas físicas, as concessões livres, registraram expansão de 12,8% a/a em outubro, acelerando em relação aos 12,5% a/a registrados no mês imediatamente anterior. Os principais destaques, em termos reais, ficaram por conta dos desempenhos observados nas concessões de crédito consignado privado (+257,1% a/a), que vem se acelerando nos últimos meses, em linha com a entrada em vigor da MP 1292/25 do consignado privado para celetistas; crédito pessoal não consignado (10,1% a/a); e cartão de crédito (7,6% a/a), refletindo principalmente a alta de 29,4% a/a da modalidade parcelada, ao passo em que as modalidades à vista e do rotativo apresentaram altas de 6,6% a/a e 4,2% a/a, respectivamente. Na ponta negativa, as principais baixas ficaram por conta das concessões de crédito consignado para beneficiários do INSS (-33,6% a/a) e na modalidade outros (-14,4% a/a).
Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, as concessões registraram alta de 3,2% a/a em outubro, após avanço de 3,4% a/a em setembro. Os principais destaques positivos, em termos reais, ficaram por conta das altas observadas nas concessões para financiamento de exportações (67,8% a/a); outros (55,9% a/a); cartão de crédito (17,0% a/a); capital de giro (13,2% a/a); e cheque especial (7,1% a/a). Na ponta negativa, os destaques negativos foram: desconto de duplicatas (-19,6% a/a) e adiantamento de contrato de câmbio (-17,4% a/a).
A taxa média de juros das operações de crédito avançou 0,6 p.p. para 31,9% a.a., acelerando para o maior nível desde jan/17 (32,5% a.a.). Esse movimento foi derivado da combinação entre as altas de 1,1 p.p. na taxa média cobrada para as pessoas jurídicas (21,7% a.a.), refletindo as altas de 1,0 p.p. na taxa cobrada na modalidade livre (25,2% a.a.) e de 1,9 p.p. no crédito direcionado (13,9% a.a), e de 0,3 p.p. na taxa cobrada para as pessoas físicas (36,6% a.a.), devido a alta de 0,4 p.p. na modalidade livre (58,7% a.a.) e estabilidade na taxa cobrada sobre o crédito direcionado (10,9% a.a.).
Em um contexto marcado por uma taxa de juro significativamente contracionista, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, a estabilidade observada na inadimplência para pessoas físicas (6,7%) foi compensada pela alta de 0,1 p.p. na inadimplência para pessoas jurídicas (3,3%), de modo que, a inadimplência do crédito livre ficou estável em 5,3%. Em relação ao endividamento das famílias, esta registrou altas de 0,1 p.p. na margem e de 1,1 p.p. em doze meses, alcançando o patamar de 49,1% no mês de setembro. Em movimento semelhante, o comprometimento da renda avançou 0,2 p.p. e subiu 1,6 p.p. em doze meses, alcançando a máxima histórica de 28,8%.
De modo geral, os dados de crédito divulgados hoje são compatíveis com o atual estágio de aperto monetário, com elevação dos níveis de comprometimento da renda e endividamento das famílias. Apesar disso, os dados sugerem que o cenário mais adverso não tem sido capaz de promover uma desaceleração mais significativa do mercado de crédito, corroborando a nossa avaliação de que o processo de arrefecimento ocorrerá de maneira gradual, sem rupturas. No caso das famílias, cabe destacar o forte avanço da modalidade do consignado privado, que segue ganhando tração ao longo dos últimos meses e deve continuar favorecendo as concessões ao longo das próximas leituras. Ainda assim, a deterioração das perspectivas para a economia, captada pelas sondagens setoriais, tende a seguir pressionando o ritmo de novas operações de crédito. Esse movimento deve ser parcialmente compensado pela resiliência do mercado de trabalho, que limita, ainda que de forma parcial, os efeitos da política monetária contracionista sobre os principais indicadores de crédito.












