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Publicado em 22 de Março às 19:56:01

Decisão de taxa de juros (Copom): Banco Central decide manter taxa Selic em 13,75% a.a.

O Banco Central (BCB) decidiu manter, de forma unânime, a taxa Selic em 13,75% a.a., permanecendo no patamar mais elevado desde dezembro de 2016. Apesar da manutenção, o comunicado enfatiza que seguirá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de garantir a convergência da inflação no horizonte relevante, que engloba os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024.

Foi sinalizado que a conjuntura particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se afastando da meta nos horizontes mais longos, requer maior atenção na condução da política monetária. Além disso, foi ressaltado que a deterioração do ambiente externo, diante dos episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa, foram responsáveis por elevar a incerteza e a volatilidade dos mercados, exigindo monitoramento dos impactos na economia brasileira. Segundo o Comitê, o cenário de elevada incerteza, combinado com a elevação das expectativas de inflação, demandam maior atenção na condução da política monetária. Nesse contexto, o Copom reafirmou que conduzirá os próximos passos de modo a garantir o cumprimento das metas no horizonte relevante.

No que diz respeito ao cenário doméstico, o Comitê apontou que o conjunto de indicadores de atividade mais recentes segue em linha com o cenário de desaceleração esperado pelo Copom. Além disso, apesar da inflação estar apresentando algum grau de arrefecimento, o Copom avalia que tanto a inflação ao consumidor quantos suas diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do nível compatível com o cumprimento da meta para a inflação.

O comunicado destacou que existem riscos para o cenário inflacionário em ambas as direções. Os riscos altistas estão associados a maior persistência inflacionária global; a elevada incerteza em relação ao arcabouço fiscal brasileiro e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Por outro lado, os riscos de baixa estão ligados a um arrefecimento dos preços das commodities em moeda local; uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Nossa avaliação é que o comunicado veio mais hawkish do que o esperado pelo mercado, mas em linha com o nosso cenário, ao sinalizar cautela nos próximos passos diante dos últimos desenvolvimentos no mercado de crédito doméstico e financeiro global, ao mesmo tempo reforça que o movimento de desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo de desinflação necessária para atingir as metas de inflação (3,0%). Além disso, a divulgação do cenário alternativo do Banco Central, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante (final de 2024), aponta que a convergência da inflação para a meta só ocorrerá no final de 2024. Acreditamos que a combinação entre uma maior ênfase dada à deterioração das expectativas e à divulgação do cenário alternativo reduz significativamente o espaço para cortes de juros em 2023, mesmo diante das incertezas em torno do mercado de crédito doméstico e do sistema financeiro global. Nesse cenário, entendemos que o BC seguirá comprometido em entregar a convergência da inflação no horizonte relevante, não hesitando em retomar o ciclo de aperto monetário caso o processo de desinflação não ocorra como esperado.

No cenário base do Banco Central, a projeção para inflação passou de 5,6% para 5,8% em 2023 e aumentou de 3,4% para 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados passaram de 10,6% para 10,2% em 2023 e de 5,0% para 5,3% em 2024. O Comitê reiterou o foco no horizonte de política monetária de seis trimestres à frente (3º tri de 2024), cuja projeção de inflação acumulada em doze meses passou de 3,6% para 3,8%.

Revisamos o nosso cenário base passando a avaliar o balanço de riscos equilibrado, ante um viés assimétrico para cima. Por um lado, a desaceleração na concessão doméstica de crédito combinada a uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada diante das condições mais adversas no sistema financeiro global deverão pesar sobre a atividade econômica e inflação brasileira. Em contrapartida, vemos um risco fiscal ainda substancialmente elevado, sobretudo no que diz respeito à sustentabilidade da dívida pública, em um contexto de elevada pressão política por maiores expansões de gastos. Além disso, contribui para a desancoragem das expectativas de inflação as incertezas em torno da nova regra fiscal que venha substituir o Teto de Gastos. Na nossa avaliação, a apresentação de um arcabouço fiscal crível, sustentável e impositivo é fundamental para reversão do processo de elevação das expectativas de inflação no Boletim Focus, abrindo espaço para cortes na taxa de juros. Dessa forma, revisamos nossa projeção de taxa Selic ao final de 2023 de 14,5% a.a. para 13,75% a.a.

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