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Publicado em 28 de Setembro às 14:24:50

IGP-M (set/23): Combustíveis fazem IGP-M voltar a registrar inflação depois de 6 meses

Em setembro, o Índice Geral de Preços (IGP-M) avançou 0,37% m/m segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), vindo em linha com a mediana do mercado (Broadcast+). Com este resultado, o índice acumula uma taxa de -4,93% no ano e registra -5,97% em doze meses. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) deixou para trás sete meses seguidos de deflação, avançando 0,41% m/m. Por sua vez, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) reverteu a deflação observada em agosto e voltou a apresentar inflação de 0,27% m/m. Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), repetiu o resultado de agosto, continuando a registrar um aumento de preços a uma taxa de 0,24% m/m em setembro.

A composição do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) que levou à expansão no mês de setembro foi bem diferente da observada em agosto, com a maior contribuição para inflação mensal vindo dos produtos industriais (1,49% m/m) ao invés dos produtos agrícolas, que voltaram a registrar deflação (-2,53% m/m). Vale destacar que o IPA industrial assim como o IPA-M não teriam apresentado inflação caso tanto o diesel como a gasolina não tivessem sofrido reajuste de preço por parte da Petrobras em agosto. Olhando o IPA por estágios de processamento, as Matérias-Primas Brutas voltaram a registrar deflação, com a alta de 0,42% m/m vista em agosto dando lugar a uma queda de 0,38% m/m em setembro. Essa reversão de uma situação de inflação para deflação se deveu principalmente aos itens de bovinos (-10,11% m/m, ante -1,59% m/m) e aves (-5,24% m/m, ante 0,14% m/m). Após passarem a apresentar uma taxa menos negativa em agosto, os Bens Intermediários passaram a apresentar inflação de 1,50% m/m em setembro. Novamente, a maior contribuição para isto veio do subitem de combustíveis e lubrificantes para a produção, que saltou de 3,45% m/m para 15,04% m/m na passagem de agosto para setembro. Já os Bens Finais apresentaram uma deflação mais modesta, recuando apenas 0,03% m/m em setembro ante um recuo de 0,69% m/m em agosto. Os combustíveis para o consumo foram, mais uma vez, o principal fator de contribuição, com a taxa de variação mensal saindo de -0,95% para 9,35%.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) voltou a apresentar inflação no mês de setembro (0,27% m/m) após recuar 0,19% m/m em agosto. Dos oito grupos que compõe o IPC-M, seis apresentaram acréscimo nas suas taxas de variação. Foram eles: Alimentação (-0,60% m/m, ante -0,93% m/m), Habitação (0,40% m/m, ante 0,10% m/m), Vestuário (-0,08% m/m, ante -0,31% m/m), Educação, Leitura e Recreação (-0,10% m/m, ante -1,19% m/m), Transportes (1,75% m/m, ante 0,14% m/m) e Comunicação (0,07% m/m, ante 0,03% m/m). Dentre esses componentes, os itens que se sobressaíram foram: hortaliças e legumes (-2,54% m/m, ante -7,23% m/m), aluguel residencial (1,07% m/m, ante 0,02% m/m), roupas (-0,09% m/m, ante -0,43% m/m), passagem aérea (-1,29% m/m, ante -8,72% m/m), gasolina (5,01% m/m, ante 0,64% m/m) e telefonia, internet e TV por assinatura (0,13% m/m, ante -0,20% m/m). Por outro lado, os grupos Saúde e Cuidados Pessoais (-0,11% m/m, ante 0,55% m/m) e Despesas Diversas (-0,04% m/m, ante 0,00% m/m) apresentaram decréscimo nas taxas. Nessas categorias, os destaques foram para os itens de artigos de higiene e cuidado pessoal (-1,31% m/m, ante 1,03% m/m) e alimentos para animais domésticos (-0,49% m/m, ante 0,14% m/m).

O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) repetiu a mesma taxa de variação do mês de agosto, avançando 0,24% m/m também em setembro. Dois dos três grupos que compõe o INCC apresentaram aumento nas taxas de variação nesse período: Materiais e Equipamentos (0,04% m/m, ante -0,11% m/m) e Serviços (0,38% m/m, ante 0,22% m/m). O grupo Mão de Obra (0,48% m/m, ante 0,71% m/m) foi o único a apresentar decréscimo na sua taxa de variação. Como a construção civil é um setor intensivo em capital, o ciclo de afrouxamento monetário que está em curso faz com que as perspectivas futuras sejam de um alívio nos custos do setor. Além disso, como os ciclos do setor tendem a coincidir com os ciclos da atividade econômica do país, o atual estágio mais pujante no qual este último se encontra, evidenciado pelas estimativas de um hiato do produto mais fechado do que o anteriormente estimado, aponta para um cenário mais benigno para a construção civil à frente.

O fato de o IPA-M ter se mantido como o grupo com a maior contribuição para a variação mensal do IGP-M, sendo que dessa vez apresentando a primeira contribuição positiva em meses, reforça a tese de que a pressão sobre os preços de alguns insumos, que já haviam passado pelo processo de desinflação, pode retardar e até ameaçar interromper o processo de desinflação mais amplo que vinha sendo observado até agora. O fato de os reajustes nos preços do diesel e da gasolina pela Petrobras em agosto terem sido fatores determinantes para tanto o IPA-M como o IPC-M apresentarem inflação ao invés de deflação em setembro mostra o impacto que o item de combustíveis pode ter sobre mais de um grupo do IGP-M. Em algum momento durante os três meses restantes do ano é bem provável que a Petrobras seja forçada a reajustar os preços desses dois combustíveis novamente após a defasagem dos preços domésticos em relação às cotações internacionais já terem atingido patamares altos por conta da forte elevação no preço do barril do petróleo e da desvalorização recente da moeda brasileira frente ao dólar. Isso faria com que o IGP-M sofresse outro choque altista como esse de setembro. Por fim, outro agravante foi a realização do risco, destacado por nós no último documento referente ao IGP-M de agosto, da diminuição do fluxo de importação de óleo diesel russo por parte do Brasil após a Rússia ter limitado as exportações com o intuito promover uma maior estabilidade dos preços dos combustíveis no seu mercado interno. Como essa importação de diesel de origem russa estava se dando a um preço descontado, o Brasil agora será forçado a recorrer a outros fornecedores externos mais caros para garantir o suprimento doméstico, o que vai ser uma fonte adicional de pressão sobre o preço desse combustível.

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