Em dezembro, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) avançou 0,29% m/m, na série com ajuste sazonal, em linha com a mediana das expectativas de 0,3% m/m (Broadcast+). Ademais, houve uma revisão baixista para o dado de novembro aprofundando a queda apresentada, que passou de -0,55% m/m para -0,77% m/m. Em relação ao mesmo mês de 2021, houve expansão de 1,42% a/a.
Diante disso, o IBC-Br, que serve como uma proxy para o crescimento do PIB, acumulou uma alta de 2,90% em 2022, na série sem ajuste sazonal. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, o crescimento foi de 2,05%, enquanto em relação ao trimestre terminado em set/22 houve recuo de 1,46% t/t. Assim, o carrego estatístico para o próximo trimestre é de -0,07%, e para 2023 de -0,04%.
No mês de dezembro, os três grandes setores da atividade apresentaram resultados em direções distintas. Primeiramente, a produção industrial ficou constante (0,0% m/m), com o segundo recuo consecutivo da indústria extrativa (-1,1% m/m) e expansão da indústria de transformação (0,3% m/m) que emplaca três meses sem recuos. Já o volume de vendas no varejo teve queda pior que a esperada (-2,6% m/m), com sete das oito atividades apresentando taxas negativas para compor a queda do índice geral de maior magnitude em 2022. Por fim, o setor de serviços foi a surpresa positiva do mês, ao registrar expansão (3,1% m/m) acima do teto das projeções, apesar das revisões negativas para os dois meses anteriores.
No que diz respeito ao acumulado do ano, a indústria apresentou queda de 0,7%, após a expansão de 3,9% em 2021. Diante disso, o ano, mais uma vez, não foi positivo para a produção industrial, com o setor operando em patamar semelhante ao observado em janeiro de 2009. O resultado também é pessimista para o varejo, já que o setor apresentou avanço de 1,0% no ano, sendo este a menor alta registrada pela série iniciada em 2017, incluindo o período da pandemia em 2020. A ponta positiva ficou com serviços, que avançou 8,3% no ano. O principal avanço veio do grupo de Serviços prestados às famílias (24,0%), muito devido à intensificação do processo de reabertura pós-pandemia e pela mudança no padrão de consumo substituindo bens por serviços.
Com o mercado de trabalho não foi diferente. O Caged de dezembro teve mais um resultado pior que o esperado pelo mercado, com perda líquida de 431,0 mil postos de trabalho formal. Todos os cinco grandes grupos de atividade tiveram saldo negativo em dezembro, e, em linha com nosso cenário, o mês deixou clara a inversão de tendência do setor de serviços. No acumulado em doze meses todos os grupos registraram saldos positivos, fechando um ano em que o mercado de trabalho performou uma forte recuperação. O setor de serviços foi coroado como protagonista com saldo acumulado de 1,18 milhão de vagas, cerca de 57,72% do saldo total, ainda que já esteja perdendo fôlego. Já os setores industrial e comércio já vêm apresentando perda de dinamismo há alguns meses.
Por fim, destacamos que o desempenho mais recente da economia brasileira está em linha com nossas expectativas para o crescimento do PIB em 2022, ou seja, a desaceleração econômica já está em curso. Especialmente no acumulado dos últimos doze meses, é possível detectá-la de forma generalizada entre os setores de atividade, bem como no mercado de trabalho. Nossas expectativas para indústria e varejo são pessimistas, à medida que o cenário macroeconômico adverso está cada vez mais desafiador para esses setores. O encarecimento do crédito e aumento da inadimplência, consequências do ciclo de aperto monetário, além do processo de desaceleração global, são fatores de incerteza para a indústria e varejo, que devem seguir em deterioração nos próximos meses. Por outro lado, apesar da perda de ritmo nos últimos meses, o setor de serviços segue com uma melhor perspectiva que os demais, uma vez que ainda pode se beneficiar com a acomodação do perfil de consumo de serviços em substituição à aquisição de bens. Além disso, os efeitos inerciais da recuperação do mercado de trabalho em 2022 e a aprovação de novas medidas de impulso à demanda deverão limitar os efeitos negativos advindos do âmbito macroeconômico. Nossas projeções apontam para estabilidade do PIB (0,0% t/t) no quarto trimestre e de crescimento de 3,0% em 2022.