Em janeiro, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) teve queda de 0,04% m/m, na série com ajuste sazonal, melhor que a mediana das expectativas de -0,3% m/m (Broadcast+). Ademais, houve uma revisão altista para o dado de dezembro, que passou de 0,29% m/m para 1,41% m/m. Em relação ao mesmo mês de 2022, houve expansão de 3,03% a/a. Por fim, na média móvel trimestral, usada para captar tendências, o IBC-Br teve queda de 0,23% em relação aos três meses encerrados em dezembro.
No mês de janeiro, os três grandes setores da atividade apresentaram resultados em direções distintas. Primeiramente, a produção industrial teve mais uma desaceleração (-0,3% m/m), com forte recuperação da indústria extrativa (1,8% m/m) e piora da retração da indústria de transformação (-0,8% m/m). Já o volume de vendas no varejo foi a surpresa positiva, com expansão maior que a esperada (3,8% m/m), com sete das oito atividades apresentando taxas positivas no mês. Por fim, o setor de serviços surpreendeu no sentido oposto, ao registrar retração bem pior que a esperada (-3,1% m/m), eliminando o ganho acumulado no último bimestre do último ano. Assim, em geral, as pesquisas mensais colaboram com o nosso cenário de uma desaceleração gradativa da atividade econômica.
Com o mercado de trabalho não foi diferente. Os dados de fevereiro apontam para uma perda de tração após a forte recuperação desempenhada no último ano. O Caged apontou para uma retração de 4,5% m/m no acumulado em 12 meses do saldo total de criação de postos de trabalho formal, o décimo mês consecutivo de contração desta métrica, refletindo a desaceleração em sete dos oito subgrupos pesquisados. Além disso, embora a criação de vagas tenha sido próxima do teto das expectativas, tal resultado está associado ao menor número demissões ao invés de uma melhora das contratações, corroborando à desaceleração. Já a taxa de desemprego de fevereiro continuou em trajetória ascendente, com queda da população ocupada e aumento da desocupada. Vale destacar que a queda da força de trabalho observada desde setembro de 2022, quando atingiu a máxima da série histórica, vinha colaborando para a queda da taxa de desemprego, efeito que foi superado. Na mesma direção, a taxa de participação (61,7%) segue em contração, o que, na nossa visão, reflete os efeitos da expansão das políticas de transferência de renda.
Esse cenário está, portanto, em linha com nossa expectativa de desaceleração da economia devido ao forte ciclo de aperto monetário desempenhado. Especialmente no acumulado dos últimos doze meses, é possível detectá-la de forma generalizada entre os setores de atividade, bem como no mercado de trabalho. Nossas perspectivas para indústria seguem pessimistas, uma vez que não há indícios de melhorias de curto, como diminuição das taxas de juros, ou longo prazo, como retomada de reformas estruturais, para o setor. Apesar do bom resultado de janeiro, acreditamos que trajetória dos próximos meses deve ser marcada por uma tendência de estabilidade do varejo. Por um lado, vemos um vetor negativo advindo do cenário macroeconômico mais adverso, diante da perspectiva de desaceleração da atividade econômica e da piora tanto do perfil de crédito dos consumidores quando da inadimplência. Em contrapartida, a expansão das políticas de transferência de renda e um mercado de trabalho ainda aquecido devem limitar esse impacto. Por fim, o setor de serviços também é afetado pelos vetores negativos apontados para o setor de varejo que, em nossa visão, vão acabar superando as expectativas positivas advindas dos efeitos inerciais do mercado de trabalho. Vale notar que, mesmo sendo a primeira leitura negativa em quinze meses, o resultado foi disseminado entre as atividades do setor. Assim, nossas projeções seguem apontando para crescimento do PIB em 0,7% em 2023.