O Banco Central (BCB) decidiu manter, de forma unânime, a taxa Selic em 13,75% a.a., permanecendo no patamar mais elevado desde dezembro de 2016 pela sétima reunião consecutiva. Apesar da manutenção, o comunicado enfatiza que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas de inflação e avalia que a estratégia de manutenção da Selic por um período suficiente prolongado como a mais adequada para assegurar a convergência da inflação no horizonte relevante, que engloba o ano de 2024.
Foi sinalizado pela primeira vez que embora os índices de inflação ao consumidor tenham arrefecido no período mais recente, a saída do efeito base das deflações que ocorreram nos meses de julho, agosto e setembro de 2022 serão responsáveis por uma elevação da inflação acumulada em 12 meses ao longo do segundo semestre de 2023.
Vale destacar que dois trechos considerados mais duros foram retirados do comunicado, abrindo margem para cortes na Selic ao longo das próximas reuniões. Em primeiro lugar, foi removido o cenário alternativo de manutenção da Selic em 13,75% ao longo de todo o horizonte relevante, que segundo o comunicado do último Copom seria consistente com uma inflação ao redor da meta ao final de 2024. Ademais, retirou-se o trecho em que o Comitê enfatizava que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitaria em retomar o ciclo de aperto monetário caso o processo de desinflação não transcorresse como o esperado.
No que diz respeito ao ambiente externo, foi ressaltado que este se mantém adverso, ainda que as revisões mais recentes tenham sido positivas para o crescimento no ano. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em algumas economias (Austrália e Canadá), em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.
No que diz respeito ao cenário doméstico, o Comitê apontou que o conjunto de indicadores de atividade mais recentes segue em linha com o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que o primeiro trimestre tenha sido marcado por uma surpresa positiva no crescimento, liderado pelo forte desempenho no setor da agropecuária. No que diz respeito à dinâmica de preços, o Comitê reforçou que as diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação e que a conjuntura atual é caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento. Além disso, enfatizou que embora as expectativas de inflação tenham recuado nas últimas semanas, estas seguem desancoradas. Este cenário segue demandando cautela e parcimônia na condução da política monetária e os próximos passos dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, das projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
No cenário base do Banco Central, as projeções para inflação recuaram de 5,8% para 5,0% em 2023 e de 3,6% para 3,4% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados passaram de 10,8% para 9,0% em 2023 e de 5,2% para 4,6% em 2024.
O comunicado destacou que existem riscos para o cenário inflacionário em ambas as direções. Os riscos altistas estão associados à maior persistência inflacionária global; à alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado no Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco. Ademais, foi destacada uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Por outro lado, os riscos de baixa estão ligados a um arrefecimento dos preços das commodities internacionais em moeda local, ainda que parte importante deste movimento já tenha sido verificado; uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
Nossa avaliação é que embora o comunicado tenha dado maior liberdade para o banco central conduzir a política monetária com a retirada de dois trechos considerados mais duros, avaliamos que o comunicado surpreendeu o mercado vindo mais hawkish do que o esperado, ao manter o trecho que avalia a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período prolongado como adequado para assegurar a convergência da inflação. Acreditamos que a manutenção dos trechos que sinalizam a preocupação em relação à desancoragem das expectativas e o lento processo de desinflação, em um ambiente marcado por incertezas, dão suporte a adoção de uma postura cautelosa e dependente dos dados por parte do Comitê. Em nossa visão, o comunicado veio em linha com o nosso cenário que contempla o início do ciclo de corte de juros na reunião de setembro em 0,25 p.p., de modo que, projetamos uma Selic ao final de 2023 em 12,75% a.a.