O Banco Central (BCB) decidiu manter, de forma unânime, a taxa Selic em 13,75% a.a., permanecendo no patamar mais elevado desde dezembro de 2016. Apesar da manutenção, o comunicado enfatiza que seguirá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de garantir a convergência da inflação no horizonte relevante, que engloba o ano de 2024.
Foi sinalizado pela primeira vez que a apresentação da proposta do novo arcabouço fiscal foi responsável por reduzir parte da incerteza advinda da política fiscal, entretanto, a conjuntura segue particularmente incerta, sobretudo no que diz respeito ao desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado no Congresso Nacional. Nesse contexto, o BC enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência da inflação e a aprovação do arcabouço fiscal. O Comitê avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo e a conjuntura marcada por um estágio em que o processo de desinflação tende a ser mais lento, demandam maior atenção na condução da política monetária. Ademais, foi ressaltado que o ambiente externo se mantém adverso, diante dos recentes episódios envolvendo bancos no exterior, responsáveis por elevar a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo acompanhamento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem comprometidos em promover a estabilidade de preços, em um ambiente em que a inflação se mostra persistente.
Segundo o Comitê, o cenário de elevada incerteza combinado com o aumento das expectativas de inflação, demandam maior paciência e serenidade na condução da política monetária. Nesse contexto, o Copom reafirmou que conduzirá os próximos passos de modo a garantir o cumprimento das metas no horizonte relevante. Enfatizou-se que o Copom não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado, apesar de julgar este cenário como menos provável.
No que diz respeito ao cenário doméstico, o Comitê apontou que o conjunto de indicadores de atividade mais recentes segue em linha com o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que o mercado de trabalho tenha exibido maior resiliência nas últimas leituras. Além disso, apesar da inflação estar apresentando algum grau de arrefecimento, o Copom avalia que tanto a inflação ao consumidor quantos suas diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do nível compatível com o cumprimento da meta para a inflação.
No cenário base do Banco Central, a projeção para inflação permaneceu em 5,8% em 2023 e 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados passaram de 10,2% para 10,8% em 2023 e de 5,3% para 5,2% em 2024. Foi removido o trecho que dava ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, devido a dissipação dos efeitos das reonerações de tributos federais sobre a inflação.
O comunicado destacou que existem riscos para o cenário inflacionário em ambas as direções. Os riscos altistas estão associados à maior persistência inflacionária global; à incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado no Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco. Ademais, foi destacada uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Por outro lado, os riscos de baixa estão ligados a um arrefecimento dos preços das commodities internacionais em moeda local; uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
Nossa avaliação é que o comunicado veio mais dovish do que o esperado pelo mercado, ao sinalizar que avalia a retomada do ciclo de ajuste como um cenário menos provável, de modo que, os próximos passos serão definidos com paciência e serenidade. Além disso, a divulgação do cenário alternativo do Banco Central, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante (final de 2024), aponta que a inflação encerrará 2024 em 2,9%, ou seja, abaixo do centro da meta do próximo ano, sinalizando que há espaço para corte de juros antes do final do próximo ano. Acreditamos que a combinação entre uma maior ênfase dada à deterioração das expectativas e à divulgação do cenário alternativo reduz significativamente o espaço para cortes de juros em 2023.
Mantivemos o nosso cenário base ao avaliar que o balanço de riscos permaneceu estável em relação à reunião anterior. Por um lado, a desaceleração na concessão doméstica de crédito combinada a uma desaceleração da atividade econômica global, deverão pesar sobre a atividade econômica e a inflação brasileira. Em contrapartida, apesar da apresentação do novo arcabouço fiscal, avaliamos que o risco fiscal segue substancialmente elevado, sobretudo no que diz respeito à sustentabilidade da dívida pública, em um contexto de elevada pressão política por uma maior expansão de gastos. Além disso, contribuem para a desancoragem das expectativas de inflação as incertezas em torno do desenho final do novo arcabouço fiscal que venha a substituir o Teto de Gastos. Em nossa avaliação, a aprovação de um projeto crível, sustentável, e principalmente impositivo é fundamental para a reversão do processo de desancoragem das expectativas de inflação, abrindo espaço para cortes na taxa de juros. Dessa forma, mantemos nossa projeção de Selic ao final de 2023 em 13,75% a.a. e o primeiro corte acontecendo ao final do primeiro trimestre de 2024.