Em março, o Índice Geral de Preços (IGP-M) recuou 0,47% m/m segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), igual ao piso das estimativas de mercado (queda de 0,47% m/m, Broadcast+). Com este resultado, o índice acumula deflação de 4,26% nos últimos doze meses e de 0,91% no ano. O número de março refletiu o fato da contração de 0,77% m/m do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), uma queda menos intensa que a do mês imediatamente anterior (-0,90% m/m). O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) teve alta de 0,29% m/m, recuando em relação ao mês de fevereiro (0,53% m/m), mantendo a pressão altista no índice. Já o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) registrou alta de 0,24% m/m, um valor ligeiramente superior à taxa de 0,20% m/m observada em fevereiro.
A principal contribuição para a deflação observada no IPA-M veio dos produtos industriais (-1,26% m/m, ante -0,43% m/m). Os produtos agropecuários contribuíram com pressão altista no índice, devolvendo um pouco da queda de 2,19% m/m do mês anterior com uma alta de 0,62% m/m em março. Olhando o IPA por estágios de processamento, as Matérias-Primas Brutas continuaram a registrar intensa queda de -2,71% m/m, ante -2,67% m/m no mês anterior. Dentre as maiores contribuições de queda para a categoria, destaca-se o minério de ferro (-13,27% m/m, ante -1,22% m/m) e o arroz em casca (-10,33% m/m, ante -0,91% m/m) como maiores variações em relação ao mês anterior. Os Bens Intermediários, por sua vez, saíram de uma deflação de -0,42% m/m no mês anterior para uma inflação de 0,22% m/m neste mês. O principal fator que influenciou esse movimento foi, mais uma vez, o subgrupo de combustíveis e lubrificantes para a produção, cuja taxa saiu de -1,52% m/m para 0,60% m/m, revertendo a tendência de queda. Já os Bens Finais arrefeceram, saindo de 0,35% m/m para 0,03% m/m. Esse arrefecimento foi impulsionado principalmente pelo subgrupo de alimentos in natura, cuja taxa recuou de 5,15% m/m para 2,17% m/m, reflexo das condições climáticas mais favoráveis em relação ao fim de 2023.
O IPC-M mostrou arrefecimento no mês de março, saindo de uma variação de 0,53% m/m de fevereiro para 0,29% m/m em março. O maior impacto veio do grupo Educação, Leitura e Recreação, cuja taxa de variação saiu de 0,11% m/m para 1,85% m/m. Dentro dessa categoria, vale destacar a queda significativa das passagens aéreas, que passaram de -4,78% m/m no mês anterior para -10,53% m/m na medição atual. Também vale destacar outros itens que apresentaram expressivo recuo em suas taxas, como hortaliças e legumes (7,10% m/m para -0,29% m/m), serviços bancários (2,23% m/m para 1,45% m/m), e artigos de higiene e cuidados pessoais (0,78% m/m para 0,64% m/m). As duas maiores pressões altistas do índice vêm de aluguel residencial (3,25% m/m, ante 1,16% m/m no mês anterior), gasolina (1,50% m/m, ante 1,37% m/m no mês anterior). Alguns vegetais e frutas mostraram intensa aceleração no mês, como a cebola (18,90% m/m, ante -2,93% m/m) e a banana-prata (9,74% m/m, ante 5,62% m/m).
Por fim, o INCC-M devolveu a redução da taxa de variação que ocorreu no último mês saindo de 0,20% m/m para 0,24% m/m, valor similar à taxa de variação de fevereiro. O grupo de Mão de Obra e Materiais e Equipamentos pressionaram positivamente o índice, com altas de 0,23% m/m e 0,26% m/m, respectivamente (ante variações de 0,16% m/m e 0,23% m/m no mês anterior, respectivamente). Serviços mostraram arrefecimento significativo, recuando de 0,49% m/m para 0,14% m/m. A continuidade do ciclo de afrouxamento monetário por parte do Banco Central ao longo desse ano deve beneficiar o setor da construção civil, mas um ponto negativo à frente é que ele ainda enfrenta custos ainda altos por conta do mercado de trabalho pressionado.
A queda do nível de preços medido pelo IGP-M foi muito influenciada pela pressão baixista de algumas commodities e outras matérias primas brutas como o arroz em casca. Já os itens relacionados aos serviços, alvos da política monetária, continuam em trajetória de aceleração, como aluguel residencial e mão-de-obra. Alimentos in natura como batata-inglesa e leite seguem em alta, mas tendem a se arrefecer pela perspectiva mais benigna das condições climáticas e boas condições de plantação no Centro-Oeste e Sudeste. Tendo isso em vista, reduzimos nossa projeção de alta do IGP-M em 2024 para 2,50%. Vale destacar que o índice tem impacto direto sobre as perspectivas de arrecadação do governo para o ano. Como a arrecadação reage mais ao IGP-M e as despesas do governo são corrigidas pelo IPCA, uma mudança de preços relativos entre esses dois índices de inflação deve ser um fator a mais, além da desaceleração esperada da economia, a pressionar a arrecadação e a razão dívida/PIB em 2024.