O Banco Central (BCB) reduziu a Selic em 0,5 p.p. para 12,25% a.a., em função da melhora do quadro inflacionário, dando continuidade ao processo de flexibilização da política monetária em ritmo já antecipado na reunião de setembro. Da mesma forma que a última reunião, a decisão do Comitê foi unânime e ficou em linha com o consenso de mercado (Broadcast+). Vale destacar que, caso confirmado o cenário de desinflação esperado, os membros do Copom, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões, avaliando esta estratégia como a mais adequada para garantir que o processo de convergência da inflação ocorra como esperado.
Em linha com a expectativa de mercado, foi sinalizado pela primeira vez que o Comitê avalia a conjuntura internacional mais incerta do que o usual, demandando uma maior cautela na condução da política monetária. Além disso, foi reafirmada a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a reancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, reiterando a importância da firme persecução da meta de resultado primário. Vale destacar que a manutenção deste aceno ocorre em um cenário de elevação das incertezas em torna da execução da política fiscal no período entre reuniões, decorrente tanto da frustração no que diz respeito à aprovação de medidas de aumento estrutural de receitas do governo central quanto das discussões em torno de uma possível mudança na meta de resultado primário na LDO de 2024.
No que diz respeito ao ambiente externo, foi comunicado, que o ambiente se mostra mais adverso em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos EUA, da resiliência dos núcleos de inflação que ainda se encontram em níveis elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas. Nesse cenário, o comitê reforçou que os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões no mercado de trabalho. Dessa forma, avalia-se que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes.
No que diz respeito ao cenário doméstico, o Comitê apontou que o conjunto de indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. Esta avaliação difere do diagnóstico fornecido na última reunião em que fora apontado uma maior resiliência da atividade da economia do que o antecipado, diante da divulgação do PIB do segundo trimestre que apresentou uma leitura mais forte do que a do consenso de mercado. Além disso, sinalizou que a inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, mas ainda segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação. Na mesma direção, as medidas mais recentes da inflação subjacente (mais inerciais) ainda se situam acima da meta de inflação.
No cenário base do Banco Central, as projeções de inflação apresentaram comportamentos mistos em relação aos números divulgados no comunicado da reunião anterior. Por um lado, a projeção de inflação para 2023 recuou de 4,9% para 4,6%. Para os anos de 2024 e 2025, as estimativas saíram de 3,5% para 3,6% e de 3,1% para 3,2%, respectivamente. As projeções para a inflação de preços administrados passaram de 10,5% para 9,3% em 2023, de 4,5% para 5,0% em 2024 e ficaram estáveis em 3,6% em 2025.
O comunicado destacou que existem riscos para o cenário inflacionário em ambas as direções. Os riscos altistas estão associados à uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Por outro lado, os riscos de baixa estão ligados à uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Mesmo diante do comportamento mais benigno da inflação nos últimos meses, o Comitê reconhece que a conjuntura atual segue sendo marcada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação que apresentam apenas uma reancoragem caracterizada como apenas parcial. Este cenário demanda serenidade e moderação na condução da política monetária, reforçando a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização depende da evolução da dinâmica da inflação subjacentes, das suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Nossa avaliação é que o comunicado veio ligeiramente mais duro (Hawk) do que o esperado pelo mercado, mesmo diante da manutenção do ritmo de cortes da Selic já antecipado desde a reunião de agosto, refletindo uma maior ênfase dada para a necessidade de cautela no processo de condução da política monetária dado o cenário externo mais adverso, ao passo em que não foi mencionada a queda da expectativa de inflação do Boletim Focus de 2023 para dentro da banda superior da meta de inflação. Além disso, vale destacar que foi adicionado ao comunicado a palavra “apenas” para caracterizar o processo de ancoragem parcial das expectativas de inflação mais longas, que na nossa interpretação reforça a expectativa de adoção de uma postura mais conservadora por parte do BC na condução da política monetária nas próximas reuniões. Nesse contexto, mantivemos a nossa projeção de Selic ao final de 2023 em 11,75% a.a., em linha com o nosso cenário de que o atual ritmo de corte deve ser mantido até pelo menos a reunião de janeiro. Esta avaliação reflete um cenário doméstico ainda desafiador, marcado por um processo inflacionário em um estágio de desinflação mais lento, desancoragem das expectativas de inflação para horizontes mais longos e um elevado grau de incerteza em torno da execução fiscal por parte do governo tanto no que diz respeito a uma possível mudança na meta de resultado primário quanto aos efeitos dos estímulos fiscais que possam tornar o processo de abertura do hiato da economia mais lento do que o esperado. Soma-se a esse cenário, uma expectativa de manutenção da Fed Fund rate no atual patamar contracionista, por um período mais longo do que o antecipado, e as incertezas em torno dos efeitos dos conflitos geopolíticos e do fenômeno do el niño sobre os preços das commodities que possam vir a pressionar a inflação nos próximos meses. Dessa forma, para 2024, seguimos com a nossa projeção de Selic terminal em 9,75% a.a., com desaceleração do ritmo de afrouxamento monetário para 0,25 a partir da segunda reunião do Copom de 2024. Entretanto, enxergamos que a deterioração do cenário externo, piora das projeções de inflação do Copom e expectativa de deterioração do arcabouço fiscal, impõem riscos para a concretização deste cenário, impondo um viés altista para a nossa projeção de fim de ciclo de corte de juros em 2024.
