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Publicado em 29 de Junho às 13:03:50

IGP-M (jun/23): Índice geral de preços aprofunda ainda mais a deflação

Em junho, o Índice Geral de Preços (IGP-M) contraiu 1,93% m/m segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), vindo abaixo do piso das projeções (-1,92% m/m, Broadcast+). Com este resultado, o índice acumula uma taxa de -4,46% no ano e registra -6,86% em doze meses. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) aprofundou a queda registrada em maio e recuou 2,73% m/m em junho. Por sua vez, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) reverteu a alta de 0,48% m/m observada em maio e passou a apresentar deflação (-0,25% m/m) depois de nove meses. Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou o terceiro mês seguido de aceleração no ritmo de alta de preços, saindo de 0,40% m/m para 0,85% m/m na passagem de maio para junho.

A composição do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) que levou à retração no mês de junho foi bem parecida com a de maio. O resultado do IPA agrícola saiu de -4,37% m/m para -4,36% m/m, enquanto o IPA industrial registrou -2,12% m/m, ante -2,08% m/m. O primeiro foi novamente impactado por deflações em commodities alimentícias importantes como bovinos (-6,55%) e milho (-14,85%), enquanto o segundo teve a sua queda puxada pelo recuo dos combustíveis nas refinarias, com a gasolina encolhendo 11,69% e o diesel 13,82%. Olhando o IPA por estágios de processamento, as Matérias-Primas Brutas continuaram a apresentar deflação, com a queda de 6,48% m/m vista em maio dando lugar a uma contração de 4,10% m/m em junho. Os Bens Intermediários aprofundaram a deflação na passagem de maio para junho, saindo de -1,49% m/m para -2,88% m/m. A maior contribuição para isto veio, desta vez, do subitem de combustíveis e lubrificantes para a produção, que saiu de -6,09% para -11,44% no mesmo período. Os Bens Finais também seguiram nessa mesma tendência, saindo de -0,16% m/m para -1,22% m/m. Os combustíveis para o consumo foram o principal fator de contribuição, com a taxa de variação mensal saindo de -1,27% para -10,56%.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) apresentou em junho a primeira deflação mensal (-0,25% m/m) depois de nove meses. Sete das oito classes de despesa do IPC-M apresentaram declínio nas suas taxas de variação. Foram elas: Alimentação (-0,33% m/m, ante 0,79% m/m), Habitação (0,41% m/m, ante 0,75% m/m), Vestuário (0,42% m/m, ante 0,58% m/m), Saúde e Cuidados Pessoais (0,41% m/m, ante 1,22% m/m), Despesas Diversas (0,32% m/m, ante 0,75% m/m), Comunicação (0,14% m/m, ante 0,91% m/m) e Transportes (-1,68% m/m, ante 0,50% m/m). Dentre esses componentes, os itens que se sobressaíram foram: gasolina (-3,00% m/m, ante -0,09% m/m), hortaliças e legumes (-1,56% m/m, ante 6,32% m/m), gás de botijão (-2,71% m/m, ante 1,61% m/m) e jogo lotérico (3,30% m/m, ante 8,66% m/m). Por outro lado, o grupo de Educação, Leitura e Recreação (-0,55% m/m, ante -2,32% m/m) foi o único a não apresentar arrefecimento da sua taxa de variação no mês. Nessa categoria, o destaque foi para o item de passagem aérea, que saiu de -13,29% m/m para -3,87% m/m.

Por fim, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) entrou no terceiro mês seguido de aceleração da taxa de variação, que saiu de 0,40% m/m para 0,85% m/m. Esse resultado foi puxado pelo grupo Mão de Obra, que acelerou o ritmo de alta de 0,75% m/m para 1,81% m/m. O mercado de trabalho brasileiro, ainda que em desaceleração, tem se demostrado mais resiliente do que o esperado, o que pressiona o fator trabalho. Como a construção civil é um setor intensivo em capital, as crescentes expectativas de queda da taxa básica de juros (Selic) em vista da melhora na inflação fazem com que as perspectivas futuras sejam de um alívio nos custos do setor. Nesse sentido, os componentes de Materiais e Equipamentos apresentaram recuo de -0,06% m/m para -0,15% m/m na passagem de maio para junho e os Serviços saíram de 0,64% m/m para 0,18% m/m no mesmo período.

O fato de o Índice de Preços ao Produtor Amplo ter sido novamente o grupo com a maior contribuição para a variação mensal do Índice Geral de Preços reforça a tese de que as pressões de custos fornecem um vento favorável cada vez maior para o processo de desinflação dos preços ao nível do consumidor. A forte deflação registrada pelo IPA Agrícola confirmou o bom momento que vive o setor agropecuário e reforçou a nossa tese de que esse setor registrará um forte crescimento neste ano. Além disso, o desejo de criação de um estoque regulador de alimentos por parte do governo deve contribuir para diminuir a volatilidade de preços. Por outro lado, a ocorrência do fenômeno climático de um El Niño mais forte pode vir a impactar negativamente a oferta de alguns alimentos, revertendo o movimento de alívio dos preços. Por fim, a expectativa de expansão de projetos de infraestrutura como o Minha Casa Minha Vida, intensivos em mão-de-obra, aliada a queda na taxa de participação da força de trabalho pode ocasionar numa eventual escassez de trabalhadores para esse setor, o que geraria pressões sobre os salários e retardaria o processo de desinflação.

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