O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,84% m/m em fevereiro, ante 0,53% m/m em janeiro, vindo pior que o consenso de mercado que projetava alta de 0,78% m/m (Broadcast+). Na métrica em doze meses, a desaceleração na passagem de janeiro para fevereiro foi de 0,17 p.p., ao sair de 5,77% para 5,60%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve alta de 0,77% m/m, acelerando em relação ao número observado em janeiro (0,46% m/m), de modo que, acumula alta de 5,47%, abaixo dos 5,71% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Em fevereiro, os núcleos de inflação acompanhados pelo Banco Central apresentaram aceleração em relação ao mês anterior. Na margem, os serviços avançaram 1,41% m/m, ante 0,60% m/m; bens industriais tiveram alta de 0,54% m/m, ante 0,20% m/m, sendo pressionada pela aceleração de bens não duráveis (saiu de 0,27% m/m para 0,51% m/m). Ainda na ponta altista, a média dos 5 núcleos teve aceleração de 0,21 p.p., ficando em 0,73% m/m e o índice de difusão acelerou de 63,13% para 65,25%. Na ponta baixista, tivemos uma surpresa positiva na alimentação que passou de alta de 0,60% em janeiro para 0,04% m/m em fevereiro, refletindo a desaceleração de alimentos in natura que apresentou deflação de 1,04% m/m e a desaceleração dos preços de alimentos industrializados (0,40% m/m, ante 0,53% m/m). Por fim, tanto os preços livres quanto administrados apresentaram aceleração do ritmo de alta ao sair de 0,47% m/m para 0,84% m/m e 0,72% m/m para 0,84% m/m, respectivamente.
No mês de fevereiro, embora as principais contribuições altistas tenham sido concentradas em alguns itens, de modo geral, a leitura para o mês foi negativa com alta de 8 dos 9 grupos pesquisados. As principais contribuições ficaram por conta das altas nos grupos de educação (6,28% m/m e impacto de 0,35 p.p. no IPCA), devido as altas de 10,06% m/m nas mensalidades do ensino fundamental e de 5,22% m/m do ensino superior, refletindo os reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. Além disso, a segunda maior contribuição altista veio do grupo saúde e cuidados pessoais (1,26% m/m), resultante da aceleração de -5,86% m/m em janeiro para 7,50% m/m em fevereiro do subitem perfume, contribuindo com 0,08 p.p. no IPCA cheio do mês. Por fim, destacamos o desempenho do grupo de habitação (0,82% m/m, ante 0,33% m/m), cuja maior contribuição veio do subitem energia elétrica residencial (1,37% m/m), refletindo a reinclusão na base de cálculo do ICMS as tarifas de uso dos sistemas de transmissão (TUST) e distribuição (TUSD), após a decisão proferida pelo STF. Na ponta baixista, o único grupo com variação negativa no mês, vestuário (-0,24% m/m), refletiu as quedas nos subitens roupas masculinas (-0,58% m/m) e femininas (-0,45% m/m).
Nossa avaliação é que apesar das principais contribuições altistas estarem concentradas em alguns itens (educação, habitação e saúde e cuidados pessoais) a aceleração vista no IPCA cheio de fevereiro em relação ao IPCA de janeiro aponta para alguns sinais de alerta para o Banco Central, haja vista a estabilização da inflação de serviços (de maior inércia) na métrica em 12 meses em um patamar significativamente elevado (7,85%). Vale destacar que este grupo vem aumento o ritmo na margem pelo segundo mês consecutivo, sendo este movimento capturado pela média móvel trimestral anualizada que vem acelerando de 2,52% em dez/22 para 6,40% em fev/23. Além disso, a desaceleração na variação em 12 meses do índice cheio deve ser interpretada com cautela, haja vista o efeito base da inflação elevada nos meses de fev/22 a abr/22 sobre o índice que deve beneficiar o arrefecimento desta métrica nos próximos meses. Entretanto, a partir do segundo semestre, o oposto será observado com o fim dos efeitos deflacionários das desonerações aprovadas no último ano sobre o acumulado em 12 meses, levando a dinâmica de preços para uma trajetória altista. Além disso, a ofensiva recente de alguns atores do governo contra as reformas feitas nos últimos anos, mais notadamente a independência do Banco Central e a redução da meta de inflação para 3,0%, vem tendo como resultado a desancoragem das expectativas de inflação para vários prazos, o que dificulta enormemente o processo de desinflação em curso. Isso deve levar a autoridade monetária a manter a taxa Selic em 13,75% durante todo o ano de 2023 ou forçá-la até a aumentar os juros.
Para março, devido ao retorno, ainda que parcial, da cobrança de impostos federais sobre a gasolina e o etanol devem pesar sobre o índice de preços deve compensar a dissipação do impacto das altas anuais da educação. Visto isso, nossa projeção preliminar para o IPCA do terceiro mês do ano é de 0,85%.