Após três meses de desaceleração, o IPCA, em fevereiro, avançou 1,01% m/m, resultado pior que o projetado pelo mercado (0,94%, Broadcast), sendo um aumento de 0,47 p.p. em relação ao mês anterior. Esta foi a maior variação para o mês de fevereiro desde 2015 (1,22%), com todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados apresentando alta no mês. Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 10,54%.
O resultado no mês foi influenciado pela elevação do grupo Educação (5,61%) e Alimentação e Bebidas (1,28%), que juntos corresponderam por 57% do aumento no índice. No mês de fevereiro são incorporados ao IPCA os reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. Esse grupo foi o que mais impactou a inflação no mês, com 0,31 p.p. Dentro do grupo, tivemos forte elevação dos cursos regulares (6,67%), com destaque para o ensino fundamental (8,06%), pré-escola (7,67%) e ensino médio (7,53%). Já o ensino superior avançou 5,82% e a pós-graduação em 2,79%.
O grupo de Alimentação e Bebidas passou de 1,11% para 1,28% em fevereiro, com destaque para o avanço na alimentação no domicílio (1,65%). O segmento foi impactado pelas condições climáticas adversas, com chuvas excessivas e estiagens que prejudicaram a produção em diversas regiões. Os principais destaques vão para a batata inglesa (23,49%) e a cenoura (55,41%). Além disso, tivemos alta na alimentação fora do domicílio em 0,30%
O terceiro grupo que mais influenciou a aceleração no mês foi o Transportes (0,46% e 0,10 p.p.). O destaque vai para o aumento nos automóveis novos (1,68%) e usados (1,51%). O setor automotivo vem sendo um dos mais impactados pelo desarranjo das cadeias produtivas, com forte elevação nos custos. Por outro lado, tivemos redução no preço dos combustíveis (-0,92%), com queda da gasolina (-0,47%), mas elevação no diesel (1,65%).
Nossa leitura para o IPCA do mês foi negativa: o índice avançou acima das expectativas; apresentou uma taxa de difusão elevada (74,8%), além de crescimento em todas as categorias; o núcleo de inflação veio em 1% m/m, o maior avanço desde março de 2003; e o preço de bens industriais continua em trajetória de elevação em conjunto com o aumento da inflação de serviços. Ou seja, vemos uma inflação mais persistente e disseminada entre as categorias, sem alívio da pressão sobre bens industriais.
A invasão da Rússia na Ucrânia impõe um viés negativo para trajetória de inflação, principalmente nos grupos de Alimentação e Transportes. O cenário para inflação ficará ainda mais desafiador, com as altas de juros se estendendo ainda mais. Nossa projeção de Selic em 2022 é de 13% a.a.
Ontem, a Petrobrás anunciou que aumentará o preço dos combustíveis nas refinarias. O aumento será de 18,7% na gasolina; 24,9% no diesel e 16% no GLP. A estatal estava há 57 dias sem reajustar o preço da gasolina e do diesel, além de 152 dias o preço do gás. De acordo com as nossas projeções, o aumento nos postos deve ser de 8% na gasolina, com o preço médio nacional chegando a R$7,10/litro e o diesel aumentando em 15,7%, chegando a R$6,48/litro. O reajuste foi significativo, mas poderia ter sido ainda mais intenso se não tivéssemos visto a valorização do real nesse período. Desde o último reajuste da Petrobrás, o real apresentou valorização de 9,6%, o que mitigou parcialmente o aumento o preço do petróleo em R$. Nossa projeção é que o aumento dos combustíveis adicione 0,5/0,6 p.p. no IPCA de março, com o índice avançando 0,95% m/m e 10,57% a/a.