Em fevereiro, o Índice Geral de Preços (IGP-M) recuou 0,06% m/m segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), voltando a apresentar deflação depois de dois meses seguidos de alta de preços. O resultado do mês veio abaixo do esperado pela mediana do mercado (inflação de 0,05% m/m, Broadcast). O maior responsável pela moderação mensal do IGP-M voltou a ser o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) impedindo que o índice geral recuasse ainda mais. Com esse número, o índice geral acumulou alta de 1,86% no período de doze meses encerrado em fevereiro, uma redução considerável em relação a janeiro, quando o avanço foi de 3,79%. No mesmo período do ano passado, o IGP-M avançava 1,83% m/m e 16,12% a/a.
O arrefecimento visto no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), que após avançar 0,10% em janeiro, retraiu 0,20% em fevereiro, deveu-se a forte desaceleração do IPA agrícola que apresentou deflação de 0,47%, ante inflação de 0,06% no primeiro mês do ano. Os itens que mais contribuíram para isso foram commodities relevantes como a soja e os bovinos, que recuaram de -0,92% para -3,68% e de 0,65% para -2,74%, respectivamente. Olhando o IPA por estágios de processamento, as Matérias-Primas Brutas continuaram a registrar aumento de preços em fevereiro (0,20%), mas num ritmo menor do que em janeiro (1,55%). Os Bens Intermediários continuaram a apresentar deflação em fevereiro, com os preços variando -0,98%, ante -1,06% no mês anterior. A maior contribuição para isto veio do subitem de combustíveis e lubrificantes para a produção, que saiu de -5,05% em janeiro para -3,07% em fevereiro. Os Bens Finais deixaram para trás a deflação apresentada em janeiro (-0,05%) e avançaram 0,29%. Os combustíveis para o consumo foram os principais responsáveis por esse movimento, com a taxa de variação saindo de -4,38% para 4,07% do mês passado para o atual.
Após a aceleração registrada em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) voltou a arrefecer na passagem de janeiro para fevereiro, saindo de 0,61% para 0,38%. Contribuíram para essa moderação no ritmo de crescimento dos preços os grupos: Alimentação (-0,01%, ante 0,61%), Vestuário (0,09%, ante 0,25%), Educação, Leitura e Recreação (0,46%, ante 2,04%), Transportes (0,19%, ante 0,60%) e Comunicação (0,78%, ante 0,79%). Nessas categorias os destaques foram para os itens: passagem aérea (-4,08%, ante -0,21%), gasolina (-1,00%, ante 0,72%), hortaliças e legumes (-6,63%, ante 2,10%), tarifa de telefone móvel (-0,31%, ante 0,27%) e roupas (0,11%, ante 0,24%).
Por fim, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) interrompeu a sequência de três meses de alta na sua taxa de variação, saindo de 0,32% para 0,21%. Esse resultado foi puxado pelo grupo Mão-de-obra, que desacelerou para 0,10% em fevereiro após uma alta de 0,77% em janeiro. Pela construção civil ser um setor mais sensível aos ciclos da política monetária, a perspectiva da taxa básica de juros (Selic) ser mantida em patamar elevado por mais tempo continua a pesar sobre os custos do setor. Os outros dois grupos (Materiais e Equipamentos, e Serviços), que junto com o grupo Mão-de-obra compõe o índice, registraram em fevereiro avanço de 0,16% ante -0,26% e 1,10% ante 0,53%, respectivamente.
Esse resultado do IGP-M ajuda a contrabalançar parte das surpresas desagradáveis da inflação vindas do IPCA-15 de fevereiro, no sentido de que as pressões de custos não são mais um fator tão relevante para a determinação da inflação ao consumidor. Como visto no último IPCA-15, o desafio agora se concentra em desinflacionar o setor de serviços, de maior inércia, e cujo índice de difusão saltou de 56,9% para 80,0%. Com o Índice Geral de Preços tendo recuado para 1,86% na métrica em doze meses e tendo sido puxado, principalmente, pelo recuo no IPA-M (que saiu de 3,00% a/a para 0,42% a/a), o espaço para repasses da inflação ao nível do produtor para o consumidor diminuiu.