Em dezembro, o Índice Geral de Preços (IGP-M) avançou 0,74% m/m segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), superando a mediana das projeções (0,67% m/m, Broadcast+). Com este resultado, o índice fechou o ano com uma taxa de variação acumulada de -3,18%. As maiores contribuições para isso vieram dos itens: milho (-30,02%), soja (-21,92%) e óleo diesel (-16,57%). Esses itens, contidos nos grupos de alimentos e energia, apresentaram uma dinâmica mais favorável esse ano por conta da supersafra agrícola brasileira e da dinâmica mais favorável dos preços dos combustíveis a nível global, fenômeno esse que não deve se repetir no ano que vem tanto por fatores climáticos (El Niño) como geopolíticos (continuidade da política de cortes na produção de petróleo por parte dos países integrantes da OPEP+).
A composição do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) mostrou que a maior contribuição para a alta mensal do índice (de 0,97% m/m) veio dos produtos agrícolas (3,07% m/m, ante 0,69% m/m), ao passo que os produtos industriais registraram desaceleração (0,24% m/m, ante 0,71% m/m). Olhando o IPA por estágios de processamento, as Matérias-Primas Brutas registraram forte alta, avançando 3,06% m/m em dezembro. Essa taxa de variação elevada se deveu principalmente ao movimento de alta de alguns itens como o milho em grão (11,30% m/m), minério de ferro (4,63% m/m) e soja em grão (2,03% m/m). Os Bens Intermediários, por sua vez, arrefeceram bem na passagem de novembro para dezembro, saindo de 1,23% m/m para -0,74% m/m. Mais uma vez, a maior contribuição para isto veio do subitem de combustíveis e lubrificantes para a produção, que saiu de 3,90% m/m para -2,77% m/m no mesmo período. Já os Bens Finais saíram de uma deflação modesta (-0,14% m/m) para uma inflação moderada (0,86% m/m). Desta vez, o principal fator de contribuição foram os alimentos in natura, com a taxa de variação mensal saindo de -1,65% m/m para 6,20% m/m.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) apresentou uma desaceleração no seu ritmo de alta na passagem de novembro para dezembro, com o avanço de 0,42% m/m dando lugar a um de apenas 0,14% m/m. Os itens que se destacaram pelo decréscimo nas suas taxas de variação foram: passagem aérea (3,10% m/m, ante 11,44% m/m), hortaliças e legumes (2,65% m/m, ante 7,58% m/m) e perfumes (-8,00% m/m, ante -1,28% m/m). Já pelo lado dos itens que apresentaram acréscimo nas suas taxas de variação, se sobressaíram: aluguel (0,51% m/m, ante -0,19% m/m) e gasolina (-1,08% m/m, ante -1,83% m/m).
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) viu a sua taxa de variação mais do que dobrar na passagem de novembro para dezembro, com a alta de 0,10% m/m dando lugar a um avanço de 0,26% m/m. Os grupos de Mão de Obra (0,23% m/m, ante 0,42% m/m) e Serviços (0,09% m/m, ante 0,39% m/m) apresentaram diminuição nas suas taxas de variação, enquanto o grupo de Materiais e Equipamentos (0,30% m/m, ante -0,17% m/m) foi o único a apresentar acréscimo. A continuidade do ciclo de afrouxamento monetário por parte do Banco Central ao longo do ano que vem deve beneficiar o setor cuja fraqueza apresentada esse ano foi um dos grandes determinantes para a contração na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) nos três primeiros trimestres do ano.
Por fim, a reversão da deflação de 3,18% apresentada pelo IGP-M esse ano, que deve dar lugar a uma inflação de cerca de 4,00% em 2024, muito provavelmente vai ter impacto significativo sobre as contas públicas. Como a arrecadação reage mais ao IGP-M e as despesas do governo são corrigidas pelo IPCA, uma mudança de preços relativos entre esses dois índices de inflação deve ser um fator a mais, além da desaceleração da economia, a pressionar a arrecadação e a razão dívida/PIB em 2024.