O Banco Central (BCB) decidiu manter, de forma unânime, a taxa Selic em 13,75% a.a., permanecendo no patamar mais elevado desde dezembro de 2016. Apesar da manutenção, o comunicado enfatiza que seguirá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de garantir a convergência da inflação no horizonte relevante que engloba os anos de 2023 e 2024, na mesma magnitude. Além disso, foi reforçado que o Banco Central não hesitará em retornar o processo de elevação dos juros no futuro caso o processo de desinflação não ocorra como o esperado.
Nossa avaliação é que o comunicado veio em linha com o esperado, visto que sinalizou que os indicadores de atividade da economia brasileira vêm crescendo em um ritmo mais moderado ao passo que o cenário internacional vem sendo marcado por condições financeiras mais apertadas. Além disso, apontou para a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados, sendo este um ponto de maior atenção para economias emergentes. Em nosso cenário base, o BCB deixará a taxa em 13,75% até o 3º trimestre de 2023, quando iniciará o processo de redução, encerrando o ano em 11%.
No âmbito inflacionário doméstico, o comunicado destacou que apesar da queda recente em itens voláteis e afetados por medidas tributárias, a inflação ao consumidor continua elevada. Além disso, as medidas subjacentes se mantêm ao nível acima do compatível com o cumprimento da meta para a inflação.
O comunicado destacou que existem riscos para o cenário inflacionário em ambas as direções. Os riscos altistas estão associados a maior persistência inflacionária global; as incertezas em relação ao arcabouço fiscal brasileiro, sobretudo dos estímulos de impulso à economia que impliquem em sustentação da demanda agregada; e um hiato do produto mais estreito que o utilizado pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho. Por outro lado, os riscos de baixa estão ligados a um arrefecimento dos preços das commodities em moeda local; uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e a manutenção dos cortes de impostos para serem revertidos em 2023.
O Copom destacou que o ambiente externo é adverso e volátil, com revisões negativas para atividade econômica global que tem sido acompanhada de um aumento na volatilidade nos ativos financeiros. O ambiente inflacionário global segue pressionado, ao passo que, o processo de normalização da política monetária nos países avançados prossegue na direção de taxas restritivas.
No cenário base do Banco Central, a projeção para inflação se manteve em 5,8% em 2022, passou de 4,6% para 4,8% em 2023 e aumentou de 2,8% para 2,9% em 2024. As projeções para a inflação de administrados passaram de 4,0% para 3,9% em 2022, de 9,3% para 9,4% em 2023 e de 3,7% para 3,8% para 2024. O Comitê reiterou o foco no horizonte de política monetária de seis trimestres à frente (2º tri de 2024), em que sua projeção é de 3,2%.