O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou bem mais do que o esperado em dezembro (0,62% m/m), vindo muito acima da mediana (0,45%, Broadcast) e rompendo o teto das estimativas (0,61%). Na métrica mensal, essa é a menor taxa para o mês desde 2018. Com esse resultado, o IPCA de 2022 fechou o ano em 5,79%. Esse é o menor valor para o IPCA acumulado em doze meses desde fevereiro de 2021 (5,20%). Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 0,69% m/m em dezembro, acumulando alta de 5,93% no ano de 2022.
Em dezembro houve repique considerável de quase a totalidade dos núcleos de inflação acompanhados pelo banco central. Na margem, os serviços avançaram 0,44% ante 0,13%, os bens industriais 1,19% ante 0,11%, a alimentação 0,71% ante 0,58%, os bens não-duráveis 1,19% ante 0,49%, e os bens semiduráveis 1,43% ante 0,89%, enquanto os bens duráveis (os mais impactados pelos gargalos de oferta globais) registraram 0,30% ante -0,54%. Com essas surpresas altistas em serviços e bens, colocando o IPCA consideravelmente acima da expectativa, vimos a média dos 5 núcleos dobrar (de 0,33% para 0,66%) e um forte aumento na taxa de difusão, que saiu de 58,62% em novembro para 68,97% em dezembro. Por sua vez, os preços administrados reduziram um pouco o seu ritmo de alta (0,27%, ante 1,00%), mas os preços livres aceleraram (0,74%, ante 0,22%).
A esperada reversão dos descontos da Black Friday contribuiu para os itens aparelho telefônico (0,98%, ante -2,49%) e televisor (1,18%, ante -1,99%) voltarem a registrar inflação em dezembro. Mesmo assim, os grupos de Artigos de Residência (0,64%, impacto de 0,03 p.p.) e Comunicação (0,50%, impacto de 0,02 p.p.) nos quais esses dois itens estão inseridos apresentaram contribuições modestas para a inflação cheia do mês. A menor contribuição veio do grupo de Educação (0,19%, impacto de 0,01 p.p.) que, ainda assim, teve os itens de jornal diário e livro didático deixando a deflação e a estabilidade de preços em novembro para passarem a registrar inflação em dezembro. Contudo, esse bom resultado do grupo de Educação não deve se repetir em janeiro, uma vez que a sazonalidade do período de férias escolares deve fazer com que a alta demanda por material didático para o ano letivo de 2023 puxe o item de livro didático e leve também a reajustes nas mensalidades.
No mês de dezembro as contribuições negativas foram poucas e vieram de itens específicos dentro de grupos distintos. A maior delas foi do item gasolina (-1,04%, impacto de -0,05 p.p.), seguido do leite longa vida que continuou a registrar deflação (-3,83%, impacto de -0,03 p.p.), do automóvel usado (-0,50%, impacto de -0,01 p.p.) e do condomínio (-0,50%, impacto de -0,01 p.p.).
Do ponto de vista altista, vale destacar que todos os 9 grupos do IPCA registraram avanços de preços em dezembro. O principal destaque foi para o grupo de Saúde e Cuidados Pessoais, que avançou 1,60% no mês (impacto de 0,21 p.p.) depois de ter avançado apenas 0,02% em novembro. O grande destaque desse grupo foi para o item perfume, que deu uma forte guinada de novembro para dezembro, saindo de uma deflação de 4,87% (impacto de -0,05 p.p.) para uma inflação de 9,02% (impacto de 0,09 p.p.). Este foi o item de maior impacto individual, sendo a principal fonte de surpresa para o IPCA do mês. Já o grupo de Alimentação e Bebidas avançou 0,66% m/m em dezembro, com impacto de 0,14 p.p. na inflação cheia. Nesse grupo os destaques de alta foram para os itens tomate (14,17%) e arroz (3,77%), que geraram impactos de 0,04 p.p. e 0,02 p.p., respectivamente. O grupo de Vestuário continua a registrar aumento de preço, avançando 1,52% m/m em dezembro (impacto de 0,07 p.p.), ante uma alta de 1,10% em outubro (impacto de 0,05 p.p.). Além disso, conforme o esperado, o grupo Despesas Pessoais acelerou a alta na passagem de novembro para dezembro (0,62%, ante 0,21%) com impacto de (0,06 p.p., ante 0,02 p.p.) em vista da sazonalidade de final de ano pesando sobre o item pacote turístico.
No acumulado do ano, 7 dos 9 grupos do IPCA registraram inflação em 2022. Alimentação e Bebidas (11,64%, impacto de 2,41 p.p.), Habitação (0,07%, impacto de 0,01 p.p.), Artigos de Residência (7,89%, impacto de 0,31 p.p.), Vestuário (18,02%, impacto de 0,78 p.p.), Transportes (-1,29%, impacto de -0,28 p.p.), Saúde e Cuidados Pessoais (11,43%, impacto de 1,42 p.p.), Despesas Pessoais (7,77%, impacto de 0,77 p.p.), Educação (7,48%, impacto de 0,42 p.p.) e Comunicação (-1,02%, impacto de -0,05 p.p.). Dentre os itens que se destacaram pela queda no ano tivemos energia (-19,01%, impacto de -0,96 p.p.), gasolina (-25,78%, impacto de -1,70 p.p.) e etanol (-25,42%, impacto de -0,25 p.p.). Por outro lado, se encontraram pressionados os subitens de aluguel (0,31 p.p.), emplacamento (0,49 p.p.) e higiene pessoal (0,61 p.p.).
Nossa avaliação é que o resultado surpreendentemente forte de dezembro contribui para reforçar a postura de cautela do Banco Central, uma vez que a persistência da inflação de serviços em patamares elevados na métrica em doze meses pode, junto do cenário de piora fiscal, levar a autoridade monetária a manter a taxa Selic em 13,75% durante todo o ano de 2023 ou forçá-la até a aumentar os juros. Em 2022, os grupos que fecharam o ano com deflação (Comunicação e Transportes) se beneficiaram da aprovação da lei que instituiu um teto para o ICMS cobrado sobre bens considerados essenciais (combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transportes coletivos). Para janeiro, a sazonalidade do início de ano deve pesar sobre as mensalidades escolares e outros itens que tipicamente sofrem reajustes nesse período. Visto isso, nossa projeção preliminar para o IPCA do mês de janeiro é de 0,49%.