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Publicado em 29 de Outubro às 10:46:23

Crédito (Set/25): Endividamento avança em meio a política monetária contracionista

Em setembro, o saldo das operações de crédito registrou alta de 10,1% a/a, desacelerando em relação à leitura do mês imediatamente anterior (10,4% a/a), de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) avançou para R$ 6,84 tri (ante R$ 6,77 tri). Esse resultado é derivado da expansão de 11,0% a/a da carteira de pessoas físicas e de 8,7% a/a no saldo das pessoas jurídicas. Em relação às modalidades de crédito, houve alta de 8,7% a/a na carteira de crédito livre e de 12,0% a/a na carteira de crédito direcionado, ambas desacelerando em relação à leitura do mês imediatamente anterior de altas de 9,1% a/a e 12,1% a/a, respectivamente.

As concessões, na série com ajuste sazonal, apresentaram alta de 1,2% m/m em setembro, ante expansão de 0,6% m/m em agosto, refletindo uma expansão mais significativa das concessões de crédito direcionado (6,8% m/m), ao passo em que na modalidade de crédito livre as concessões ficaram próximas à estabilidade (0,1% m/m). Com isso, a média móvel trimestral saiu de -0,9% para 0,4%, abandonando uma sequência de 3 recuos consecutivos nesta métrica. Entretanto, avaliamos que o desempenho mais positivo no mês não sugere uma inflexão na tendência de arrefecimento das concessões frente a uma política monetária mais contracionista, posto que a expansão observada no mês foi puxada pela alta na modalidade de crédito direcionado. Dessa forma, entendemos que os dados divulgados hoje corroboram a nossa expectativa de que o processo de arrefecimento da economia ocorrerá de maneira gradual, sem que haja uma desaceleração mais significativa do crédito.

Para as pessoas físicas, as concessões livres, registraram expansão de 11,4% a/a em setembro, acelerando em relação aos 12,3% a/a registrados no mês imediatamente anterior. Os principais destaques ficaram por conta dos desempenhos observados nas concessões de crédito consignado privado (+266,9% a/a), que vem se acelerando nos últimos meses, em linha com a entrada em vigor da MP 1292/25 do consignado privado para celetistas; crédito pessoal não consignado (22,3% a/a); aquisição de veículos (13,1% a/a); e cartão de crédito (11,2% a/a), refletindo principalmente a alta de 29,4% a/a na modalidade parcelada, ao passo em que as modalidades de rotativo e à vista registraram expansões de 10,7% a/a e 10,1% a/a, respectivamente. Na ponta negativa, a principal baixa foi observada nas concessões de crédito consignado para beneficiários do INSS (-34,9% a/a).

Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, as concessões registraram alta de 3,5% a/a em setembro, após recuo de 3,4% a/a em agosto. Os principais destaques positivos ficaram por conta das altas observadas nas concessões de cheque especial (14,1% a/a); antecipação de faturas (11,0% a/a); conta garantida (10,9% a/a); capital de giro (9,6% a/a); e cartão de crédito (8,4% a/a). Na ponta negativa, os principais recuos ficaram por conta das modalidades de adiantamento sobre contrato de câmbio (-9,0%); desconto de duplicatas (-7,6% a/a); e compror (-9,8% a/a).

A taxa média de juros das operações de crédito recuou 0,4 p.p. para 31,3% a.a., retornando para o menor nível observado desde mar/25 (31,2% a.a.). Esse movimento foi derivado da combinação entre as baixas de 0,8 p.p. na taxa média cobrada de pessoas jurídicas (20,7% a.a.), em função do recuo de 0,4 p.p. na taxa de juro média cobrada sobre o crédito livre (24,5% a.a.) e o recuo de 1,6 p.p. na taxa cobrada no crédito direcionado (12,0% a.a.), e do recuo de 0,1 p.p. na taxa cobrada para pessoas físicas (36,2% a.a.), refletindo os recuos de 0,1 p.p. e 0,2 p.p. nas taxas cobradas na modalidade de crédito livre (58,2% a.a.) e crédito direcionado (10,9% a.a.), respectivamente.

Em um contexto marcado por uma taxa de juros significativamente contracionista, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, a estabilidade observada na inadimplência para pessoas físicas (6,7%) foi compensada pelo recuo de 0,1 p.p. na inadimplência para pessoas jurídicas (3,2%), de modo que, a inadimplência do crédito livre recuou 0,1 p.p. para 5,3%. Em relação ao endividamento das famílias, esta registrou altas de 0,4 p.p. na margem e de 0,8 p.p. em doze meses, alcançando o patamar de 48,9% no mês de agosto. Em movimento semelhante, o comprometimento da renda avançou 0,6 p.p. e subiu 1,2 p.p. em doze meses, alcançando o nível de 28,5% no mesmo período.

De modo geral, os dados de crédito divulgados hoje são compatíveis com o atual estágio de aperto monetário, com elevação dos níveis de comprometimento da renda e endividamento das famílias e de um arrefecimento nas concessões de crédito livre. No caso das famílias, cabe destacar o forte avanço da modalidade do consignado privado, que segue ganhando tração ao longo dos últimos meses e pode favorecer uma desaceleração mais gradual das concessões ao longo das próximas leituras. Ainda assim, a deterioração das perspectivas para a economia, captada pelas sondagens setoriais, tende a seguir pressionando o ritmo de novas operações de crédito. Esse movimento deve ser parcialmente compensado pela resiliência do mercado de trabalho, que limita, ainda que de forma parcial, os efeitos da política monetária contracionista sobre os principais indicadores de crédito.

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