Após três meses de avanço, em janeiro, o índice de atividade do Banco Central recuou 0,99% em relação ao mês anterior, pior que o esperado pelo mercado (projeção de -0,2% m/m, Broadcast). Na comparação interanual houve estabilidade (0,01% a.a.).
Com o resultado, o indicador de atividade encontra-se 0,5% abaixo do nível pré pandemia e deixa um carrego estatístico de -0,62% para o 1º trimestre de 2022. Em doze meses, o IBC-Br sobe 4,73%. O resultado do setor agro, em janeiro, pode explicar, em parte, a grande diferença do resultado aguardado pelo mercado e o realizado. No mês, o setor apresentou queda com os efeitos da seca na região Sul do país. Outro ponto importante para destacar é o efeito da variante Ômicron na atividade econômica: com o aumento expressivo de casos, muitos funcionários foram afastados de suas atividades, não sendo necessário fechar estabelecimentos, porém afetando a produtividade de setores como o industrial e de serviços. O setor de transporte aéreo, por exemplo, relatou cancelamento de voos por conta de falta de tripulação, mesmo assim apresentou desempenho positivo no mês.
Apesar do resultado mais fraco para o setor agro no mês, vemos o setor como um driver importante para atividade no ano de 2022, com projeção de safra 7,4% maior que em 2021 (LSPA- IBGE). Já o setor industrial e o varejista se encontraram em um cenário mais desafiador. A indústria sofreu com a escassez de componentes e insumos de produção básicos, além da forte pressão nos custos com a aceleração inflacionária, prejudicando as margens dos produtores. O comércio foi impactado pelo forte aumento dos preços, que corrói o poder de compra da população, além da dificuldade de alguns setores de se adaptar a mudança de consumo de bens para serviços com o arrefecimento da pandemia e com uma taxa de câmbio mais desvalorizada que encarece o preço dos produtos muitas vezes importados. Com a invasão da Rússia na Ucrânia, o preço das commodities disparou, impondo pressão sobre a taxa de inflação e uma perspectiva de juros em patamares ainda mais elevados. Essa combinação de fatores afeta diretamente a indústria e o varejo, ambos em situação frágil e com perspectivas de desempenho fraco em 2022. O conflito no leste europeu também deve afetar o mercado de componentes eletrônicos para o setor industrial, uma vez que os países em conflito são importantes produtores de insumos para fabricação de chips, retardando a normalização do segmento.
Por outro lado, vemos o setor de serviços como o principal driver para o crescimento em 2022. O setor já está em patamares acima do nível pré pandemia, porém não de forma homogênea: alguns segmentos importantes (cerca de 30% do PIB) ainda não recuperou o nível pré surto, como os serviços públicos, transporte aéreo e outros serviços (atividades de caráter presencial).
Nesse sentido, apesar da política monetária contracionista, em 2022, projetamos crescimento de 0,6%, porém com forte viés de elevação em um cenário de normalização de segmentos do setor de serviços, elevação dos preços das commodities, desempenho positivo do setor agropecuário e um estímulo fiscal significativo por meio dos entes subnacionais (elevado caixa) e por parte do governo federal com redução de impostos e liberação de pacotes de estímulo como o FGTS. A injeção de R$30 bilhões na economia via saque do FGTS pode elevar o PIB em 0,3 p.p.